ALFONSO CUARÓN, DAVID HEYMAN e TANYA SEGHATCHIAN
Coletiva de imprensa da Cidade do México – Tradução G.V.Linares
www.harrypotterofilme.com

Confira abaixo a transcrição da coletiva de imprensa com o diretor Alfonso Cuarón, o produtor David Heyman e a produtora executiva Tanya Seghathcian, no México, no dia 05 de junho de 2004, cortesia dos sites Totally Harry Potter e The Magical World of Harry Potter:

 

Miguel Mallet (Warner Bros): Olá, bom dia. Mais uma vez, obrigado por estarem aqui conosco. Eu quero apresentar nossos convidados de hoje que estamos muito orgulhosos de estarem aqui. Nós temos Tany Seghatchian, ela é a produtora executiva do filme; David Heyman, que é o produtor da série Harry Potter; e Alfonso Cuarón, que irão conversar um pouco com nós sobre esta grande produção. Obrigado.

Alfonso Cuarón: Antes de mais nada eu gostaria de pedir desculpas pelo nosso atraso, o que acontece é que esta manhã nós fomos bombardeados por ligações com notí­cias muito boas, porque ontem, sexta-feira, foi o primeiro dia do lançamento do filme nos Estados Unidos e também o melhor até hoje.

David Heyman: o melhor dia da história da Warner Brothers, a segunda maior arrecadação em uma sexta-feira da história.

Alfonso: Também é a segunda maior sexta-feira na história do cinema e a número um da Warner Brothers, nós estamos muito felizes [aplausos]

Se este foi o segundo, qual filme foi o primeiro?
Alfonso: O melhor dia de todos os tempos? Foi Homem Aranha… mas esse não é da Warner. (risadas)

Olá, bom dia Cuarón. Em primeiro lugar: wow, que desafio! Eu quero saber uma coisa que é um pouco mais pessoal, porque acho que estamos incrivelmente contentes com o filme, certo? O que eu quero saber é: você, como um mexicano, bem, você sabe que tudo foi preparado por Chris Columbus e todo mundo é Britânico, todo o elenco e equipe… e de repente você chega lá e dá ao filme um sabor diferente: como foi, como um mexicano, chegar lá no começo? Eles mostraram algo que tinham como referência para você? Digo, nós de repente vemos você colocando crânios de açúcar na loja de doces… Eles comentaram alguma coisa sobre você ser mexicano? Foi estranho para eles que você era diferente, talvez mais quente, porque… bem, as pessoas Britânicas são muito frias, não? Como foi a experiência?
Alfonso: Eles falavam muito devagar, dizendo: “VO – CÊ – EN – TEN -DEU?”, e eu respondia: “UM POUCO” [risadas]. Não, na verdade eu não acho que você chega lá como um mexicano, você chega lá como um cineasta. Eu não acho também que eles contrataram um mexicano, eles contrataram um diretor. O que acontece é que o diretor é mexicano… ele se torna, bem, o que ele é. Neste filme a única coisa que eu tentei foi me manter fiel ao espírito do livro de J.K.Rowling. Quando eu tive dúvidas sobre aceitar este projeto ou não, Guillermo del Toro ficou me dizendo para aceitá-lo. Ele me disse para, caso eu aceitasse, eu não deveria tentar estragar nada com as minhas coisas, deveria apenas tentar me manter fiel ao espírito do livro e isso eu fiz, se eu servisse ele e não estragasse as coisas com minha equipe, eu poderia acabar fazendo um filme mais pessoal. E ele me disse isso honestamente. Então o que aconteceu é que eu apenas fui fiel ao conteúdo e fo isso que nos conectou. O que acontece é que embora eu tenha feito isso apenas servindo o material, eu era o diretor, tudo era filtrado por mim, então estes elementos de que você está falando eram aqueles pessoais… e eles realmente amaram essa idéia, especialmente esses caras. (aponta para Tanya e David)

