“Uma noite com Harry, Carrie e Garp: Conferência de Imprensa”. Radio City, 01 de agosto de 2006.

Data: 1º de Agosto de 2006.
Local: Radio City Music Hall, Nova Iorque, NY.
Fonte: gravações de fã.
Participantes: Stephen King, John Irving e J.K. Rowling; perguntas de vários membros da platéia.
Contexto: leitura beneficente para angariar dinheiro para o Médicos Sem Fronteiras e a Fundação Haven.
Créditos da Transcrição: Esta transcrição foi feita por diversas fontes, incluindo transcrições do The Leaky Cauldron e Mugglenet (Lei, Becky e Natalie da equipe), com correções e notas de Lisa Bunker.

Introdução: Eu sou Dick Robinson da Scholastic, a sortuda editora americana de Harry Potter – o personagem mais conhecido e mais amado do planeta Terra – e de J.K. Rowling, a brilhante criadora de Harry. No momento em que conheci Jo, há oito anos então desconhecidos, eu fiquei comovido pela sua graciosa confiança nascida, agora eu acredito, de seu conhecimento [inaudível] certo de que Harry Potter seria um dos maiores personagens da literatura. Eu também fiquei impressionado com seu [inaudível] dom na consagração da magia, a mente [inaudível] que em todas às vezes absorveu a consistência de toda a estória de sete livros que ela tinha imaginado desde o início. E ela não só estava comprometida com a estória em desenvolvimento [inaudível], mas estava também acompanhada por leitores semelhantes. A sua estória e a de seus leitores foram conectadas em sua mente desde o começo, mesmo enquanto os leitores foram crescendo, e a história desenrola-se habilmente durante os anos. Nossa empresa [inaudível] professores, pais e crianças [inaudível] um lugar para encontrar boas estórias e ótimos livros para ajudar você a ler e aprender. Algo que temos feito por oitenta e seis anos [inaudível], Harry Potter abriu milhões de mentes para uma ótima estória e fez da leitura a melhor maneira de aprender sobre você mesmo. Por todos esses anos, muito obrigado Jo Rowling. (aplausos).

