“O vôo começa: Sete autores infantis e ilustradores de primeira viagem falam sobre as estréias de outono: J.K. Rowling (excerto)”. Publisher’s Weekly, 21 de dezembro de 1998.

Quando J.K. Rowling conheceu seu agente, Christopher Little, durante um almoço em Londres em 1995, ele achou que fosse correto alertá-la: “Agora, você percebe que nunca fará uma fortuna escrevendo livros infantis?” Três anos depois, o primeiro livro de Rowling, publicado nos Estados Unidos com o título Harry Potter and the Sorcere’s Stone (Scholastic/Arthur A. Levine, setembro), saltou para o topo da lista dos mais vendidos, tanto aqui quanto no país de origem de Rowling, Reino Unido; conquistou prêmios importantes, desde o Smarties Prize até o British Book Award; ganhou um contrato cinematográfico de seis dígitos com a Warner Bros.; e trouxe à Rowling tantos e-mails de fãs que ela está contratando uma secretária em tempo integral, e tamanha avalanche de publicidade pessoal que o tablóide britânico The Sun tentou (em vão) comprar os direitos para sua biografia.

A história por trás de Harry Potter pode competir com o próprio livro em suas proporções de conto de fada e seu senso de desertos justamente abandonados. Harry tem 11 anos, um órfão sendo criado rancorosamente por sua desprezível tia Petúnia e tio Valter, quando é contatado pela escola de magia e bruxaria de Hogwarts e oferecido uma vaga na classe que se iniciará no ano seguinte. Até aquele momento ele não fazia idéia de que um mundo inteiro de bruxaria coexistia secretamente dentro de uma sociedade normal – e ainda que nesse mundo bruxo ele fosse uma espécie de lenda. A combinação fantástica de Rowling de magia, humor e grande aventura estimularam muitos críticos a compará-la a Roald Dahl (“Mas não tão escuro!” corrige um entusiasta da Amazon.com).

Rowling, agora com 33 anos, começou a escrever Harry Potter em 1990. Ela havia escrito e deixado de lado dois romances adultos que eram segundo sua própria avaliação, impublicáveis, quando, durante uma longa viagem de trem, ela teve a idéia para Harry Potter. “Apenas tive: Bang!” diz ela. Desde o começo, ela concebeu a obra como uma série de sete volumes, “por que eu decidi que levariam sete anos, das idades de 11 a 17, incluídas, para se treinar um bruxo, e cada um dos livros lidaria com um ano da vida de Harry em Hogwarts”.

Para se assegurar de que sabia como seu mundo fictício funcionava, ela fez “montes e montes” de anotações, criando leis bruxas, história, etc. Ela essencialmente planejou todos os sete romances, estabelecendo a base desde o começo; ela até já escreveu o capítulo final do último livro, “para lembrar a mim mesma onde estou indo”. Por mais planejada que fosse sua trama, Rowling precisava de cada pedaço de força de vontade para trazer Harry à vida. Nos próximos quatro anos, ela se mudou para Portugal, conseguiu um trabalho em tempo integral como uma professora de Inglês, casou-se, deu à luz, terminou seu casamento e mudou-se para Edimburgo com uma filha de 5 meses de idade para criar sozinha – e os primeiros três capítulos de Harry Potter. Sem uma creche e incapaz de conseguir um emprego sem uma, ela foi à assistência pública. Em muitos aspectos, diz ela, esse foi um dos períodos mais tristes de sua vida.

Para se assegurar de que sua filha dormiria o suficiente para dar-lhe tempo de escrever, Rowling a colocava para dormir em um carrinho de bebê. “Depois eu corria – literalmente, pois não podia perder um minuto sequer – até o café mais próximo. Por tentativa e erro eu tinha encontrado aqueles que me permitiriam sentar-me com ela por uma hora e meia [a duração típica de uma soneca] com uma xícara de café, que era tudo que eu podia pagar”.

Durante a noite, quando o bebê ia para a cama, Rowling vencia sua própria exaustão e trabalhava por várias horas até que o bebê acordasse para sua alimentação noturna. “Essa é a parte de que tenho mais orgulho”, diz ela, “a força de vontade envolvida. Era uma prova positiva do quanto eu queria escrever Harry”. Ela encontrou Christopher Little em 1995, no Writers’ & Artists’ Yearbook (O equivalente no Reino Unido para o Literary Market Place). Ele foi o segundo agente a ver seu livro – o primeiro tinha mandado ele de volta “literalmente pelo correio”, com uma carta modelo. No ano que seguiu, três editoras recusaram o livro sob a alegação de que ele era muito longo para crianças. Mas a quarta, Bloomsbury, aceitou-o imediatamente, e foi a Bloomsbury que inclinou Arthur Levine da Scholastic durante a feira de livros de Bologna de 1997 e arranjou para Little, que controlava os direitos, mandá-los para ele.

Levine adquiriu os direitos americanos por uma quantia de cair o queixo de $105.000, causando um furor na imprensa Britânica, que reportou largamente o fato como a mais alta soma paga por um primeiro romance infantil (a venda também foi largamente reportada por chegar a 100.000 libras, não dólares). Rowling se tornou conhecida por sua carreira dos-trapos-para-a-riqueza, e a publicidade aumentava enquanto Harry Potter and the Philosopher’s Stone, como o livro é chamado na Inglaterra, ganhava prêmio após prêmio.

Harry Potter e sua autora se tornaram tão populares que quando a seqüência, Harry Potter e a Câmara Secreta, foi lançada no Reino Unido julho passado, ele debutou como o livro mais vendido do país, superando Jeffrey Archer e John Grisham. (Scholastic/Levine lançarão o livro nos EUA em setembro de 1999.) Para tirar proveito do inesperado fenômeno de cruzamento, a Bloomsbury publicou uma segunda edição de Harry Potter e a Pedra Filosofal com uma capa criada para atrair os adultos.

Um mercado em cruzamento parece estar se formando nos EUA também. Um mês depois do dia da publicação, Harry Potter havia conquistado o ponto alto na lista dos livros de ficção infantil mais vendidos da Philadelphia Weekly; No meio de dezembro ele ficou em segundo lugar na lista geral da Amazon.com. Scholastic voltou a imprimi-lo sete vezes, cada vez com tiragens maiores, de acordo com Levine, com um número total de impressão de mais de 190.000 cópias.

Rowling, que acabou de entregar o terceiro livro de Harry Potter à Bloomsbury e está atualmente trabalhando no quarto livro, diz não ter levado em conta seu possível público quando concebeu a série. “O que me empolgou foi o quanto eu iria gostar de escrever [Harry Potter]. Eu nunca pensei em escrever para crianças – os livros infantis me escolheram”.

Traduzida por: Dérick Andrade Moreira em 18/12/2008.
Revisado por: Thais Teixeira Tardivo em 21/12/2008.
Postado por: Vítor Werle em 03/01/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.