Olá Alfonso, bom dia. Antes de mais nada, eu gostaria de parabenizar você, porque eu acho que este é o melhor dos três filmes de Harry Potter e é tudo graças a direção, nós mexicanos estamos bastante orgulhosos e agradecemos você por este filme. Minha pergunta é: quantos detalhes você colocou na história que não estavam nos livros, porque há algumas coisas que não estão e eu gostaria de presumir que são seus, ou talvez do roteiro. E minha segunda pergunta é: existem três vezes em que Harry vê seu reflexo: no lago, no vidro e no espelho. Eu queria saber se há algum significado especial nisso.
Alfonso: Wow. (risadas) A primeira parte era…

Quanto das suas próprias coisas você colocou no filme?
Alfonso: A verdade é que eu apenas tentei servir ao material, me subordinar pela história, pelo material. Mais uma vez as coisas começaram a sair porque cada um é cada um e então a visão adota novas virtudes ou é corrompida no ponto em que passa através do meu ponto de vista, então muitos detalhes vieram graças a isso. Mas, novamente, qual era a pergunta? Eu estou me confundido…

Sim, e quanto disso tudo foi parte da sua visão ou da visão do roteiro?
Alfonso: Oh! Isso é muito interessante porque é um pouco do meu trabalho com Steve Kloves, o escritor do roteiro, e com Tanya, que estão aqui. O que nós tentamos fazer era amarrar o filme o máximo que pudéssemos. Estes livros tem tantas histórias e linhas narrativas que você tem que fazer um grande trabalho discriminativo. Existe tanta informação que nós decidimos que ao invés de termos cenas de 5 minutos de “blábláblá”, a menos que era um conflito ou uma cena com choque dramático como a Casa dos Gritos onde todos os personagens estão reunidos, nós irí­amos remover o máximo possível das cenas de “blábláblá” onde as coisas são explicadas. De fato, estas cenas são muito limitadas neste filme, e nós tentamos achar equivalentes visuais para explicar as mesmas informações. Isso foi graças ao pedido de J.K.Rowling, que pediu para não sermos literais mas sim fiéis ao espí­rito dos livros. Porque ela entende o processo criativo e sabe que filme e literatura são duas coisas completamente diferentes e temos que adaptar um pouco. Existem exemplos, como quando Harry está procurando Pedro Pettigrew com o mapa e que não é mencionado no livro, mas era o núcleo da história na qual nós sabiamos que teríamos que entregar muitas informações: primeiro que Pedro Pettigrew está vivo, então: como o mapa funciona exatamente e tudo tinha que acabar em uma cena de conflito com Snape no qual ele tira o mapa e Lupin fica bravo com Harry. Todos estes elementos estão no livro, mas espalhados através de muitas cenas, e se nós fossemos literais e fizéssemos todas estas cenas nós não terí­amos tirado, talvez, meia hora. E o que nós fizemos foi uma cena na qual Harry está na cama, vê Pettigrew no mapa e vai atrás dele. Nós condensamos todos estes elementos em uma cena visual. Existe muito pouco diálogo. Nós também definimos uma linha temática onde Harry busca uma identidade como uma criança entrando na adolescência. Tudo que existe no livro que era relevante para este tema foi deixado dentro. E outras coisas, engraçadas ou divertidas, que não acompanhava esse tema foi deixado de fora. E sobre os reflexos – wow, você sozinho contou elas (risadas). Existe muita coisa acontecendo neste filme e obviamente é no primeiro reflexo na janela. Sobre esse jogo de espelhos no qual você não sabe mais onde a realidade está ou não. Na cena do bicho-papão a câmera entra no espelho e passa através dele, e você pára para pensar se está vendo as coisas através do espelho ou do lado de fora. E também há essa coisa no filme onde Harry não está buscando pelo lado de fora, mas de dentro. Então como parte disso, ele fica assustado com seu próprio reflexo.

Obrigado.
Alfonso: Obrigado você.

