Ann Treneman, “JK Rowling, A Entrevista”, The Times (UK), 30 de junho de 2000.

Depressão, fama e Hollywood depois de 30 milhões de livros e 15 milhões de libras, a reclusa JK Rowling se abre. Joanne Kathleen Rowling não faz nada pela metade. Há meses ela está escrevendo, escrevendo, escrevendo “até dez horas por dia” para terminar o quarto livro de Harry Potter. Agora ela está em um momento de recuperação e dá sua primeira entrevista depois de muito tempo. Digo que ouvi dizer que ela ficou um tempo afastada e que odeia entrevistas. Ela me olha como quem diz: “Não acredite em tudo que lê”. Então se entrega à entrevista como um morcego saindo do inferno.

Ela fala tão rápido que parece que ela encontrou um modo de não respirar. O único momento que ela pára é pelo seu Marlboro Light. Ela diz que esse deveria ter sido um dia de não-fumante. Eu não sei muito bem como isso se encaixa com os cinco cigarros em duas horas. Ela é animada, com altos e baixos e é séria e engraçada ao mesmo tempo. “Estivemos em todo lugar!” Ela exclamou no fim. “Fizemos jóias, fizemos depressão.” Ela ri, soprando a fumaça. Claramente a fase reclusa acabou.

Já nos encontramos uma vez antes, há dois anos, quando ela tinha 32 anos. Nem ela nem Harry eram famosos e sentamos à mesa longa, imponente da biblioteca da editora Bloomsbury, no centro de Londres enquanto a sua filha de quatro anos Jessica brincava com um boneco Hércules e exigia ir embora.

Rowling estava emocionada por Harry Potter ter vendido 30.000 cópias. “Eu nunca sonhei que isto pudesse acontecer. Meu lado realista me permitiu pensar que eu receberia uma boa crí­tica em um jornal nacional. Era o que eu imaginava como pico.”

Bem, há picos e há o Himalaia e durante os últimos dois anos Rowling viajou o tempo inteiro com os nativos do Nepal. Os livros de Harry Potter venderam mais de 30 milhões de cópias no mundo inteiro e foram traduzidos em 31 lí­nguas. Eles ficaram 98 semanas na lista de mais vendidos do New York Times e na britânica no ano passado ocuparam três dos cinco melhores lugares. Harry esteve na capa da revista Time e JK Rowling foi acusada de plágio, sinal de que você já marcou presença. E há um filme, que significa que ela realmente está almoçando em Hollywood por esses dias. No próximo sábado é o lançamento do quarto livro, Harry Potter e o Cálice de Fogo, que com 640 páginas é um dos maiores livros de crianças de todos os tempos.

Cansado? Bem, você estaria se você teve de testemunhar as negociações entre Bloomsbury e os meus chefes para esta entrevista. De fato, houve sinais iniciais de que Rowling tinha virado uma estrela. Ela agora era o tipo de pessoa que tem “pessoal”, como em “o meu pessoal vai falar com o seu pessoal”. E dizem por ai que ela virou “uma madame”. Certamente ela quebrou a barreira das notícias; dia sim, dia não há algo sobre ela nos jornais.

Portanto eu esperava que ela chegasse ao hotel em Edimburgo para a entrevista com pelo menos um pequeno cortejo ao lado, se não com óculos escuros e um cachorro de colo. De fato, fui ao salão de espera procurar essa pessoa e tropecei em outra. Ela era baixa (1,62m) e risonha. Numa inspeção mais próxima era Rowling. “É o cabelo,” ela diz. Realmente, o cabelo que era longo e escuro está mais curto e leve. Mas não é o cabelo. É o fato de que ela não adquiriu a escova e a maciez que impera no rico e famoso. Para ser direto – e não pretendo que seja grosseiro, somente informativo – ela parece como um de nós.

Joanne Rowling não é boa em conversinha. De fato, há uma chance de que ela seja incapaz disso. Minutos depois de sentarmos ela já estava falando sobre morte e sorte. Ela é intensa e animada e, realmente, você tem que se concentrar para acompanhar. Tento encontrar uma resposta apropriada, mas desisti logo.

Talvez o problema seja que todo o mundo pensa na vida de Rowling como um conto de fadas e, de muitos modos, ela foi. Em 1993 ela era de fato uma mãe solteira e pobre que tinha abandonado seu novo marido em Portugal. Ela realmente escreveu a maior parte de Harry Potter em um café em Edimburgo enquanto cuidava de um café durante duas horas (no mí­nimo) com Jessica dormindo no seu carrinho de bebê dobrável. Ela realmente o levou para um agente que disse, sim, muito obrigado. E agora, claro, ela é rica e famosa e está no Himalaia.

