McNamara, Mary. “Quando Steve conheceu Harry. Se a magia funcionar, Steve Kloves escreve o final feliz como o feiticeiro de Potter e colaborador de J.K. Rowling”. Written By, novembro de 2001.

Era o sétimo item no pacote, a última sinopse da pilha que a Warner Bros tinha emitido a Steve Kloves na improvável chance dele gostar de um. Tendo recentemente levado Garotos Incríveis de Michael Chabon para o cinema, Kloves realmente não procurava um outro livro para adaptar. Ele queria que seu próximo projeto fosse um trabalho original, que ele mesmo tivesse escrito, algo que pudesse dirigir. Assim, era quase um milagre que ele tenha aberto o pacote (normalmente não faz isso) e era certamente algo notável que tenha lido o que estava em seu interior.

“Eu não tenho nenhuma história sobre alguma grande descoberta”, disse Kloves. “Normalmente tenho a tendência de jogar tudo longe”. E certamente, enquanto ele passava a vista na pilha, pensou “Não, não, não – suspiro – não, não”.

Mas sete é um número incomum, um número encantado, e quando veio a pequena e última crítica, um livro britânico do qual ele nunca tinha ouvido falar, de fato, ele foi estranhamente atraído. Ele ligou para seu agente, que estava encantado. O livro aparentemente era um sucesso no Reino Unido, estava se tornando um tanto quanto popular nos Estados Unidos, apesar do título diferente. Uma palavra foi trocada [N.T.: Alusão ao fato do título Philosopher Stone ter sido substituído por Sorcerer Stone], mas o resto era essencialmente igual. Ele certamente mandaria uma cópia para Kloves. “Não se preocupe”, disse Kloves, ele mesmo pegaria um na livraria. E em mais ou menos uma hora, já estava com um em suas mãos.

E foi assim que Steve Kloves conheceu Harry Potter.

Harry Potter, aquele com a cicatriz de raio, que, com a ajuda dos amigos bruxos Hermione e Rony, repetidamente salvou o mundo do terrível Lord Voldemort. Harry Potter, incrível apanhador de quadribol, que vendeu mais livros (E espetáculos! Doces! Jornais mágicos! Camisas de Hogwarts!) que qualquer outro personagem do lado de cá de Oz.

– O tal Harry Potter.

”Quando eu li o livro, se você tivesse uma criança de uma certa idade, você provavelmente já teria ouvido falar de Harry Potter”, disse Kloves. Seus dois filhos, na época com seis e três anos, eram um pouco novos. “E depois, se você tivesse uma criança de qualquer idade, saberia quem é Harry Potter. E uns meses depois, se você estivesse em qualquer parte do planeta, saberia quem é Harry Potter. É um pouco bizarro pensar nisso agora, mas foi bom ter lido o livro naquela época. Foi uma leitura imparcial”.

Algum momento entre “crianças de certa idade” e “crianças de qualquer idade”, Kloves concordou em escrever o roteiro da produção de Harry Potter da Warner Bros. para Pedra Filosofal. Nessa época, ele não percebeu as proporções épicas de sua decisão. Ele não percebeu que seria responsável por trazer à vida cinematográfica de um dos maiores destaques na literatura infantil desde E. Nesbit. Ele não percebeu que Harry Potter não era apenas um personagem de um universo alternativo, que Pedra Filosofal não era apenas um livro, era o começo de uma era.

“Eu pensei na época que seria um mundo maravilhoso para se viver por alguns meses”, ele disse rindo, “isso foi há dois anos e meio atrás”.

E ele não está nem perto de terminar, porque em algum lugar entre “criança de qualquer idade” e “em qualquer parte do planeta”, o estúdio decidiu continuar com os dois próximos livros de J.K. Rowling: Harry Potter e a Câmara Secreta e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Kloves foi convidado a adaptar esses dois também. O roteiro do segundo, ele disse, está em ótima forma, e ele está perto de começar o terceiro. Ele disse publicamente que mataria para fazer o número quatro. Nesse ritmo, ele terá terminado com Harry Potter antes de seu filho mais velho entrar no Ensino Médio. É claro, se os filmes forem tão populares quanto os livros, ele voltarão para o antigo número mágico novamente. Rowling prometeu sete livros, um para cada ano para a graduação de Hogwarts, e ela está trabalhando no quinto livro.