Eu gostaria dizer antes de mais nada que você fez um excelente trabalho neste filme e também por deixar sua trilha mexicana no filme como em Hogsmeade, na cabine de Hagrid, todos estes detalhes. Eu gostaria de perguntar: se você tivesse um bicho-papão na sua frente neste momento, que forma ele teria?
Alfonso: Hm… está lá no Iraque! (risadas) E o Riddikulos teria que ser Bush vestido como Papai Noel ou alguma coisa… (risada e aplausos)

Antes de mais nada, parabéns, que filme ótimo. Eu queria saber: o que esse filme significa para você, tanto na carreira como em sua vida? E o que você gostaria de deixar para o público como um arti­sta? O que você gostaria de projetar, o que você gostaria que as pessoas fizessem depois de ver seu filme?
Alfonso: Eu apenas tentei seguir o ótimo conselho de Guillermo del Toro. E foi uma experiência tão especial porque esse processo criativo abrange todos os outros processos criativos que eu conheço. Em primeiro lugar: quando você está fazendo um filme, parte do processo criativo é que depois de terminar você espera ter um público, então você espera que as pessoas vejam ele. Mas aqui é diferente. Aqui você já sabe que milhões de pessoas irão assistir ao filme. Então você tem a responsabilidade de “o que eu irei fazer para valer a pena que todas essas pessoas vejam ele”. E para fazê-lo melhor, não apenas um produto cínico. E a coisa mais importante é, como Guillermo disse, me colocar a serviço disso. Quando você faz isso, você tem que colocar seu ego de lado, porque o processo não é sobre “o que eu quero fazer”, mas sobre “o que o material está pedindo para eu fazer”. Mais uma vez, tudo passa através do meu ponto de vista, então eu tive minhas próprias interpretações. São duas maneiras diferentes de fazer a mesma coisa. Então por fazer isso eu não estava tentando fazer nada de mais a não ser servir o material. E quando você fecha seu ego, muitas portas criativas se abrem para você… coisas que eu aprendi bastante neste filme. De um jeito eu não tentei colocar nada meu nele, eu queria que esse filme fizesse justiça ao livro de J.K.Rowling, que eu também gosto bastante. O resto não depende de mim, depende de você.

Miguel: Bem, eu acho que aqui na Warner nós estamos realmente orgulhosos de David e Tanya também, e gostaria que eles dividissem um pouco de suas experiências com Alfonso durante este filme.
David: Alfonso faz todo mundo a seu redor melhor. Não é muito fácil porque ele insiste, insiste, insiste (risadas) ele insiste. Todo mundo, eu acho, na minha experiência, de pessoas fazendo dos pequenos trabalhos aos grandes trabalhos, realmente parece que no final desta experiência, eles estão melhores em seus trabalhos, graças a terem trabalhado com Alfonso. O que eu acho sobre Alfonso é que ele se interessa em cada aspecto do processo de produzir um filme e ele quer fazer cada um dos aspectos do filme que ele tem. Ele é uma tremenda colaboração e relamente traz o melhor de todo mundo como disse antes. Se ele pudesse ele teria costurado o botão das roupas dos atores, tanta é a atenção dele que faz o filme o que é. Eu acho que o filme é mais rico em detalhes. A única coisa que eu acho extraordinária sobre a experiência é… Alfonso tinha uma visão do filme como inteiro; e não sobre uma série de episódios. Alfonso tinha uma idéia bastante clara sobre a história que ele queria contar, a idéia central, e qualquer coisa que fosse diferente disso, ele colocava de lado. Mas ele tinha uma visão geral do filme, então eu acho que o filme funciona parcialmente por causa dessa visão geral. Minha única tristeza é: acabou.

