Fazendo música em Star Wars: Entrevista com John Williams
Realizada pelo canal CNN – 15/05/2002

Em 15 de Maio, John Williams foi entrevistado num programa da CNN, sendo a entrevista ao seu recente trabalho em Star Wars Episódio II: Ataque dos Clones. No iní­cio foi apresentado um ví­deo com Williams e Lucas a falar sobre Star Wars, seguindo-se a entrevista propriamente dita. Esta tradução é livre e foi adaptada de forma a tornar-se mais legí­vel.

Kendis Gibson, CNN: O que seria de um filme Star Wars sem a composição acelerada de John Williams? Simplesmente não seria o mesmo. Com isso em mente, aqui estava John Willimas, desta vez com a Orquestra Sinfônica de Londres, dirigindo, trabalhando, criando a sua quinta trilha sonora para Star Wars, sob os atentos olhos e ouvidos de George Lucas.
George Lucas: Os filmes Star Wars são basicamente filmes mudos. E são desenhados como filmes mudos, por isso a música tem um papel muito importante em encaminhar a história, mais do que teria num filme normal.
Kendis Gibson, CNN: O processo para Williams começa quando leva para casa uma cópia do filme e passa até três meses esboçando a composição e então a apresenta para Lucas.
John Williams: Sendo um processo colaborativo, estou muito habituado a isto. E eu faço os ajustes de noite e venho no dia seguinte e retrabalho a seção sobre a qual ele [Lucas] tenha dúvidas. E o faço outra vez, uma, duas, três…
Kendis Gibson, CNN: A trilha sonora de Ataque dos Clones destaca-se das outras por uma principal razão.
John Williams: Cinco filmes com este enorme glossário de temas, mas nós não temos um “tema romântico”. Por isso agora já temos…
George Lucas: Agora completamos o livro.
John Williams: Quase.
Kendis Gibson, CNN: Este é o primeiro a ter um “tema romântico”.
John Williams: Eu penso que o George tinha estas coisas na sua mente quando ele me descreveu a necessidade de um “tema romântico”, que fosse como as grandes histórias de amor dos filmes do passado.
Kendis Gibson, CNN: Os fanáticos de Star Wars podem ficar descansados que o resto da trilha sonora esta preenchida com as habituais sequências aceleradas e trovejantes. Mas para o que foi um trabalho de amor de 25 anos para os dois homens, um “tema romântico” era muito merecido.
Daryn Kagan, CNN: E agora a oportunidade de conhecer o homem por detrás da música, o Maestro Star Wars, John Williams, que se junta a nós a partir de Los Angeles, esta manhã. Sr. Williams, bom dia, é um prazer o termos conosco.
John Williams: Bom dia. Muito obrigado.
Daryn Kagan, CNN: Como é fascinante ver tudo funcionando por detrás das câmaras, como colabora com George Lucas e de o ver em Londres, com a Sinfônica, todos juntos.
John Williams: É uma colaboração maravilhosa, George e esta maravilhosa orquestra, que nós usamos desde os primeiros dias de Star Wars. A Sinfônica de Londres é parte da família Star Wars, se quiser, e foi um privilégio e muito divertido continuar este projeto durante todos estes anos.
Daryn Kagan, CNN: Como você se mantém original para a sua quinta vez?
John Williams: Bem, a quinta vez é como a primeira. E como qualquer coisa que nós fazemos criativamente. Nós nos sentamos com um papel em branco e esperamos que tenhamos a inspiração e energia e sorte que tivemos no passado. Por isso penso que todas as vezes há o mesmo desafio novamente, e nós nos levanta-mos para atingir da melhor forma que podermos e é isso que nos mantém vitalmente interessados no que fazemos.
Daryn Kagan, CNN: Leve-nos de volta à primeira vez em que George Lucas falou pra você sobre Star Wars.
John Williams: A primeira vez foi muito interessante porque todos nós olhamos para o filme, George Lucas, o nosso amigo mútuo Steven Spielberg e outros, e todos nós pensamos, “uau!”, isso é um filme fantástico. Vai ser ótimo para crianças nas tardes de sábado, nunca pensando que este tipo de nova criação mitológica, se quiser, que o George Lucas tinha criado fosse encontrar um continuo e duradouro público em todo o planeta. Nós não fazí­amos idéia que os Dark Vaders da história iam encontrar um lugar permanente no coração das pessoas que vão a estes filmes. Por isso foi uma surpresa. Uma boa surpresa.
Daryn Kagen, CNN: Bem, parece que ele lhe dá muito crédito à sua música ao fazer estes clássicos.
John Williams: Bem, a música é… É muito simpático da parte dele, realmente, e fico feliz em partilhar todo o crédito com ele também. Mas o que ele diz é realmente verdade, os filmes Star Wars são como os filmes mudos ou como desenhos animados, no sentido que a orquestra esta sempre empurrando e avançando no tempo e a trama da mesma forma que você faria num desenho animado, por exemplo.
Daryn Kagan, CNN: E…
John Williams: Neste caso, é em grande escala. É uma orquestra sinfônica completa indo através destes gestos todos, acompanhado a ação.
Daryn Kagan, CNN: E como nós vimos na peça, desta vez há uma história de amor. Isso deve ter sido engraçado ao adicionar no desafio.
John Williams: É um desvio de tudo que já tí­nhamos feito em Star Wars. Provavelmente parece a última coisa em que você podia pensar, mas é um “tema romântico” para uma história de amor que tem um alcance cósmico, se preferir. É uma… quando nos pensamos em histórias de amor, eu penso em Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda ou esse tipo de coisa onde os amantes são separados pela graduação ou religião ou famí­lia ou classe ou o que quer que seja, e esse é o caso aqui também.
Daryn Kangan, CNN: Certo, há um lado proibido nisso… nesta história de amor que teria de ser refletido na música também.
John Williams: Exatamente. Esse aspecto proibido que impede os amantes de estarem completamente juntos até eles partilharem o amor eterno, a idéia de amor além do tempo. Por isso é um “tema romântico”, mas também com um aspecto trágico que também se estende por um tempo para além da morte.
Daryn Kagan, CNN: Deixe-me fazer aqui uma transição por um momento, tornando-o de compositor para crítico. Já viu o filme, e como ele é?
John Williams: Isso pode parecer estranho, mas eu ainda não vi o filme completo. O filme com que trabalho é uma espécie de versão de trabalho com desenho que são mais tarde substituí­dos por animações e trabalho de fotografia e pós-produção muito sofisticado. Eu não tive oportunidade de me sentar numa sala de cinema e ver o filme completo…
Daryn Kagan, CNN: É sério?
John Williams: …do princípio ao fim. Acredite ou não, é verdade. Eu espero que um destes fins de semanas eu tenha uma noite livre e possa ir até a uma sala de cinema na vizinhança e sentar-me no fundo da sala e apreciar o filme com o resto do público.
Daryn Kagan, CNN: Bem, sabe que o filme está ao fundo da rua onde estamos, no Chinese Theater. Talvez haja alguém que o deixe passar à frente na fila, se aparecer por lá.
John Williams: Mas isso é absolutamente verdade. A última versão que vi foi em Londres, com a orquestra, e ainda não estava completo na altura.
Daryn Kagan, CNN: Bem, muito obrigado por nos dar esta fascinante visão por detrás da música e como tudo é posto junto.
John Williams: Obrigado.