“Relatório: J.K. Rowling no Theakstons Old Peculier Crime Writing Festival”, 20 de julho, 2014.

Para aqueles que conhecem bem os trabalhos de J.K. Rowling, provavelmente não foi difícil imaginar que ela, um dia, poderia virar sua mão para a escrita policial. A própria Rowling reconheceu o quanto ela deve à série Potter seu amor pelo gênero, refletindo essa semana que “a série Harry Potter é seis quem-fez-isso e um por que-fizeram-isso disfarçados.” Mas a forma como ela escolheu escrever tal romance foi certamente inesperada – um romance escrito e publicado sob o pseudônimo masculino Robert Galbraith e um segredo que pouquíssimos conheciam. Entretanto, a informação não permaneceu desconhecida por muito tempo, e menos de um ano após ter sido exposta pelo jornal Sunday Times como a verdadeira autora por trás de “O Chamado do Cuco”, Rowling fez sua primeira aparição pública como seu alter ego no Theakstons Old Peculier Crime Writing Festival deste ano em Harrogate, Yorkshire, Inglaterra.

Em uma conversa com a romancista policial best-seller Val McDermid, Rowling esteve presente na sexta-feira passada no Royal Hall de Harrogate, vestida com o que ela descreveu como seu “terno do Robert” – uma combinação de paletó e calças cinza, camisa branca e gravata rosa salmão.

Eu nunca ouvi um silêncio tão respeitoso e denso do que o do Royal Hall lotado para JK Rowling esta noite #TOPCRIME2014

Para iniciar a conversa da noite, McDermid começou contando a história de quando ela leu pela primeira vez (e gostou muito) “O Chamado do Cuco”. Ela acreditava, assim como todo mundo, que era o trabalho de um romancista iniciante. Cheia de entusiasmo pelo romance, ela providenciou uma citação para a capa da primeira edição. Rowling em seguida entrou com seus próprios comentários sobre como ela havia “dado pulinhos” em resposta à citação e prontamente escrito uma carta de Galbraith para McDermid para agradecer a ela as palavras. Ela então confessou ter se sentido um pouco tola um mês depois quando a identidade de Galbraith foi revelada, tendo escrito uma segunda carta a McDermid, desta vez dela mesma.

A conversa logo entrou no gênero do festival. Rowling falou entusiasticamente sobre seu amor pela ficção policial e romances de detetives. Foi durante a adolescência que ela descobriu “a era de ouro” da ficção policial, devorando autores como Agatha Christie, Dorothy L. Sayers, Margery Allingham e Ngaio Marsh. (Para os fãs que procuram expandir seu repertório, Jo recomenda o fenomenal “The Tiger in the Smoke” – sem tradução oficial –, de Allingham.) Tendo sempre a esperança de escrever um livro do gênero, Rowling disse que a ideia para Strike, um ex-veterano ferido que se tornou detetive privado, veio à sua mente há mais de seis anos. Na verdade, a história para ” O Bicho-da-seda”, o segundo romance lançado no mês passado, foi a trama que ela imaginou primeiro. Contudo, ela escolheu explorar e estabelecer o personagem Strike com um enredo mais simples e, como resultado, desenvolveu e escreveu “O Chamado do Cuco” primeiro.

Seu entusiasmo pela nova série era evidente. Ela falou diretamente sobre já estar na metade do terceiro romance – que olhará mais de perto para o exército e a vida após ele – assim como ter planejado metade do quarto. Quanto a depois disso, ela não pretende, como informado anteriormente, escrever sete histórias, ela espera escrever ainda mais! Esta revelação foi recebida com calorosos aplausos da plateia animada, e não com menos dessa que os escreve.

Eles podem demorar algum tempo para aparecer, porém, já que Rowling está, é claro, escrevendo o roteiro de “Animais Fantásticos e onde Habitam”. Previsivelmente muito modesta sobre esse assunto, Jo disse que está curtindo o processo, dizendo que “tem sido desafiador, tem sido fascinante, tem sido muito divertido”. Mas, ela acrescentou depois, “por mais divertido que seja, meu primeiro amor são definitivamente romances”.

‘Quando você odeia seu livro, estando perto demais para enxergá-lo, tire o próximo dia de folga, depois volte & leia do começo’ – #JKRowling #TOPCRIME2014

A dinâmica entre Rowling e McDermid ao longo da noite foi de total respeito mútuo, e muito da entrevista se passou com as duas compartilhando anedotas e comparando notas sobre seus métodos relacionados ao processo de escrever. Neste assunto, Rowling confirmou o que seus fãs sempre souberam sobre ela: seu amor por planejamento e pesquisa. Os romances de Cormoran Strike são excepcionalmente bem planejados, com Jo acompanhando o enredo usando “planilhas coloridas”. Naturalmente, ela tem histórias completas sobre a vida prévia de ambos Strike e Robin e sabe mais sobre amputações, patologia forense e estratégias militares do que jamais imaginou.

Essa pesquisa a levou a passar por algumas experiências estranhas, desde passar horas com seu “conselho” informal de veteranos do exército para construir cenários – ela contou uma anedota divertida sobre quase ter sido descoberta durante uma ida a um café às 6 da manhã com seu marido para confirmar os componentes do café da manhã completo deles – tudo em nome da exatidão. Ainda nesse assunto, ela confessou uma curiosidade ótima para quem gosta de referências internas: a máquina de escrever usada por Owen Quine em “O Bicho-da-seda” é exatamente da mesma marca e modelo daquela em que Rowling começou a escrever Harry Potter.

Ao longo da sessão, Rowling foi charmosa, engraçada e humilde como sempre, com sua paixão por esses novos personagens talvez acentuando isso ainda mais. Ela até declarou que Robin, atualmente a assistente pessoal de Strike, é uma das, senão a mais, personagens favoritas que ela já escreveu – incluindo todos os personagens de Potter! Esse fervor pela história, juntamente com a liberdade que ela agora tem para escrever esses livros, confirma que ela os escreverá sem dúvida por algum tempo. E para aqueles que leram os livros de Galbraith, não será difícil imaginar que o melhor trabalho de Rowling ainda está por vir.

Depois que a conversa terminou, nós fomos eficientemente coordenados de volta ao átrio para a sessão de autógrafos. Embora breve, a sessão foi uma experiência incrível de conhecer a pessoa que nos deu tanto. Rowling arrumou tempo para dizer oi e fazer contato visual com todo mundo – um toque pessoal que, juntamente com a ótima entrevista, sem dúvida será lembrado por aqueles presentes por algum tempo.

Você compareceu ao evento? Você terminou de ler “O Bicho-da-seda”? Deixe-nos saber o que você está pensando abaixo.

Traduzido por: Bárbara Waida em 30/07/2014.
Revisado por: Carolina Portela em 30/07/2014.
Postado por: Pedro Martins em 30/07/2014.
Fonte: MuggleNet.