Chonin, Neva. “A Maga de Harry Potter: criadora da série de livros infantis visita o Bay Area”. The San Francisco Chronicle, 30 de outubro de 1999.

Dentro do ginásio principal da Escola Santa Rosa Maria Carrillo, parece uma tempestade com trovões. Pés golpeiam as arquibancadas quando 2.400 crianças extasiadas gritam e aplaudem. Não, não é um concerto de Britney Spears. Eles estão recebendo J.K. Rowling, uma mãe solteira de voz suave vinda de Edimburgo, Escócia, e a criadora do heróico menino bruxo conhecido como Harry Potter, que tem o mundo da leitura aos seus pés.

“Normalmente eu odeio ler, mas adoro os livros de Harry”, disse Gaby Tomko, 10 anos, de Mill Valley. “Sou fã desde o começo. Eu adoro todos os nomes das criaturas mágicas”.

Trevor Wallace, 9 anos, veio de San Anselmo com seus amigos Billy, Will e Cameron para ver Rowling. Um amigo adulto permaneceu na fila durante três horas para guardar lugar para eles.

“Os livros são todos tão emocionantes que não consigo me encher deles,” disse Trevor, vestido em uma capa bruxa roxa. “Eles não são como as coisas normais dos bruxos com chapéis e estrelas. Eles são legais!”

Harry é um garoto magricela com grandes óculos que se descobre bruxo, é o herói fictí­cio de três livros infantis, Harry Potter e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban que vendeu mais de 8 milhões de cópias nos Estados Unidos e 2,2 milhões nos outros paí­ses de lí­ngua inglesa. Os livros foram traduzidos em 28 idiomas. E tem crianças e adultos por todo o mundo abandonando suas televisões e video games para redescobrir o prazer de ler.

A mãe escocesa, responsável pela maior história do ramo editorial em uma década é J.K. (Joanne Kathleen) Rowling (pronuncia-se rolling), de 34 anos, que há cinco anos era uma mãe solteira desempregada vivendo de seguro desemprego. De manhã, numa entrevista no hotel Nob Hill, ela admitiu que esta se acostumando com o sucesso e a fama repentinos.

“Eu realmente não tinha idéia, até ir nessa turnê, de como os livros se tornaram populares”, disse ela, tomando um gole de café. “Meu sonho era que algum dia alguém em uma loja veria meu nome no cartão de crédito e diria: ‘Meu Deus, você escreveu meu livro favorito’. Mas nunca esperei por isso, nunca imaginei que falariam sobre mim e tirariam fotos minhas. É divertido, eu adoro. Mas algumas vezes”, ela faz uma pausa.

“Quando comecei a ganhar publicidade depois de terminar Câmara Secreta entrei em pánico. Eu não conseguia escrever. A pressão me assustou. Mas me recuperei”

E como. Rowling criou um mundo espirituoso e incontrolavelmente divertido, que tanto adultos como crianças adoram. Os nomes dos personagens sozinhos são irresistí­veis: Severo Snape, Draco Malfoy e os dementadores de Azkaban; Trouxas (gente não-bruxa); e o jogo de Quadribol, uma espécie de hóquei aéreo jogado em vassouras.

QUATRO VOLUMES AINDA VIRÃO

O último da série, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, faz o heróico menino bruxo e seus amigos, Rony Weasley e Hermione Granger (todos estudantes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts) entrarem em confronto com Sirius Black, o braço direito do malvado Lord Voldemort. Eles vencem, é claro. Mas não definitivamente. Afinal de contas, ainda há quatro volumes para vir dos sete livros planejados para a série.

No quarto livro, previsto para sair em julho, Harry desenvolverá sua primeira paixão.

“Leitores cautelosos do livro três já saberão quem é a garota”, disse Rowling, sorrindo misteriosamente.

Harry também está pronto para as telonas mágicas em 2001. A Warner Bros. comprou os direitos dos dois primeiros livros por uma soma “substancial de sete di­gitos”, mas Rowling assegurou que o roteiro tinha sua aprovação antes de acertar o trato.

“Estou mais envolvida do que achei que estaria”, disse ela. “Mas eu quis manter um certo controle. Estava com muito medo que eles pegassem meus personagens e depois, tendo-os, fariam algo que não estivesse consistente com os livros”.

ESCREVEU O PRIMEIRO LIVRO AOS SEIS ANOS

Rowling cresceu em Chepstow, Gwent. Leitora voraz (ela adorava James Bond, de Ian Fleming), escreveu seu primeiro livro de ‘ficção’ aos 6 anos de idade “Um conto sobre um coelho chamado Coelho” e “Uma abelha chamada Abelha”. Como universitária, ela estudou em Paris antes de ir trabalhar no escritório da Anistia International de Londres pesquisando sobre abusos dos direitos humanos em paises de lí­ngua francesa na África.

Durante os anos seguintes ela ensinou inglês em Portugal, se casou e se separou e teve sua filha.