Mas Rowling se concentra não no conto de fadas, mas no que veio imediatamente antes. O fato de que ela estava seriamente deprimida e desesperadamente sem dinheiro são fatores definitivos para ela. Ela também está consciente de que sem aquele matrimônio fracassado em 1993, não haveria nenhuma Jessica e possivelmente nenhum Harry. A vida não vem num embrulho de presente, digo, e ela se lança sobre isto. “A gente realmente quer que a vida seja perfeita. É indubitavelmente verdadeiro. Mas você sabe as quatro grandes verdades de Buda: a primeira é ‘Vida é Sofrimento’. Amo isto. AMO ISTO. Porque eu penso: SIM. A vida não deve ser perfeita. E isso é um conforto. É um conforto para todos nós que estragamos tudo. E você encontra o seu jeito de resolver, bizarramente. E eu tenho certeza de que vou estragar tudo novamente em algum momento – embora eu espere que não em uma escala tão grande.”

Ela pode acreditar no que lhe aconteceu? Ela algum dia acorda e diz “eu não posso acreditar nisso?”

“Praticamente em toda manhã.”

Bem, eu digo (nessa de dar ênfase às palavras) que isso é incrí­vel. “Hmm, isso ultrapassou a marca. Lembro-me de pensar com o segundo livro que tí­nhamos chegado à saturação mas então, com o seguinte, O Prisioneiro de Azkaban, tudo explodiu. Quer dizer explodiu. Eu não podia acreditar. Não podia”. O que ela que dizer? “Bem, penso que eu estava no Nine O’Clock News (Notí­cias das 9 horas)! Pode me chamar de ingênua mas não era o que eu esperava. E logo jornais que-não-devem-ser-nomeados começaram a bater na minha porta. Eu nunca imaginei ser incomodada em casa. E isso continuou acontecendo e eu odiava aquilo. E começaram a sair coisas na imprensa que eram falsas. E depois você realmente começa a sentir o gosto do que acontece para aqueles que eu considerava pessoas realmente famosas.”

Ela diz que sabia que era só uma questão de tempo antes que encontrassem seu antigo marido, um jornalista que ela conheceu em Portugal enquanto ela ensinava inglês. “Eu casei no dia 16 de outubro de 1992. Eu fui embora no dia 17 de novembro de 1993. Esse era o tempo do que considerei um casamento”. Então o que aconteceu exatamente? “Eu nunca falo sobre isso. Mas obviamente você não deixa um casamento depois de um tempo tão curto a menos que haja problemas sérios. Não sou o tipo da pessoa que foge sem ter problemas sérios. Meu relacionamento anterior a esse durou 7 anos. Sou uma garota de longo prazo. E tive um bebê com este homem. Mas não funcionava. E ficou claro para mim, já era tempo de ir e portanto eu fui. Nunca lamentei. Portanto pensei que iriam atrás dele e eles foram”.

Então quem, exatamente, são eles? Rowling, que nunca diz uma única frase se pode falar 25, embarca com gosto numa história. “Ok, vou te contar. No domingo que esta entrevista apareceu eu não tinha uma pista do que tinha acontecido. O telefone tocou de manhã e era um amigo. Ele disse: ‘Você está bem?’ Eu disse: ‘Estou bem e você como vai?’ Ele disse ‘ah, então você está bem mesmo?’

 “Ela falava comigo como se eu tivesse saí­do de uma cirurgia grave. Portanto eu disse: ‘Não devo estar bem?’ Ele então disse: ‘Ah meu Deus, você não sabe’ ” Ela disse que então ele tentou de tudo para desligar o telefone. “Finalmente ele me disse e tudo que consegui dizer foi: ‘O que você estava fazendo, lendo correspondência num domingo?!’ Então ele ficou completamente perdido. Ele falou: ‘Uhhh alguém deixou no café’. De qualquer maneira, o que se pode fazer? Já estava feito. De certa forma foi um alivio. Eu sabia que aconteceria. Depois que está feito, está feito.”

Mas não é tão simples. Rowling diz que ela não lê mais tudo que dizem sobre ela, mas eu não sei se acredito nela. Um amigo a convenceu a ler uma parte no ano passado, dizendo que isso a faria rir. “Dizia que eu tinha ficado irascí­vel, irritável, paranóica para proteger minha privacidade e não queria entrevistas porque o sucesso tinha me transformado em um tipo de Howard Hughes.”

Verifico as suas unhas. Não muito longas, eu digo. “De fato não foi Howard Hughes. Foi mais como uma resposta da literatura infantil a Salinger. Você sabe, ‘Querido quero ser deixada em paz com a minha arte!’ E realmente me fez rir. Tenho de rir porque dia após dia eu levo uma vida muito simples quanto ao que faço e aonde vou. Muito mundana.”

