“Conferência de Imprensa de Toronto”. Canadian Broadcasting Corporation, 22 de outubro de 2007.

Fonte: Canadian Broadcasting Corporation
Entrevistador: repórteres de Toronto
Contexto: Toronto foi a última parada do Open Book Tour de J.K. Rowling em 2007. Alguns dias antes, em Nova York, Rowling havia contado aos fãs que Dumbledore era gay, então esse assunto dominou as perguntas. Essa conferência de imprensa aconteceu logo antes da leitura no Winter Garden Theatre e foi também onde Jo ganhou o prêmio Order of the Forest por encorajar editoras a imprimirem livros feitos de papel reciclado [mais informações sobre o prêmio aqui].
Crédito da transcrição: Meann e roonwit para Accio Quote!
Vídeo: http://www.cbc.ca/national/blog/video/arts/web_exclusive_jk_rowling.html

P: [ininteligível, algo sobre Dumbledore]

JKR: Ummm… porque me fizeram uma pergunta muito direta no Carnegie Hall e a pergunta era, e nunca tinham me perguntado isso antes… você… sabendo que um dos maiores temas dos livros é o amor, Alvo Dumbledore, alguma vez, encontrou o amor? E a garota que havia perguntado isso, eu tenho que dizer, começou com essas maravilhosas declarações sobre como os livros de Harry Potter a haviam ajudado a ser ela mesma mais completamente. Ela é uma adolescente, então eu respondi de maneira honesta. Suponho que a outra metade da resposta é que a mal-fadada paixão de Dumbledore era o elemento chave do enredo do livro 7. Sabe, várias vezes em que eu estava escrevendo os livros de Harry Potter eu me sentia como um salmão nadando contra a corrente, havia tantas teorias e as pessoas queriam tantas informações adiantadas sobre a história que eu… apenas para manter minha sanidade e para me manter atenta ao meu enredo, não revelei um monte de coisas antes do tempo, pois precisava manter meu foco. Na verdade, terminar a série e poder ser honesta sobre o íntimo dos personagens, seja isso diretamente relevante no enredo ou não, tem sido muito libertador.

P: [ininteligível] porque a saga de Harry Potter é um sucesso tão grande [ininteligível]?

JKR: Já me fizeram essa pergunta várias vezes e sempre achei difícil de respondê-la. Sinto que deveria… existe essa expectativa que eu deveria saber qual foi a fórmula mágica, mas na verdade eu escrevi sobre o que gostava de ler. Eu escrevi um enredo complexo com muitos mistérios e surpresas porque é disso que eu gosto e escrevi sobre personagens em que estava profundamente interessada e comprometida, então presumi que há vários leitores como eu por aí. Esta é minha resposta.

P: Em que fase na [ininteligível] em escrever os livros de Harry Potter você teve noção da sexualidade [ininteligível] de Dumbledore?

JKR: Ummm, logo cedo. Eu diria… todos os personagens… eu já vinha escrevendo por sete anos antes do primeiro livro ser publicado. Os personagens ficaram, quase vieram, mais para o foco enquanto eu trabalhava e… não posso dizer honestamente que houve um momento em que eu decidi isso, foi apenas uma coisa que eu soube ou vim a saber… então, umm, logo no começo. Provavelmente antes de o primeiro livro ser publicado.

Stacy Bolton: [ininteligível] o que você fez para se tornar uma autora de sucesso [ininteligível]

JKR: Eles precisam ler bastante, e não estou tentando vender mais livros. Essa é a única maneira de ampliar o vocabulário e decidir o que faz uma boa escrita e o que não faz. E depois eles irão para a fase na qual imitam seus autores preferidos, o que é bom, porque é um bom método de aprendizado. Depois, eu temo, eles precisam decidir por si mesmos se querem derrubar várias árvores. Mas [risadas] certifique-se que seus livros são sempre impressos em papel reciclado. [risadas]

