ALFIE ENOCH
Entrevista exclusiva para o Potterish

16 de abril de 2009
Entrevistadores: Lorena de Assis, George Luis, Lara Mendonça e Patricia Abreu

Potterish: Primeiro eu queria agradecer muito pela oportunidade. De verdade. Bom, então vamos começar.

Felícia: Calma, respira fundo… [risos]

Alfie: Eu vou tentar responder em português, mas meu português não é muito perfeito [risos]… o que eu não conseguir, eu digo em inglês e…

Felícia: Eu to aqui, pode deixar, eu ajudo você.

Potterish: A minha editora chefe, a Ohanna, ficou muito emocionada quando soube que o seu pai estaria no Brasil, porque o sonho dela é trabalhar na companhia que ele está. Ela é uma grande fã. E antes de qualquer coisa, eu preciso deixar registrado que a gente não pode falar sobre Relíquias da Morte e nem de Enigma do Príncipe.

Felícia: Isso, muito bem. [risos]

Potterish: O Dino Thomas, seu personagem, é fã de futebol e torce para o West Ham, e você, sendo filho de brasileira, eu queria saber se você também curte futebol e…

Alfie: É! Eu gosto muito!

Potterish: Pra que time você torce?

Alfie: Eu torço pra outro time que joga com as mesmas cores do West Ham, é o Aston Villa, não sei se vocês conhecem, é um time inglês… e também Flamengo! [risos] O meu tio trabalhava lá no Flamengo, ele era jogador de Basquete. Ele era treinador do Flamengo.

Potterish: Os fãs sabem que Dino Thomas tem uma história muito maior do que a que aparece nos livros, não é? Ele acha que é nascido trouxa quando na verdade ele é mestiço. Alguns atores tiveram oportunidade de conversar com a Joanne sobre o futuro dos seus personagens, você conversou com a Joanne sobre o Dino Thomas e o que ele fez depois dos livros…?

Alfie: Não, eu não tive essa oportunidade…

Potterish: Ahh… que pena…

Alfie: Pois é…

Felícia: Você nunca esteve com a autora?

Alfie: Eu a conheci no primeiro filme, ela foi ao set pra conhecer todo mundo, mas foi quando eu tinha 11 anos. Mas nunca tive uma conversa assim com ela sobre o personagem.

Felícia: Então você nunca sabe o que ela vai fazer com seu personagem.. se ela vai te pendurar… [risos]

Potterish: Não, é porque o Dino Thomas tem uma história muito maior que a que coube nos livros, você conhece a história dele?

Alfie: É eu conheço, eu já ouvi uma vez, mas…

Felícia: Mas isso é objeto do seu estudo quando você vai compor o personagem, não é…

Alfie: Sim, mas isso não afeta, na verdade, pois essa história não entrou nem nos livros…

Felícia: Então esse assunto não foi desenvolvido…

Potterish: Não chegou a ser desenvolvido, porém, a Joanne vai escrever uma enciclopédia, o Livro Escocês, onde provavelmente a história do Dino sairá completa, sem cortes [risos]. Dizem que o editor britânico cortou porque achou que esse capítulo estava comprido demais.

Alfie: Ah, que bom!

Potterish: Eu li em algum lugar que você canta, participava de um coral! Isso é verdade?!

Alfie: [risos] É verdade sim, mas isso já faz muito tempo, foi na escola primária. Eu cantava num coral só naquela escola e também numa igreja. Mas já faz muito tempo.

Potterish: Outra curiosidade: É verdade que você e Mathew cresceram demais para as camas do dormitório da Grifinória?

Alfie: [gargalhadas] É, aquelas camas são muito pequenas! Mas talvez seja por isso que agora não gravamos muito nos dormitórios… Ficou muito pequeno para nós.

Potterish: Sabemos que você e Mathew são bastante amigos, até aparece nos Extras de Ordem da Fênix vocês jogando Críquete [risos], vocês tem contato só nos filmes ou fora dos sets também?

