ORDEM DA FÊNIX
Cine Click ~ Angélica Bito

 

Como uma pessoa “não-introduzida” ao mundo Harry Potter (ou seja, não acompanho as aventuras do bruxinho nos livros, apenas assisti aos filmes da saga), devo confessar que, dentre as quatro aventuras cinematográficas anteriores passadas no cultuadíssimo universo criado pela escritora inglesa J.K. Rowling, Harry Potter e a Ordem da Fênix é uma das melhores. O quinto capítulo da franquia retoma as trevas e o suspense que tomam conta de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004), mostrando o protagonista em meio a dúvidas e tormentos relacionados não somente aos seus 15 anos e o primeiro beijo, por exemplo, mas também à volta definitiva daquele cujo nome já se pode pronunciar, Lord Voldemort, já que não há como impedir que ele volte a ameaçar a vida de Potter.

Se o longa-metragem anterior, Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005), apostava na ação, o suspense e o mistério tomam conta de Harry Potter e a Ordem da Fênix. Em seu quinto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Harry (Daniel Radcliffe) volta de suas péssimas férias. Além de atormentado por seus parentes “trouxas”, passa a ter terríveis pesadelos envolvendo Voldemort, especialmente relacionados ao fatos ocorridos no longa anterior. Mas a volta às aulas não significa paz na vida do nosso herói, muito pelo contrário, já que a disputa entre o bem e o mal é estendida à escola. Harry é apresentado à tal da Ordem da Fênix que dá nome à produção. Trata-se de um grupo de magos reunidos por Alvo Dumbledore (Michael Gambon), que se prepara para se defender da ameaça que acompanha Lord Voldemort (Ralph Fiennes). Em Hogwarts, o vilão torna-se mais presente ainda com a chegada da rigorosa Dolores Umbridge (a ótima Imelda Staunton, que concorreu ao Oscar por O Segredo de Vera Drake), a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, indicada por Cornelius Fudge (Robert Hardy), o Ministro da Magia. Com medo de perder seu cargo, ele defende que Harry está mentindo quando diz que Voldermort voltou. Desta forma, quase todos voltam-se contra o herói.

Ao mesmo tempo em que os “exércitos” do bem e do mal estão cada vez mais definidos em Harry Potter e a Ordem da Fênix, existe uma dicotomia entre esses dois lados, especialmente no próprio Harry Potter. Em dúvida sobre suas crenças e intenções, o jovem bruxo acredita que sua ligação com o lorde da Força das Trevas pode significar que ele mesmo não esteja tão do lado do bem. Claro que são dúvidas que se passam pela cabeça de qualquer ser humano inexperiente, “trouxa” ou mago. Ao mesmo tempo em que a presença maléfica de Voldemort faz com que o protagonista se isole em seus próprios pesadelos numa tentativa de resolver sozinho o impasse, ele segue recebendo a ajuda incondicional de seus melhores amigos, Hermione Emma Watson) e Rony (Rupert Grint), além do aparecimento de Luna (a estreante Evanna Lynch), uma colega de Hogwarts um tanto quanto avoada, mas que entende Harry como poucos nesse difícil momento.

Como não poderia deixar de ser, Harry Potter e a Ordem da Fênix traz um verdadeiro desfile de grandiosos efeitos especiais. A direção de David Yates mostra-se cada vez mais madura se comparada à assinada por Chris Columbus nos dois primeiros longas da série, o que está diretamente ligado à entrada no mundo adulto dos personagens, já bastante diferentes dos que vínhamos acompanhando desde o primeiro filme, Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001). E, de fato, é curioso relembrar como o trio de protagonista era neste longa e agora; eles, obviamente, estão crescendo e talvez mais rapidamente do que o ritmo da história caminha. Ás vésperas de completar 18 anos, Daniel Radcliffe já aparenta ser maduro demais para o personagem, com 15 nesta fase da saga. O que não compromete o filme, não neste momento, mas é algo a ser pensado.

Essa dualidade entre bem e mal, mostrada de uma forma que tenta se distanciar de uma visão maniqueísta, é um dos aspectos mais interessantes na trama de Harry Potter e a Ordem da Fênix, além do rigor estético presente na mais de duas horas de filme. A direção de arte é tão caprichada e grandiosa quando os efeitos especiais que acompanham os feitiços lançados pelas varinhas dos personagens. Nota-se onde os US$ 150 milhões de orçamento foram gastos, no caso. A recriação do mundo concebido por J.K. Rowling em seus livros às telas é minuciosa, feita de forma a encher os olhos do espectador da forma como as produções anteriores também mostraram. A grande novidade, agora, é a forma como as trevas invadem a vida desses tão adorados heróis. Enquanto isso, iniciados ou não na literatura “Potteriana” acompanham as aventuras dos personagens, que caminham rapidamente – e “aos trancos e barrancos” – à idade adulta.