Vieira, Meredith. “J.K. Rowling cara-a-cara: parte dois”. Today Show (NBC), 27 de julho de 2007.

Fonte: MSNBC
Entrevistador: Meredith Vieira
Contexto: Esta é a segunda parte de uma das primeiras entrevistas após a publicação de Harry Potter e as Relíquias da Morte, então Jo pôde finalmente responder algumas perguntas que ela estava relutante em responder antes.
Crédito pela transcrição: Meann para o Accio Quote!
Video: http://video.the-leaky-cauldron.org/video/827
Transcrição relacionada: Parte Um

Meredith Vieira: E nós estamos de volta agora, às 7:38, com a parte 2 de nossa entrevista exclusiva com a autora de Harry Potter, J.K. Rowling. O último volume, Harry Potter e as Relíquias da Morte, foi o livro mais aguardado da história. Anteriormente nesta semana, eu sentei com Rowling no Castelo de Edimburgo, na Escócia, para falarmos sobre sucesso, fama e como está sendo dizer adeus à Harry. Um aviso agora, se você não terminou de ler o livro, essa entrevista contém informações importantes sobre o enredo.

(MV e Jo estão andando do lado de fora do Castelo de Edimburgo)

MV: Jo, quando você olha para Edimburgo, você escreveu tanto do começo do livro em uma cafeteria…

Jo: É.

MV: E o último capítulo do seu livro no Balmoral.

Jo: *balança a cabeça* Mmm-hmmm.

MV: Belo hotel. Fale sobre onde sua vida chegou depois de todos esses anos. O que passa pela sua mente?

Jo: Terminar certamente me fez olhar para muitas coisas que passaram, e é quase inacreditável em alguns momentos, o que aconteceu. E, com certeza, há momentos em que eu pensei que havia sonhado tudo isso.

(MV e Jo sentam dentro do Castelo)

MV: Sabe, isso é uma experiência interessante para você porque você nunca teve a chance, depois de um livro, de conversar.

Jo: Isso é realmente libertador.

MV: E agora, eu estou lendo as estatísticas de venda desse livro. Na América, 5.000 por minuto.

Jo: É isso mesmo? Meu Deus. Isso… Oh meu Deus. Sabe, eu realmente não consigo compreender.

MV: Você poderia imaginar naquela época no que isso se transformaria?

Jo: Não, eu não poderia. Harry nos salvou, em matéria de segurança, ele mudou completamente a minha vida. Tem sido fenomenal e tão inesperado.

MV: O que vem depois para você?

Jo: Eu vou tirar uma folga, definitivamente. E eu só vou saborear, por um tempo, a sensação de que não tenho um prazo. É realmente muito libertador pensar que eu posso quase retornar ao começo e escrever qualquer coisa e ver onde vai parar e não tenho nenhuma pressão sobre mim. E não há nenhuma expectativa específica sobre se alguma coisa vai ser terminada.

MV: 17 anos, 7 livros. O que você quer que as pessoas tirem de tudo isso?

Jo: Se é verdade que Harry fez as pessoas ler – alguém que não teria, de outra forma, aproveitado um livro ou começou a gostar de livros, então essa é a melhor coisa que alguém pôde me dizer.

MV: Você sentiu, enquanto escrevia o sétimo livro, um senso de responsabilidade com esses… fãs?

Jo: Sempre… Sim, eu definitivamente sinto um senso de responsabilidade em que eu queria muito fazer o melhor livro que pudesse. Muitas vezes me perguntam “Bem, você não se sente culpada por matar pessoas, personagens que as crianças amam” e, hmm, soa terrível e sem coração dizer “Não”. Mas a verdade é que quando você está escrevendo, você tem que pensar apenas no que você está escrevendo. Mesmo meus mais queridos e amados, minha irmã, eu mostrei o livro para ela e ela me olhou por cima dele e disse “Se você matar o Hagrid, eu nunca vou perdoá-la”.

MV: Oh, por sorte, você não matou o Hagrid.

Jo: É. (risadas) Mas eu nunca pretendi matar o Hagrid, então…

MV: O fim do livro… Eu li que a última palavra deveria ser “cicatriz”…

Jo: E era, por muito, muito tempo. Por muito tempo, a última linha era algo como “Só aqueles que ele amava podiam ver a cicatriz em forma de raio”. E isso era uma referência ao fato de que o Harry era meio que flanqueado pelos entes queridos dele…

MV: Para “Tudo estava bem”.

Jo: Tudo estava bem.

MV: E você soube quando escreveu essa frase, que esse era o fim.

Jo: Simplesmente pareceu… Eu senti meio que um [suspiro] e isso pareceu bom.

MV: Eu quero falar um pouco sobre os filmes, porque eu sei que quando isso foi apresentado pela primeira vez para você, você disse não.

Jo: (acenando com a cabeça) Sim.

MV: Você não estava interessada.

Jo: Uhum.

MV: O que fez você mudar de idéia?

