“Rowling em sua participação no programa de Richard e Judy”. Richard & Judy Show, 26 de junho de 2006.

Local: Richard & Judy Show, Londres, Inglaterra.
Fonte: ‘Richard and Judy Show,’ Channel Four Corporation (UK).
Entrevistadores: Richard Madeley e Judy Finnigan.
Contexto: Jo estava escrevendo o sétimo livro por pouco mais de um ano.
Créditos da transcrição: Roonwit.
Áudio: Parte 1 | Parte 2 (via TLC)
Vídeo: Parte 1 | Parte 2 (via TLC)

[Clipe do filme Harry Potter e o Cálice de Fogo].

Richard: E Jo se junta a nós agora. E eu amo aquele clipe porque sintetiza para mim o que é realmente bom sobre os seus últimos livros. Nós acabamos de deixar esse vale de dores e mágoas que está construindo a adolescência, você está para começar isso.

Jo: Oh, bom. Algo pelo qual esperar, então.

Richard: É tão ruim quanto o que você pensa que será, eu posso te dizer. Mas isso é o que é encantador sobre a seqüência dos livros. Você pode ver Harry se transformando em um adolescente irritado e todos ao redor dele passando por aquelas dores da adolescência. Você retrata isso muito corretamente, e você não tem filhos adolescentes. Isso foi baseado em amigos e conversas com amigos que tem filhos adolescentes?

Jo: Bem, eu ensinei para jovens por um tempo. Eles eram a minha faixa etária favorita na verdade. Então eu acho que tirei um pouco daí e também de memórias de quão irritados nós éramos quando adolescentes. Nós não éramos… Minha irmã está aqui para assistir e ela era muito irritada estão eu retratei muito dela.

Judy: Ela é mais velha que você?

Jo: Ela é dois anos mais nova que eu.

Judy: Eu sei o que eu quero que aconteça no fim de Harry Potter, eu quero que Harry se case com Gina Weasley e que Rony se case com Hermione – não, eu não quero – sim, eu quero, eu quero que Rony se case com Hermione e eu vou ficar tão aborrecida se isso não acontecer. Mas é claro o último no momento está guardado no seu cofre?

Jo: O último capítulo está escondido, contudo foi alterado levemente. Um personagem foi perdoado, mas eu tenho que dizer que dois morrem e eu não pretendia matar…

Judy: Dois muito amados?

Jo: Bem, você sabe. Um preço tem de ser pago. Nós estamos lidando com o mal absoluto. Eles não alvejam os extras, não é? Eles procuram os personagens principais, ou eu procuro.

Richard: Nós não ligamos para os extras. Você disse ao seu marido – obviamente você confia a ele todas as coisas…

Jo: Bem, não tudo. Isso seria um descuido.

Richard: Isso seria estúpido, vamos ser honestos. Você contou a ele os que serão cortados e aparentemente ele se arrepiou e disse “Não, esse não.”

Jo: Ele disse para um deles, sim.

Richard: Todos os jornais que estão promovendo essa entrevista hoje querem claramente que te perguntemos se você vai matar Harry Potter, o que é uma pergunta ridícula porque você está disposta a dizer sim ou não? Obviamente que não. Você provavelmente não poderia responder isso, mas você já se sentiu tentada a causar mais danos a ele do que ele já sofreu?

Judy: Ele sofreu o suficiente, ele tem passado por provas rigorosas.

Jo: Como eu poderia? Todos os anos de sua adolescência e infância ele tem salvado o mundo bruxo e então ninguém acredita nele – ele gasta sua vida inteira salvando o mundo, e no próximo ano letivo ele está de volta à escola para sofrer intimidações.

Judy: Aí está esse grande Harry Potter que acabou de salvar sua escola inteira e todas as peles dos alunos…

Jo: E todos apenas pensam que ele é um pouco irritante.

Richard: Eu estava me esquivando da parte da morte um pouco, porque eu sei que você não pode responder à essa questão, mas você sabe como Conan-Doyle ficou esgotado de Sherlock Holmes…

Jo: Sim

Richard:… então o empurrou do despenhadeiro nas cachoeiras Reichenbech, e não estou perguntando se você fez isso, obviamente, mas você já se sentiu tentada a matá-lo porque isso é uma coisa imensa na sua vida?

Jo: Eu nunca pretendi matá-lo antes do sétimo livro. Eu sempre planejei sete livros e aí é onde eu quero ir, onde eu quero finalizar os sete livros. Mas eu posso entender completamente a mentalidade de um autor que pensa “Bem, eu vou matá-los porque isso significa que não haverá nenhum autor qualquer escrevendo seqüências como eles dizem, e isso terá o final comigo e depois que estiver morta e me ir” – eles seriam capazes de trazer de volta o personagem e escrever um monte de…

Richard: Eu nunca me atentei para isso. Eu pensava que isso te liberaria.