Tanya Seghatchian: Bem, eu senti da mesma maneira que David sentiu. Alfonso foi uma inspiração e ele se mantém como cineasta de forma tão extraordinária que quando você trabalha com ele sente-se inspirado para ajudá-lo, fazer tudo que é possí­vel para fazer as coisas mais fáceis e melhores. E ele te engana a pensar que você está ensinando coisas, mas tudo que você faz é sobre ele estar ensinando você.

Alfonso: Neste filme o que acontece é que eu tive a mesma liberdade de quando estava fazendo E Sua Mãe Também e eu devo grande parte disso ou tudo mesmo para estes caras (Tanya e David). De um lado há um estúdio que apoiava a visão que nós tínhamos deste filme 100% e uma vez que eu comecei a dirigir, eu estava apenas criando. Cada empurrão era recebido por eles e superado por eles. Eu li depois que houveram guerras dentro da produção. Eu soube depois que houve uma greve; que metade da Escócia foi queimada, eu soube mutias coisas depois que elas aconteceram. E quando os jornalistas me pergutnam sobre isso eu digo que realmente fui o último a ser informado. Então eles manteram toda as “vibrações ruins” do lado de fora do set e fora de minha vida. É realmente fácil criar quando você tem o espaço criativo aberto e com respeito, e eu devo grande parte disso a estes caras (Tanya e David).

Porque você não leu os livros de Harry Potter antes de ter começado com este projeto? Você teve algum preconceito?
Alfonso: O que acontece é que eu estava fazendo E Sua Mãe Também. A grande diferente entre este tipo de filme e aquele tipo é que: você filma E Sua Mãe Também em, vamos dizer, dez semanas; você edita ele e todo o processo pode levar oito meses e então terminou. Filmes assim demoram dois anos. A grande diferente é a seguir: você termina o filme em dois anos, então você tem três semanas para a divulgação e então entra a grande máquina da publicidade, tão grande como tudo neste filme, apenas acontecendo e você não tem que fazer nada. Em filmes como E Sua Mãe Também seu trabalho é em oito meses, então dois meses no qual você está fazendo contratos de distribuição e uma vez que seu filme está sendo lançado em cada país você tem na verdade que ir lá e dar um empurrão no filme, como eu fiz na Argentina. Você não pode apenas enviar este tipo de filme, porque você não tem orçamento para fazer propagandas na TV, rádio, outdoors ou algo assim. Então você tem na verdade que ir lá e vender seu filme. O lance é que, e isso é realmente engraçado, você tem que fazer isso em cada um dos países que ele está sendo lançado. Então isso acaba sendo um ano e meio de sua vida dedicada a empurrar o filme. Então eu estava profundamente envolvido em levar meu filme quando o primeiro Harry Potter foi lançado e foi assim qeu aconteceu. Eu sabia que os livros existiam. Eu conhecia o fenômeno de Harry Potter, mas não sabia muito bem sobre o que era. Eu suspeitava, depois do sucesso do primeiro filme, que era apenas um produto explorativo para tirar o dinheiro dos pais, certo? (risadas) Porque eu não tinha lido o material, não conhecia nada destas coisas. E também, com tudo que estava acontecendo com E Sua Mãe Também, eu estava lendo mais leituras pornôs. (risadas). Mas a verdade é, quando eu li os livros eu entendi como estava com a idéia errada, não é?