“Foi a única vez que me vi envolvido numa história sem fim”, ele disse. “Eu não sei como a história toda termina, e isso é algo bem estranho”.

– A vida de um garoto.

Não tão estranho, talvez, o seu envolvimento. Há pouco na carreira de Kloves que possa sugerir uma preferência por Harry Potter, além de sua afeição por filmes sobre “garotos”. Nada, certamente, que prenunciasse um comprometimento de longos anos com a história de um menino de 11 anos que descobre que a magia – das vassouras voadoras e dos caldeirões borbulhantes – é bem real. Kloves pertence à categoria “pequena, mas aclamada pela crítica” – “A Chama Que Não Se Apaga”, “Susie e os Baker Boys”, “O Peso de um Passado” – filmes sobre adultos, vividamente real e, muitas vezes, adultos com falhas, sem magia permitindo a salvação do amor e da auto-revelação. “Garotos Incríveis” foi sua primeira tentativa de adaptação para filme e que o fez ganhar uma indicação ao Oscar, mas a única coisa misteriosa sobre o filme era seu baixo orçamento, o único aspecto místico, a quase constante presença de maconha. Sim, muito da história se passou em uma escola, mas uma faculdade de artes não é nada parecida com Hogwarts – sem nenhum tipo de fantasmas irritantes, sem quadros falantes, sem dragões ou unicórnios espreitando pelos terrenos do castelo, sem cães de três cabeças guardando o elixir da vida, e certamente sem quadribol.

– Steve Kloves

(Para aquelas três pessoas no universo que se mantêm distante do trabalho de Rowling, quadribol é o esporte oficial dos bruxos. É um pouco como Rugby, um pouco como Lacrosse, mas jogado em vassouras. É uma das principais razões pela qual Rowling demorou a aceitar a adaptação para o filme; agora ela também mal consegue esperar para ver como é uma verdadeira partida de Quadribol)

A idéia de diferentes crianças comuns freqüentando uma escola de bruxos e bruxas cheia de coisas realmente estilosas – fotografias que se movem, cartas que gritam, feitiços que dão embaraçosamente errado – mas não foi nada extravagante que fez Kloves aceitar a tarefa. Ele não nutriu um amor secreto pela fantasia, ou mesmo pela ficção científica.

Certamente, ele acredita na existência de universos paralelos – ele quis ser um produtor de filmes desde que era um garoto atento no submundo crescente que é agora ‘Silicon Valley’ – mas o seu conceito de “alternativo” foi dirigido mais pela psique do que por um trem mágico. E isso, ele diz, é para onde o livro o levou.

A coisa mais difícil quando se trata de qualquer tipo de fantasia é fazer o mundo alternativo ser acreditável o bastante, os personagens serem reais o suficiente, para que a platéia conecte-se a eles, e através dessa conexão formar uma ponte entre este mundo e o outro. O incrível sucesso da série Harry Potter prova que Rowling fez exatamente isso – seus personagens são realistas até nos mais diferentes ambientes, seu tom sensato de descrever tanto a reação de Harry ao descobrir sobre a morte dos pais, o currículo escolar que inclui levitações, quanto os diferentes estágios de desenvolvimento de um dragão. As descrições de Rowling nunca são excessivas, até suas sentenças são simples e diretas. Só que o que ela escreve é algo fantástico. E o personagem Harry está experimentando a fantasia assim como o leitor está, como Kloves fez – sem nenhum conhecimento anterior.

“Eu logo confessei a Jo que não era fã de fantasias”, ele disse. “Ela respondeu ‘Relaxe… nem eu’. Eu apenas reagi a isso instantaneamente, do mesmo jeito que todos fazem. É um mundo tão imaginativo e tão emocionalmente reconhecível. Jo é tão habilidosa para encontrar o detalhe exato que desperta um local ou sentimento. As crianças sentem-se realmente como crianças, que acontece de serem bruxas e magos. Eu fiquei realmente encantado”.