Jo: Agatha Christie fez isso com Poirot, não fez, ela queria ela mesma acabar com ele.

Judy: Bem, você disse que entende isso completamente, mas você não vai se comprometer à…

Jo: Eu não vou me comprometer. Eu não quero cartas com rancor, fora tudo o mais.

Judy: Quando você começou, quando teve a idéia sobre Harry Potter, pela primeira vez, o que veio primeiro, foi a idéias da magia, ou do personagem Harry, ou da escola, você era uma leitora aguçada de estórias situadas em escolas?

Jo: Eu li algumas quando era mais jovem.

Judy: Angela Brazil?

Jo: Eu nunca li Angela Brazil, eu li alguns Mallory towers e eles não me induziram a relê-los mas quando eu tinha 6 anos, eu realmente gostava deles. Mas eu acho que Harry e mágica vieram juntos então a idéia principal era a de um garoto que era um bruxo sem saber que era bruxo, era isso, essa era a premissa, e quando eu trabalhei ao contrário desse ponto – como ele poderia não saber, então daí que vem toda a estória anterior e há muita estória anterior como você sabe, e de fato agora que eu estou no livro sete, eu percebo quanta estória anterior existe porque ainda há muito que explicar e muito que descobrir.

Richard: Você deve ter tido que criar a história anterior à descoberta de Harry além, além da linha final, você não poderia ter começado com essa quantidade…

Jo: Ah, não, é que claro que não comecei. Eu tenho não sei quantos personagens em jogo, mas eu tenho cerca de 200 e alguma coisa ridículos…

Richard: Mas você pensava enquanto você escrevia os livros seguintes – “Oh, por que eu fui escrever isso…”.

Jo: Sim.

Richard: “… no Livro 2 isso me atrapalhou e agora não posso escrever isso ou aquilo”.

Jo: Sim. Nunca – eu não acredito que tenha feito isso em algo importante do enredo, mas com certeza em algumas coisas eu esbarrei em um empecilho, e eu tenho pensado bem e tenho me limitado – se ao menos eu tivesse deixado algo aberto mais cedo então teria um jeito melhor de passar por aquela dificuldade, mas eu sempre encontrei um jeito.

Richard: Como xadrez.

Jo: Bem, é um enredo difícil, e a resolução é…

Judy: Sim, mantendo tudo em sua cabeça…

Richard: Mas o último livro esta pronto já? Judy diz que está no seu cofre, eu sei que o último capítulo…

Jo: Não, o último livro não está pronto, porém eu estou bem concentrada nele.

Richard: Mas, você já escreveu o final?

Jo: Eu escrevi o último capítulo em algo como 1990? – oh, espere – escrevi o último capítulo em algo como 1990.

Judy: Verdade, então você sabia exatamente como a série terminaria.

Jo: Bem, com certeza, sim.

Judy: Nossa!

Jo: Eu fui repreendida por umas duas pessoas sobre isso. Eu acho que eles pensaram que era muito arrogante da minha parte terminar meus sete livros da série quando eu ainda não tinha um editor e ninguém nunca tinha ouvido sobre mim, mas quando você não tem nada você pode planejar o que você quiser, não pode, quem se importa?

Judy: Absolutamente, e antes de perguntarmos como você começou a escrever a outra coisa que nos deixou perplexos, inclusive nosso filho que é um super fã, foi quando os livros começaram a ficar mais sombrios, toda a coisa do “bem e mal” começou a ficar mais forte e eu acho que isso foi – bem, isso ficou um pouco mais sombrio com os sangue-ruins no segundo livro, mas em o Prisioneiro de Azkaban é que começou a ficar muito pesado…

Jo: Os dementadores.

Judy: Com os dementadores, claro, tudo isso, e foi algo que você pretendia desde o começo ou isso apenas se desenvolveu?

Jo: Eu sempre tive essa intenção, porque enquanto Harry cresce, essas coisas paralelas acontecem não é, Harry está ficando mais e mais velho e mais e mais habilidoso, e simultaneamente Voldemort está ficando cada vez mais poderoso e ele está retornando para a forma física, porque é claro, no primeiro livro ele não tem uma existência física realmente – mas as pessoas sempre disseram pra mim – e eu concordo que os livros ficaram bem mais sombrios.