Sr. Cuarón, falar sobre o cinema Mexicano se tornou um assunto muito chato. Quando nós perguntamos por exemplo o título do IMCINE de como o cinema Mexicano é, ele fica nervoso. Eu estava perguntando, fora os casos de Fernando Eimbcke e Carlos Reygadas, que aparecem como casos muito interessantes dos últimos cineastas locais, eu estava perguntando se você está planejando incorporar o sistema do cinema Mexicano? E porque você acha que todos estes argumentos são produzidos quando as pessas falam sobre isso?
Alfonso: Se integrar ao sistema de cienma Mexicano é como se juntar a um sistema em que você irá puchar o gatilho de uma arma apontada para a sua cabeça. Eu perfi a fé no que você acha de sistema do cinema Mexicano. Eu perfi minha fé tremendamente. Você sabe o que é triste em tudo isso? Que você está falalando sobre o “sistema” do cinema Mexicano porque você não pode falar sobre a industria. No passado nós teríamos falado sobre uma indústria do cinema Mexicano nas agora isso não existe. Agora é um sistema como você chama isso, uma comunidade de cinema talvez. Eu parei de ter acreditar nisso completamente. Agora eu conquistei uma tremenda fé nas pessoas. As pessoas que fazem a diferença, você vai além das margens do sistema do cinema Mexicano. Nós estamos falando de pessoas como Reygadas, Eimbcke e Alejandro Gonzáles Iñarritu, ele nunca fez parte da chamada comunidade de cinema Mexicano. E eu sei que o que estou para dizer não é muito popular, mas eu acredito que o que está bem errado com esse sistema é por causa de seus diretores e criadores. Eu espero que eles me perdoem… culpar os outros todas as vezes define bastante como uma pessoa é, eu acho. Os verdadeiros diretores fazem seus próprios caminhos. E por dizer isso eu não estou tirando a responsabilidade do governo Mexicano que não assumiu a responsabilidade cultural que é dar apoio ao cinema Mexicano. Eu estou falando sobre sistemas de apoio como eles são na Argentina e no Brasil, no qual há encorajamentos fiscais. E as palavras dessas pessoas são preguiçosas. Eles são preguçosos porque é mais fácil não mudar nada. Antes, pelo menos, com toda a robalheira na administração de PRI, nós tivemos populismo demagogo sobre a internalização e patriotismo no qual a defesa de uma cultra era parte de outra. Muitas vezes lidados de uma forma quase realista socialmente, mas no final era um apoio a uma certa cultura. Eu não estou defendendo de nenhum jeito a administração passada. A única coisa é que havia um entendimento de que era importante apoiar pelo menos de uma maneira popular. Agora, de repente, a cultura não é mais uma prioridade distante e sim prioridade nenhuma. E a cultura passa de mão em mão com a educação. Ano passado, que teve muito haver com o México entrando na democracia, e entrou para funcionar na maneira de gabacho, que é a democracia de destruição, a democracia da cultura do que as pessoas chamam de giro, o desvio de informação. Como você vê com Kerry e Bush, suas campanhas são sobre “vamos ver quem ataca o outro mais” e “quem descrédita o outro mais”, “quem destroi o outro mais”. Não é sobre “o que nós iremos construir”, “minhas propostas de construção”. E a política do México entende precisamente isso e gira também. O giro é lidar com estas informações, fazê-las uniforme e, de repente, dar a elas uma deformação e então elas se tornam algo completamente diferente. De repente torturas não são torturas mais, elas são chamadas de meios. E assim não é errado, porque antes as pessoas eram torturadas, agora elas apenas passam por meios. E o estado do México de um jeito adorou esse chamado giro… É uma explicação muito longa para um exemplo concreto: ano passado houve um anúncio de que algumas instituições iriam ser fechadas. O Instituto de Cinema, o CC, a Escola de Cinema, diversas instituições culturais. O que aconteceu? Todo mundo protestou. Eles tiveram que detabter isso durante os dois últimos meses e, no final: “não, não, não, nada irá mudar; eles não irão fechar nenhuma dessas instituições”. De repente todas as pessoas que reclamaram ficaram felizes: “nós não deixamos eles, nós os vencemos”. Venceram quem? Nada mudou! Eles apenas nos enganaram; eu acho que eles relamente fizeram de propósito!! Eles são gênios. É assim: “vamos destruir isso, todo mundo irá defender, todo mundo vence e eles sentem como se algo realmente tivesse sido feito e alguma coisa aconteceu”. Não, nada aconteceu. A única coisa que eles fizeram foi deixar as coisas exatamente do mesmo jeito que estavam antes e por um tempo as pessoas pararam de reclamar sobre a falta de dinheiro. Foi mais como “não feche o que já está construído”. Então essa é a falta de responsabilidade na cultura, nesta democracia que ninguém assume uma responsabilidade. Assim como “el macho Jorge” acha difícil pedir desculpas, diversas pessoas aqui trabalham duro admitindo que eles fizeram algo errado. Então isso definitivamente afeta o futuro da criação de uma indústria. Mas isso não tira a responsabilidade dos cineastas ao mesmo tempo, porque como eu disse, eu acredito nas pessoas; de que eles irão conseguir gerar uma indústria. Agora, diretores irão continuar a sair do México, porque aqueles que são realmente talentosos e querem fazer irão continuar a fazer filmes. É o mesmo do que com as pessoas de que estávamos falando. E existe outros caras que irão seguir seus próprios caminhos, Arturo Pipstein continuar a fazer um filme por ano e ele não pede permissão para ninguém, apenas continua a fazer suas próprias coisas.

