SETE DIAS COM MARILYN
Sete Dias com Marilyn

Chicago Sun Times ~ Roger Ebert
21 de novembro de 2011
Tradução: Renan Lazzarin

Com uma alquimia angustiante, Marilyn Monroe cravou uma ideia nas mentes de grande parte da raça humana por volta de 1950, e, para muitos, tal ideia continua vigente. No início dos anos 50, eu e meus amigos precisávamos de uma só palavra para expressá-la: marilynmonroe. Não era um nome. Era a conjuração de tudo aquilo que desejávamos e supúnhamos como algum tipo de ideal de feminilidade. O sexo não parecia ter muito a ver com isso. Era mais uma forma de devoção, um reconhecimento de como ela encorporava a vulnerabilidade, a doçura, a esperança e o medo.

O sucesso de Sete Dias com Marilyn está centrado no sucesso de Michelle Williams em dar conta do papel. Com os cabelos louros, o batom vermelho e os ângulos da câmera, ela até se parece com Monroe, embora seja mais diminuta. O que ela de fato tem é aquilo que mais atrai: ela faz com que você queira abraçá-la, não fazer amor com ela. Monroe não era marcante em seu lado sexual, não como suas contemporâneas Jane Russell ou Brigitte Bardot. Ela o mantinha sob rédeas trêmulas, como que sem saber como contrui-lo sem prejudicá-lo.

Sete Dias com Marilyn é baseado na história verídica de um jovem rapaz chamado Colin Clark, que conseguiu, muito insistindo, um trabalho em O Príncipe Encantado (1957), um filme sendo dirigido na Inglaterra por Laurence Olivier, a pessoa mais próxima do conceito de realeza dentre os atores britânicos. Por uma conturbada semana, enquanto o marido de Monroe, o dramaturgo Arthur Miller, ausentou-se para ir a Paris e a produção estava num hiato, ela convidou o garoto venerador, com seus 23 anos, para juntar-se a ela num chalé recluso.

Ela tinha 30 anos. Ficaram sozinhos. Numa noite, eles foram dar um mergulho à luz da lua. Foi mais ou menos isso. Sugere-se que eles fizeram sexo, mas o filme se abstém. Do jeito que eu interpreto, foi meio que um presente. Consciente do que marilynmonroe representava a alguém como Colin Clark, grato por sua simpatia e proteção e carente de companhia, ela se entregou. Aparentemente, ela arranjava um jeito de ser misericordiosa de vez em quando.

Para relações sérias, preferia machos alfa: Joe DiMaggio, Arthur Miller, e, de certa forma, Robert Mitchum e John e Bobby Kennedy. Admirava os seus cérebros. Era esperta, mas não tinha confiança. Buscava mentores e figuras paternas. Em sua atuação, caiu na órbita do guru do Método¹ Lee Strasberg, e sua segunda esposa, Paula. Ela levou Paula à Inglaterra e parecia incapaz de dar um passo sem ela. Isso levantou a ira de Olivier, que desprezava o Método e considerava a atuação uma função que exige treino e trabalho, sem babaquices.

Presenteado com essa semana, Colin Clark registrou-a num diário, que mais tarde se tornou um livro. Os diários estavam no sangue. Seu irmão mais velho, Alan Clark, escreveu um dos grandes diários políticos do século XX. Para Colin Clark, a semana com Marilyn foi um feitiço do qual nunca se livrou.

Esse filme é uma construção frágil. Não há trama a comentar. O personagem de Colin Clark (Eddie Redmayne) está cercado por muitos outros que têm mais presença e carisma: Olivier, interpretado por Kenneth Branagh com uma fúria má disfarçada pela impossibilidade de sua queda pora Monroe; Arthur Miller (Dougray Scott), com seu forte sotaque americano, alheio ao mundo de Marilyn; Paula Strasberg (Zoë Wanamaker), fixa em Monroe, cega e surda aos demais.

Julia Ormond encarna Vivien Leigh, a esposa de Olivier, que o enxerga de fato, pesa a ameaça que Monroe representa e percebe que ele não está à altura de Miller ou DiMaggio. Judi Dench é a dama Sybil Thorndike, também da realeza dos atores, que pacientemente explica a Olivier que não importa se Monroe não sabe atuar, porque quando ela está na tela, nada mais importa. E Toby Jones, como o agente de imprensa, crasso, agressivo e irrelevante Redmayne foi uma boa escolha para Colin Clark. Ele o interpreta de um jeito jovem, precipitado mas, de certa forma, puro, provido dum desamparo que deve lembrar Monroe de si mesma.

O filme parece ser uma recriação bastante precisa da produção do filme nos estúdios Pinewood da época. Pouco importa. Pouco importa o que aconteceu na famigerada semana. O que importa é a performance de Michelle Williams. Ela evoca tantas Marilyns, pública e privada, real e fingida. Não conhecíamos Monroe, mas acreditamos que ela devesse ser mais ou menos assim. É provável que estejamos falando de uma das indicadas ao Óscar neste ano.

Nota do tradutor:
¹ Método: técnica de interpretação desenvolvida por Elia Kazan, Robert Lewis e Lee Strasberg seguindo os preceitos propostos por Stanislavski baseada na necessidade de o ator entrar no espírito do personagem, criando em si mesmo as emoções e pensamentos do personagem.