Em retrospectiva, parece que adaptar Harry Potter era simplesmente uma tarefa que qualquer roteirista em seu juízo perfeito não poderia recusar. Sendo bem-respeitado como um cineasta como Kloves é (e ele é… em grande proporção), pode parece para alguns que ele procurava sair das “ótimas resenhas, baixo orçamento”. Então, quando ele começou a trabalhar, o resto do país caiu a seus pés na frente do personagem cuja mente ele estava tentando decifrar. Sugestões para o elenco e cenários, pontos da história e mudança de personagens, encheram a impressa e a internet. Era tão inquietante quanto satisfatório. Certamente, Kloves está entusiasmado por trabalhar em um projeto que tem um público embutido cheio de expectativas, e o inacreditável marketing do projeto também não machuca ninguém.

“Outdoors!” diz, “Imagine. Nenhum outro filme meu teve outdoors. E comercialização…”, ele balança a cabeça e olha para o chão. Parece um gesto característico. Em uma rápida olhada que freqüentemente não é para o chão, Kloves não irradia exatamente a habitual auto-promoção de Hollywood. Ele não te chama por seu primeiro nome 700 vezes a partir do momento que te conhece, nem parece carregar celular, bip, sistema global de satélite ou nenhum outro produto eletrônico projetado para fazer imediatamente sua conexão perfeita. Ele espera até que uma pergunta seja feita antes de responder e pensa antes de falar. Mesmo seu sorriso tem charmosamente o tamanho certo, uma pequena mexida de lábios que vai embora antes mesmo de aparecer.

Não é difícil ver o menino atento dentro do homem, mesmo agora. Mas é difícil pensar em Kloves sendo parte da Pottermania.

Mas não é chamado de ‘mania’ por nada. E com a propaganda veio a histeria, especulações sobre o que o filme pode ter deixado de fora, adicionado ou perdido tempo. As pessoas têm uma sensação muito forte sobre Potter, e não apenas pessoas: crianças. Com seus infames olhares intensos e decididos e habilidade para encontrar o falso, a imitação. É o público mais difícil de agradar. As crianças não agüentam uma trama estúpida porque é legal ver Alan Rickman e Maggie Smith em quase tudo ou porque a cinematografia é de tirar o fôlego. Um filme ou é bom, ou é uma droga. Apenas pergunte para o pessoal que tem jaquetas jeans Atlantis enfiadas dentro dos armários. E se Harry Potter é uma droga, esqueça os ternos da Warner Bros. As crianças irão mandar decapitar uma ou duas cabeças, e não apenas a do personagem de John Cleese, o fantasma Nick Quase Sem Cabeça.

Essa é uma das razões que o roteiro de Kloves tem uma liberação segura em algum lugar entre aquele confidencial e aquele somente para os olhos de Deus. Não, ele não pode compartilhá-lo hoje, nem mesmo no refúgio da Associação dos Escritores, onde está posicionado entre um sanduíche de peru e uma fita de gravador. Não, nem mesmo algumas páginas. Talvez depois, talvez coisas realmente sem importância. Mas no momento, não é permitido ver nenhuma página do roteiro.

“Sinto muito”, ele explica, “Eu sei que é estranho, mas é muito estranho. Existe muita expectativa. As pessoas são obcecadas. Não queremos que as pessoas formem idéias em suas cabeças sobre isso antes de assisti-lo”. Dito isso, ele espera que todos percebam que incluir cada detalhe que faz o livro especial faria o filme ficar insuportável, e com pelo menos 15 horas de duração. “Esta é sempre a parte mais difícil: decidir o que ficará de fora”.

– O Aprendiz de Feiticeiro

Certamente “Garotos Incríveis” confirmou que Kloves tem habilidade para fazer significantes alterações na narrativa, enquanto se mantém fiel aos personagens e à história. A admiração dele pelo escritor Michael Chabon parece ser sem limites – “Ele é o melhor escritor de diálogos que eu já li, um dos melhores escritores vivos” – e Chabon se disse muito satisfeito com o trabalho do roteiro de Kloves. Chabon escolheu, porém, adaptar seu próprio livro “As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay”, ganhador do prêmio Pulitzer. Chabon aprendeu a habilidade, ele disse, apenas observando Kloves, um elogio que, como vários outros, foi difícil de ser aceito por Kloves. “Michael pode fazer tudo como escritor. Ele é incrivelmente talentoso. Eu fico chateado (com a decisão dele) porque eu adoraria adaptar o trabalho de Michael pra sempre”.

