Hoover, Bob. “A criadora de Harry: J.K. Rowling na conferência de imprensa”. The Pittsburgh Post-Gazette, 23 de outubro de 2000.

Media Savvy: A fama de J.K. Rowling veio de repente, mas ela aprendeu rapidamente como seduzir a mí­dia para grandes conferências, como a que ela enfrentou ontem no the Royal York Hotel. Ela irá ler no Skydome amanhã.

A questão não é o quão grande ele é, mas quão estranho. Ao contrário da fantástica natureza de seus livros, a aparência de J.K. Rowling ontem na caverna de concreto chamada de Skydome foi, do começo ao fim, um dos eventos mais bizarros da literatura.

Acompanhada por atores vestidos com roupas de bruxo e chapéus pontudos, explosões brilhantes de fogos de artifí­cio e pela orquestra “The Planets” de Gustav Holst, a recém constituí­da mágica dos livros infantis de 35 anos escorregou timidamente para o palco no meio de ensurdecedores gritos e aplausos de milhares de alunos canadenses.

Ela pareceu ainda menor no imenso estádio de esportes, mesmo com uma cortina preta de 100 pés cortando o espaço para ficar do tamanho de um pátio interno da liga nacional. Nos bastidores, que foram montados perto da segunda base, havia três grandes televisores.

Trinta e cinco mil lugares estavam disponí­veis, incluindo mil no campo que foram vendidos por $234 dólares canadenses cada um. Os ingressos iam desta quantia a $5,85 para os assentos mais altos. Essa área estava lotada; o resto dos assentos do Skydome estavam com menos da metade da lotação.

Ontem à tarde, os organizadores ainda iam anunciar o total de ingressos vendidos.

Trazida ao Canadá pelo Festival Literário de Autores de Toronto, Rowling apareceu brevemente para a mí­dia durante dois dias com essa leitura, uma separação brusca da natureza literária séria do festival de 21 anos. Por que ela fez isso?

“Essa foi simplesmente uma maneira de satisfazer um monte de gente de uma só vez. Eu estava trabalhando dez horas por dia, e eu pensei que o livro (Harry Potter e o Cálice de Fogo) nunca iria acabar”, ela falou mais cedo em uma conferência de imprensa. “Eu disse sim para algumas coisas, e o Skydome foi uma delas”.

Apesar da sua afirmação de que estava “aterrorizada” com a multidão, Rowling leu brilhantemente o quarto capí­tulo de “Cálice“, provando a si mesma ser uma atriz perfeita também. Vestida com uma jaqueta azul e uma blusa branca por baixo, ela não teve tropeços e passava fácil de um personagem para outro.

Neste ponto, o gigantesco estádio estava em perfeito silêncio.

Rowling leu por 45 minutos, depois passou rapidamente pelas respostas de perguntas que ela disse que lhe foram feitas em Toronto. Vários suspiros foram ouvidos quando ela disse que o quinto Harry Potter, Harry Potter e a Ordem da Fênix, não estaria pronto até o próximo verão.

“Eu descansei um pouco após o quarto livro, e eu espero que vocês me entendam”, ela disse a seus fãs desapontados. “Mas eu estou escrevendo o livro agora e estou realmente amando”.

Rowling se negou a falar sobre coisas específicas de seu próximo livro. Mas ela deu uma pista: Gina Weasley, irmã mais nova do melhor amigo de Harry, Rony Weasley, irá aparecer mais no quinto livro.

Ela também disse que aprovou o roteiro final do primeiro filme, que está sendo filmado agora na Inglaterra, e que ela já escreveu o capí­tulo final do sétimo livro, o último em seus planos.

“Eu sinto como se eu estivesse no meio de um enorme livro, e eu me sinto muito frustrada pelas pessoas estarem fazendo suposições e criando hipóteses de coisas que eu estou escrevendo sendo que eu ainda não terminei”.

Enquanto Rowling se recusa a acelerar o seu planejamento para a escrita do restante dos livros da série de Harry Potter, ela oferece alguns consolos a seus fãs impacientes. Ela acabou de completar dois livros relacionados com o “mundo Potter” que serão publicados em março, cujo lucro vai para a Comic Relief, uma organização contra a pobreza da Grã-Bretanha.

Um dos livros é intitulado “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e é um dos livros da lista de material de Harry. O outro livro, “Quadribol Através dos Séculos“, é um livro que mostra nos mí­nimos detalhes as eras do esporte bruxo praticado sobre vassouras, que é um elemento central dos livros da série.

“Foi pura alegria escrever esses livros”, diz Rowling, “Muito do material eu já tinha escrito e só tive que pegá-los dos livros. Era muito detalhado para ser escrito junto com os livros”.

Rowling expressou seu desânimo pelas queixas sobre bruxaria em Harry Potter mas continua desafiando com seu assunto.

“Meus livros encorajam satanismo?”, ela pergunta. E depois responde, “Não, e você é lunático. É isso. Muito obrigada”.

Com alguns modestos acenos, Rowling desaparece na cortina preta e se vai. Ela vai aparecer novamente essa semana em Vancouver.

Ela apareceu no festival e em um evento para a Biblioteca Pública de Toronto sem receber nada para isso. A renda do evento de ontem foi direto para o festival.

Apesar da constante atenção da mí­dia na maior cidade do Canadá, Rowling revelou pequenas novidades em seus vários pronunciamentos, mas suas respostas mostraram que alguma tensão estava começando a aparecer.

Seu sucesso não foi uma questão de sorte. “Escrever é um trabalho muito difí­cil”, ela disse. “Eu não estava sentada em frente a lareira esperando ser descoberta pelo prí­ncipe”.

A sua programação de escrita é “seis a dez horas por dia dependendo da quantidade de cafeí­na que eu tomei”.

Rowling também insiste em dizer que ela vive uma “vida tranqüila” em Edimburgo, criando sua filha de sete anos, Jessica, e a mandando para a escola pública. Relatórios de sua terra natal, a Inglaterra, mostram que ela agora é a segunda mulher mais rica do país atrás apenas da rainha Elizabeth.

E, com 35 milhões de “Harry Potters” para imprimir, ela é com certeza uma das autoras mais populares do mundo.

Apesar da presença de Rowling, os organizadores do festival também apresentaram outros dois atores infantis no evento de ontem – os canadenses Kenneth Oppel e Tim Wynne-Jones. Eles foram obrigados a serem os homens mais corajosos em Ontário.

Traduzido por: Lucas Emmanuel em 07/09/2006.
Revisado por: Patricia M. D. de Abreu em 25/04/2007 e Antônio Carlos de M. Neto em 22/03/2008.
Postado por: Fernando Nery Filho em 27/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote aqui.