A imagem no primeiro livro onde Voldemort aparece na parte de trás da cabeça de Quirrel, eu ainda acho que esta é uma das coisas mais arrepiantes que eu já escrevi – eu realmente acho – e também a imagem da figura encapuzada bebendo o sangue de unicórnio essa coisa arrastando-se pelo chão o que eles representaram muito bem no filme de a Pedra Filosofal, eu acho que essas são imagens muito macabras e eu não penso que você poderia dizer pelo primeiro livro que eu não estava montando o meu pretexto na verdade, eu estava dizendo que esse é um mundo em que algumas coisas muito ruins acontecem.

Judy: Sim, eu sei disso mas o que eu estou dizendo é que eu comecei a ver paralelos com coisas como racismo e…

Jo: Sim, definitivamente.

Judy: …apartheid, e genocídio e todo esse tipo de coisas.

Jo: Isso foi muito consciente, que Harry entrou nesse mundo que muitos de nós fantasiaríamos ser maravilhoso: “Eu tenho uma varinha mágica e tudo será fabuloso” – e a questão é que natureza humana é natureza humana, tanto faz os poderes mágicos e talentos que você tem, então ele pode ver pelo o outro lado, ele avança por esse mundo surpreendente, e é surpreendente, e ele encontra imediatamente todos os problemas que você pensa que ele deixaria para trás e eles são de um jeito ainda mais extravagante porque são exacerbados pela magia.

Richard: Você pode correr mas não se esconder.

Jo: Sim, definitivamente.

Richard: Você tem dito sobre ter uma estratégia de sete livros desde o começo, antes mesmo de você ter um editor, e provavelmente você deve ter dado piruetas de alegria quando Pedra Filosofal foi publicado.

Jo: Sim, eu dei.

Richard: Qualquer autor que tem seu primeiro livro publicado…

Jo: É um momento inacreditável, sim.

Richard: Que satisfação, e otimismo.

Jo: Você poderia muito bem dizer que nada chegou perto desde então, mas isso é um testemunho do momento de euforia que foi.

Richard: Quando a euforia muda para algo…

Jo: …para terror?

Richard: Bem, talvez isso fosse terror, mas em que ponto dos livros você pensou, “bom, espera, isso não é só um best seller, isso não é apenas uma série legal que eu estou aproveitando e os leitores também, isso é inédito.” Foi dito que se você colocar todos os livros que foram comprados, que você escreveu sobre Harry Potter, final com final, eles dão a volta ao mundo, em volta da Linha do Equador quase uma vez e meia, e ainda não terminou ainda. Quando você acordou e pensou “isso é histórico?” Porque é histórico, você ficará marcada na história da publicação, provavelmente pelos próximos três séculos ou mais.

Jo: Eu, honestamente não penso nisso nesses termos, apesar de que para os primeiros livros eu estava em total negação, sobre, e eu realmente vivi na negação por um longo tempo.

Judy: Sobre a fama?

Jo: Sim, totalmente. E eu acho que é aí que está minha reputação de ser um pouco…

Richard: reclusa?

Jo: A face inexpressiva apareceu, porque eu era como um coelho capturado nos faróis, e o único jeito que eu poderia enfrentar isso era tratá-lo como algo menor, sem muita importância, você sabe, tudo isso acontecendo, jornalistas começam a ficar na sua porta e você pega o jornal e ali tem algumas referências casuais sobre Harry Potter, e isso é a coisa mais esquisita, é que isso permeia histórias estranhas e se torna – é mais do que uma indicação para mim de quão grande se tornou, mais do que qualquer coisa.

Eu me lembro que teve uma fase que eu não comprava jornais, porque estava ficando um pouco estranho pra mim, e normalmente eu devoro jornais, e então, era Wimbledon – alguns anos atrás – e eu pensei que era seguro ler Wimbledon, pare de ser tão… supere-se, então eu peguei esse jornal e eu viro para esse relato de um jogo com Venus Williams e eles disseram, eu acabei vendo Harry Potter olhando para mim, e eles estavam falando sobre balaços, você sabe as bolas do Quadribol, e eles estavam falando que o saque dela era tão poderoso, que estava sendo comparado a um balaço, sem muita explicação, mas isso era muito legal – coisas como essas são maravilhosas.

Richard: Mas isso é a fama. Isso é entrar no dicionário de diálogo habitual, o que eles chamam de conversa descolada, e isso não tem haver só com ler o último livro, é uma coisa continua com você agora. E sobre a riqueza? E eu não quero parecer lascivo sobre isso, porque isso é o que é, mas você tem uma fortuna inacreditável, além dos sonhos da avareza, na verdade. Como isso mudou sua vida?

Jo: Bem, isso é ótimo!

Richard: Obrigado por dizer isso.