Gloria Martin: Você já considerou escrever um prefácio da série Harry Potter focando nos pais dele? – Mostra texto citado –

JKR: Já me perguntaram isso várias vezes e eu sempre disse “não é um pouco como ‘Episódio I de Star Wars’”? [risadas] Umm… provavelmente não farei isso. Mas vou manter o ‘provavelmente’ nesta questão porque eu sempre disse, acho que antes do livro dois ou três, quando me perguntaram, porque não mais do que sete? E eu sempre disse “Não vou dizer ‘nunca’ porque ‘nunca’, na minha vida, sempre agiu como um pano vermelho para um touro e eu imediatamente queria fazer o que quer que seja que tinha dito que nunca faria. Então vou dizer ‘provavelmente não’”.

P: O que você diria para alguns dos leitores que ficaram chocados com a revelação que Dumbledore [ininteligível] não é o tipo de informação que eles esperavam ou mudar a maneira como eles se sentem pelo [ininteligível]

JKR: Bom, suponho que eu diria que certamente nunca foi novidade para mim que um homem corajoso e brilhante pudesse amar outros homens. Então, ummm… eu sei que [ri] eu sei que o que eu disse foi uma coisa positiva para pelo menos uma pessoa porque um homem se assumiu no Carnegie Hall. [ri] Não estou brincando. Aí está. Isso é realmente tudo o que posso dizer.

P: Harry Potter tem um apelo universal [ininteligível]

JKR: Muito possivelmente. Não vejo razão para eu não escrever um livro com uma protagonista feminina. Harry simplesmente chegou como Harry, e nunca, em nenhum momento, considerei em mudá-lo para Harriet. Depois de já estar escrevendo há um tempo, parei e pensei “É um menino”. No entanto, nesse ponto Hermione era tão real para mim e, na minha opinião, ela é uma personagem fantástica. Ela é tão brilhante e essencial para o enredo, tão crucial para a obtenção do êxito atingido por eles nos sete livros que, pessoalmente, sinto que não decepcionei as feministas.

P: [ininteligível] ramificações políticas por Dumbledore 1ter saído do armário’. Você pode ver que, em uma escala mundial, [ininteligível] para outros países que não são tão tolerantes com o estilo de vida gay?

JKR:
Ummm… Não posso responder isso no momento, sabe, é uma coisa que eu disse recentemente. Não posso responder isso. É o que é. Ele é meu personagem e, sendo assim, tenho o direito de saber o que sei e dizer o que digo sobre ele. Aí está.

P: Só estou me perguntando por que você esperou até agora para [ininteligível]

JKR: Já respondi isso, foi a primeira pergunta.

P: [ininteligível]

JKR: Quanto do Epílogo tive que mudar? As mudanças que eu… Nem tanto, na verdade. A maior parte das mudanças foi feita para revelar menos informações, ao invés de mais. Como concebido originalmente, o Epílogo trazia praticamente todas as possíveis informações que eu poderia dar sobre as vidas futuras dos personagens, e era a direção que eu sempre soube que seguiria. Então eu sabia que tinha muita informação e quando escrevi tudo, pela primeira vez, tinha um propósito para escrever. A grande mudança, suponho, foi em relação ao filho de Lupin, já que, até o quinto livro da série, Ordem da Fênix, eu pretendia deixar Lupin vivo. Então isso se tornou um foco do epílogo – um dos focos – ter certeza que ele soubesse, mesmo que ele não aparecesse fisicamente, que estava bem.

P: Se não por meio dos livros, você planeja continuar com a franquia de alguma outra maneira? No mês passado, o maior lançamento de entretenimento da história foi para um video game, e existem video games de Harry Potter, entre outras coisas. Você planeja ser uma parte disso e escrever mais passagens sobre esse seu mundo?

