Jones, Malcolm (com Jac Chebatoris, Nayelli Gonzalez e Andrew Phillips). “Algo sobre Harry”. Newsweek, 14 de julho de 2003.

O mais recente episódio de Hogwarts de J.K. Rowling é mais sombrio, intenso, longo — e vale cada pedaço do exagero

Todo mundo odeia exageros, mas é altamente difícil ficar zangado com toda a animação extravagante envolvendo o lançamento, no dia 21 de junho, de Harry Potter e a Ordem da Fênix (870 páginas, Scholastic), de J.K. Rowling. Claro, sempre haverá um certo nível de queixas quando um fenômeno é gigantesco assim – um colunista on-line opinou que os livros de Potter, por também serem populares entre adultos, apenas contribuíam para uma crescente “infantilização” da cultura. Mas não vamos complicar o assunto desnecessariamente: quando qualquer livro, especialmente um romance escrito primariamente para crianças, vende mais que o último filme campeão de bilheterias – ele vendeu 9 milhões de cópias no mundo todo no primeiro fim de semana e lucrou mais que a estréia norte-americana de Hulk – é um momento agradável, puro e simples.

Mesmo um comportamento que sob qualquer outra circunstância pareceria, bem, louco – aqui só parece excêntrico, se não completamente encantador. Nos Estados Unidos e Reino Unido, milhares de pessoas apareceram nas livrarias na noite de sexta-feira, 20 de junho, esperando pela meia-noite, quando Fênix finalmente começaria a ser vendido. Na Times Square de Nova York, as pessoas fizeram fila em volta do quarteirão da Toys “R” Us para pegar uma cópia. Mas os compradores mais sortudos foram os clientes em uma loja Waterstone, em Edimburgo, onde Rowling em pessoa apareceu para autografar os livros.

Será que o mais recente episódio de Harry vale toda essa propaganda exagerada? Uma palavra: absolutamente. Os primeiros quatro livros de Rowling foram lançados um após o outro com menos de um ano de diferença. Quando o quarto livro apareceu, a tensão do ritmo estava começando a aparecer. Cálice de Fogo era uma leitura compulsivamente agradável de se ler, como uma sequência de ação de 734 páginas, mas a escrita estava muito mais descuidada que a prosa dos episódios anteriores. Ordem da Fênix, por outro lado, nunca sai fora de controle. A história é atmosférica, cheia de detalhes e contada com um talento natural para surpresas e para ditar o ritmo de uma contadora de histórias.

Sim, uma personagem importante morre dessa vez, e é perturbador porque você gostava desse personagem (diferentemente de Cedrico Diggory no último livro, cuja morte não foi tão perturbadora porque você nunca o conheceu bem o suficiente para se importar). Então, embora seja tolice dizer que este livro é mais sombrio que seus precedentes – a própria Rowling destacou em várias ocasiões que o primeiro livro começa com um homicídio duplo e que depois disso, Harry tem que viver debaixo da escada da casa de seus tios por 10 anos – qualquer um que pensou que essa série era apenas diversão inofensiva não estava prestando atenção.

Para seu crédito, Rowling nunca usa a violência de maneira precipitada ou insensível. Tudo nessas histórias contribui de um jeito ou de outro para a maturidade de Harry. Ele tem que conhecer a morte. Ele também tem que aprender que as pessoas que idolatra não são perfeitas, e, de fato, são capazes de se comportarem de maneira mesquinha e cruel. E o próprio Harry não é sempre um perfeito exemplo de bom comportamento desta vez. Ele é agora um adolescente de verdade, e age como tal. Ele tem acessos de raiva, ataques, e pensa somente em si mesmo. Se não fosse um herói de tamanho calibre, seria difícil aguentá-lo.

Espelhando as incertezas da adolescência, tudo o que valorizamos, começando com o inquestionável poder de Dumbledore, diretor de Harry em Hogwarts, é questionado neste livro. E isso torna as coisas muito mais assustadoras, para Harry e para o leitor, enquanto o perverso Lord Voldemort consolida seu poder, infectando até mesmo o Ministério da Magia com seus terríveis projetos. E Dolores Umbridge, a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, é uma das melhores vilãs de Rowling até o momento. Quando aplica uma detenção em Harry, ela o faz escrever “Não contarei mentiras” com uma pena malignamente encantada que faz as palavras cortarem as costas de sua mão.

Passaram-se três anos desde O Cálice de Fogo, mas Rowling não tem razões para se desculpar por deixar seus leitores esperando. O tempo extra resultou em uma narração longa, mas nunca embolada. Este é, de longe, o melhor livro da série. Quão bom ele é? Eu dei uma olhada para descobrir como terminava. Pode me processar, se quiser. Eu também dei uma olhada adiante em Casa Abandonada, de Charles Dickens. Apenas um livro muito bom pode levar você a fazer isso.

Traduzida por: Isadora T. Moraes em 12/02/2009.
Revisado por: Lilian Ogussuko e Thais Teixeira Tardivo em 14/02/2009 e 12/05/2009.
Postado por: Ohanna S. Bolfe em 18/05/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.