Alfie: Não, não! Eu vou lá pro… ele mora no norte da Inglaterra, em Leeds, e eu moro em Londres… É bem longe. Não é tão longe assim porque a Inglaterra não é tão grande quanto o Brasil né, mas talvez 200 milhas de Londres, eu não sei. Então eu vou de vez em quando visitar. Por que estamos fazendo estes filmes desde que tínhamos 11 anos, então ficamos muito amigos, e às vezes eu vou lá passar um tempo com ele, me divertir. Ele é muito legal, somos muito amigos.

Potterish: Como você soube que conseguiu o papel?

Alfie: A história é muito comprida, não sei se você vai querer ouvir…

Potterish: Não, lógico que vou.

Alfie: [risos] Na minha escola primária, veio um grupo de teatro, que era o National Youth Music Theatre, e eles estavam fazendo uma peça para o Teatro do William Shakespeare, o Globe Theatre. É um teatro muito prestigioso… E o meu pai tava fazendo uma peça no mesmo teatro naquela época. Mas eu não quis fazer o teste. Eu achava muito… como que eu ia conseguir isso? Era algo… muito grandioso.

Cinema Nosso: Foi a primeira vez que você ficou confrontado com a ideia de atuar?

Alfie: Não, eu sempre quis atuar.

Felícia: Ele já fazia peças na escola.

Cinema Nosso: Então você só achou que isso era algo muito grande.

Alfie: É, eu falei “não, isso é demais, eu não vou conseguir este papel”. Então eu não fui para o teste. Muitos tentaram e só um menino da minha escola conseguiu um convite pra o segundo teste. Mas aí meu pai e minha professora de Inglês ficaram dizendo “você tem que fazer, você tem que fazer”, “mas eu já perdi o primeiro teste”, então eles falaram com o diretor [da peça] para que eu fizesse o segundo teste. Então eu consegui o papel. A peça não era muito conhecida, era “The Ballad Of Salomon Pavey”, escrita pelo diretor da companhia, Jeremy James Taylor. Ele é conhecido, mas trabalha muito em companhias infantis. Eu fiz no teatro Globe e depois tivemos uma turnê pela Inglaterra. Foi muito divertido! Eu adorei.

Naquela época, vieram as pessoas pra fazer o teste para Harry Potter. E eu falei “não, agora eu não vou ter sorte. Não quero fazer”. Eu sabia que algumas pessoas haviam tentado, mas ninguém conseguiu. Depois que acabou a turnê, eu acho, eu tava de férias em Oxford com meu pai, e alguém me chamou dizendo que tinha me visto na peça de teatro e me convidaram pra fazer o teste para Harry Potter. E eu pensei “bom, agora que eles pergutaram, eu vou” [risos] Então eu fiz o teste e passei.

Potterish: Então não se arrependa. Os fãs criticam vários atores… A Lara sabe disso, nós publicamos a notícia e embaixo os fãs comentam. Tem crítica negativa sobre vários atores da série, mas quando eu publiquei que você viria ao Brasil, todos elogiaram a forma como você interpreta o Dino. Tenha certeza que os fãs estão satisfeitos. Então, não se arrependa nunca, pois você é muito querido pelos fãs de Harry Potter.

Alfie: Poxa, muito obrigado! De verdade! É muito difícil fazer um personagem de um livro que tanta gente leu, são muitas pessoas que gostam dos livros, então cada um imagina um filme, e tem uma visão dos personagens. É importante que as pessoas aceitem que às vezes fique diferente. Não vai ficar da forma que todo mundo imagina. É muito difícil para os atores e o diretor fazer algo… é tanta expectativa…

Cinema Nosso: Quando você lia os livros, você imaginava que um dia faria um personagem de um livro que foi lido pelo mundo inteiro?

Alfie: [risos] Não, naquela época eu não pensava em nada disso. Eu sabia que os filmes seriam algo muito, muito grande. Mas eu realmente não pensava nisso.