JKR: A única maneira e, possivelmente, o único plano que tenho é de escrever uma enciclopédia, que seria um meio de colocar todas as informações extras que tenho sobre todos esses personagens. E eu sempre disse e confirmo que, mesmo que faça a enciclopédia, os lucros das vendas serão doados para caridade, e não estou planejando fazer isso para promover o fenômeno Harry Potter. Então, sim, foi o que sempre disse, e talvez eu a faça, mas ainda não comecei. E certamente não é algo que planejo como meu próximo projeto. Gostaria, antes, de dar um tempo do mundo de Harry. Sinto falta, realmente sinto falta deste mundo, mas dessa forma é mais saudável. É como na separação de um casamento, você fica sem ver a outra pessoa por um tempo, e depois, talvez, vocês possam voltar a ser amigos.

P: Honrando o Festival Internacional de Escritores, eu estava curioso(a), considerando todos os autores que escrevem tanto para crianças quanto para adultos, quem seria o autor preferido de Harry? E o de Rony e Hermione?

JKR: Bom, acho que Hermione seria fã de Margaret Atwood. [todos riem] Olha, vamos ser honestos, Harry não lia muito, a não ser que precisasse. [risadas] Então, acho que escolher autores para Harry e Rony, sendo o mais honesta possível, seria esticar a verdade um pouco demais, e eu estaria agindo a lá Hermione ao invés de refletir verdadeiramente sobre seus gostos literários. Desculpe.

P: A última vez que você esteve aqui foi antes do primeiro filme de Harry Potter ser filmado e, na época, você se mostrou preocupada quanto a isso. O que você acha que foi o sucesso… o que tem sido o elemento chave para o sucesso dos seus livros e o fato de eles terem sido transformados em filmes?

JKR: Bom, eu provavelmente diria isso, estou muito orgulhosa com o fato de termos conseguido manter todo o elenco britânico. Acho que isso emprestou um certo tom autêntico para os filmes e os manteve bem ligados aos livros. Eles também são feitos na Inglaterra… bom, em uma menção indireta, isso é menos sobre a exatidão da tradução que tem sido ótimo para a indústria cinematográfica britânica, então estou orgulhosa disso. No geral, tem sido ótimo, realmente maravilhoso, e Dan, Rupert e Emma particularmente, que interpretam os três personagens principais, cresceram tanto como atores que acho que qualquer um que assiste aos filmes concordaria comigo. Sou muito afeiçoada aos três, eles são como afilhados, de verdade, e tem sido uma experiência maravilhosa.

P: Voltando à revelação de Dumbledore, entendo que você disse que ele é seu personagem e já que lhe fizeram a pergunta, foi por isso que você o revelou, acho que só estou curioso(a) sobre por que não simplesmente escrever sobre isso no livro? Por que você não revelou isso no livro, quando começou?

JKR: Porque é… realmente, acho que é evidente. Ele é… o enredo é o que é, e ele viveu, como eu disse, essa paixão trágica, mas esse é um elemento chave do fim da história. Então aí está, porque eu colocaria o elemento chave do final de minha história no primeiro livro? É sobre a construção da história. Não é… é o que é.

P: Então por que não mais tarde?

JKR: O que você quer dizer?

P: Por que não no livro 5, 6 ou 7? Por que não revelar no livro?

JKR: Porque se você fosse um escritor entenderia que, quando você escreve o fim, ele vai no fim. [todos riem]

P: Então o fim foi durante a conferência de notícias que reuni para você, quando você o revelou publicamente?

JKR: De maneira alguma. Não. Isso não foi em uma conferência de notícias, foi uma pergunta que eu respondi para um(a) fã, e… por que isso é o fim do livro? Está no livro que ele teve… está bem claro no livro que ele… absolutamente, uma criança verá uma amizade, e creio que um adulto sensível talvez entenda que foi uma paixão arrebatadora, eu sabia que era uma paixão.

Traduzido por: Isadora T. Moraes em 08/02/2009.
Revisado por: Fabianne de Freitas em 08/04/2009.
Postado por: Ohanna S. Bolfe em 08/04/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.