ORDEM DA FÊNIX
Estadão ~ Luiz Carlos Merten

 

Estou chegando da sessão de imprensa de Harry Potter e a Ordem da Fênix. Achei muito legal, o que imediatamente me coloca um problema que sei que não é de ordem pessoal. O cinemão investe nessas séries todas e algumas, sem deixar de ser produtos de consumo, alcançam níveis muito bons.

Já falei que não gosto dos dois primeiros filmes do bruxinho, mas agora vou ter de dar a Chris Columbus o reconhecimento que ele merece. Tudo bem que os filmes não têm muita magia, que a narrativa é muito didática e arrastada na apresentação dos personagens, mas um mérito (grande) ele teve e eu, pelo menos, só reconheço agora. Columbus, como produtor-executivo e diretor, escolheu o elenco e ele foi muito feliz com os intérpretes de Harry, Hermione e Rony.

Há seis anos, quando fez A Pedra Filosofal, Daniel Radcliffe tinha quantos anos? Uns 12/13? A verdade é que Columbus intuiu que ele poderia criar um personagem que foi se tornando cada vez mais dramático. Gostei do 3 e do 4, mas este quinto filme da série me apanhou. Harry está mais angustiado que nunca e, num determinado momento, chega a duvidar de si mesmo, com medo de estar se transformando em outro Voldemort.

O diálogo com Sirius é maravilhoso, quando ele faz ver ao garoto que o mundo não se divide em pessoas boas e ruins, que todos somos uma coisa e outra e o que, afinal, nos define, é a forma como agimos. Podemos transpor isso para o próprio cinemão. Seria tão mais fácil se a gente pudesse rejeitar, ideologicamente, em bloco, todos os blockbusters. Tão cômodo. Mas a verdade é que existem nuances.

Daniel Radcliffe é bom demais e em vários momentos me emocionei porque Harry, mais até neste filme, me parece um personagem triste. Essa coisa de lutar contra o destino, de ter de encarar o nó górdio da própria vida é muito interessante. E Harry, aqui, faz descobertas pouco lisonjeiras sobre o próprio pai, quando consegue penetrar na mente do professor Severo. O mais bonito é a idéia de que ele não é o solitário que pensa. Tem amigos, aliados.

A fala final deixa justamente para o espectador a resposta para a observação que ele faz — a de que tem pena de Voldemort, porque o Lorde das Trevas não tem o que une o seu grupo. Não sou um leitor da série de J.K. Rowling e até acho que é tarde para começar, depois de ter visto todos os filmes, mas estou muito tentado a ler o sexto, O Enigma do Príncipe, já editado no Brasil, e o sétimo, Relíquias da Morte, que sai em seguida nos EUA e (quando? Em setembro?) no Brasil. Só assim não tenho de esperar mais dois ou quatro anos pelo desfecho da saga do bruxinho.