Jo: Francamente, não é para quebrar todos os violinos ou coisas assim, mas se você passou, durante alguns anos, quando as coisas estiveram bem difíceis e eles foram muito difíceis, e não é muito romantizado, mas isso colocou de lado metade da sentença, oh “famintos em um sótão,” e ocasionalmente eu tenho pensado “bem, experimente isso colega, você vai até lá e veja” – não era truque de publicidade, era minha vida, e naquela época e não sabia que haveria uma surpreendente solução, eu pensei que essa seria a minha vida por uns vinte anos.

Richard: Mas você já se sentiu culpada por essa quantidade de dinheiro, porque…

Jo: Sim, eu senti, absolutamente. Teve um ponto em que, porque inicialmente eu tenho que dizer que as pessoas no início estavam escrevendo, e eles frequentemente escrevem que tenho muito mais do que eu realmente tenho – eu não estou fingindo que eu não sou muitíssimo rica porque eu sou – mas às vezes eles publicam algarismos que meu contador certamente não reconheceria. Mas no começo eles estavam dizendo que eu era uma milionária, mas eu não estava nem perto de ser milionária. Então é esquisito e mentalmente complicado quando se está acostumado a contar cada centavo.

Richard: Setenta libras esterlinas por semana que você tinha?

Jo: Sim.

Judy: Então, o que estava acontecendo com você era que, basicamente, lá estava você sendo a mesma que sempre foi, escrevendo esse livro que você estava pensando e escrevendo por um longo tempo.

Jo: Por muitos anos.

Judy: E de repente fez sucesso, esse único livro, e o próximo livro, e você de repente se deu conta que essa pessoa, você, tinha na verdade tomado conta de sua própria vida, que não era você de forma alguma, e você estava completamente…

Jo: Eu acredito que isso é exatamente correto e eu acho que você está pensando sentada aí, mas eu ainda sou a mesma idiota que era ontem, mas de repente as pessoas então interessadas no que eu tenho a dizer e minha resposta para isso é me fechar muito porque de repente eu sinto que essa luz tem brilhado em mim, debaixo de minha pedra, e foi uma época de grande desordem quando fui submetida pela primeira vez a esse tipo de exame minucioso, porque eu senti uma fidelidade à pessoa que fui ontem, e eu não quero dizer que “oh, foi terrível” porque na verdade não foi terrível, e nós estávamos bem e eu dava aulas e minha filha ainda diria, de fato disse para mim ontem, que estávamos felizes, então eu não queria sentar aí e dizer “era tudo terrível, e agora é fabuloso, querida, porque eu tenho um pouco de dinheiro”.

Judy: E a sua filha – seus dois menores ainda são muito pequenos mas Jessica é quem esteve com você desde o começo, ela se adaptou bem?

Jo: Ela tem sido fenomenal, e não tem sido sempre fácil pra ela porque, bem você pode imaginar sua mãe sendo J.K. Rowling. Em um ponto eu posso me lembrar dela sendo excelente, metaforicamente falando, contra as grades da escola, diga-nos qual é o titulo do próximo livro, não é muito fácil.

Judy: Contra as grades da escola, por?

Jo: Pela ação de outras crianças, tentando descobrir os títulos através dela, mas ela era maravilhosa, ela era muito calma.

Richard: E sobre – não é muito sobre a fortuna, ainda que isso pudesse ser na verdade, mas certamente a questão da fama – antes de você conhecer o seu adorável marido, seu incrivelmente adorável marido.

Jo: Sim, ele é um marido adorável.

Richard: Aparência de um rock star, antes disso o namoro…

Judy: [foto] Ali está ele.

Richard: … entre o relacionamento que resultou na sua adorável filha, e ele, houve um período onde você encontrou essa imensa fortuna e sucesso, e você tem dito que namorar era muito complicado, muito difícil, isso era porque você esperava que os homens viessem até você pelo que você era.

Jo: Não era muito isso. Para ser perfeitamente honesta com você, namorar é apenas complicado se você é uma mãe solteira. É isto. E a outra ocupação era um fator vagamente dificultoso, mas na altura em que você arruma uma babá, a realidade da vida era, e não tive uma babá por um longo tempo, eu não tinha os cuidados com criança apropriadamente organizados porque acho que eu era apenas – mais uma vez eu estava em negação sobre isso, que eu precisava disto, e então cheguei ao ponto onde precisava claramente, não podia cobrir todas as minhas obrigações profissionais, ainda que estivesse tentando mantê-las mínimas.

Richard: Você queria dizer “Eu posso enfrentar, posso lidar com isso”.

Jo: Sim, eu fiz o que é muito da minha personalidade, que é fingir que eu posso lidar com as coisas, e não pedir ajuda, até que eu me quebre um pouco.