Cinema Nosso: Você não acha que ficou mais fácil por que você começou tão cedo? Você desde os 11 anos pegando o personagem. É como no futebol com um jogador que está desde o time de base, ele já está integrado…

Alfie: É, eu acho que é bom sim. Eu fiquei acostumado. Todo mundo já se conhece… Eu acho que dá pra perceber.

Potterish: E você acha que essa troca constante de diretores, até a Ordem da Fênix, atrapalhou um pouco?

Alfie: Eu não acho, não. Eu acho que foi… Pra mim, como ator, é muito bom trabalhar com diretores diferentes. É muito interessante porque cada um tem um estilo diferente, tem outra noção de como eles querem contar a história. Mas eu acho que não atrapalhou no sentido dos filmes porque tem a continuação de cada personagem, de cada ator, mas cada diretor trás uma coisa diferente, cada um tem um sentimento diferente.

Felícia: E vocês também vão crescendo. O personagem vai evoluindo e você vai crescendo junto com ele e cada diretor pega um momento diferente da vida…

Alfie: É, tem bastante continuação e cada diretor respeita o trabalho dos outros diretores, para que os filmes não sejam tão diferentes. Acho que cada um traz algo diferente e fica mais interessante, mas isso não afeta [negativamente].

Potterish: A Nathalia Tena disse em uma entrevista que, enquanto fã de Harry Potter, ela achava que os filmes às vezes fugiam um pouco do foco principal, da essência do livro. Você concorda com isso?

Alfie: [pausa] Não, acho que… Acho que isso eu vou ter que responder em inglês. Deixa eu ver. Acho que o foco principal não é o… [a partir daqui está traduzido] Embora cada história tenha uma ênfase diferente, eles ainda mantêm a questão central… É óbvio que cada filme tem um tratamento diferente, e cada diretor o compõe de uma forma. Mas cada um conta uma história própria tão rica que não tem problema mudar de diretor, porque cada um vai focar em uma coisa, mas o eixo é o respeito ao trabalho do diretor anterior. Então eles procuram fazer uma coisa completamente diferente e deixar sua assinatura no filme dessa forma. Mas a espinha dorsal, a história central é a mesma desde sempre.

Potterish: Agora eu queria falar um pouquinho sobre o evento de hoje. Como surgiu o convite?

Alfie: [risos] Eu…

Felícia: [risos] Como sugiu o convite? Foi assim: o Alfie tava dormindo, aí eu falei “Alfie, topa?” e ele falou “topo”. Na verdade eu nem falei com ele, eu falei com o pai dele “Russel, o que você acha de ir ao Cinema Nosso, a escola de cinema e interpretação, para falar com os alunos?”

Potterish: Mas você já estava no Brasil?

Alfie: É, foi casamento da minha prima. Ela é brasileira e mora na Inglaterra, mas resolveu casar no Brasil, porque aqui é mais bonito. A minha mãe é brasileira, então eu tenho muita família aqui. Ela quis vir pra cá, porque na Inglaterra está sempre chovendo. Aqui tá chovendo também, mas lá é sempre [risos].

[chega uma repórter de um jornal. Felicia pede que ela espere, pois tinha prometido que o Potterish teria uma exclusiva antes de todos, mas como a palestra já estava para começar, a repórter permanece]

Potterish: Qual a sua relação com o cinema Brasileiro?

Alfie: Bom, eu estou fazendo um curso de letras. Eu estou estudando espanhol e português. Um dos módulos que eu vou ter daqui a dois anos, que vai ser sobre Cinema Brasileiro.

Repórter: Onde você estuda?

Alfie: Oxford.

Potterish: Mas vivendo lá você teve como acompanhar alguma coisa do cinema brasileiro?

Alfie: Não é muito fácil, mas eu já vi alguns filmes brasileiros. Mas lá não aparece muito. Eu vi Tropa de Elite e Cidade de Deus. E tem Orfeu Negro, que eu gosto muito. Mas eu vou conhecer mais agora no meu curso. O problema é que os professores do meu curso são portugueses, então eu aprendo o português de Portugal, que eu não quero! Eu sou filho de Brasileira.

