ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
2 ou 3 parágrafos | Alice no país das maravilhas

Meu Nome Não É Superoito ~ Tiago Faria
13 de abril de 2010

Mais do que uma decepção, este Alice no país das maravilhas (3/5) me pareceu foi um grande de um mistério. Saí da sessão disparando perguntas às paredes. Por que Tim Burton resolveu criar uma adaptação de Lewis Carroll que mais parece uma homenagem ao C.S. Lewis (com cenas de batalha pra lá de Nárnia)? Por que o nonsense hilariante do livro foi praticamente limado do roteiro de Linda Woolverton? Por que os efeitos 3D resultam achatados e pálidos? Por que, nos momentos mais mecânicos, a trama poderia ter saído de uma reunião da equipe de marketing da Disney?

Sim. É sério. E vai me dizer que você não conhece o Guia Disney para faturar alto, conquistar o maior número de pessoas e arruinar um clássico da literatura? 1. Transforme a protagonista numa aborrecente de 19 anos (caso contrário, este seria um filme infantil), 2. Adapte o livro ao modelo de fitas de aventura com um quê épico, pós-Senhor dos anéis, 3. Dê de presente ao Johnny Depp mais um tipo bizarro, 4. Escolha um cineasta que garanta ao longa um certo ar de relevância, 5. Exiba cópias em 3D, 6. Inclua uma música insuportável da Avril Lavigne na trilha sonora, 7. E boa viagem!

Ok, vamos falar sério (é que pode não parecer, mas eu gostei do filme). O que me agrada neste Alice não é a forma muito perversa como Burton transfigura o espírito de uma obra-prima (até as minhas expectativas foram desafiadas: eu queria um filme mais sombrio, cruel, um milkshake de Sweeney Todd com A fantástica fábrica de chocolate, entende?), mas as sutis peripécias do diretor, que constroi um “país das maravilhas” decadente e desolado, sob a névoa da guerra e do autoritarismo. Um inferno. Há uma cena em que a jovem Alice lembra dos dias de criança: o contraste com o resto do filme é absoluto. A personagem de Carroll vivia num mundo mais colorido, um delírio infantil. Mas a festa já acabou quando a heroína de Burton desce à toca do coelho. Novamente, no entanto, é na fantasia que a personagem vai se armar para enfrentar a “vida real”. E, se o diretor parece um pouco desinteressado com essa batalha, talvez seja até compreensível: ao longo da carreira, Burton “filmou” Lewis Carroll de tantas formas diferentes que este novo hit da Disney deixa a sensação de ser a mais banal entre todas elas.