Richard: Bem, somos todos assim.

Judy: Então voltando, olhando para onde você está agora em sua vida pessoal bem como o aspecto da carreira, profissionalmente e tudo isso, você esta em um lugar muito bom, bate na madeira.

Jo: Sim.

Judy: Não que tenha alguma madeira para bater aqui ao redor mas – Você é muito feliz, tem uma família adorável…

Jo: Eu sou realmente sortuda, eu penso nisto todos os dias, juro, todos os dias eu penso o quão sortuda eu sou.

Richard: Apenas observando o tema constante – nós vamos dar um intervalo por alguns minutos, mas depois você estará de volta e nós teremos algumas crianças aqui com perguntas, mas antes delas chegarem – como você mesma disse, o tema dos livros é morte, não é?

Jo: Basicamente.

Richard: Esse é um tema imensamente poderoso, e você estava escrevendo o primeiro quando a sua mãe faleceu, ela tinha 45 anos, e você era muito próxima dela e você tinha imaginado que a morte seria um tema tão poderoso antes da morte dela, ou isso te mostrou aquela sensação de perda?

Jo: Definitivamente, me mostrou isto. No primeiro esboço – eu estava escrevendo sobre Harry por apenas 6 meses, antes de ela morrer – e no primeiro esboço eu acabei com os pais dele de um jeito muito leviano – e então mamãe morreu, e eu não conseguia acabar com os pais dele daquele jeito, não podia, não agora quando eu sabia como era perder uma mãe. Isso é muito, muito diferente.

Judy: Esse é o motivo pelo qual os pais de Harry mantêm essa presença…

Jo: Eles mantêm, sim.

Judy: …em fotografias…

Richard: E no espelho, é claro.

Jo: No espelho, sim.

Richard: E quando você escreveu isso, eu ficaria surpreso se você disser que talvez você derramou algumas lágrimas, quando você escreveu estas seqüências, quando Harry se senta lá perdido em pensamentos.

Jo: Esse é meu capítulo favorito do primeiro livro.

Richard: É um capítulo adorável.

Jo: É um dos meus capítulos favoritos de toda a série.

Judy: Isso é o que é tão tranqüilizador sobre os livros, eles lidam com um mal direto e com a morte, parece que você sempre deixa um fio em algum lugar, ainda que esteja dentro… Eu amo todos os diretores, os diretores passados e os professores em seus pequenos quadros… Para acabar com essa seção em particular: Eu sempre amei aquele – qual era o nome dele – o que estava sempre enrolando o cabelo, o Professor…

Jo: Gilderoy.

Judy: Eu amo a idéia dele, ao anoitecer sentado naquela coisa, tirando seus bobs, e colocando-os de novo e tudo. Aí está uma grande parte de humor no livro também, e presumivelmente essa é só uma parte do seu personagem?

Jo: Sim, eu acho, apesar que você não iria sempre imaginar isso do jeito que eu descrevo, iria, o velho ranheta. Mas sim, eu acho que sim.

Richard: Bem, como você diz, o último capítulo está no cofre, você está finalizando o resto do manuscrito, mas esse é o último dos livros, certo?

Jo: Sim, bem eu sempre disse que eu poderia fazer um tipo de enciclopédia do mundo para caridade, apenas para arredondar isto.

Richard: Mas não é o mesmo que a parte criativa…

Jo: Não, absolutamente, não. Não é o mesmo que uma estória.

Richard: Você pode viver sem Harry?

Jo: Bem, eu vou ter que aprender, vai ser difícil.

Richard: Por que não expandir para nove, então, sinceramente porque parar no sétimo? Isso é pedir demais para fazer…

Jo: Porque eu acho que você tem que sair, quando você tem…

Richard: Quando você estiver realizada?

Jo: Sim, eu acho que você tem. Eu admiro as pessoas que partem enquanto outras ainda querem mais. E isso é o que eu quero fazer.

Richard: Mas, também me foi dito, bem na verdade eu li isso no Tatler [link do artigo], talvez foi um comentário descuidado que você fez, que você já completou outro livro infantil para crianças mais novas.

Jo: Oh, sim. Não está finalizado, mas está bem encaminhado – pela metade.

Richard: Por quanto tempo esse esteve em sua cabeça?

Jo: Não tanto tempo quanto Harry. Há alguns anos.

Richard: Você está feliz com ele?

Jo: Eu realmente gosto dele. É para crianças pequenas – é um tipo de conto de fadas – é um livro bem menor então provavelmente seria algo legal para vir depois de Harry, e não outro volume imenso.