Jo: Bem, a razão principal, de longe, foi que eu estava olhando para um contrato que dizia que eles iriam seguir a minha história mesmo que os demais livros [ainda] não tivessem sido escritos por mim.

MV: Você ficou feliz com eles?

Jo: Eu estou muito, muito feliz com eles. Está tão perto de ser indistinguível, principalmente Hogwarts.

MV: E Daniel e Emma e Rupert que interpretam os três personagens principais só dizem coisas maravilhosas sobre você. O que você pensa sobre eles? Você sabe, eles são os seus personagens principais…

Jo: É, eles são incríveis, e eu disse aos três – os três principais, Emma, Daniel e Rupert, sabiam mais do que eles jamais divulgaram.

MV: Algum deles perguntou “você vai me matar”?

Jo: Sim, Dan perguntou, sim.

MV: Daniel perguntou? E você contou para ele?

Jo: Naquele ponto, ele disse “eu preciso perguntá-la, eu vou morrer?”. E eu pensei rápido, e sussurrei para que ninguém mais ouvisse, “você tem uma cena de morte”. Mas Dan é muito esperto e estou certa de que ele saiu daquele jantar pensando “Éééé, eu tenho uma cena de morte, mas o que isso significa?”. Eu não disse “Sim, você morre”, então eu espero que ele esteja feliz.

MV: E a NBC-Universal, nossa empresa, começou o parque temático.

Jo: É.

MV: Sim, no Universal Studios.

Jo: É.

MV: Você está ansiosa por isso ou…

Jo: Eu estou 100% ansiosa por isso. Eu vou ser a primeira a passear por lá.

MV: Uma das minhas cenas favoritas é do primeiro livro, a do Espelho.

Jo: É, esse é o meu capítulo favorito do primeiro livro.

MV: Oh, é também? Eu não sei, tem alguma coisa ali, quando ele olha para o Espelho…

Jo: É.

MV: E ele vê a família dele. Isso é tão tocante para mim. Se eu tivesse aquele Espelho aqui e você olhasse para ele, o que você acha que veria?

Jo: Eu definitivamente veria o que Harry vê. Ummm, eu teria visto minha mãe, eu poderia ter uma conversa com minha mãe, eu…

MV: Ela havia lutado contra a esclerose múltipla por 10 anos.

Jo: 10 anos, sim.

MV: Como isso te moldou sendo uma jovem mulher, e como a partida dela, a morte dela, afetou esses livros?

Jo: Definitivamente, a morte de mamãe teve uma influência profunda nos livros, porque eu estava escrevendo sobre Harry há 6 meses quando ela morreu. E no primeiro rascunho, os pais dele morriam de um modo quieto e quase paladino. Seis meses, e minha mãe morreu, e eu realmente acho que daquele momento em diante, a morte se tornou central, talvez o tema central dos sete livros. E, hmm, de muitas formas, todos os meus personagens são definidos pela sua atitude em relação à morte e à possibilidade de morrer.

MV: Sua mãe chegou a saber que você estava escrevendo esse livro?

Jo: Esse é um dos meus maiores arrependimentos. Ela nunca soube. Ela teria amado isso, quero dizer, da mesma forma que toda mãe quer ver seus filhos bem sucedidos. Ela estaria em todos os eventos que eu fui, ela teria um prazer indireto por conhecer todos que eu conheci, e teria ficado fascinada e interessada… E foi um arrependimento enorme não ter, ao menos, contado para ela.

MV: Se você fosse um daqueles estudantes que tivessem ido para Hogwarts e colocassem o Chapéu Seletor em você, para qual das Casas você acha que provavelmente iria?

Jo: A virtude que eu mais admiro sobre todas as outras, e acho que isso é bastante óbvio nos livros, é a coragem. Hmmm… então eu torceria para ficar na Grifinória. Se eu seria julgada merecedora disso ou não, eu não sei.

MV: Você acha que a maioria das pessoas nesse mundo é mais como Harry ou a maioria das pessoas desse mundo é mais como o Draco ou…

Jo: Eu sou razoavelmente otimista sobre a natureza humana, mas a maioria das pessoas é decente. O interessante é examinar o que acontece com as pessoas decentes quando elas estão assustadas…

MV: Como disse Stephen King, esses personagens estão lá em cima com alguns dos grandes.

Jo: Isso é muito gentil da parte dele.

MV: Frodo e Dorothy e Huckleberry Finn…

(Jo sorri)

MV: Eu suponho que seja fascinante pensar que seus livros estão neste nível, na mesma prateleira…

Jo: E é. E em última instância, se os livros merecerem sobreviver, eles sobreviverão, e se eles não merecerem sobreviver, eles não irão. É isso. A história vai julgar. No fim é isso que importa, e isso realmente ajuda você a colocar tudo em perspectiva.

Fonte: http://video.the-leaky-cauldron.org/video/827

>>Leia a Parte Um desta entrevista.

Traduzido por: Patrícia Abreu em 19/03/2009.
Revisado por: Fabianne de Freitas em 15/04/2009.
Postado por: Ohanna S. Bolfe em 15/04/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.