Gordon, Emily. “Harry Potter Encanta e Incomoda”. Newsday, 19 de outubro de 1999.

J.K. Rowling tem que ter cuidado ao falar sobre os planos dela para assassinar alguém. Rowling, autora da famosa série de aventura Harry Potter – cujos três primeiros livros estão nos números 1, 2 e 5 da lista de mais vendidos da Newsday – está em uma viagem pelos EUA a fim de promover o seu terceiro livro “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban“. Nas entrevistas, Rowling aprendeu a medir cada palavra sua: ela deixou escapar que um personagem principal irá morrer, só não disse quem.

Isto gerou uma serie de especulações ansiosas entre fãs de Harry Potter, cujo número de crianças e adultos aumenta a cada semana.

Mas isto não é inédito. Desde que o primeiro livro de Rowling sobre as aventuras de um menino numa escola de bruxaria se tornou um best-seller (os três livros venderam 7,5 milhões de cópias juntos), tudo que Rowling escreve, diz e faz abastece a Pottermania. Ou o contrário. Quando meia dúzia de pais chegou a um encontro do Conselho de Educação da Carolina do Sul semana passada para se queixar dos livros de Harry Potter nas escolas, reclamando do sério tom de morte, ódio, falta de respeito e maldade absoluta, a história parou imediatamente no CNN e também em muitos sites de fãs de Harry Potter. (Um diretor em Marietta, Ga., e um pequeno grupo de pais em Lekeville, Minn., também questionaram o uso dos livros em sala de aula.) Como Jim Fosser, diretor de relações públicas do Departamento de Educação da Carolina do Sul, – que passou a semana em ligações com meios de comunicação britânicos, escoceses e americanos – diz. “Isso é uma daquelas coisas incrí­veis que ocorrem no jornalismo… onde seis pessoas com uma opinião conseguem criar uma tempestade num copo d´Água. De fato, é notável que Harry Potter realmente tenha inimigos. Já ouvi tantos pais dizerem que este é o primeiro livro que seus filhos lê-em até o fim, e que despertou a leitura neles”, diz o editor de Rowling na Scholastic, Arthur A. Levine. “A proporção (de fãs para protestantes) é talvez 10.000 para meio, então não posso me preocupar. Quanto a Rowling, 33, ela está decepcionada sobre os protestos, mas ela aceita. “Minha opinião sobre isso é que se vão proibir todos os livros que mencionam bruxas, nós vamos nos livrar de muitos clássicos”, ela diz.

Conheci milhares de crianças agora, e não encontrei uma única que tenha me dito que meus livros a levaram a se interessar por bruxaria. Acho que as crianças estão sendo muito mais inteligentes sobre isto do que algumas outras pessoas.

É um mundo imaginário, e eu acho que é um mundo muito ético. E o ponto principal é, se a pessoa não quiser ler o livro, ela não tem que ler, sabe?”. Em todo caso, Rowling parece estar tendo a melhor época da vida dela. O cronograma atual dela de viagens, autógrafos em livrarias e cerimónias de premiações está longe do café em Edimburgo, Escócia, onde a solteira, bem educada e desempregada Rowling trabalhou nas histórias de “Harry Potter” com a sua filha Jessica ainda bebê (agora com 5 anos) dormindo ao lado. Porém, Rowling parece ter os dois pés firmes no chão.

Ela certamente viaja mais e conhece muitos autores de livros infantis, mas “eu não vou a muitos coquetéis”, ela diz com uma risada. Ela parece pasma com seu lugar no mundo literário e com a noção freqúentemente exposta de que ela ressuscitou sozinha a literatura infantil. “Não há nada que eu gostaria mais do que pensar que a literatura infantil recebeu um pouco mais de respeito, e que a divisão que algumas pessoas cismam de fazer entre a literatura infantil e a adulta está diminuindo um pouco”. Os fãs de Rowling estão ansiosos pelos próximos quatro livros (serão sete no total, levando Harry em seu caminho pela Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts), mas eles teráo de ser pacientes, já que estão programados para sair uma vez por ano. Embora o correio de fãs dela tenha se transformado em uma avalanche, ela ainda está “genuinamente tentando responder a todos”. Acima disso e da escrita dos novos livros – e da consulta para o próximo filme de Harry Potter pela Warner Bros. – as idéias de um novo trabalho continuam a se acumular.

Cautelosa como sempre, entretanto, Rowling não dirá se elas são para outra série ou mesmo se envolvem magia. “É irónico que fantasia realmente não seja o meu gênero favorito, porque as pessoas tendem a pensar dia que se tem um unicórnio na história, então eu quero ler, mas nem sempre é o caso”. Enquanto ela não escreve um livro para adultos (embora venere Jane Austen, seu escritor favorito é Roddy Doyle, um gênio absoluto), ela diz que “se no fim da minha vida eu só tiver publicado livros para crianças, eu não veria de maneira alguma como segundo lugar. Não mesmo. Não sinto nenhuma necessidade de escrever meu Livro Adulto Sério”. Quanto ás controvérsias recentes, as crianças – os ínicos crí­ticos com quem Rowling parece se preocupar – sabem onde elas estão. Os estudantes da sexta série do Tim Stulte na Escola da Avenida Gatelot em Ronkonkoma são firmes num ponto: como Colleen Ryan, 11, diz, “É um livro, não é como nada real, Nada nisso é realmente ruim. Eles são só personagens”. Além disso, como Kristen Capece, também 11, que inveja a habilidade de Harry para voar, diz arrependidamente, mesmo que os fãs de Harry Potter façam um feitiço do livro deles, não é garantido que vá funcionar. De fato, Ailish Bateman, 12, de Sag Harbor, fala por muitos fãs de Harry Potter: “Acho que todo mundo sabe que isto não pode acontecer, provavelmente. E se acontecer, é legal. Em todo o caso, um encanto – o de J.K. Rowling – parece ser indestrutí­vel”.

Traduzida por: Carolina Salgueiro em 14/03/2007.
Revisada por: Patricia M. D. de Abreu em 20/04/2007, Vinicius Alvarez em 08/03/2008 e Antônio Carlos de M. Neto em 21/03/2008.
Postado por Fernando Nery Filho em 29/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote aqui.