Harry é, claro, o personagem mais difícil de escrever. Apesar de ser completamente acreditável, ele é um enigmático garoto, difícil de ler, e mais difícil ainda de dá-lo voz. A história de Pedra Filosofal é quase completamente sobre ele, movendo-se da descoberta do público sobre esse órfão extraordinário que vive com seus tios e primo extremamente “normais”, até a descoberta dele de que nada, nem mesmo ele, é o que parece.

O roteiro de “Garotos Incríveis” ensinou a Kloves muito sobre “natureza x educação”, já que se aplica aos sentimentos do escritor sobre as personagens.
Apesar de num roteiro original o escritor crie os personagens do nada, pegar a visão de alguém e transformá-los em algo vivo para o cinema acaba não sendo algo tão diferente, emocionalmente falando. “A lealdade é basicamente a mesma”, ele diz. “Jo Rowling criou esses personagens, esse mundo, mas eu tenho carregado Hogwarts em minha mente pelos últimos dois anos e eu amo (essas crianças) tanto como se fossem minhas”.

Como qualquer amor, esse é tanto um presente como um calcanhar de Aquiles. Cortar o trabalho de outra pessoa, mudar a trama ou diálogos para encaixar nas diferentes necessidades de um roteiro, acabou se tornando mais difícil que lidar com as criaturas da própria imaginação dele. “Você está matando os queridinhos de alguém, os queridinhos de outra pessoa”, ele disse, “e isso foi mais difícil, de alguma maneira”.

Não porque ele estava com medo da reprovação de Rowling, mas da dele mesmo. Rowling era seu maior recurso, disse ele, disponível para qualquer pergunta, sem importar o quão pequena fosse, disposta a ler um rascunho, uma página ou qualquer pedacinho de diálogo. Nem todo roteirista quer o insumo do autor do livro original, especialmente quando ele está no meio do processo criativo, ainda trabalhando com as personagens e com o assunto, cuidadosamente prestando atenção no passado deles, enquanto ela os impulsiona para o futuro deles, seus destinos. O único momento que Rowling disse algo como “não faça isso” ou “não pode fazer isso”, disse Kloves, foi quando ele pensou em adicionar referências feitas no primeiro livro sobre personagens que podem, ou não, aparecer novamente na história.

“Eu tenho essas intuições”, diz Kloves, “sobre determinadas conversas entre personagens, sobre as coisas que podem acabar se tornando muito importantes. E às vezes eu adicionaria essas coisas no roteiro. Eu tinha adicionado uma referência sobre o personagem Sirius Black; Jo disse: ‘Não, você não pode fazer isso, pois algo irá acontecer e mostrar que isso não é possível’. Mas ela é sempre muito prestativa e o seu conhecimento sobre os seus personagens, sobre esse mundo, é incrível. Eu poderia perguntar qualquer coisa e ela nunca erraria nada – ela sabe sobre o desenvolvimento da vassoura através dos séculos, ou do Quadribol, e isso é antes de pegar aqueles livrinhos apenas por diversão. O que ela sabe vai até o centro da Terra. Os livros são apenas a superfície”.

Por mais que Rowling possa compartilhar, existem muitas coisas que ela não compartilharia. Não importa o quanto ele tente, não importa por quais ângulos ele a abordou, Kloves não tirar à força uma dica, uma mísera dica sobre o que está por vir para os personagens que ele acabou amando tanto.

“Oh, ela sabe…”, ele disse rindo, “Ela já sabe exatamente o que vai acontecer. Quem vai sobreviver. Depois que Cálice de Fogo (em que um personagem morre) saiu, ela disse ‘Eles ainda não viram nada’, e você pensa que ela mediria algo, já que estou escrevendo os roteiros. Mas não. Nada! E eu tentei. Eu converso com ela pelo telefone por horas conversando sobre várias coisas e eu solto uma perguntas sobre o futuro. E ela diz: ‘desculpe, não posso dizer isso’. Muito educada com um sorriso. Mas ao mesmo”.

