Lockerbie, Catherine. “Travessura com um atrativo mágico”. The Scotsman, 27 de junho de 1998.

Como, precisamente, alguns heróis entram nos corações das crianças, enquanto outros esmorecem na obscuridade, na escuridão adulta? Harry Potter, menino bruxo, chegou mais rápido que uma vassoura voadora de corrida à afeição dos jovens leitores.

Sua primeira aparição, e seu feliz salto para o primeiro lugar do estrelato literário, foi bem documentada. Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro livro de JK Rowling, ano passado atraiu aclamações vertiginosas e teorias, ganhou o Prêmio Smarties e fez com que um vasto número de crianças adotasse um vocabulário esotérico de “trouxas” e “Lufa-Lufa”. Os parquinhos ressoam ao som do Quadribol “um jogo bruxo aéreo, com alguns movimentos acrobáticos bastante complicados. As crianças jogam em Harry Potter o maior dos elogios”. Isto, a seqüência tão esperada – serão sete ao todo – ainda está vendendo em números bobos e há poucos nas lojas. No primeiro livro, soubemos que Harry Potter é muito mais que um simples garoto comum, apesar de sua alegre normalidade aparente. Uma cicatriz de raio em sua testa revela sua identidade e destino.

O maligno e sombrio Lorde Voldemort matou os pais de Harry quando este ainda era um bebê; mas toda a sua maldade falhou contra o garoto. Por isso, Harry Potter é um nome lendário no mundo dos bruxos e bruxas “um universo paralelo que Rowling cria com imensa habilidade inventiva e humor junto ao mundo comum dos trouxas, ou pessoas não mágicas”. O mesmo contraste, o subúrbio desagradável do tio e tia de Harry, além de seu revoltante primo Duda se choca com a maravilha, o caos amedrontador do mundo mágico, que também ilumina este segundo livro.

O mundo de Duda é de acordos comerciais e tédio. O mundo de Harry, uma vez que ele escapa, é onde carros podem voar, onde diabretes saem de controle em salas de aula, onde raízes de mandrágora se mostram como bebês horrí­veis e históricos enquanto são carinhosamente replantados. Este é o mundo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, o internato onde as lições envolvem varinhas e poções ao invés de álgebra e inglês, onde fantasmas perturbadores vagueiam pelos corredores e corujas de estimação entregam o correio.

Nesse volume da vida de Harry, ataques estranhos a alunos indicam que a lendária Câmara Secreta foi aberta; e que haverá boas, engraçadas e assustadoras aventuras com cobras, aranhas e vilões muito malvados antes que o modesto, corajoso, determinado, e ligeiramente confuso Harry dê conta de tudo.Tudo isso pode ser pensado como afetadamente antigo. Estas crianças podem dizer “legal” e comparar as últimas vassouras como se fossem os tênis mais maneiros.

O cenário, no entanto, a Escola de Hogwarts, é Enid Blyton se encontrando com Mervyn Peake: um tipo de atração interessante em Gormenghast. Estes livros não são particularmente contemporâneos, não são particularmente atuais, as Spice Girls não estão em nenhum lugar nele, eles não estão na televisão (ainda: eles clamam por telas grande e pequena para aproveitar mais seus personagens e cenários visualmente fabulosos); e as crianças os adoram, apaixonadamente e vorazmente! Então, vamos pensar, Harry Potter e o que as crianças realmente querem dos livros. Está claro que não querem didática e coisas chatas; elas não querem ser mimadas e padronizadas. Elas realmente querem alguns ou todos os seguintes: um mundo rico, completo e excitante onde possam mergulhar; montes de mágica para os dias quando ainda mais livros sobre namoro e futebol começarem a ficar chatos; um enredo brilhante e contagiante; várias piadas e mudanças de rumo, um pouco de rudeza e um pouco de bondade.

Pois, mesmo se eles não quiserem absolutamente nenhuma lição de moral, eles querem uma grande quantidade de senso moral. Regras podem ser quebradas, as pessoas podem agir sem pensar, fazer coisas ruins, mas as crianças precisam saber que eles também têm coragem, esperteza e grandeza de espí­rito para evitar as adversidades. Na única linha que remotamente lembra um conselho aqui, Alvo Dumbledore, grande bruxo e diretor de Hogwarts, diz a Harry, que esteve se perguntando sobre seu prôprio potencial em ser um bruxo malvado, ao invés de um bom: “São as nossas escolhas, Harry, que realmente mostram o que somos, muito mais que nossas habilidades”. Harry é especial, e comum também. Aqueles que ainda estão para conhecê-lo deviam ficar amigos dele já.

A animação absoluta e flexível da narrativa de Joanne Rowling devia seduzir até o mais exigente dos trouxas. O fã clube de Harry Potter será lançado dia 2 de Julho. Você será perguntado qual mão você empunha a varinha, qual posição de Quadribol você joga e quais criaturas mágicas você possui. Mais informações no Fã-Clube de Harry Potter, Bloomsbury Publishing plc, 38 Square, London W1V 5DF.

JK Rowling fará uma leitura em 2 de julho em Waterstonesm Sauchuehall Street, Glasgow, às 11 da manhã, e em Dillons, St Vincent Street, Glasgow, às 3 da tarde. Em 3 de julho ela estará em Edimburgo, em Waterstone’s West End às 7 da noite. Ela também aparecerá no Festival do Livro de Edimburgo em agosto.

Copyright 1998 The Scotsman Publications Ltd.

Traduzido por: Matheus de Almeida Barbosa em 07/03/2006.
Revisado por: Junior Gazola em 16/02/2008.
Postado por: Fernando Nery Filho em 29/04/2007.
Resenha original no Accio Quote aqui.