Baker, Jeff. “Harry Potter: Ela precisa dizer mais?”, The Oregonian, 22 de outubro de 2000.

J.K Rowling não tem necessidade de dar entrevistas. Com mais de 32 milhões de cópias da série Harry Potter em impressão apenas nos Estados Unidos, Rowling não precisa de publicidade para vender seus livros.

Mas, lá estava ela, no escritório de sua editora na cidade de Nova Iorque, Scholastic, respondendo contente às perguntas de cinco repórteres de jornais em uma conferência por telefone. Por quê? “Eu vejo isso como uma oportunidade de responder as perguntas das crianças”, Rowling disse. “Minha caixa de correio está ficando muito cheia no momento. Embora respondamos cada carta, a logí­stica de tudo está em que eu não posso ir a todas as escolas que me pedem para fazer uma visita e não posso ir a cada leitura que as pessoas querem que eu faça. É uma maneira de responder às perguntas sobre coisas que estão aí­ e uma maneira de alcançar as pessoas sem ir a cada uma dessas comunidades, o que seria muito difí­cil agora”.

Em uma entrevista de 45 minutos a 3.000 milhas de distância, Rowling saiu de lá brilhante, energética e nem um pouco intimidada com seu sucesso. Ela falou animadamente sobre esse sucesso, soltou algumas dicas sobre o que ainda vai aparecer na série, levantou a bandeira contra a censura e deixou bem claro que escrever continua sendo sua maior prioridade. A razão de Rowling para dar entrevistas faz sentido. Seus comentários foram organizados por tópico e editados apenas para continuidade. Note que ela se refere aos livros por número, não tí­tulo. Então, “Harry Potter e o Cálice de Fogo” é o livro quatro, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é o livro um, e o novo, ainda sem tí­tulo é o livro cinco.

Sobre o novo livro: “O livro cinco está a caminho, mas eu ainda não cheguei muito longe”. É muito improvável que ele saia em Julho próximo, puramente porque eu acabei de terminar um livro longo, e muito complexo (livro quatro), e eu quero que o novo saia o melhor que eu puder fazer. “Eu não quero ficar escrevendo com um prazo artificial de entrega. Estará terminado quando eu terminar, e eu não pretendo tirar nenhuma folga da série porque eu ainda estou amando sua escrita”.

Sobre sua agenda de escrita: “Em um dia ideal, eu provavelmente trabalho de 6 a 10 horas. Este seria um dia realmente bom de escrita para mim. Estou lutando para ter tempo de escrever no momento, o que é bizarramente familiar para mim porque foi assim que eu escrevi os dois primeiros livros porque eu tinha um emprego”. “Eu ainda escrevo à mão, e eu escrevo longe de casa também sempre que possí­vel porque é muito fácil se distrair quando você está em casa. Uso cafeterias como escritórios, de verdade, com o bônus adicional que normalmente a música é boa e tem alguém trazendo café para mim o tempo todo, o que é ótimo”.

Sobre os personagens: “Harry, Rony e Hermione eu amo, e eu acho que há algo de mim em cada um deles”. “Eu absolutamente adoro o Hagrid, se bem que eu não diria que haja parte da minha personalidade nele. Ele foi criado quase como uma resposta para mim. Eu acho que a maioria das crianças gostaria de ter um amigo como Hagrid. (o ator) Stephen Fry, que lê os livros para gravação na Grã-Bretanha, disse que garotos jovens precisam de alguém como Hagrid porque eles precisam de alguém que sente lá ouvindo e dizendo sim, sim, enquanto colocam pra fora suas almas agoniadas. Alguém que sente lá e escute e que seja muito neutro e seguro. Eu espero que não tenha nada de mim nos Dursleys”.

Sobre as festas em livrarias para o livro quatro: “Foi maravilhoso. No dia 8 de Julho, eu estava em um hotel em Londres querendo começar a turnê. Na Grã-Bretanha fiz uma turnê muito curta, começando em Londres e indo para o norte onde eu nasci, e nós paramos e fizemos algumas sessões de autógrafo e conhecemos muitos leitores. Mas quando eu estava no meu hotel assistindo televisão e eles filmaram essa enorme livraria no centro de Londres onde todas as crianças estavam esperando pelo livro. Minha filha estava dormindo no quarto e eu tive esse desejo maluco de colocar meus jeans e ir lá pra vê-las”. A reação é muito devastadora? “Com as crianças, nunca. E eu realmente quero dizer isso. É realmente muito extraordinário porque eu sou uma ex-professora e eu sei que crianças não são anjinhos. Eu conheci milhares e milhares de crianças, de diferentes nacionalidades, em sessões de autógrafos e leituras, e nunca vi uma criança insolente. Nunca”. Sobre expectativas: “Não é um fardo, de fato. é um negócio profundo. Existe uma tendência de se subestimar as crianças em vários ní­veis. Eu sinceramente acredito que as crianças realmente querem ouvir a história como eu a imaginei. Eles querem saber como termina. Eles não querem mudar nem um único parágrafo. Eles querem saber o que vai acontecer depois. Eles querem que eu conte a história que eu quero contar”. Sobre ser retirada da lista de mais vendidos do New York Times: (“The Times” criou uma lista separada para livros infantis, em clara resposta pelo livro de Rowling dominar a lista de ficção). “Bem, eu não dei uma festa (ri). É difí­cil essa. Eu sei porque aquilo foi feito, eu sei a razão por trás disso, todos vimos a razão por trás daquilo. Foi um pouco triste”.