Não o suficiente para fazê-lo desistir das adaptações do segundo e terceiro livros ou esclarecer se ele está disposto a fazer o quarto, contudo. “O primeiro filme foi uma experiência tão colaborativa que pareceu natural continuar”, ele disse. “E eu amei tanto o mundo que não queria me despedir. É claro”, ele acrescenta, “agora eu estou tão envolvido nesse trabalho que se alguém em uma festa me perguntar algo sobre Harry, eu ficaria falando durante 12 minutos enquanto eles ficariam piscando e dizendo algo assim: ‘Nossa, você está realmente envolvido nisso’”.

– Possessão de Personagem

Harry é, claro, o personagem mais difícil de escrever. Apesar de ser completamente acreditável, ele é um enigmático garoto, difícil de ler, e mais difícil ainda de dá-lo voz. A história de Pedra Filosofal é quase completamente sobre ele, movendo-se da descoberta do público sobre esse órfão extraordinário que vive com seus tios e primo extremamente “normais”, até a descoberta dele de que nada, nem mesmo ele, é o que parece. Os pais dele não morreram em um acidente de carro, eles eram bruxos e foram assassinados pelo bruxo das trevas, que morreu quando tentou matar o bebê Harry. Harry também é um bruxo por nascimento e agora que tem 11 anos deve começar seu curso de magia na escola Hogwarts, reconhecida internacionalmente.

“Harry vem deste mundo essencialmente monocromático e vai para um com um deslumbrante brilho”, diz Kloves. “E Harry é difícil de conhecer. Ele é observador. Ele não fala muito, mas quando o faz, é importante. Talvez seja por isso que me identifico com ele. Porque como escritor, também sou observador”.

Escrever para crianças, ele diz, foi uma experiência extraordinária. “Eu não sei o porquê, mas há algo realmente maravilhoso em ouvir as linhas que você escreveu lidas por crianças. Foi muito libertador para aquelas crianças não serem modificadas como adultos. Com meus personagens adultos, particularmente os homens, você tem de pensar muito sobre o que eles não falam. As crianças modificam-se, mas de maneira diferente.

O sucesso do filme, diz ele, não se dá sobre quão bem eles reproduziram o Chapéu Seletor ou mesmo a partida de Quadribol, mas sim sobre se o público identifica-se com Harry e seus melhores amigos, Hermione e Ron, personagens tão complicados e sérios como qualquer adulto.

“Crianças em geral são tão profundas e interessantes quanto os adultos”, diz ele. “Eu me lembro quando escrevi ‘Susie e os Baker Boys’, fiquei preocupado em ter feito a menininha inteligente demais. Então eu mesmo tive crianças e eu percebi que eu não a tinha feito inteligente o bastante. E estes três são diferentes entre si, eles têm uma vocação. Foi dito a eles o que seriam. Mesmo nestes tempos de pais super preocupados, a maioria das crianças está sendo apenas crianças. E estas crianças estão em um trajeto. São muito sérios”.

Isso, mais de que a atenção e a descrição de Harry, pode ser a conexão final entre o autor de “O Peso de um Passado” e o personagem principal de Harry Potter: um sentido precoce de determinação. Kloves largou a faculdade em seu segundo ano para perseguir uma carreira como roteirista – aos 19 anos, ele já tinha um roteiro circulando pelas mãos certas. A história de uma dona de casa do subúrbio que estava ficando ligeiramente louca pegou a indústria de filmes de surpresa, não muito por causa de seu assunto, mas sim por seu autor.

“Eles esperavam que tivesse sido escrito por alguma mulher de meia-idade”, disse Kloves. “Então eu acho que a melhor coisa sobre ele era que era escrito por um rapaz de 19 anos de idade”.

