Adler, Margot. “Entrevista de J.K. Rowling”. NPR Radio, 3 de dezembro de 1998.
Transcrição cortesia do projeto de transcrição do Sugarquill.net

Anfitrião: Uma nova série de livros infantis subiu ao topo da lista de mais vendidos da Grã-Bretanha. Os livros Harry Potter e a Pedra Filosofal e sua sequência foram escritos por Joanne Rowling. Ela escreveu parte de Harry Potter em pedaços de papéis numa cafeteria quando ela era uma esforçada mãe solteira. Seu enredo mágico e sagaz técnica de escrita têm sido comparados a Roald Dahl. Os livros agora chegaram aos Estados Unidos, e a Warner Brothers adquiriu os direitos de filmagem. Margot Adler, do NPR tem mais sobre Joanne.

Margot Adler: Quando um rascunho em versão quase final de Harry Potter chegou na minha mesa junho passado, eu o guardei cuidadosamente em minha bolsa. Talvez, eu pensei, um livro para ler em voz alta para meu filho durante as férias de verão. Toda nossa famí­lia sentou e observou pasma por uma semana. Agora o primeiro livro foi lançado nos Estados Unidos, e a Scholastic, sua editora aqui, já diz que as vendas aproximam-se das 100.000 cópias, um número alto para um romance de capa dura de gênero infantil. Além disso, a maioria das pessoas nos EUA nunca tinham ouvido falar de Harry Potter. Não é um tí­tulo que você vê nas vitrines das Barnes & Noble de sua cidade. Poucas semanas atrás, a autora Joanne Rowling veio aos Estados Unidos.

Arthur Levie: Nós estamos celebrando a chegada de JK Rowling e a publicação de Harry Potter nos EUA.

Margot Adler: Arthur Levine, que trouxe Harry Potter para Scholastic, está falando em festa do livro em Manhattan. Rowling, que está em seus recente 30 anos, nunca tinha estados nos EUA antes, e ela veio com sua filha de cinco anos. Rowling diz que a idéia para Harry Potter, de onze anos, veio em 1990.

JKR: Eu estava num trem, olhando através da janela para algumas vacas – é verdade – pensando em nada em particular, e a idéia de Harry meio que caiu na minha cabeça. Foi o mais puro assomo de inspiração que já tive. E eu estive escrevendo há anos e nunca tentei ter algo publicado. Harry veio quase todo formado. Eu podia vê-lo, eu podia ver pequenos óculos redondos e eu podia ver sua cicatriz, e ele era um garoto muito real para mim desde o começo. O acorn [acorn é o fruto do carvalho, tipo uma noz, que geralmente cai na cabeça de quem fica embaixo da árvore, assim como caiu na de Harry] que chegou naquele trem era Harry, um garoto que não sabia ser um bruxo, que sempre foi capaz de fazer coisas estranhas acontecerem, mas inconscientemente e somente quando ele está com medo ou enraivecido, e o fato que ele desconhecia, seu nome estava lá naquela maravilhosa escola para magia e bruxaria, desde seu nascimento – mas ele não sabe disso, porque os parentes com que ele vive têm esperança de que se eles forem terrí­veis o suficiente com ele, eles serão capazes de espremer a magia pra fora dele. Eles sabem o que ele é, mas nunca disseram.

Margot Adler: Muito de Harry Potter e a Pedra Filosofal é situado em um mundo alternativo fantasmagórico, numa escola bruxa chamada Hogwrtas, uma versão bizarra de uma escola britânica, exceto que essa escola é cheia de gigantes e professores com nomes como Sprout, Snape, e Dumbledore. Lá existem até fantasmas professores, que Rowling diz ter feito por diversão.

JKR: A idéia é que o Professor Binns basicamente morreu na sala dos professores numa certa noite, e levantou na manhã seguinte sem o seu corpo para continuar a dar aulas. Eu acho que em algum ponto de nossa educação nós conhecemos alguém que poderia também estar morto – isso é o que é interessante neles.

Margot Adler: Rowling diz que ela reúne nomes que pega de livros antigos e de nomes de ruas. “Dumbledore”, o diretor da escola, por exemplo, vem da palavra antiga para “bumblebee” que segundo meu dicionário quer dizer abelha grande e peluda. E há uma palavra no livro que poderia entrar em uso comum. Assim como nos anos 70 a palavra “grock” do Stranger in a Strange Land de Robert Heimline passou a significar “entender algo” e “caraft” de Kurt Vonnegut passou a significar um grupo de amigos com laços extremamente fortes. A palavra em Harry Potter é “trouxa”.

