Millett, Molly. “Uma escritora nota 10 muito antes de Potter: como professor estudante, um homem de Minnesota ensinou J.K. Rowling o ofício que ela viria a dominar”. Pioneer Press, 03 de maio de 2007.

Talvez J.K. Rowling esteja em dívida com um professor de Minnesota: durante o ano letivo de 1978-79, Dale Neuschwander foi um professor e estudante americano que instruiu Rowling e seus colegas na arte da escrita criativa na Escola Wyedean, no condado de Gloucestershire, Inglaterra.

Mas Neuschwander diz que Rowling o ensinou algo também, principalmente desde que descobriu que sua ex-aluna é a autora por trás da série Harry Potter:

“Tem sido uma boa lição para mim quando trabalhando com todos os meus alunos”, disse Neuschwander. “Quem sabe o que as pessoas vão fazer? Não quero dispensar ninguém”.

Neuschwander, agora com 51 anos e atuando como instrutor de inglês e de discurso com o Anoka-Ramsey Community College Connection, era um veterano de sua faculdade quando tomou parte no programa de ensino no exterior através da Moorhead State University. Ele passou por volta de três meses trabalhando com quatro professores em Wyedean, uma escola secundária pública, rural e de classe operária próxima às fronteiras da Inglaterra e do País de Gales.

Na época, Rowling tinha 13 anos e era uma das estudantes na classe de inglês avançado que Neuschwander ajudava a lecionar. Mesmo naqueles tempos, ela se destacava entre os outros alunos destinados à faculdade.

“O professor havia feito comentários sobre seus estudantes, para que eu soubesse como eram, e ele escreveu ‘extremamente inteligente’ ao lado do seu nome”, Neuschwander disse.

Mesmo assim, anos depois, após Harry Potter se tornar uma sensação editorial, Neuschwander não fez a conexão entre a autora J.K. Rowling e a Joanne “Jo” Rowling a quem ele uma vez ensinara.

“Fui contatado pelos professores na Inglaterra com quem havia ficado, e me disseram que a autora de Harry Potter havia estudado em Wyedean quando eu estava lá e que talvez eu a conhecesse”, Neuschwander disse. “Foi há muito tempo atrás, mas fui ao livro da classe que guardei daquela época e quando vi sua sala e suas notas, lembrei-me dela”.

Foi fácil para o professor se lembrar de sua antiga pupila. Sua escrita era brilhante.

“Ela sempre tirava notas A e A+ em escrita criativa”, ele disse. “Estávamos lendo ‘Senhor das Moscas’ de Golding, e os alunos tinham que escrever algo à respeito. Eu gostaria que tivesse guardado sua redação sobre o que ela faria naquela ilha deserta e como teria sobrevivido”.

Neuschwander ainda se lembra do estilo de escrita de Rowling.

“Eu me lembro que ela possuía um vasto vocabulário para alguém tão jovem”, ele disse. “Também me divertia com seu uso espirituoso de linguagem informal em redações (gírias, regionalismos, etc). Ela tem um bom senso de humor”.

A Bloomsbury, editora britânica de Harry Potter, descreve Rowling durante seus dias em Wyedean em uma biografia no seu website: “Ela era quieta, sardenta, míope e não muito boa com esportes. Ela até mesmo quebrou seu braço jogando netball. Sua matéria preferida era de longe inglês, mas também gostava de línguas”.

Neuschwander imaginava que uma das matérias favoritas de Rowling era inglês – ela recebera uma média de A+ em sua classe.

“Ela era quieta e uma ávida leitora, e posso apenas imaginar que sobrevivia à escola usando sua imaginação, já que havia uma boa quantidade de devaneios acontecendo”, disse ele.

Apesar dos devaneios, “ela era bastante diligente sobre o modo correto de fazer as coisas, seguir instruções, esse tipo de coisa”.

“Em outras palavras, ela era uma espécie de Hermione Granger, a aliada estudiosa e responsável de Potter. Rowling até mesmo foi nomeada monitora-chefe em seu último ano em Wyedean”.

Após Neuschwander tomar conhecimento do sucesso de sua ex-aluna em 2000, ele escreveu-lhe uma carta, oferecendo seus parabéns e pedindo que ela passasse um conselho para a escrita de sua mais nova geração de estudantes. Rowling respondeu rapidamente ao seu antigo professor, que vive em St. Joseph, Minn. Sua carta à mão agora está pendurada no quadro de avisos em seu escritório em St. Cloud State:

“Querido Dale”, Rowling escreveu. “Um dos mais maravilhosos e inesperados efeitos colaterais da publicação é ter notícias de pessoas que desapareceram há muito tempo da minha vida. Eu realmente me lembro de você e fiquei muito comovida com sua carta. Palavras inspiradoras para seus alunos:
Continue escrevendo.
Aceite o fato de que você irá rasgar montes de trabalhos por frustração antes de conseguir escrever algo que o agrade.
Comece escrevendo aquilo que conhece (seus próprios sentimentos, pessoas que lhe são familiares, etc)
Mais do que tudo: LEIA! Nada mais irá lhe ensinar o que torna uma escrita boa ou ruim”.

Neuschwander acredita que Rowling seguiu seu próprio conselho: Ele vê uma parte de Wyedean em sua descrição da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

“A construção não é como Hogwarts – é uma escola razoavelmente moderna, mas os professores, alguns dos quais mantive contato, têm suas teorias sobre quem apareceu no livro, ao menos como modelos”, ele disse.

“Havia um certo protótipo de Snape que era o diretor do setor de biologia. Alan Rickman, que interpreta Snape nos filmes, parece com esse cara e até mesmo tem a mesma voz monótona. Ele era um personagem memorável, bom para mim e outros adultos, mas não para os estudantes. Mas agora que está aposentado, ele se veste como Snape e dá tours de Harry Potter”.

Apesar de tudo, Neuschwander não se vê no livro.

“Minha nossa, não”, ele disse. “Você não notará nenhum americano. Harry é bem britânico”.

Ainda assim, o nome “Neuschwander” esconde um acessório mágico dos livros de Rowling: wand¹.
“Oh, minha nossa, nunca tinha pensado nisso”. Neuschwander disse.

Molly Millett pode ser contatada através do e-mail mollymillett@pioneerpress.com

N.T.:
¹wand: varinha.

Traduzido por: Lilian Ogussuko em 08/02/2009.
Revisado por: Raisa Garcia em 08/02/2009.
Postado por: Vítor Werle em 10/02/2009.
Matéria original aqui.