Felícia: Você quer ficar com o linguajar brasileiro…

Alfie: É, até porque é difícil de entender, porque o sotaque é muito diferente. Eu morei em Salvador por um ano quando eu tinha 6 anos.

Potterish: Estar num filme como esse, desde os 11 anos e vê-lo se tornar uma coisa tão grande… Como isso afeta sua vida? Como você lida com isso?

Alfie: Eu sempre adorei os livros, já os tinha lido antes. Pra mim como ator, é uma grande oportunidade. Mas no dia-a-dia não afeta muito, não. Só que desde aquela época eu tinha que sair da escola…

Felícia: Mas como você repunha as aulas?

William Russell: Ele continuou indo para a escola e tendo aulas. Tinha um Rolls Royce que o pegava todo dia e o levava. Ele estudava muito mais no estúdio do que em casa.

Alfie: É, nós tínhamos professores no estúdio, contratados pela produção. Mas isso era muito difícil para os diretores, pois uma hora todos tinham que parar e ‘ir pra escola’ e passar três horas estudando e mais uma hora de almoço. E tinha um tempo máximo que podíamos passar no estúdio por lei. Então não me atrapalhou. Foi tudo bem pra mim. Eu acho que, além disso, era minha responsabilidade trabalhar um pouco mais do que se estivesse só na escola. Mas eu conseguia acompanhar e foi ótimo para mim. Se eu tivesse um dever de casa, eu podia entregar mais tarde.

William Russell: E a produção aproveitava para gravar o máximo possível nas férias e feriados, para não atrapalhar.

Alfie: Mas vocês podem imaginar a confusão, para filmar aquilo tudo, com tantas cenas, e conseguir juntar todo mundo, gente de vários lugares… Mas era bom pra mim, porque era o que eu queria fazer, eu me divertia muito. Valia a pena se eu tivesse que trabalhar um pouco mais do que os outros na escola.

Potterish: Assistindo aos filmes, a gente imagina que trabalhar naqueles sets deve ser uma coisa muito mágica, ainda mais para uma criança de 11 anos. Ainda agora, que você já cresceu, como você vê essa magia?

Alfie: É estranho, porque a gente se acostuma, mas é incrível. No primeiro filme nós fizemos muitas cenas fora dos estúdios, em locações, depois eles decidiram que era melhor construir tudo em um estúdio, então são estúdios enormes. Mas indo todo dia para lá trabalhar, eu acho que uma hora a gente se acostuma e fica meio convencido. Acho que agora é menos impressionante mesmo. Mas de vez em quando, eu levo minhas irmãs e meus sobrinhos para visitar, eu mostro tudo por lá para eles e nessas horas eu aprecio mais e vejo com outros olhos.

Potterish: Você gosta de se ver na tela? [risos]

Alfie: Olha, é muito estranho! Na primeira vez que eu vi, foi muito, muito estranho mesmo. Eu achei que eu parecia engraçado e tinha uma voz engraçada. E a cada cena eu ficava me procurando, sabe? Será que saiu aquela parte? Será que cortaram aquela fala? É bem esquisito.

Potterish: E a cada Premiere, quando vocês chegam e todas aquelas pessoas gritando seu nome…. como é isso…

Alfie: Nossa, é alucinante. É incrível. Todas aquelas pessoas, às vezes na chuva, no frio, esperando por tanto tempo…

[Está quase na hora da palestra, então só haverá mais uma pergunta. Como a repórter do jornal chegou depois, a Felícia pede que ela pergunte. No entanto, ela pergunta sobre Enigma do Príncipe e o Potterish ganha então o direito a fazer uma última pergunta.]

Potterish: Para os fãs dos filmes, foi dolorosa a perda do Richard Harris…

Alfie: Sim… Eu não o conheci muito bem, mas é claro que é muito difícil. É muito estranho e triste quando você volta para fazer o próximo filme e aquele ator não está mais lá para continuar o personagem…

[Felícia pede desculpas, mas pede que todos desçam, pois já estava na hora do evento começar.]