Davies, Carolyn. “A Rainha encontra com duas das mais amadas autoras britânicas”. The Daily Telegraph, 23 de março de 2001.

A Rainha disse ontem à criadora de Harry Potter que ela foi uma “leitora voraz” na infância e que esse hábito a preparou para desempenhar seu papel no trono.

[De volta à escola: a Rainha se senta com pupilos da Escola Secundária Morpeth enquanto eles participam de uma oficina de poesia]

Ela disse à autora infantil J.K. Rowling: “Isso me colocou num bom lugar porque eu leio bem rápido agora, e eu preciso ler muito”. As duas se conheceram em Londres durante o “dia temático” real, para celebrar a publicação britânica. A Rainha pôde dizer à autora campeã de vendas, Srta. Rowling, que sua neta, Princesa Eugenie, filha mais nova do Duque e da Duquesa de Iorque, é uma fã ardorosa de Harry Potter.

A Srta. Rowling, 35, que esse mês recebeu a OBE¹ do Príncipe de Gales, estava entre os autores, editores e agentes apresentados à Rainha na Editora Bloomsbury. Entre eles também estava Joanna Trollope, 57, cujas “sagas Aga²” passada na Inglaterra rural fizeram dela uma campeã de vendas. A Srta. Trollope disse: “A infância da Rainha foi antes da televisão e as crianças liam mais do que atualmente. Graças a J.K. Rowling, as crianças estão lendo de novo – e a leitura é vista como uma coisa legal”.

Mas se o mundo fantástico de Harry Potter fosse da época da Rainha, ela seria uma fã improvável. O favorito da então princesa era Black Beauty (Beleza Negra, no Brasil), o clássico infantil de Anna Sewell sobre as aventuras de um cavalo. Segundo sua última governanta, “Crawfie”, contos esquisitos não chegavam aos aposentos de estudos reais, com Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, dispensado por ser “estúpido demais”.

Quando a Rainha tinha 18 anos ela devorou, de acordo com cortesãos da época, “muitas peças de Shakespeare”, os Contos de Canterbury, os Brontes, Coleridge, Keats, Browning, Tennyson, Scott e Dickens e a História da Inglaterra de Trevelyan, para citar alguns. Sua preferência era por romances históricos e histórias sobre as Highlands (região serrana da Escócia).

A Srta. Rowling disse depois que ela esperava que o dia temático – o quinto que a Rainha participou para destacar indústrias diferentes – melhorasse a posição da publicação infantil. “Do meu ponto de vista, eu espero que hoje seja sobre a publicação infantil, que às vezes é como um parente pobre – e isso é uma vergonha”. Ela acrescentou que o Príncipe de Gales lhe disse que conhecia bem seus livros e gostava deles. Ela disse: “eu gosto de pensar que outros membros da Família Real também podem gostar deles”.

A Srta. Trollope disse à Rainha: “eu escrevo principalmente sobre os relacionamentos contemporâneos”. A Rainha perguntou: “e como é o seu relacionamento com seu editor?”. A Srta. Trollope, que ganhou a OBE em 1996, respondeu: “No geral é bem harmonioso – eu acho que nós nunca tivemos uma discussão”. Seu úíltimo romance, Marrying the Mistress, foi escrito depois do fim de seu casamento com o autor de dramas Ian Curteis e da depressão profunda que isso causou.

Depois, a Rainha assistiu a uma oficina de poesia de uma classe de alunos de 15 anos da Escola Secundária Morpeth no East End³ de Londres. Vestida com uma roupa azul e um chapéu de palha bege, ela se sentou na primeira fila da classe em uma cadeira de plástico ao lado de uma aluna assustada, Emma Darcy. Atrás dela se sentou o Poeta Laureado, Andrew Motion. “Não é todo dia que nós temos a Rainha e o Poeta Laureado em nossa classe”, disse Emma.

A Rainha terminou o dia com uma recepção no Palácio de Buckingham para 600 representantes da indústria da publicação de livros, que gera £4 bilhões por ano. Entre os convidados estavam os romancistas Beryl Bainbridge, Jilly Cooper, Celia Brayfield, John Mortimer e Colin Dexter. Também estava presente a Lady Frances Partridge, 101, a última sobrevivente do clã Bloomsbury.

*NT:
1 – OBE – Order of the British Empire ou Ordem do Império Britânico. É um título concedido aos súditos que se destacam, pelo Rei ou pela Rainha da Grã-Bretanha.
2 – Os livros de Joanna Trollope falam sobre as complexidades dos relacionamentos familiares na Grã-Bretanha rural. O apelido de “Aga sagas” é devido à marca de fogão Aga, vista nas cozinhas das casas de campo mais chiques.
3 – East End é um bairro judeu no leste de Londres.

Traduzida por: Patrícia Abreu em 16/05/2007.
Revisada por: Adriana Couto Pereira em 07/06/2007.
Postado por: Vítor Werle em 26/09/2008.
Entrevista original no Accio Quote aqui.