Storey, David. “Harry Potter lança feitiço sobre Washington”. Reuters, 19 de outubro de 1999.

J.K. Rowling dificilmente teria causado uma sensação maior se tivesse chegado numa vassoura.

Crianças de 7 a 70 anos aglomeravam-se no abafado Clube de Imprensa Nacional na quarta-feira, onde poderosos corretores de Washington abriram caminho para uma discussão de duas horas sobre bruxaria e seu atual proponente mais famoso – a criação literal de Rowling, Harry Potter.

Clientes, alguns pouco mais altos que as mesas cobertas de linho, escutavam a história da compra da varinha mágica de Harry (“De fato é a varinha que escolhe o bruxo”) e o conselho de Rowling para os pais de escritores aspirantes: “Não falem para eles que não é realista”.

Rowling, a escritora britânica de trapo à rica, cuja série sobre o bruxinho de escola, que seduziu crianças ao redor do mundo, tinha fás em fila, na chuva, por horas, pela sua assinatura numa turnê tumultuada pelo leste dos Estados Unidos.

Ela dificilmente precisa de uma turnê de publicidade.

Seus três livros explodiram no cenário da literatura no ano passado e agora preenchem os três primeiros lugares na lista dos mais vendidos do New York Times. Harry Potter foi visto na capa do Time Magazine, que comparou os livros a clássicos como “O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa” e “O Hobbit”.

SETE MILHÕES DE LIVROS VENDIDOS
Mais de 7 milhões de cópias já foram vendidas só nos Estados Unidos, onde Rowling levou os créditos de ter introduzido milhões de crianças nos prazeres da leitura de livros. Os livros já foram traduzidos para mais de 25 línguas.

Rowling, que começou a escrever os livros em Cafés de Edimburgo enquanto ela vivia de assistência-social como mãe solteira apenas três anos atrás, ganhou 14,5 milhões de libras (22 milhões de dólares) no ano passado. Tem um filme sendo feito.

Washington abotoado perdeu seu colarinho para um almoço empacotado no Clube de Imprensa, onde crianças, que leram inúmeras vezes os três primeiros livros da prometida série de sete volumes, sentavam enfeitiçados, próximos dos pais um pouco confusos.

A escritora de 34 anos fala sucintamente, no seu estilo entusiasmado sobre seus personagens, Harry e seus amigos Hermione, Rony e Neville, que freqüentam a escola para bruxos Hogwarts.

Como um trecho para leitura no salão de baile lotado do Clube de Imprensa, ela escolheu a cena na qual Harry é levado para uma loja misteriosa e escura para comprar a sua primeira varinha mágica – “azevinho e pena de fênix, 11 polegadas (28 centímetros), boa e maleável”.

Enérgica, Rowling continuou a leitura: “Harry apanhou a varinha. Sentiu um repentino calor nos dedos. Ergueu a varinha acima da cabeça, baixou-a cortando o ar empoeirado com um zunido, e uma torrente de faíscas douradas e vermelhas saíram da ponta como um fogo de artifício, atirando fagulhas luminosas que dançavam nas paredes”.

EM CONTATO COM SEUS FÁS JOVENS
“Ela não é de forma alguma o que eu esperava”, disse Iona Millership, uma fascinada garota de 11 anos que leu os três livros várias vezes e é rápida em corrigir qualquer um que confunda as misteriosas regras do Quadribol, esporte imaginário de Hogwarts.

“Os livros dela são extraordinariamente detalhados, mas ela responde tão curtamente dizendo tudo que ela quer dizer”.

Luminosa e brilhante e com uma simpatia infantil na sua conduta, transmitindo o sinal de aprovação para seus fãs jovens, Rowling não tem nenhuma das atitudes de celebridade e claramente não está possuída pela maré da fama.

“Espertamente confiante; fortemente instruída; pessoas de maneiras gentis não arranjam confusão comigo”, é como o Washington Post contentou-se em descrever ela depois da entrevista.

Por que os livros dela são tão populares? “Eu realmente não quero analisar isso”, responde Rowling. “Eu quero conduzir a escrita da forma que eu sempre fiz. Eu não quero colocar o ingrediente X nele”.

“Eu tinha uma vida de fantasia muito viva quando era criança”. Com um sorriso auto-depressiativo, ela adiciona: “É um pouco preocupante que eu não superei isso”.

Embora pressionada por leitores excitados, ela se negou a dar futuras respostas de histórias – cada um dos sete livros conta a história de um ano da escolaridade de Harry. Há pouco tempo ela deixou escapar que um personagem central vai morrer, gerando uma especulação horrorizada entre seus leitores.

Mas, entrando apressadamente no jargão de Washington que assombra o Clube de Imprensa, ela poderia apenas dizer: “Ele tem uma agenda muito cheia vindo”.

Traduzida por: Virág Venekey em 17/05/2007.
Postado por: Vítor Werle em 26/09/2008.
Entrevista original no Accio Quote aqui.