HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE
O final está próximo

Total Film ~ Matthew Leyland
31 de março de 2009
Tradução: Fabianne de Freitas
Revisão: Daniel Mählmann

Romance. Revelações. Grandes batalhas. Harry Potter e o Enigma do Príncipe está mais épico do que nunca. A Total Films fala exclusivamente com os atores principais enquanto eles se preparam para final.
Por Matthew Leyland

Fale sobre o simbólico. É o fim de um longo dia de filmagem para a franquia Harry Potter. A Total Film está conversando com o novo diretor David Yates, em uma tenda usada como camarim. De repente, tudo fica escuro. Foi apenas um dos membros da equipe que apagou as luzes. Uma metáfora apropriada, porém, para a saga que fica mais sombria a cada filme, certo?

Bem, acontece que a obscuridade é apenas metade da verdade sobre o Enigma do Príncipe, o sexto filme da série sobre o menino bruxo. “Para mim, esse filme é mais leve do que Ordem da Fênix”, diz Yates lembrando do primeiro filme Potter que dirigiu. “Eu amei a intensidade do quinto mas teve toda aquela honestidade de adolescente angustiado, enquanto esse é mais como uma comédia romântica – até que as coisas ficam pretas no terceiro ato”.

Nós voltaremos a isso. Enquanto isso, os hormônios estão fervilhando em Hogwarts: o Harry gosta de Gina, a irmã mais nova de Rony, o próprio Rony arrumou uma namorada (uma Lilá Brown) e Hemione se ofende. Ciúmes, você vê… “Tem muito a ver com o relacionamento de Rony e Hermione nesse”, diz Emma Watson, enquanto se enrola em um cobertor durante um intervalo. “O que é ótimo, pois nos deu a chance de fazer comédia. A Hermione fica muito séria com o último casal, então foi legal fazer umas cenas engraçadas com o Rupert [Grint] que é ótimo nesse tipo de coisa”.

Mas fica um pouco sem-graça quando se trata de cenas românticas…

“Tem um beijo com Jessie [Cave, que interpreta Lilá], que foi bem vergonhoso”, confessa Rupert Grint. “Aquela cena em especial, eu não conhecia Jessie há tanto tempo, e tinha muitas pessoas ao redor; é depois do jogo de Quadribol, e eu estava em pé sobre uma parte mais alta, então não foi tão romântico”.

Jogo de Quadribol? Sim – depois de um intervalo em Ordem da Fênix, as vessouras e bolas de vários tipos estão de volta. “A tecnologia avançou, então fizemos algumas melhoras”, sorri Yates. “E sempre fiquei intrigado sobre o quão violento o Quadribol pode ser. Temos esses jogadores movendo-se em grande velocidade e trombando uns nos outros… É um pouco como futebol americano, o que me deixou animado”. Por semanas, foram feitos testes que envolviam dublês voando de paredes e caindo de vassouras de grandes alturas, sendo filmado em slow motion para captarmos os movimentos na hora da colisão. O resultado, promete o produtor de longa data de Potter, David Heyman, é “a versão mais bem sucedida do Quadribol até agora”.

Mas não é só diversão. Ou romance. Em essência, Enigma do Príncipe é uma preparação para a última batalha entre bruxos do bem e do mal. “O sexto foi o livro mais difícil de adaptar”, reflete o alter ego de Harry, Daniel Radcliffe, parecendo distintivamente não-bruxo em roupas de inverno normais e sem óculos. “É um ótimo livro, muito emocionante, mas também é uma prévia para o sétimo. Tem muitas explicações que precisam ser feitas, mas eles fizeram um trabalho incrível”. Como sempre, o filme se aproxima de sua fonte, escrita por J. K. Rowling enquanto exerce certa licença cinematográfica. No livro, acontecimentos do mundo exterior – onde o controle de Voldemort começa a aumentar – são geralmente reportados pelo jornal anti-Potter, O Profeta Diário. Na tela, vemos menos notícias e mais ação. A referência passageira feita por Rowling sobre a caída de uma ponte britânica, virou uma cena de abertura: grande, barulhenta e baseada em Londres. “Digamos que a Millennium Bridge não será bem-tratada”, brinca o produtor David Barron. (Sim, tem vários Davids na produção).