“A idéia de Harry Potter nasceu durante uma longa e monótona viagem de trem pela Inglaterra”, disse ela. “Simplesmente surgiu”. Ela escreveu o primeiro livro em um café em Edimburgo enquanto sua filha pequena cochilava perto dela. Ela ainda escreve em cafés.

Harry Potter e a Pedra Filosofal foi publicado na Grã-Bretanha pela Bloomsbury Children’s Books em junho de 1997. As cri­ticas e as vendas foram incrivelmente boas. A Scholastic Books publicou nos Estados Unidos algum tempo depois e as vendas aumentaram surpreendentemente. Lançado no ano seguinte, Harry Potter e a Câmara Secreta teve desempenho igual.

Ainda assim, nem todo mundo está louco por Harry. Alguns pais na Carolina do Sul, Minnesota e Georgia querem os livros banidos das escolas porque supostamente pregam a falta de respeito, a morte, o ódio e o mal.

O bafafa deixa Rowling aborrecida. “Para mim é questão de senso”, disse ela. “Eles tém o direito de decidir o que seus filhos lêem, claro que têm. Mas eles não têm o direito de decidir o que meu filho ou o filho de qualquer outra pessoa lê. E a medida que o conteúdo dos livros prossegue, a minha sensação é de que eles não são extremamente versados na literatura para crianças”.

LIVROS DE ROWLING PARA ADULTOS

Rowling escreveu dois romances para adultos, mas não tem nenhuma intenção de publicá-los. “É um lixo”, disse. Mas ela produzirá um livro de Harry Potter por ano até o personagem atingir os 17 anos. Para onde vai Harry depois disso? Rowling sabe, mas ainda não conta.

Ela diz que já começou a ler seus livros para sua própria filha de 6 anos, que estava no andar de cima no quarto do hotel colocando esmalte branco pérola. “Ela estava me atormentando para ler, mas eu quis esperar até ela ter idade suficiente para entender tudo. Eu temia que ela ficasse entediada e me pedisse para ler O Ursinho Pooh de novo. Mas em vez disso ela gritou: Mais, mais, mais”.

“Apesar da fama e aclamação, isso deve ter sido um alí­vio”, disse Rowling com um sorriso. “Eu era uma mãe feliz”.

PERGUNTAS E RESPOSTAS COM A AUTORA

Para ajudar todos os fãs de Harry Potter que não puderam comparecer nas aparições de J.K. Rowling na Bay Area, o The Chronicle se ofereceu para ser um substituto para os nossos leitores. Aqui estão cinco perguntas dos leitores e as respostas de Rowling.

Você poderia escrever um livro onde Harry tem uma irmã gêmea chamada Harrietta? Você escreveria um livro onde uma garota é a personagem principal? Jessica, 12 anos.

Eu estava escrevendo sobre Harry por seis meses antes de parar e perguntar para mim mesma por que estava escrevendo sobre Harry e não Harriet. E naquele ponto era tarde demais. Ele parecia um garoto para mim, gostei dele como um garoto, e não gostaria de ter que colocar-lhe um vestido e torná-lo uma garota. Hermione é uma personagem muito, muito forte. Ela é uma caricatura de mim quando eu era mais jovem.

Como surgiram os nomes dos personagens? Claire Christian, 9 anos.

Eu tenho uma leve obsessão por nomes. Coleciono bons nomes e invento um bocado. Quadribol é um nome criado; a maioria deles é. Tenho cadernos cheios dessas coisas, só com palavras obsoletas e palavras em outras lí­nguas que gosto.

Quais são os 12 usos para o sangue de dragão? Kelsey Biggar, 9 anos

Eu tenho uma boa razão para não lhe dizer, o roteirista quer que eu lhe diga essa informação para o filme. Mas posso dizer que o 12º uso é limpar fornos.

Por que Harry tem que voltar para os Dusleys todo verão? Por que ele simplesmente não pode passar as férias de verão com os Weasleys? Dan Zoloth Dorfman e família.

Você descobrirá no livro cinco.

É verdade que a versão inglesa de Harry Potter foi transformada em uma versão americana para os americanos? Kristin Fleming e Kate Barber.

Existem diferenças minúsculas, apenas onde quer que eu tenha usado palavras que em inglês americano significaria algo diferente. A original tinha Harry e Rony vestindo jumpers. Nos Estados Unidos, isso é um vestido para uma menina pequena. Na Grã-Bretanha está relacionado com sweater (suéter, em inglês). Então nos só o mudamos para sweater todo o tempo, em vez de ter crianças achando que Harry e Rony estavam se vestindo de mulher, que senti não ser apropriado.

Traduzido por: Renan da Cunha C. Silva em 29/04/2007.
Revisado por: Patricia M. D. de Areu em 30/04/2007, Vinicius Alvarez em 22/02/2008 e Antônio Carlos de M. Neto em 22/03/2008.
Postado por: Fernando Nery Filho em 29/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote aqui.