Richard: Esse é o futuro então, você pode se imaginar tendo outra grande idéia como Harry Potter e desenvolvendo-a…

Jo: Se eu gostar da idéia o suficiente eu definitivamente a faria, mas eu não acho que terei algo como Harry de novo, eu acho que você consegue apenas um como Harry.

Judy: Bem, eu acho que a maioria das pessoas espera que em algum ponto da sua vida você voltará para ele de algum jeito, adaptação ou forma e haverá alguma coisa, você terá gerações…

Jo: Crises de meia-idade de Harry Potter?

Richard: Se ele sobreviver para ver uma?

Jo: Se ele sobreviver para ver uma.

Judy: Nós vamos fazer uma pausa aqui.

[Fim da Parte Um]

Richard: Agora um pouco de estatística aqui: mais pessoas do que toda a população da Grã-Bretanha, França, Alemanha, e Itália juntas, mais pessoas compraram livros de Harry Potter. É uma extraordinária história literária de sucesso. Estamos muito contentes de ter JK Rowling em nosso programa hoje… a criadora de mais mágica, mas certamente também – pessoas saudáveis e seguras favor anotem – a escola mais perigosa da história educacional britânica, Hogwarts.

[Cena da doninha de Cálice de Fogo é exibida]

Judy: Estamos muito contentes de ter JK Rowling no nosso programa hoje, a criadora de mais mágica, mas certamente também – pessoas saudáveis e seguras favor anotem – a escola mais perigosa da história educacional britânica; Hogwarts.

Judy: E, as crianças estão aqui, Jo está aqui. Antes de irmos a sua sina, essa é a verdade sobre Hogwarts?

Jo: Sim, é.

Judy: É aterrorizante, como que eles lidam com isso?

Jo: É fantástico, não é.

Judy: E o que era a outra coisa que eu ia dizer? Oh, sim. Draco – Draco o garoto que interpreta o papel de Draco é muito adorado por…

Jo: Por todos.

Judy: Por todos. Algumas das garotas aqui adoram Draco, nos filmes?

Jo: Não depois de Cedrico, certamente?

Richard: Eles não admitiriam isso, admitiriam, na frente da câmera.

Judy: Você não vai me dizer isso, vai?

Richard: Onde Luke está sentado? Luke, quantos anos você tem Luke?

Luke: Oito.

Richard: Você leu todos os livros?

Luke: Não, na verdade não.

Richard: Não todos eles?

Jo: Não sabe quem Harry Potter é!

Judy: Você tem uma boa pergunta para Jo porém, qual é Luke?

Luke: Se você fosse uma personagem dos seus livros, quem você seria?

Jo: Provavelmente Hermione, porque ela foi livremente baseada em mim quando eu era mais jovem, eu era um pouco irritante daquele jeito.

Judy: Que inteligente, você era muito estudiosa, uma garota estudiosa na escola?

Jo: Sim, eu era. Aquele tipo de pessoa irritante que por baixo é muito insegura. Hermione é uma combinação, eu acho, da minha irmã e de mim.

Judy: Então você era aquela que colocaria as pessoas em seus lugares com citações e coisas que você aprendera?

Jo: Bem, não sei se iria longe assim, eu era esforçada.

Richard: Ela os acertava com um gancho de esquerda?

Jo: Não, ela era mais ligada à questão do elfo doméstico, ela era um pouco mais política, e um pouco mais histérica sobre…

Richard: Você foi monitora-chefe?

Jo: Eu fui monitora-chefe, mas isso significou ser a menos votada provavelmente para ir a Borstal [um reformatório britânico] se você estudasse na minha escola. Não era uma honra muito grande para ser bem franca.

Judy: Perdoe-nos, escola. Se vocês estiverem nos assistindo.

Jo: Oh sim, perdão.

Judy: Agora, qual é seu personagem favorito, Luke?

Luke: Harry Potter.

Judy: Definitivamente Harry, certo.

Jo: Oh, isso é interessante porque não é muita gente que gosta mais de Harry.

Judy: Verdade?

Jo: Não, na verdade é uma porcentagem muito pequena. Eu me lembro de ver uma apuração de votos em um fã site não-oficial, algo como dois por cento das pessoas preferiam Harry.

Judy: Eu amo Harry.

Jo: Rony é bem mais popular.

Richard: Okay, onde Ella está sentada? Ella, quantos anos você tem, por favor?

Ella: Tenho treze.

Richard: Okay, não vou te perguntar se você leu cada um dos livros, mas me foi dito que sim. Você quer perguntar sobre o Bicho Papão?

Ella: Sim.

Richard: Lembre-nos o que é um Bicho Papão.