Mas um retoque na adaptação teve que ser desfeito quando Rowling repentinamente fez uma revelação sobre uma de suas criações. “Tinha uma fala no diálogo onde Dumbledore faz referência ao sexo oposto de uma forma romântica”, diz Heyman. “Mas depois da primeira lida, Rowling nos conta que isso não era apropriado ao seu personagem, então fizemos a mudança…” A sexualidade do diretor de Hogwarts não se torna um problema no filme. “Contudo, ele tem uma obsessão por pontos de crochê”, sorri Yates.

Dumbledore está à frente de Príncipe, treinando Harry para a batalha enquanto se prepara para seu próprio encontro com o destino. “É um filme importante para ele”, diz Heyman, reforçando o comprometimento de Michael Gambon ao papel que herdou do falecido Richard Harris. Ainda, assim como com o personagem, terão mais revelações sobre o velho bruxo…

“O segredo sobre Michael Gambon é que, ao mesmo tempo que é reverenciado, também é o ator mais pouco profissional do mundo”, brinca Radcliffe. “Ele nunca leva nada a sério, é por isso que é tão divertido trabalhar com ele”. O ator conta piadas sobre o jeito brincalhão de Gambon, que o bombardeava com pedras de borracha – e pedras verdadeiras – no set. “Então sou respondão com ele; é um bocado infantil. E ele é um ‘Sir,’ não é? ‘Sir’ Michael Gambon, malandrão!’

Por mais que ele goste de brincar com Gambon, Radcliffe sente a falta de outra figura paterna da série – Gary Oldman, cujo Sirius Black morreu em Ordem da Fênix. “Foi triste fazer o primeiro filme sem Gary Oldman”, ele suspira. “Ele foi como um mentor que me dizia quando eu estava ruim e quando estava bom. Atores não são sempre generosos, então quando alguém como ele diz ‘Isso foi muito bom’, para um ator jovem como eu, é incrível. Então eu meio que senti falta disso”.

Os dois continuam a manter contato; e além disso, existem outros amigos por perto – como o companheiro Tom Felton. Como o bad boy Draco Malfoy, Felton permaneceu como coadjuvante pelos últimos oito anos, mas em Enigma do Príncipe, o arquiinimigo de Harry finalmente se destaca. “Esse é meu filme preferido”, diz Felton, tão simpático quanto Draco é cínico. “Foi o primeiro em que trabalhei do início ao fim, e não só um mês aqui e ali”.

O grande momento de Felton acontece quando ele e Radcliffe têm uma discussão que parece algo digno de Bond ou Bourne. “Foi ótimo”, conta Felton. “Nós passamos uma semana nesse banheiro úmido, rolando na água, tendo todos os tipos de brigas. É uma sequência mais longa do que está no livro”. Vemos sangue – mas também algumas explicações. “Esse filme desenvolve mais o personagem do que os outros”, ele diz. “Nós temos a chance de explicar o porquê de ele ser um cretino, que ele não é assim sem um motivo”.

Outras explicações sobre os personagens acontecem sob a forma de flashbacks da juventude de Voldemort, conjurado magicamente por Dumbledore como parte do treinamento de Harry. Não é fácil, o papel da criança que é a encarnação do mal. Com sorte, não parece que eles têm outro Jake Lloyd nas mãos… “Levou um tempo”, lembra-se Heyman. “Houve muita discussão sobre o quão parecido ele devia ser com ‘[o Voldemort adulto] Ralph Fiennes”.
No final, eles escolheram o sobrinho de dez anos de Fiennes, Hero Fiennes-Tiffin, como o futuro Lord das Trevas; enquanto Frank Dillane (filho do ator Britânico, Stephen) assume o papel da adolescência de Voldemort. “Ambos têm essa inquietante escuridão dentro de si”, elogia Heyman. “Frank projeta uma certa superioridade – ele é muito superior, ele controla a situação. E com Hero, assim como com Ralph, é tudo relacionado a calmaria… Ele evoca Voldemort tão brilhantemente, tão assustadoramente”.

