HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX
Resenha do filme

Variety ~ Todd McCarthy
29 de Junho de 2007
Tradução: Adriana

Os alunos de Hogwarts deixaram definitivamente as tolices juvenis para trás em “Harry Potter e a Ordem da Fênix”. Consideravelmente mais sinistro e mais rude que os filmes anteriores da série de estrondoso sucesso, o novo episódio encontra os jovens ocupados em uma colisão frontal com a adolescência e assumindo uma cadeira em seu sóbrio confronto contra o desenvernizado mal. A pottermania atingirá o cúmulo em julho, com os lançamentos quase simultâneos do quinto filme e do sétimo e último livro, e a preocupação comercial da Warner Bros. É que, talvez após a segunda ou terceira semana, a curiosidade sobre a conclusão da saga faça sombras ao interesse no filme.

Produzido extravagantemente, conforme o esperado, apesar de tudo o filme marca uma diferença notável em relação a seus precedentes. Nas cenas abertas, agouros pairam sobre tudo e todos aqueles conectados ao mundo mágico, embora o governo insista que não há ameaça alguma.Uma sensação alterada dessa vez surge em grande quantitade ao redor dos recém recrutados para levar o grupo até os domô­nios sempre-escuros. O diretor David Yates, até agora mais conhecido por seu trabalho na televisão (e já encabeçando o sexto filme); o roteirista Michael Goldenberg, tomando o lugar de Steve Kloves; e o compositor Nicholas Hooper, cuja música vigorosamente dramática usa apenas uma fração dos temas de John Williams, fazem a maior diferença ao manter o foco longe das diversões voadoras e intrigas de casas em favor de elaborados e às vezes pesados presságios do inevitável confronto final entre Harry e Lorde Voldemort. O foco concentrado resulta em um humor instável e em cenas dramáticas de intensidade incomum. Mas condensar o livro, que com suas 870 páginas é o maior que J. K. Rowling já escreveu, no filme mais curto da série teve o seu preço. Muitos espectadores não vão mesmo se importar com o primeiro filme de “Potter” sem partida de Quadribol, nem que os elfos domésticos e os fantasmas legais estejam completamente ausentes.

Mais séria é a diminuição das incontáveis intrigas entre os indiví­duos e as frações que compreendem tanto da complicada e deliciosa trama da história. A interação detalhada entre as relações flutuantes que envolvem Harry, Hermione, Ron (particularmente desprezado aqui), Cho Chang e a intrigante novata Luna Lovegood (Evanna Lynch) é sacrificada em favor de repetir blocos de cenas de Harry ensinando seu grupo clandestino de adolescentes guerreiros qual a melhor maneira de fazer a varinha funcionar. As cenas de sala de aula são escassas e o sentimento de um ano escolar passando é mí­nimo, dando ao filme uma dimensão achatada quando comparado ao surpreendente “Cálice de Fogo” de Mike Newell, cheio de eventos, o filme anterior e de maior sucesso dentro da série.

A obra atual começa no final de um seco verão inglês, quando Harry (Daniel Radcliffe, de volta com uma aparência mais limpa) discute com o Ministro da Magia por ter lançado um feitiço proibido para se defender do ataque de dois dementadores. Ouvindo Harry como um inquisidor, aqui ele só escapa da expulsão de Hogwarts graças à intervenção de Dumbledore (Michael Gambon), que se atém ao conflito central: o Ministério se recusa a aceitar o argumento de Harry de que Lorde Voldemort voltou e, de fato, se preparam para colocar toda a força de sua propaganda em desacreditar Harry e Dumbledore.

Para isso, o Ministério impõe um de seus membros como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Dolores Umbridge é uma das criações mais deliciosas – e com o nome mais ressoante – de Rowling; uma mulher robusta, parecida levemente com um sapo vestido de rosa, Umbridge é uma funcionária tendenciosa por excelência, uma fanática por regras e regulamentos com um toque de ironia que recobre seus editais proibitivos com tons delicados e sorrisos pré-fabricados. Imelda Staunton foi a escolha perfeita para o papel e previsivelmente surge como uma das melhores surpresas do filme.

Umbridge não perde tempo buscando apoio de Harry, das outras crianças ou da equipe de Hogwarts; assumindo mais poder virtualmente a cada dia, ela coloca seu aluno mais falador em detenção, proibe o aprendizado de feitiços práticos, começa a perseguir professores geniosos e finalmente confronta Dumbledore para assegurar o completo controle do Ministério sobre a escola.

Em resposta, Harry reúne um grupo rebelde clandestino conhecido como Armada de Dumbledore. A intensidade dessas passagens levam o espectador a acreditar que serão as cenas que mais ocuparam o interesse do diretor Yates, que parece ter erguido a imagem de Harry e Hermione como de lí­deres revolucionários por natureza.

Tão importante quanto isso é a renovada relação entre Harry e seu amado padrinho Sirius Black (Gary Oldman), escondido na secreta mansão familiar em Londres, e seus pesadelos com Voldemort (Ralph Fiennes), com quem ele sente uma forte e perturbadora ligação. Fica tão difí­cil que Harry é forçado a ter aulas particulares com o terrível Professor Snape, cujo desprazer na tarefa não poderia ser mais óbvio. Até pouco antes do final, Snape tem um papel pequeno, mas Alan Rickman pode ter se superado; dificilmente um ator faz tanto com um papel tão pequeno como ele faz aqui.

O confronto entre a equipe de Harry e os seguidores de Voldemort, liderados por Lúcio Malfoy (Jason Isaacs), ocorre estritamente em uma grande ala do Ministério repleta de globos do tamanho de pequenos melões contendo profecias. Uma dessas esferas diz respeito a Harry e é de vital interesse a Voldemort, cujo desempenho é particularmente bom ao lado da malvada prima de Sirius, Belatriz Lestrange, interpretada por Helena Bonham Carter, com uma aparência particularmente maní­aca.

Não demora muito para conectar os ventos doentios que afligem Hogwarts, com a antecipação do conflito inevitável, com a atual situação do mundo como um todo. As metáforas estão todas implí­citas e há muito o que fazer simplesmente crescendo e enfrentando realidades desagradáveis, mas eles contribuem muito para aumentar o sentimento de nervosismo e dificuldade, crescente ao longo da série. Será interessante ver se a antecipação geral para os dois filmes restantes será rápida ou se arrastará uma vez que a conclusão da série épica será revelada no livro final.