Ella: Você tipo, diz um feitiço para um tipo de armário, e então o seu maior medo vem à tona.

Richard: Certo, então no meu caso ele poderia sem uma aranha gigante?

Ella: Sim.

Richard: Ou no caso de Judy, poderia ser eu? Okay, legal.

Judy: Então o que você quer perguntar para a Jo?

Ella: Eu estava pensando, se você ficasse em frente a um Bicho Papão, o que você veria?

Jo: Eu veria o que a Sra. Weasley vê em a Ordem da Fênix. Ela vê a si mesma – é um pouco medonho – ela vê seus filhos mortos.

Richard: Oh, céus.

Jo: Eu sei, é um pouco perturbador.

Richard: Você é sombria, não é?

Jo: Lamento. Bem, eu acho que para qualquer mãe, provavelmente essa é a pior coisa que se pode imaginar, e é isso que ela vê quando a guerra está começando, e ela sabe que seus filhos vão estar envolvidos. É sobre isso que ela se preocupa.

Richard: Eu esqueci como se combate um Bicho Papão? Qual é o contra-feitiço?

Jo: Você tem que aprender a rir dele. É difícil de rir desse, porém, e na verdade ela não consegue. Alguém a salva dele e ela não consegue afugentar aquela imagem.

Judy: [para Ella] Hagrid é seu favorito, não é?

Ella: Sim.

Judy: Eu amo Hagrid.

Jo: Hagrid tem uma imensidão de fãs, sim.

Judy: Eu me pergunto se Hagrid será cortado? Uma pena, não? Ela não vai nos dizer então não há motivo para perguntar. Quem mais nós temos? Temos George Lynch? É você, George L? Aí. Oi, e o que você quer perguntar à Jo, George?

George: Minha pergunta é, algum dos seus personagens é baseado em pessoas que você conhece?

Jo: Bem, eu disse equivocadamente que Lockhart foi baseado em alguém que eu tinha conhecido.

Judy: Oh, sério.

Jo: Sim. E isso ganhou alguns espaços em jornais irritantes porque eles acharam que era a pessoa errada. Eles foram atrás da pessoa errada.

Judy: Ele é o cara muito vaidoso que estávamos conversando antes.

Jo: Sim, e eu mal exagerei, acredite ou não. Alguém que eu conheci há um longo tempo.

Richard: Ele era da televisão?

Jo: Não. Há muitos Lockharts aparecendo por aí na televisão?

Richard: Eles estão em toda parte.

Judy: Eu o amo.
Jo: Essa foi a única vez que eu me sentei e conscientemente pensei: eu estou colocando X como um personagem e eu fiz.

Richard: E você gostava de X?

Jo: Não, eu absolutamente detestava X, o que eu acho que provavelmente foi o motivo para fazer Gilderoy Lockhart.

Judy: Você acha que X sabe?

Jo: Não, eu acho que o egoísmo de X é tanto que X provavelmente anda por aí dizendo “Nós éramos assim. Ela me adora. Ela queria se casar comigo – eu a recusei.” acredite.

Richard: Você sabe Carly Simon teve um jantar muito privado para caridade com a pessoa que nomeava mais, e ela contou-lhes quem era o personagem de “You’re so vain” – a primeira música de sucesso dela – você devia fazer a mesma coisa em alguns anos, deveria dizer eu vou te contar quem…

Jo: Bem, não quero arruinar a vida de X.

Richard: Ele parece ser um completo B-O-S-T-A.

Jo: Eu sei, mas ainda assim não quero arruinar a vida dessa pessoa.

Richard: Tudo bem, okay. Essa foi uma ótima pergunta George, que teve uma ótima resposta.

Judy: Ele é um fã de Rony Weasley, não é?

Richard: Quem é o próximo? É Shian?

Cian: Cian.

Richard: Cian. Lamento, Cian. Eu peço seu perdão. Quantos anos você tem?

Cian: Dez.

Richard: E qual é a sua pergunta?

Cian: Depois de Harry Potter, o que você vai escrever em seguida?

Jo: Bem, eu meio que respondi isso antes do intervalo. Eu acho que vou terminar outro livro para crianças, só que mais novas, crianças levemente mais novas que eu venho escrevendo. Então eu gosto bastante disto…

Richard: Um livro menor você disse.

Jo: Muito, muito, muito menor, sim.

Judy: E você vai lamentar muito quando o último livro for lançado, de Harry?

Cian: Sim.

Jo: Eu vou também. Eu vou sentir muita falta dele, mesmo.

Judy: E Elly? Não Ella, mas Elly? Olá Elly, você tem treze anos, certo?

Elly: Sim.