Sobre outros escritores: “Philip Pullman é um escritor que eu admiro muito. Eu acho que ele pode escrever e tirar a maioria dos escritores adultos da página… Eu acho que ele é incrí­vel. Seu livro ‘Clockwork’ é um livro que eu acho que é um trabalho absolutamente admirável. Freqüentemente me perguntam em eventos: ‘O que eu devo ler? Eu já terminei de ler Harry Potter’. Esse é o livro que eu recomendo. Tem um escritor chamado David Almond, outro britânico, ele escreveu um livro chamado “Skellig” que eu acho engraçado… No momento estou lendo “The blind assassin”, de Margaret Atwood. Seus livros são muito assustadores? “Isso é uma questão do gosto de cada um. Eu acho que o final do livro quatro foi assustador. Mas há razões para isso. Não foi feito por puro prazer, pensando em assustar as pessoas. Eu estava lidando com um personagem malvado e tenho a obrigação moral, eu acho, de mostrar o que isso significa. Eu não vejo que nos livros cinco, seis e sete, como você já sabe, eu tenha que aumentar o perigo em cada um. O livro 4 foi um momento pivô no coração da série. Eu não diria que necessariamente o livro 5 é mais sombrio, mas eu não posso dizer que não há mais coisas sombrias vindo por aí­ porque eu sei que há”.

“Desde o primeiro livro, eu conhecia pais que diziam ‘Bom, meu filho de 5 ou 6 anos adorou’. Eu sempre me senti um pouco reservada para falar que aquilo era ótimo porque eu sabia o que estava por vir na série e por mais que eu consiga maneirar na linguagem, talvez algumas das cenas sejam sombrias demais para uma criança de 5 ou 6 anos. Eu acho que provavelmente 8 ou 9 anos é o mais jovem que eu recomendaria para ler os livros”. Sobre o final: “O capí­tulo final do livro sete já está escrito. Eu escrevi para minha própria satisfação, como um ato de fé. (Para dizer que) eu ia chegar ao final. Nesse capí­tulo você irá, eu espero, sentir um pouco de resolução. Você descobre o que acontece com os sobreviventes. Eu sei que isso soa muito sinistro (ri)”.

Sobre os produtos que vêm com o filme: (Harry Potter e a Pedra Filosofal já têm um elenco. Rowling disse que ficou muito feliz em saber que Maggie Smith faria a Prof.McGonagall, Robbie Coltrane fará Hagrid e Alan Rickman será o Prof.Snape). “Esse assunto não é meu. Eles pedem minha opinião, e eu dou minha opinião. Minha participação é mais criativa, é mais com o diretor e com o roteirista. Eu vi os sets, e eles são incrí­veis. É uma experiência assustadora entrar no Grande Salão, realmente muito assustadora. E a casa de Hagrid… é… eu sei que todo escritor de trabalho original quando vê tudo feito de verdade se sente do mesmo jeito”.

“O que estou mais excitada em ver é o Quadribol, sem dúvida alguma. Eu vejo isso dentro da minha cabeça há 10 anos. Com isso, eu realmente vou virar uma criança. Eu só quero sentar no fundo do cinema e ver”. Sobre censura: (os livros de Harry Potter são freqüentemente desafiados em livrarias e bibliotecas de escolas públicas. Alguns pais acham que os livros promovem bruxaria e anti-cristianismo). “Eu realmente odeio censura. Eu acho isso muito desagradável. Eu pessoalmente acho que eles estão muito enganados. Eu acho que esses livros são muito éticos e eu acho que eles têm uma visão muito pequena. Muito pequena no sentido de que se você tentar muito retratar a bondade sem mostrar que o inverso é a maldade e sem mostrar como é maravilhoso resistir a tudo isso… bem, eu sempre me senti assim sobre literatura”.

“Você encontra mágicas, magias e bruxarias em vários livros clássicos infantis. Onde começamos? Com ‘O mágico de Oz’? Essas pessoas estão tentando proteger as crianças de sua própria imaginação”. Dicas sobre o futuro: “Tem coisas que acontecerão com os Dursleys que as pessoas não esperam, mas eu não vou falar muito, se puder… Finalmente, eu lhe disse algo. Gina (Weasley) vai ter um papel maior no livro cinco”.

Traduzido por: Leticia Vitória em 24/08/2006
Revisado por: Patricia M. D. de Abreu em 25/04/2007 e Antônio Carlos de M. Neto em 21/03/08
Postado por: Fernando Nery Filho em 29/04/2007
Entrevista original no Accio Quote aqui.