Williams, Rhys. “O estudante e a mãe solteira tiram o manto de Roald Dahl”. The Independent (Londres), 29 de janeiro de 1999.

Uma mãe solteira de 34 anos e um estudante órfão de óculos podem não ser a combinação mais promissora, mas juntos eles se tornaram a sensação publicada dos últimos dois anos.

O mais novo capítulo na memorável história da criação literária de Joanne Rowling iniciou ontem com a publicação em paperback do segundo livro da série Harry Potter, Harry Potter e a Câmara Secreta.

Potter é o estudante bruxo cuja adoção entusiasmática por centenas de milhares de crianças e adultos fez os críticos referirem-se à srta. Rowling como a nova Roald Dahl.

A Plataforma Um na estação King’s Cross rapidamente se torna a mística Plataforma 9 e 1/2, o lugar da onde o jovem Harry vai para a escola no início de cada novo ano escolar e cujas funções são como o guarda-roupa nas Crônicas de Nárnia de C.S. Lewis.

Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro do que eventualmente se desenvolverá em uma série de sete livros, apresentou o herói para uma geração de jogos de computador que antes era vista como perdida para os encantos dos livros. Os resultados têm sido extraordinários. As vendas dos dois livros estão em persistente meio milhão, enquanto a versão capa dura de Câmara Secreta passa o seu primeiro mês na prateleira como o bestseller entre todos os livros.

A srta. Rowling ganhou uma quantidade enorme de prêmios, incluindo o Smarties Book Prize (a equivalência infantil do Booker) em anos consecutivos e um lugar na lista Whitbread 1998. Hollywood marcou sua validade no último outono quando a Warner Brothers comprou os direitos do filme para ambos os livros e para o resto da série.

O sr. Potter é um órfão forçado a viver sob as escadas por parentes cruéis até que ele aprende no seu décimo sexto aniversário que ele é, de fato, o filho de famosos bruxos, e então ele é levado para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Lá ele tem aula de poções, herbologia e quadribol, uma espécie de futebol jogado em vassouras. Oh sim, e ele salva a escola e o mundo do anjo rejeitado Lord Voldemort, um antigo monitor-chefe de Hogwarts, que escolhe usar sua mágica contra a instituição. Em outras palavras, uma linha de bem contra o mal que legitimamente conjura o Novo Testamento, apenas com personagens que lembram Roald Dahl.

Os nomes de Dahl e C.S. Lewis são freqüentemente mencionados ao lado do de Rowling, uma comparação que ela recusa. “C.S. Lewis é simplesmente um gênio e eu não sou um gênio”, ela disse. “E enquanto eu acho que Dahl é um mestre no que fez, eu acho que meus livros possuem mais moral do que os dele. Ele também escreveu muitos personagens engraçados e lineares, enquanto eu acho que os meus são mais tridimensionais”.

De qualquer modo, os críticos universalmente glorificam a srta. Rowling enquanto ela carrega leitores para um mundo de invenções onde Harry voa com um carro em uma árvore em uma flagrantes quebra de regras no mal uso dos artefatos dos trouxas (como as pessoas normais são chamadas). No segundo livro Harry desvenda o segredo de aranhas gigantes, colegas que se transforma em pedra e uma criatura desagradável que se move despercebida pelo encanamento da escola.

Potter foi desenhado de óculos porque, como a srta Rowling disse, ela usou óculos grossos quando criança e ficava frustrada que os que usavam óculos eram sempre nerds e nunca heróis.

Normalmente entre crianças de nove a doze anos de idade, a apelação de Harry foi mais larga. Pais que reclamavam sobre a recusa de seus filhos de desligarem a luz antes de terminarem mais um capítulo foram os próximos convertidos a Potter. Os publicitários da Bloomsbury tomaram um passo incomum ao lançarem uma versão adulta do primeiro livro em setembro. Era envolvido em uma capa de design especial contendo uma fotografia em preto e branco de um trem a vapor, com o título em brilhantes letras laranjas. A idéia era de acabar com os adultos em transportes públicos escondendo a versão infantil atrás de seus jornais.

Se as aventuras de Harry impulsionam a leitura, então a história da srta. Rowling também vale um capítulo ou dois. Depois de trabalhar para a Anistia Internacional, ela foi para Portugal para ensinar inglês. Lá ela casou com um jornalista, mas semanas depois do nascimento da sua filha Jessica eles se separaram.

Divorciada, sem dinheiro e agora uma mãe solteira, ela voltou a Edimburgo, onde sua irmã morava. Muito do primeiro volume foi escrito no Nicolson’s, um café na cidade para onde ela podia fugir do seu frio e miserável flat. Enquanto Jessica dormia no seu berço, a srta. Rowling tomava seus cafés e escrevia furiosamente seus manuscritos.

O manuscrito foi mandando para a Penguin, que recusou, e então HarperCollins onde ficou acumulando pó durante um ano. Finalmente ela conseguiu ajuda de uma agência literária e, dentro de um dia que mandou o livro, a Bloomsbury aceitou de bom grado. O resto pode ser tanto uma história literária quanto cinematográfica.

Revisada por: Antônio Carlos de Moura Neto em 08/05/2008.