O visual do filme também tem um papel para disseminar o medo. “A escolha dos ângulos, os close-ups, o ritmo das cenas”, recita Heyman, que elogia o diretor de fotografia Bruno Delbonnel, o francês responsável pelas diversas cores usadas em Amélie. O Enigma do Príncipe tem um visual mais acentuado, com mudanças drásticas e o timbre obscuro de Ordem da Fênix. “Tem muitas camadas, é muito rico”, diz Yates antes de revelar que o número sete – Harry Potter e as Relíquias da Morte – vai ser mais naturalista com muitas câmeras.

“Eu quero agitar as coisas todas as vezes que entro nesse mundo. Eu gosto de experimentar conforme progredimos”, diz o diretor, que era mais conhecido antes de Potter pela versão original da BBC de State of Play. Agora a reputação dele gira em torno de Harry Potter, do qual ele será o diretor até 2011, quando a segunda parte de Relíquias da Morte chegar aos cinemas (a Parte 1 está prevista para o fim de 2010). Três diretores anteriores já deixaram Hogwarts (Chris Columbus, Alfonso Cuarón, Mike Newell), então por que Yates decidiu assumir todo o resto?

“Foi perto do fim de Fênix”, diz o diretor de quarenta-e-poucos anos, olhando para um set de uma floresta coberta de gelo de mentira. “Eu peguei o gosto por isso. É um mundo grande e maravilhoso de se participar. Você tem todos os recursos necessários para contar as histórias, as pessoas são ótimas e o estúdio não pressiona você. Eu me apaixonei por todos esses fatores combinados e eu queria ser aquele responsável pela sua finalização”.

Ainda existe um caminho a percorrer, mas eles estão começando a pensar sobre o fim da jornada. “Vai ser estranho quando tudo tiver acabado”, pensa Grint. “Eu gostei muito e parte de mim vai sentir falta. Mas também será bom ficar livre”. Enquanto ele e Radcliffe expressam a vontade de seguir a carreira pós-Potter, o terceiro membro do trio não tem tanta certeza…

“Eu realmente não sei”, diz Watson, seu rosto salpicado de cortes e arranhões de mentira. “Eu acho que preciso encontrar uma crença verdadeira em mim mesma, longe disso. Eu sei que posso interpretar Hermione, mas… veremos”. Apesar da atmosfera calma no set, encorajada, sem dúvida, por Yates, Watson está ansiosa. “Eu me sinto pressionada, porque essa é minha última oportunidade, minha última chance. Não quero ter nenhum arrependimento – eu quero ter certeza que fiz o melhor que podia”.

Ao menos, ela ganhou a admiração de Heyman, que fala sobre seus jovens atores com um orgulho quase paterno. “A Emma obteve as notas mais altas do país em seus A-levels, Dan conseguiu três notas As em seus A-levels… eles todos viveram outras coisas que deram um certo suporte para Harry Potter”.

Tendo trabalhado na série desde seu início, o produtor está mais ligado do que qualquer outro aos filmes – e ele se aproxima do final da saga com sentimentos misturados. “Eu sinto animação e tristeza. Primeiro porque temos uma verdadeira sensação de família, mas também porque é muito raro, nos dias de hoje particularmente, estar em uma produção por um tempo tão longo e contínuo”.

E quando estiver finalmente terminado? “Eu vou tirar seis meses de férias”, declara Yates, levantando sua voz normalmente baixa por causa do barulho feito por alguns membros da produção que guardavam alguns equipamentos. “E então farei o que sempre quis, filmes grandes seguidos de pequenos. Eu, literalmente, tenho unido a pós com a pré-produção para não sobrar espaço para mais nada”.

Radcliffe, por outro lado, encontrou espaço para uma série de novos projetos, notavelmente e sua estréia nos palcos com Equus, e ao fazer graça sobre ele mesmo em Extras. “Fazer projetos como esses foi difícil”, ele reflete, “mas você está aprendendo novas disciplinas, então você não consegue evitar ao sentir uma nova confiança”. E essa confiança foi traduzida em mais autonomia em Potter? “Totalmente, eu sempre achei que minhas idéias fossem soar como uma besteira, mas nos dois últimos filmes eu me senti mais confortável com esse tipo de coisa. David não consegue me calar!”