Certo Alfonso, de volta a Harry Potter. Existe…
Alfonso: Sim, de volta nele, certo? (risadas)

Bem, eu queria perguntar uma coisa. Existe uma óbvia diferença entre os dois filmes que Chris Columbus fez e o seu. Os dois primeiro eram muito coloridos, bastante iluminados, com muita luz. Eu não sei se isso foi um conselho de Del Toro, mas diferente dos dois primeiros filmes o seu é bastante sombrio, com tons pretos, muito mais escuro, com chuvas e neblinas; mesmo nas cenas mais coloridas dos outros filmes como o Expresso de Hogwarts e o Quadribol são bastante tristes aqui, quase ao estilo de Tim Burton, se posso dizer isso. Eu não sei se isso foi um conselho de Guillermo del Toro ou porque você fez essas mudança na tonalidade?
Alfonso: Tudo volta a ser fiél ao espírito do livro. E antes de tudo você tem que entender que nós somos dois diretores diferentes, com virtudes e falas diferentes. Eu tenho grande gratitude com Chris porque ele fez o trabalho duro. Eu cheguei quando tudo já estava testado e esse era o plano. Eu vim aqui para me divertir; ele chegou aqui para tentar construir alguma coisa que tivesse uma reação possitiva da audiência. Quando eu cheguei tudo já estava decidido, eu não preciei ir procurar um Harry Potter. O trabalho de Chris Columbus e destes caras (Tanya e David) deve ter sido horrível. Eu cheguei aqui e já existia e provado de que funcionava bem. Mas… os livros evoluiem também, e o tom deles também. O tom começa a ficar cada vez mais sombrio. Aqui eu tentei fazer o que achei que seria certo fazer, uh, a fita de alguém acabou [o gravador de alguém parou de gravar em cima da mesa], e isso foi também uma questão de manter-se fiél ao material e ao livro; o livro é mais sombrio, mais atmosférico, quase tem uma junção ao cinema sombrio incluído. Então nós comparamos com The Third Man, que tem muitos destes elementos, incluindo um personagem que não aparece até chegar o final. E a mitologia desse terceiro homem que não aparece é criado, assim como com Tim Burton. Então nós realmente temos tons diferentes… Mas eu não pedi – talvez tenha sido essa a coisa que eu mais perguntei ao Guillermo del Toro. [risadas]

Alfonso, duas perguntas: o sucesso que você está tendo apenas por ter feito Harry Potter e ainda existe mais por vir porque foi lançado a apenas um dia e irá ser enorme, você acha que, em uma questão de egos, isso será um shoque para as pessoas que fecharam as portas para E Sua Mãe Também ao Oscar, para o professor que o tirou da sala de aula, hm…
Alfonso: “Ya lo passado…” [risadas] (N.d.HPoF: Cuarón cantou aqui um pedaço de uma música mexicana que diz “o passado é o passado”)