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Existe alguma surpresa sobre o livro sete?
J.K. Rowling: Surpresas sobre o livro sete? Hmm… (profundo suspiro-multidão ri) Algo que eu gostaria de dividir? Eu estou bem interessada nele, estou bem interessada na escrita dele agora [sorrisos]. Tem tanta coisa que eu poderia falar. Por extensão, a pressão acabou, eu suponho que seja porque é o último livro, então eu me sinto bem livre. Eu posso apenas explicar a história agora e isso é divertido. É divertido de um jeito que nunca foi antes, porque finalmente estou fazendo a minha resolução. Eu acho que algumas pessoas vão detestar, algumas vão amar, mas é assim que deve ser.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Você poderia falar sobre as instituições de caridade que esse evento vai beneficiar?
Stephen King: Eu acho que vamos conseguir arrecadar pelo menos $250.000 dólares para esse evento, que para três pessoas que escrevem livros é muito dinheiro. Quando planejamos fazê-lo, decidimos que faríamos em duas noites, uma para beneficiar a instituição de minha escolha, a Fundação Haven, que arrecada dinheiro para artistas independentes que se encontram sem recurso nenhum depois de acidentes catastróficos e doenças. E Jo escolheu a Médicos Sem Fronteiras, e ela pode falar mais convincentemente sobre ela. Então, uma noite é a Médicos Sem Fronteiras, e a outra é a Fundação Haven. Tudo isso surgiu do fato que ano passado eu li para a instituição de caridade de John, a Maple Street School [em Vermont], e ele disse que leria para a minha. Então enquanto eu lia pra uma pequena escola em Vermont, eu o arrastei para o Radio City Music Hall, [risos] e ele veio junto.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Qual seria o seu conselho para as crianças que querem ser escritores?
Rowling: Conselho para as crianças que querem ser escritores? Leiam. A primeira coisa que devem fazer é ler, e a mais importante que devem fazer é ler. Inicialmente, eu acho que imitarão seus escritores favoritos, e eu acho que esse é o mais importante processo de aprendizagem. E lendo, vocês não só aumentarão o vocabulário, mas também aprenderão o que funciona ou o que não funciona, o que você gostam, que tipo de escrita vocês gostarão, e aprenderão a analisá-los, então acho que é o mais importante a fazer. E algo que terão que aceitar é que desperdiçarão muitas árvores, estou dizendo a vocês. Mas finalmente vão criar algo que gostam.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): O que você [Jo] sentirá mais falta sobre a série Harry Potter?
Rowling: Tudo. Eu amei escrevê-la, eu sentirei imensas saudades. Mas eu sempre planejei sete livros, e eu planejei esse final em particular, e se eu passar por isso e fizer o que eu pretendia fazer quando me comprometi inicialmente com a estória, então ficarei orgulhosa. Eu provavelmente passarei por um período de luto e depois terei que pensar em algo para escrever.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Algum de seus filhos mostrou alguma qualidade mágica?
Rowling: Os jovens bruxos e bruxas nos meus livros são bastante destrutivos em suas fases precoces, e eles certamente tiveram isso. Mas por outro lado, eu provavelmente diria que não. Minha filha mais velha é muito científica, muito lógica, o que eu acho ótimo.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Você poderia falar sobre matar os seus personagens?
Rowling: John matou mais personagens que eu, então eu acho que ele deveria falar primeiro.
John Irving: Por nunca começar a escrever um romance até que eu saiba os maiores aspectos emocionais que acontecem, especialmente os que acontecem no final, eu tenho uma espécie de lista de vítimas de quais personagens sobrevivem e quais não, antes que eu escreva a primeira palavra. Então esse processo de deliberação que às vezes precede o processo de escrita de um romance por um ano ou 18 meses significa que quando vou escrever aquelas cenas de morte, eu já vivi as vidas e as mortes daqueles personagens por muitos meses, algumas vezes até por anos. Conseqüentemente, eu não fico realmente afetado emocionalmente quando escrevo aquelas cenas. É como se elas já tivessem acontecido e eu estivesse apenas me lembrando delas. Mas acho que isso é um resultado direto da minha necessidade de saber o final de uma estória antes de começar a imaginar como irá começar.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Jo, Stephen, vocês gostariam de acrescentar algo?
Rowling: (risos) Eu acho que é isso… Eu entendo porque um autor mataria um personagem por não permitir que outros continuem a escrever depois que o autor original morre. Eu nem sempre gosto de matar meus personagens. Eu não gostei de matar o personagem que morre no final do sexto livro (estou sendo discreta no caso de alguém não ter terminado de ler o livro). Eu realmente não gostei de fazer aquilo, mas tinha sido planejado há anos. Como John [Irving] disse não foi tão doloroso como você imagina. Eu já tinha sofrido antes de chegar a hora de escrevê-lo.
King: Eu também não gosto muito, e nem sempre sei. Eu não planejo meus livros tão claramente. Eu sempre pensei nisso como, você sabe, que há autores que planejam e eu penso que há pessoas que lançam seus mísseis como os Estados Unidos. Eu os lanço como o Hezbollah lança mísseis. Eu tenho uma certa idéia de onde vão parar mas se eles variarem 20 km de um lado ou do outro eu já estou feliz. Eu escrevi um livro sobre o Cujo… [o resto da resposta de King foi omitida pelos transcritores]