O roteiro nunca foi produzido, mas o levou ao altamente aclamado “Adeus à Inocência”, que fez de Kloves, com 23 anos na época do lançamento, um verdadeiro jovem sucesso. Apesar de ter visto resenhas cheias de elogios e portas abertas após o lançamento do filme, ele não se apressou para o próximo projeto. Ninguém pensou em lhe negar a chance de escrever e dirigir seus dois filmes seguintes, e se tivessem seis anos entre os dois projetos, então assim seria.

E foi assim que ele o via, como escritor-diretor, cujos projetos precisavam de pelo menos três anos para um período de gestação. Essa visão, ele diz agora, impediu-o de se recuperar mais rápido das dívidas da produção e da recepção decepcionante de “O Peso de um Passado”. “Eu precisava de um descanso, mas eu continuei tentando outra coisa. Se eu tivesse conscientemente dado um tempo, provavelmente não teria levado tanto tempo. Eu olhei e percebi que três, quatro anos tinham se passado. Então ‘Garotos Incríveis’ pousou na minha mesa e me fez interessado em escrever novamente. Mas eu disse a eles que eu estava apenas assinando o contrato pelo roteiro”.

Kloves brincou com a idéia de dirigir também, mas não era uma boa época, ele disse. A filha dele estava começando o jardim de infância e ele não se compelido a dirigir. No mesmo momento, ele estava relutante em ver a pessoa errada dirigindo, então ele segurou o roteiro para si um pouco mais do que deveria. Quando ele se encontrou com o diretor de “Garotos Incríveis”, Curtis Hanson, ele sabia que tinha feito a decisão certa. E ele sentiu a mesma coisa quando conheceu Chris Columbus, apesar dele nunca ter se imaginado ele dirigindo Harry Potter.

“Tive sorte em ambas as situações”, ele diz, “porque os dois (os diretores Curtis Hanson e Chris Columbus) também são escritores, então eles sabem como falar com um escritor. Chris está sempre disposto a ouvir qualquer idéia e ele não acha que está certo até que nós dois concordemos, o que é ótimo. Mesmo se ambos desistíssemos de algo, eu sempre posso ligar para o Chris e dizer, ‘espere’, e ele ouvirá”.

Então, quando mudanças tiveram que ser feitas durante a produção, Kloves, que não estava nas filmagens de Harry Potter, diz que se sentia completamente confortável com a idéia de que Columbus as estava realizando. Ainda assim, ele definitivamente tinha o desejo de dirigir novamente. “Se não fosse por Harry, eu provavelmente teria feito isso, no ano passado ou no anterior. Sempre pensei em mim mesmo dirigindo um trabalho original – a idéia de escrever um trabalho original e ter outra pessoa dirigindo…”. A voz dele morre. “Mas eu não quero me aprisionar. Eu sempre disse que também não faria adaptações”.

Ver o filme começar do zero expandiu a idéia dele do tipo de filme que conseguiria dirigir. “Eu ainda sou puxado para o filme de personagem, que essa indústria curiosamente chama de ‘pequeno’. E minha esposa lhe dirá, eu apenas escrevo sobre lugares que ninguém nunca quer ir – saguões dos hotéis da rede Holiday Inn e cidades quentes e secas no oeste do Texas”.

Com Harry, pelo menos ele conseguiu levar sua família para Londres e seus filhos podiam bisbilhotar pelo set de filmagens antes das filmagens começarem. Mas eles estão menos que impressionados pelo envolvimento do pai no que potencialmente poderá se tornar o filme infantil da década.

“Nós tentamos amenizar tudo sobre o filme”, ele disse. “E por um tempo, enquanto eu ficava muito em Londres, minha filha via isso apenas como aquilo que levava seu pai embora”.

Ele foi muito encorajado, no entanto, pela resposta de sua filha quando ela viu pela primeira vez o trailer do filme. “Ela realmente se animou. Virou-se para mim e disse: ‘Pai, isso pode ser muito legal!’ Foi a melhor coisa que podia ouvir”.

Fonte: http://www.wga.org/WrittenBy/1101/Kloves/Kloves.html

Traduzida por: Adriana Couto Pereira em 28/11/2008.
Revisado por: Thais Teixeira Tardivo em 30/12/2008.
Postado por: Vítor Werle em 03/01/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.