Apesar dele manter em segredo futuros projetos (“Eu não quero dar azar!”), não é difícil vê-lo falando sobre o que está guardado para os fãs do bruxo. “Esse é mais épico do que o quinto”, ele enfatiza. “Tem uma cena quase no fim que é algo como Paraíso Perdido com Michael Gambon sobre uma pequena ilha e um círculo de chamas ao redor dele… É muito legal, eu tenho que dizer”.

Harry Potter e o Enígma do Príncipe estréia no dia 17 de julho e será feita uma crítica do livro em uma edição futura.

Colunas

Harry Potter e as Relíquias da Morte (destaques)
ALERTA DE SPOILER

A última aventura de Potter começa com nosso herói deixando a Rua dos Alfeneiros pela última vez e tendo que se safar de um ataque dos Comensais da Morte durante a sua partida (durante a qual ambos Olho-Tonto Moody e a pobre e inocente coruja Edwiges morrem).

Não muito tempo depois, o Ministério da Magia passa a ser controlado por Voldemort – uh-oh – e depois de uma breve busca a procura de informações no Ministério sob a influência da Poção Polissuco, Harry, Rony e Hermione passam um período quase interminável se escondendo em barracas por todo o país e brigando um com o outro. (Sério, é emocionante).

Tem uma parte emocionante que ocorre na Mansão do Malfoy, onde Hermione é torturada – e Dobby morre – antes do Harry quase enlouquecer a procura das Horcruxes porque essas são as únicas coisas que podem derrotar o Voldemort. Esse parece estar escondido em Hogwarts, então a escola é o cenário para a grande batalha entre Harry e seu inimigo (e inimigo de quase todos os personagens da série). Muitas pessoas morrem – incluindo um dos gêmeos Weasley – e é revelado que Snape era bom (choque, horror!) antes de Voldemort ser finalmente derrotado.

Passam-se vários anos: Harry e Gina estão casados, assim como Rony e Hermione, e eles têm filhos e tudo. Amém.

Emma Watson

Hermione sobre a fama, egos e A-levels…

Depois de seis filmes, você ainda gosta de Hermione?
Ela é tão irritante, mas tão agradável. Ela é muito cuidadosa e até materna em relação ao Trio, mas ela tem um jeito de ‘sabe-tudo’ que deixaria qualquer um louco. Eu me sinto abençoada por interpretá-la. Existem poucos personagens como ela nos filmes hoje em dia. Eles só parecem existir na literatura.

Como David Yates é, comparado com os diretores anteriores?
Mike [Newell] e Alfonso [Cuarón] eram como bolas de fogo, tão enérgicos, e falavam alto, enquanto David – não em um sentido melhor ou pior – é muito mais sensível e cuidadoso com suas sugestões. Ele lhe dirá coisas muito específicas e as deixará fazê-las.

Sua auto-confiança deve ter crescido ao longo dos oito anos que trabalha em Potter…
É bom me sentir como uma atriz agora. No início, Chris [Columbus], abençoado seja, estaria, literalmente, nos dirigindo durante as tomadas e nós só falaríamos depois.

Parabéns pelo seu desempenho nos A-levels…
A equipe teve que fazer malabarismos para me deixar fazer os exames, então quando soube as notas, foi como se o triunfo fosse deles também. Foi difícil acabar uma redação e já começar a gritar feitiços, mas valeu a pena.

Como você lida com a fama agora?
Eu nunca fiquei apreensiva sobre como eu estava ou o que deveria vestir, mas desde que passei a morar em Londres, está se tornando gradualmente mais difícil. Outra razão pela qual mal posso esperar para ir à faculdade, onde vou ser realmente anônima.

Quais dos atores famosos você conseguiu ficar mais próxima, nesta franquia?
Eu realmente me dei bem com Emma Thompson. Ela é tão simples, presta atenção a todos, do diretor até a pessoa que cuida do som. Mas eles são todos adoráveis. Eles são grandes personalidades mas, às vezes, tem uma certa política sobre isso. Existem os grandes egos e certamente – esses atores são as pessoas que estão há mais tempo servindo esta indústria, eles fizeram tudo.