Eu digo isso porque agora a Academia irá olhar para você e dizer: “o diretor de Harry Potter 3 é Mexicano”. Essa é a primeira parte. Agora, como você irá lidar com todo o maquinário que vem junto com Harry Potter em seus futuros projetos, para o processo autorário do cinema não seja perdido, porque eu acho que você está interessado em fazer seus próprios filmes, que cheiram como você, não como Hollywood.
Alfonso: Antes de mais nada eu não acho que a Academia se preocupe com isso, o que deveria ser em relção a Mexicanos fazendo filme em Hollywood. E vamos esclarecer as coisas aqui; porque eu estou preocupado com as coisas que você está dizendo… assim como a DEA (N.d.HPoF Agência de Combate as Drogas dos Estados Unidos) certifica os países, você está dizendo que agora eu sou um Mexicano certificado em Hollywood. E isso é assustador. Digo isso porque é ofensivo como a DEA certifica quaís países combatem as drogas quando eles são os maiores produtores do mundo. Aqui nós estamos falando sobre o maquinário, mas um maquinário cuja 90% de seus produtos são lixo e você está elevando muito uma coisa certificada por esse maquinário. E de um jeito você está aprovando a certificação de Hollywood.

Eu estava falando sobre a publicidade…
Alfonso: Sim, mas primeiro você mencionou a Academia, alguém que tivesse me tirado da sala de aula, e o shoque por eu ser agora certificado por Hollywood… e isso não é certo. Se você estiver me dizendo isso porque é uma boa jogada, eu posso acreditar em vocêm, mas quando você envolve Hollywood como “ele que fez” isso é um terrível caso de cineastas que não precisam ir para Hollywood.

É um filme que milhares de pessoas gostaram e milhares de outras também irão gostar…
Alfonso: E isso é ótimo, é bom que isso seja esse tipo de jogada; mas isso não é uma vingança e estou seguindo em frente. Como eu disse a você eu perdi a fé no sistema Mexicano de cinema. Pedro Armendáriz diz bem: “todo mundo consegue fazer uma pipa de suas bundas” [risadas], e eu estou fazendo minha pipa, deixe que eles façam suas próprias e tudo ficará em paz. Também, existe cinemas para todo mundo lá. Existem filmes para todo mundo em todo lugar. Sobre sua questão de que se eu queria fazer filmes que não cheirasse a Hollywood: eu não posso fazer um filme que não seja de um autor, tudo de mim é de um autor, eu não posso colocar dois anos da minha vida fazendo algo que não seja pessoal. Eu não estou dizendo que não posso fazer filmes ruins, eu posso fazer filmes pessoais ruins. E tudo que eu faço é pessoal… então existe mais um termo: qual é o cheiro de Hollywood? Os irmãos Cohen cheiram a Hollywood? Eles trabalham no sistema de Hollywood… J.P. Anderson cheira a Hollywood? Scorsese cheira a Hollywood? Existe muita confusão ideológica sobre estes temas. Eu acho que é mais interessante falar sobre cinema. Ou talvez nós iremos acabar falando sobre festivais. Por exemplo, eu tive uma conversa recentemente com o festival de Sundance. Eu pedi a eles para retirarem a seção Latino Americana do festival. Eu posso ter ficado um pouco inpopular e posso ter irritado algumas pessoas, mas eu acho que é ofensivo que exista uma seção de Latino Americanos no festival de Sundance. Eu acho ofensivo que exista uma seção chamada “cinema mundial” e uma outra seção separada chamada Latino Americano. É algo separado. E a pior parte disso é que nós somos os primeiros a aprovar essa separação, o que é favorecer a mediocridade. Não importa se nossos filmes são mais baratos e não são aceitos em nenhum festival, porque no final existe a seção de filmes Latino Americanos em Sundance. Isso é o suficiente… Deixe o cinema Latino Americano ser parte do mundo. Se os filmes foram ruins, não chame eles, mas se forem, coloque-os na seção mundial, não na seção do cinema Latino Americano porque se nós continuarmos com isso teremos daqui a pouco “Filmes Latino Americanos para Lésbicas Desprivilegiadas”. E nós temos estes festivais! [aplausos]