Judy: O que você quer perguntar a Jo?

Elly: Para quem você escreveu Harry Potter? Havia alguém em especial que inspirou você ou…?

Richard: Boa pergunta.

Jo: É mesmo. Eu queria poder dizer algo encantador como resposta, mas foi para mim mesma! Foi algo que eu realmente queria escrever. Quando eu tive a idéia eu pensei que seria muito divertido de escrever, e tem sido.

Richard: A idéia apenas caiu do céu azul e límpido ou você esperou por…

Jo: Realmente caiu.

Richard: Sério? Você acordou as três da manha com a idéia na cabeça ou o quê?

Jo: Eu estava em um trem, Manchester para Londres, e isso apenas surgiu, apenas surgiu.

Richard: Inteiramente formado?

Jo: Bem formado.

Richard: Sério? Um estado reputativo?

Jo: Não a coisa toda, mas a idéia essencial surgiu e nós estávamos atrasados, e eu apenas continuei adicionando pedaços em minha mente e quando eu saí do trem, eu tinha muito lá. Eu realmente tinha muito.

Judy: Os trocadilhos são ótimos, como Beco Diagonal. [para as crianças] Vocês não adoram isso, Beco Diagonal?

Jo: Eu gosto disto.

Judy: É ótimo, Juliet.

Richard: Mais uma rápida pergunta sobre isso, oh maldição eu esqueci agora. Vá para Juliet e eu pensarei de novo.

Judy: Okay, Juliet.

Juliet: Você sempre quis ser uma autora?

Jo: Sempre. Desde o momento que eu me dei conta que livros não simplesmente aparecem do nada, que as pessoas faziam as estórias. Eu sempre quis fazer isso. Eu posso me lembrar de, ainda extremamente jovem, copiar palavras sem saber o que elas significavam. Então eu acho que é algo inato. Eu apenas queria fazer isso.

Judy: Você amava palavras, sim. Você escreveu quando tinha cinco ou seis anos e você costumava escrever pequenos contos.

Jo: Está certo.

Richard: Eu lembro que pergunta era. Você obviamente – por causa da carência na qual você vivia, naquele período inicial – você, como todos sabem, costumava escrever em cafés para se manter aquecida, enquanto o bebê dormia no carrinho de bebê. Você ainda escreve em cafés?

Jo: Mmm.

Richard: Você ainda encontra sua inspiração?

Jo: Não vou dizer aonde eu, curiosamente, vou o suficiente.

Richard: Eu não estava perguntando isso, mas você vai, apenas para ter o murmúrio, a vibração, coisas desse tipo?

Jo: É um habito. Agora é tão profundamente enraizado. Eu escrevo melhor.

Richard: Fascinante.

Judy: Okay, que ainda não fez uma pergunta? Aaron, Nathan e George. Então Aaron, bem rápido, qual a sua?

Aaron: É difícil de inventar as regras do Quadribol?

Jo: Eu as criei em mais ou menos uma meia hora, depois de uma briga com o meu então namorado. E eu acho que é daí que vêm os balaços.

Richard: Okay, Nathan?

Nathan: O que a inspirou a fazer animais tão criativos?

Jo: Bem, alguns dos animais eu criei, como os Explosivins são todos meus. Mas muitos deles existem no folclore ou mitologia, e eu os mudei um pouco para adaptá-los aos meus fins. Não há muitos Hipogrifos se você for checar, então eu apenas criei meu próprio Hipogrifo.

Judy: E George, você é o único que falta. Mas nos diga quem é seu personagem favorito?

George: Minha personagem favorita é Hermione.

Judy: Hermione? Eu amo Hermione.

Jo: Não. Você é o primeiro garoto que eu já conheci cuja personagem favorita era Hermione.

Richard: Mesmo?

Jo: Mas você gostava dela antes de Emma Watson começar a interpretá-la?

George: Não muito.

Richard: Você tem simpatia pela Emma Watson.

Jo: Você gosta da Emma Watson. Muitas pessoas gostam. [a música do final começa a tocar]

Richard: Harry Potter e o Enigma do Príncipe está lançado agora em brochura. Nós estamos tão satisfeitos que você veio. Muito obrigado por fazer isso, Jo. Foi um prazer conversar com você. Obrigado.

Jo: Muito obrigada. [aperta mãos]

Jo: Obrigada.

Richard: Nos vemos amanhã, pessoal. Tchau.

Judy: Tchau. Obrigada crianças.

Traduzida por: Ana Feitosa em 26/10/2008.
Revisado por: Fabianne de Freitas em 19/11/2008.
Postado por: Vítor Werle em 22/11/2008.
Entrevista original no Accio Quote aqui.