JKR: “Trouxa” é uma palavra para alguém no livro que é totalmente não-mágica.
É do que os bruxos chamam pessoas que não têm sangue mágico nas veias. Mas pessoas estão escrevendo para mim muito freqüentemente agora e usando essa palavra, e levemente expandindo seu significado para “alguém um pouco obtuso e sem imaginação”.

Margot Adler: No livro, o mundo bruxo e o mundo trouxa são totalmente diferentes. Eles têm roupas diferentes, doces diferentes, e até esportes diferentes. Há um esporte particularmente rude chamado Quadribol, jogado em vassouras, o que me lembra demais Alice no Paí­s das Maravilhas jogando croquet com porcos-espinhos vivos.
Eu trouxe algumas crianças para nosso estúdio para fazer algumas perguntas à Rowling. Uma delas é Skyler, que acabou de fazer 8 anos.

Skyler: Como você teve a idéia de escrever sobre mágia?

JKR: Quando eu era mais jovem, eu acho que minha maior fantasia teria sido descobrir que eu tinha poderes com os quais eu jamais sonharia, que eu era especial, que eu pudesse dizer “Essas pessoas não poderiam ser meus pais, eu sou bem mais interessante que isso”. Eu acho que muitas crianças devem ter pensado nisso secretamente algumas vezes. Então eu apenas fui um estágio à frente, e pensei, “Qual o melhor jeito de se libertar disso? Certo, você é mágico!”.

Margot Adler: O livro começa com Harry vivendo com seus odiosos parentes, incluindo seu filho mimado Duda, que frequentemente bate no Harry. Rowling lê uma cena no zoológico: Duda está atormentando uma jibóia adormecida, batendo em sua gaiola. Quando Duda finalmente sai de lá a cobra abre seus olhos e olha para Harry.

JKR: A cobra balança a cabeça em direção a tio Válter e a Duda…(etc…) “Obrigada, amigo.”

Margot Adler: O resgate de Harry Potter vem do nada. Joanne Rowling diz que Harry Potter a resgatou, uma ex-professora que acabou tendo tempos difí­ceis.

JKR: Meu casamento acabou. Eu estava vivendo e trabalhando no exterior. Eu voltei para a Inglaterra sem emprego, com um bebê muito jovem. E eu me encontrei numa situação na qual eu acho que muitas mulheres se encontram. É muito, muito difícil para uma mãe solteira na Inglaterra, e eu estou certa que na América também, conseguir sair da armadilha da pobreza. Se você afunda até certo ponto, é inacreditavelmente difí­cil de sair, porque você não tem fundos para cuidados com a criança, e sem o cuidado para a criança você não pode trabalhar. Então é verdade que eu passei muito tempo em cafés, e eu rapidamente descobri que os cafés da Inglaterra estavam completamente preparados para me deixar sentar lá por duas horas enquanto minha filha dormia, com apenas uma xí­cara de café frio.

Margot Aldler: E Rowling diz que antes de Harry Potter ser sucesso, apenas escrever o livro salvou sua sanidade. A coisa de escrever, ela diz, é que você não precisa de nada exceto caneta e papel. Na Inglaterra, Harry Potter ganhou muitos prêmios, e tem sido tão bem sucedida, número 1 entre adultos assim como entre crianças, que há até uma edição para adultos, então os adultos não precisam se sentir envergonhados em ler um livro infantil. Mas ninguém sabe quão bem sucedido Harry Potter será nesse paí­s. Suzanne Barcell, a gerente geral da Books of Wonders, a maior loja de livros infantis em Manhattan, diz que o livro foi “espalhado” no boca-a-boca.

Suzanne Barcell: Nós já vendemos algumas boas centenas desse livro, e nós o temos desde agosto. Para o Halloween um dos nossos empregados até se vestiu de Harry Potter.

Margot Adler: É claro que Barcell é a gerente de uma livraria independente, e uma com o nome Books of Wonders. Será fascinante acompanhar o quão longe Harry Potter irá no mundo trouxa.

Traduzido por: Daniella Guedes em 11/01/2006.
Revisado por: Junior Gazola em 17/02/2008.
Postado por: Fernando Nery Filho em 04/05/2007.
Entrevista original no Accio Quote aqui.