A ORDEM DA FÊNIX
O bruxinho cresceu

O Globo ~ Daniel Levi
10 de julho de 2007

 

RIO – “Harry Potter e a Ordem da Fênix” estréia mundialmente esta quarta-feira dando uma virada vigorosa na franquia do bruxo mais famoso do mundo. Após o decepcionante episódio anterior (“Harry Potter e o Cálice de Fogo”), em sua nova aventura, Harry e seus amigos cresceram, o que se reflete na abordagem “mais séria”, fruto também da escolha de novos diretor e roteirista (David Yates e Michael Goldenberg, respectivamente). Na tentativa de aumentar o interesse e a faixa etária de seus fãs, até os seios de Emma Watson, que interpreta Hermione Granger, foram aumentados digitalmente em pôsteres de divulgação.

Em “Harry Potter e a Ordem da Fênix” não há mais espaço para piadinhas tolas e/ou púberes e infantis insinuações sexuais. O clima é sombrio e com altas doses de suspense. Potter, que agora enfrenta uma encruzilhada moral, cresce como personagem, tornando-se mais rico, e dá seu (aguardado) primeiro beijo na boca.

Após ter se tornado um campeão tribruxo no filme anterior e colaborado para o retorno de Lorde Voldemort, a quem enfrentou com bravura, Harry Potter (Daniel Radcliffe), de férias com sua família de trouxas, se sente sozinho e abandonado por seus amigos, Hermione e Rony (Rupert Grint). Até que ele e seu primo Duda (Harry Melling) são atacados por dois Dementadores, forçando Harry a utilizar seus poderes. Em conseqüência, ele recebe uma carta com o comunicado de sua expulsão de Hogwarts por haver usado (ilegalmente) magia na frente de um trouxa.

Depois de absolvido das acusações, Potter retorna à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Seu retorno, longe de ser comemorado, é recebido com frieza e desconfiança, já que o jornal do Ministério da Magia, o Profeta Diário, continua difamando o bruxinho, o que já havia acontecido no longa anterior. Desta vez, o jornal o acusa de ser mentiroso e caluniador, influenciando até mesmo pessoas próximas a ele. Solitário e triste, Potter se sente acuado dentro de seu próprio grupo, sob olhares de desconfiança de seus companheiros.

A sede da Ordem da Fênix
Cena do filme ‘Harry Potter e a Ordem da Fênix’ / Divulgação

Para piorar a situação, Dolores Umbridge (Imelda Staunton), a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, proíbe seus alunos de praticarem feitiços. Através de Decretos Educacionais, ela vai banindo tudo o que considera subversivo, forçando Potter e seus amigos a unirem-se na “Armada de Dumbledore”, já que acreditam que Voldemort está reunindo suas forças (e seus comparsas) para um retorno triunfante. Harry passa a treinar seus colegas, preparando-os para a batalha que se anuncia com o temível retorno do Lorde das Trevas.

É através, inicialmente, da desconfiança e do isolamento que Harry Potter vai amadurecendo e percebendo que as coisas não são mais do jeito que supunha na infância. Com isso, crescem filme e personagem. E, por que não, a franquia também.

Cada vez mais distante daquele menino fofinho dos primeiros filmes, e do adolescente confuso do último, agora Harry Potter caminha para se tornar um líder, com tudo de bom e ruim que o cargo comporta. A transição de lenda para figura contestada faz muito bem a Harry (mais ao filme), mesmo que — em um primeiro momento — ele não se dê conta disto. Sentindo o peso da responsabilidade, sua primeira reação é a recusa de tamanho fardo. Isto colabora enormemente para que os conflitos apresentados tenham mais força e relevância.

Além disso, para a alegria dos fãs, há ainda o retorno dos Centauros, uma nova (e imensa) criatura (Grope), e os Testrálios, criaturas fantásticas que são quase uma combinação de cavalo e dragão. Além, é claro, dos Comensais da Morte e do Lorde das Trevas, Voldemort, responsáveis pelas melhores cenas de ação do filme.

Aliás, a ação em “Harry Potter e a Ordem da Fênix” praticamente se resume à batalha final pois, durante todo o filme, ela se manifesta mais nas entrelinhas, através do intenso (e político) jogo que ocorre nos bastidores. Além disso, há o retorno do sempre excelente Gary Oldman e a estréia de Evanna Lynch no papel de Luna Lovegood que, se não rouba todas as cenas em que participa, certamente ainda dará muito o que falar.

“Harry Potter e a Ordem da Fênix” é um filme sobre a importância do amor, da amizade e da lealdade, e que disfarça (muito bem) sua mensagem calcada no livre-arbítrio dentro de uma roupagem sombria e, talvez, aterrorizante (demais) para crianças menores.