ORDEM DA FÊNIX
Harry Potter cresce e treina uma milícia

Época ~ Luís Antônio Giron
07 de julho de 2007

 

Pottermaníacos, cuidado! O quinto filme da série, Harry Potter e a Ordem da Fênix, tem mais ação e violência que os anteriores

Os potterólogos e potter maníacos deverão se preparar para o que vem por aí. E os fãs menorzinhos vão ter de ficar de fora. Harry Potter e a Ordem da Fênix, o quinto filme da série, estréia nesta semana com seqüências de ação e violência inusitados para o universo do ex-pequeno bruxo. O novo filme se aproxima em sangue e lutas com Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, dirigido por Alfonso Cuarón. A diferença é que o roteiro de A Ordem da Fênix segue de perto o romance de J.K. Rowling, enquanto Cuarón viajou na guacamole. Dizem que a nova fidelidade veio por intecessão da própria autora, J.K. Rowling, que discordou das inovações introduzidas ao longo das quatro supreproduções. O resultado é um filme mais realista, em que a ação não encobre o principal, a busca do herói pela solução dos mistérios que envolvem sua jornada de aperfeiçoamento e formação.

Mais fiel a J.K. Rowling, o diretor David Yates, de 44 anos, trabalhou com a constatação de que os alunos do quinto ano da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts já têm idade para missões arriscadas. Afinal, já estão pelos 16 anos e sabem diferenciar o bem do mal, a tirania da democracia. Há cenas ousadas. A do beijo entre Potter e Cho (Katie Leung) – a namorada de Potter que, no livro, leva o nome de Gina e não é chinesa – é uma longa seqüência digna de comédia romântica. O até então tímido bruxo se sai desenvolto da empreitada. Também não foge à luta quando trava um duelo com os dementadores e a nova personagem do Mal, Bellatrix LesTrange (interpretada pela excelente Helena Bonham Carter, ultimamente condenada a interpretar a Noiva Cadáver ad nauseam), bruxa ligada aos Comensais da Morte que deverá fazer maldades nas duas seqüências que restam.

O tema central do filme é a transgressão. Começa com Harry usando a varinha para defender o primo de um ataque de dementadores – os guardas da prisão de Azkaban. Praticar magia diante de “trouxas” (aqueles que não têm sangue de bruxo) constituiu uma infração aos códigos da magia. Harry é convocado a comparecer na sede do Ministério da Magia em Londres, onde enfrenta um julgamento. Já pesava sobre ele a suspeita de ligações com as trevas, pois é ofidioglota (sabe falar língua das cobras, talento típico da magia negra) e, vez por outra, rompe os códigos de Hogwarts. No julgamento, seu advogado é Dumbledore em pessoa (Michael Gambon), diretor de Hogwarts e tutor de Harry. Abolvido com restrições, o bruxo pode voltar à escola.

Nesse ínterim, dá-se o ingresso de Harry, Hermione e Ron na Ordem da Fênix, sociedade secreta fundada por Dumbledore. Quando Dumbledore e vice-diretora Minerva McGonagall (Maggie Smith) são destituídos de seus cargos e substituídos pela tirânica Dolores Umbridge (Imelda Staunton, em ótima atuação), arma-se o caos na instituição. Dumbledore desaparece. Dolores, sob as ordens do despótico ministro da Magia Cornelius Fudge (Robert Hardy), pretende acabar com as práticas ilegais de magia negra dentro da escola. Dá aulas teóricas e constrange os alunos a seguir leis férreas. A intervenção abre espaço para que Lord Voldermort (Ralph Fiennes) e os Comensais da Morte tomem conta da escola. O objetivo de Voldemort é aniquilar Dumbledore e, por fim, matar Harry Potter, para evitar a profecia da sibila, segundo a qual ele só poderia voltar a ter corpo e uma vida completa caso elimine o pequeno bruxo.

A profecia da Sibila Trelawney aparece em trechos no filme. Vale recorrer ao original:

“Aquele com poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima… nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês… e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece… e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver… aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar…”

Não há dúvida de que Harry vai experimentar um duelo final com Voldemort, no último filme da série. Mesmo assombrado pela imagem dos pais mortos, ele está menos auto-indulgente. Em geral, Harry é um personagem que remete a Oliver Twist e David Copperfield de Charles Dickens. São vítimas do destino, não conseguem nada de bom durante todas as aventuras. Harry também só colecionas misérias e tragédias. Não é nem o mais inteligente, nem o mais forte da turma. A predestinação é que faz dele um herói crível. O Harry desvitimizado dá início à atividade subversiva. Treina seus aliados a usar feitiços poderosos para formar uma milícia – o Exército de Dumbledore – e lutar na batalha que se aproxima. Junta-se a eles a maluqete Luna Lovegood – a nova personagem, interpretada pela estreante Evanna Lynch, escolhida entre 15 mil candidatas porque se identificou completamente com a persongem quando leu o livro de J.K. Rowling. O professor Severus Snape (Alan Rickman) mantém a postura ambivalente, e supostamente ensina Harry a se defender dos avanços de Voldemort. O senhor das Trevas costuma encarnar em corpos alheios para continuar a agir.

O momento mais interessante do filme não está no festival de efeitos especiais espetaculares (sombras, espectros, tempestades, raios etc.), mas no encontro entre Voldemort, Dumbledore e Harry. Os dois velhos bruxos se defrontam num duelo de varinhas. Em certo momento, Voldemort se apossa do corpo de Harry, falando pela boca do herói: “Você está derrotado, velho!”. É a cena paradigmática do filme para o que virá. Harry, desta vez, enfrentou as trevas e, em poucos segundos, foi tomado por ela.

Harry Potter e A Ordem da Fênix representa a restauração da estrutura profunda da saga de Harry Potter. Não há piadas, partidas de quadribol ou exibições inúteis de feitiçaria. O que reina é o confronto do bruxo com as forças obscuras. O resultado é um filme em que ação e ficção se casam como num passe de mágica. Como diria Potter: Estupefaça!