Eu gostaria de parabenizar você pelo excelenete trabalho neste filme; é definitivamente o melhor de todos. Eu tenho uma pergunta para o Sr.David ou Tanya: porque o Sr. Cuarón? A escolha foi um tanto quanto desafiadora. Porque escolher alguém que iria soar como um problema para os pais graças a seu último filme?
David: Eu me apaixonei por Alfonso depois de assistir seu primeiro filme, Solo Con Tu Pareja. Tanya e eu queríamos trabalhar com ele a algum tempo já, nós tinhamos a proposta para um projeto que foi tirado de William Shakespeare, antes de E Sua Mãe Também, chamado Are You Experienced? e temática era como E Sua Mãe…, exceto pelo fato de que era sobre dois garotos de 19 anos de idade brigando por uma garota na Índia, e, bem, Alfonso fez E Sua Mãe Também. Uma vez que Chris Columbus deixou o lugar de diretor destes filmes, nós tivemos uma discussão de quem poderia trabalhar como diretor e Tanya e eu sentimos que seria uma escolha natural escolher Alfonso. Primeiro porque ele tinha feito A Princesinha, que é uma grande adaptação e um filme que funcionou ótimo com as crianças, um filme que tem muita mágica e é bastante gracioso. E pelo outro lado eu acho que esse filme precisa seguir em frente, no sentido de que E Sua Mãe Também é um filme sobre adolescencia, enquanto este é um file cujo personagens, Harry, Rony e Hermione, estão começando a entrar na adolescencia e era hora deles parecerem um pouco mais vlehos. Você viu o que Harry estava fazendo debaixo de seu lençol com sua… “varinha” [risadas]. Então em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban eles estão saindo da infância para a adolescencia. Alfonso entende perfeitamente os adolescentes e de uma certa maneira ele é um adolescente, realmente. Também, ele dirige com realidade, em E Sua Mãe Também nós vimos verdade naqueles personagens e era importante para nós no terceiro Harry Potter fazer os personagens crescerem de verdade. Você vê eles usando suas próprias roupas um pouco mais, desarrumados, com as camisas para fora, de um jeito bastanet natural. E por tornar mais real, faz a mágica ser mais mágica. Quando nós escolhemos o nome de Alfonso, vou ser honesto, o estúdio não fez “Oh, sim, sim, grande idéia!” [risadas]… Foi “O que você tem na cabeça!?” Mas no final não somos nós que estamos pagando as contas, são eles, e eles tiveram a coragem de decidir e acho que todos nós devemos agradecer eles pela coragem em dizer “Alfonso irá fazer este filme”. E também, uma vez que a petição foi feita, eles no deram liberdade… eles deram a Alfonso liberdade para fazer o filme que queria fazer, nós não queríamos fazer um filme de Chris Columbus e para a série continuar, ela tem que evoluir e eu acho que todo mundo percebe que depois de dois filmes, nós precisamos seguir em frente. E novamente, eu normalmente não agradeço o estúdio, mas neste caso eu realmente agradeço o estúdio, eles foram ótimos.

Alfonso Cuarón: Eu tenho outra teoria sobre um termo insolente que existe na indústria de cinema de Hollywood: quando eles falam sobre filmar na Inglaterra, a Inglaterra é mais barata, o trabalho e tudo mais é mais barato do que Los Angeles e Nova York, existe esse termo para estas coisas, “Mexicanos brancos”, porque é mais barato na Inglaterra. Eles são chamados de “Mexicanos brancos” e eles tiveram um pouco de problemas comigo…

Miguel: Bem, muito obrigado novamente por estarem aqui, eu gostaria de agradecer novamente pela presença de Alfonso Cuarón, David Heyman e Tanya Seghatchian.