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Os outros autores tem conselhos à Jo para o final da série de livros dela?
Rowling: [olhando para SK, sussurrando] Mate-o! [risadas]
King: Eu quero que a história seja justa. É o que sempre quero. Eu quero ler o livro. Eu amo a série. Eu quero ler o livro e eu tenho total confiança porque eu li os outros livros. E cara, eu estou disposto a lê-lo, só isso. [Nota: algumas brincadeiras foram omitidas]
Irving: Estou fazendo figas para Harry, só isso. Eu estou apenas esperando.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Porque JKR escolheu a Médicos Sem Fronteiras e o que está por trás de sua ausência por 6 anos dos Estados Unidos?
Rowling: Para responder a segunda parte primeiro, a pessoa que eu gostaria de indicar Médicos Sem Fronteiras – eu costumava trabalhar para a Anistia Internacional e foi quando me deparei com a organização pela primeira vez. Eu notei que toda vez que algo acontecia, como a guerra no Líbano, a Médicos Sem Fronteiras eram um dos primeiros a chegar ao lugar. Era uma organização muito, muito eficaz e também, como o nome já diz, não importa qual a sua religião, não importa qual o seu grupo étnico, não importam quais são as suas circunstâncias. Se você tem, fisicamente, necessidade de algo, eles te ajudarão ou farão todo o possível para te ajudar. Então eu sempre, desde quando eu tenho dinheiro e tenho feito dinheiro, é uma organização que tenho apoiado financeiramente, e eu pensei que estávamos fazendo um ótimo evento de caridade que lida com um grupo específico de pessoas e consequentemente eu pensei que seria ótimo se fizéssemos um evento que lida literalmente com o mundo inteiro – independente de onde esteja a necessidade.
[Resposta: ausência dos EUA por 6 anos…]
Rowling: Eu amo muito vir aqui e amo muito vir para Nova Iorque. É uma das minhas cidades preferidas, mas durante os seis anos eu engravidei duas vezes e eu tive crianças pequenas e é realmente por isso que não estávamos fazendo longos vôos e os tours. Elas já têm idade para viajar agora. Então é ótimo estar de volta.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Porque o Dumbledore teve que morrer? [perguntado pelo representante da TIME for Kids]
Rowling: Eu dei uma entrevista ano passado em que me fizeram essa pergunta. No gênero em que escrevo, você geralmente descobre que o herói tem que continuar sozinho. Há um momento em que o seu apoio o abandona e para ser verdadeiramente heróico ele tem que agir sozinho. Harry não está completamente sozinho, ele ainda tem os seus dois fiéis escudeiros. Isso foi resumido para mim pela pessoa que me fez a pergunta, você quer dizer que o bruxo idoso sempre consegue, e é fundamentalmente o que eu estava dizendo. Eu estava tentando disfarçar um pouco melhor que isso. Então é por isso. Nesse tipo de saga épica, o herói eventualmente tem que lutar sozinho.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Houve alguma mudança do que você tinha planejado inicialmente?
Rowling: Está diferente em um âmbito. A trama essencial é o que eu sempre planejei quando trabalhasse no final desde o começo. Mas dois personagens que eu esperava que sobrevivessem morrem e um personagem conseguiu o perdão, então houve algumas mudanças consideráveis, eu suponho.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): Os autores ficam confortáveis lendo os seus próprios trabalhos?
Irving: O meu único desconforto sobre o que estou lendo hoje é que é algo relativamente antigo, algo que não leio ou que tenho contato há alguns anos, mas Steve e eu temos conversado sobre o que vamos ler e reconhecemos que nos vemos como o aquecimento para a Jo e vemos, [JKR: Awww…] nós imaginamos que a maioria da platéia seria para ela, e eu não acho que Stephen King e John Irving geralmente escrevem materiais perfeitamente adequados para os mais jovens. Então, Steve e eu tivemos que procurar por aqueles raros momentos inocentes em nossos trabalhos mais antigos para então lermos. Então, hmm, eu diria que no caso dessa leitura, eu adoro a idéia de ler com o Steve e a Jo nesse lugar maravilhoso, mas estou um pouco intimidado pela idade da platéia, não é a meu público usual.
Rowling: Eu me sinto como se tivessem acabado de me dizer que os Beatles e os Rolling Stones estão fazendo o aquecimento para mim. Para falar a verdade, eu não me sinto tão confortável de ler o meu próprio trabalho e é por isso que eu vou fazer uma leitura mais curta essa noite e responder algumas perguntas. Eu realmente acho que as pessoas que vieram hoje prefeririam fazer perguntas a me ouvir fazendo uma longa leitura. Eu gostaria de pensar assim de qualquer maneira porque eu não me sinto confortável fazendo isso e eu acho que não sou particularmente boa em leitura.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): O que JKR sente quando os seus leitores a chamam de sádica e como ela se sente terminando a série?
Rowling: Quando meus fãs me acusam de sadismo – o que não acontece muito frequentemente – eu sinto que estou fortalecendo-os a ler [risos] os livros do John e do Stephen. Eles têm que se fortalecerem de alguma maneira. Tem um mundo literário cruel lá fora, então os estou fazendo um favor.
Como me sinto com o final da série? Por um lado eu sinto que vou me sentir triste. Harry tem sido uma enorme parte da minha vida e tem sido uma fase turbulenta da minha vida também, e ele sempre foi uma constante. Então haverá uma sensação de perda, mas também haverá uma sensação de libertação, porque há pressões envolvidas em escrever algo tão popular, e mesmo tendo sido maravilhoso eu acho que sentirei um pouco de liberdade por escapar dessa parte particular de escrever Harry Potter.

Pergunta de um membro da platéia (parafraseado): O que virá a seguir para a Jo?
Rowling: Eu tenho um pequeno – misericordiosamente – livro para crianças que está meio escrito, então eu acho que eu farei isso depois.

Veja também:

Uma noite com Harry, Carrie e Garp #1.
Uma noite com Harry, Carrie e Garp #2.

Traduzida por: Thais Teixeira Tardivo em 12/10/2008.
Revisado por: Fabianne de Freitas em 21/10/2008.
Postado por: Vítor Werle em 24/10/2008.
Entrevista original no Accio Quote aqui.