Mundana? Mas agora ela vale muito dinheiro. (A lista de mais ricos da revista Forbes colocou seu lucro com os livros em 15 milhões). “Sim, eu tenho mais dinheiro do que sonharia em ter. Ótimo! Deixei de me preocupar com dinheiro. Durante anos eu realmente me preocupei com dinheiro. Vivi com essa preocupação como se fosse realmente uma pessoa que vivia comigo.”

Mas, perguntei, você não vai comprar algo, como um iate talvez? Isso a fez rir bastante. Rowling diz que, como qualquer mulher, ela gosta de fazer compras. Então ela olha para sua calça. “Eu vi você olhando minha calça e pensando ‘por que você não faz compras?’ “. Mas, insisto, a maior parte das pessoas na sua posição já teria comprado alguma coisa agora.

Então, de repente, ela muda de assunto (sei isto porque ela anuncia) e emenda outra história. “Ok, isso foi mais ou menos uma semana depois de meu ex-marido vender a sua história. Então houve uma história totalmente fabricada. Ninguém tinha feito um artigo inteiramente fabricado antes. Eu sei, eu sei, mas sou uma virgem neste negócio, você sabe? Se aquela história não tivesse aparecido na semana anterior, tenho certeza de que eu teria ficado ‘Ok, você pode mentir sobre mim, mas eu sei que não é verdade.’ Mas estava enfraquecida.”

Você estava vulnerável, eu digo. Eu estava MUITO vulnerável nesse momento. Então, como sempre, o pior sinal de que estou mal e ele realmente não acontece com tanta freqüência é eu não conseguir escrever. Saí­ naquele dia pretendendo escrever. Fui a um café e só sentei lá e rabisquei; Não podia fazê-lo. Aquilo me fez sentir ainda mais deprimida. Pensei, agora eles atacaram a única coisa que era realmente constante. Agora não consigo escrever! Ótimo! Então eu estava andando pela Princes Street (Rua dos Prí­ncipes) e pensando ‘O que vou fazer?’ e logo pensei que ‘eu sei, vou sair e gastar muito dinheiro em algo que realmente quero’. Entrei em uma joalheria e comprei este anel. Foi a primeira vez na minha vida que comprei algo que eu sabia que era caro sem perguntar o preço. Eu acho que o joalheiro deve ter pensado que era uma louca.”

Faço a pergunta óbvia: diamantes?

“Água-marinha”, ela disse com satisfação. “Uma enorme. Mandei alterar e quando o peguei de volta eu disse que ‘Este é o meu Anel de Afirmação, meu Anel que Ninguém Pode Me Triturarâ’. Um amigo disse ‘Vamos encarar, você pode dar a alguém um diabo de uma cicatriz se você bater na pessoa. Ele realmente é um soco-inglês.”

Joanne Rowling nasceu no Hospital Geral de Chipping Sodbury em Julho de 1965. O seu pai era um engenheiro aprendiz da Rolls-Royce que trabalhou em motores de avião, sua mãe parte francesa e parte escocesa. Seus pais se conheceram com 19 anos na estação de King’s Cross Rowling exige dizer que é a estação mais romântica do mundo e se casaram com 20 anos. Rowling nasceu nove meses depois e logo após sua irmã Di. Eles viveram em Yate, perto de Bristol e logo Winterbourne foi aqui, em uma rua de casas semi-prontas, que ela viveu a quatro portas dos Potter. Ela roubou o nome deles, como roubou tantos outros, porque ela é uma ladra de palavras. Ela ama especialmente nomes estranhos. Chipping Sodbury a faz gargalhar e não pode ser a primeira vez que ela o diz. Depois, tirando fotografia no Jardim Botânico Real em Edimburgo, ela fica emocionada ao encontrar uma placa de nome de planta que diz Bogbean.

É impossí­vel falar com Rowling sobre a sua infância sem falar também sobre Harry Potter e a sua vida na Escola Hogwarts de Feitiçaria e Magia. Parte disto é porque ela esquadrinhou partes do seu passado e deu a Harry e seus amigos, Hermione e Ron. Mas parte disto também é porque Rowling passa muito tempo dentro do mundo de Harry, e ele é verdadeiro para ela. Cada personagem tem uma estrutura familiar, uma psique, até exigências alimentí­cias. Ela está no comando, portanto ela sabe os seus futuros, mas não deixa muito solto. Ela gosta de segredos. Ela teve a idéia de Harry Potter em um trem atrasado e sabia desde o começo que haveria sete livros cada um abordando um ano dele na escola – e ela escreveu o capí­tulo final do livro há sete anos. Ele estava passeando pela casa há tempos antes que ela percebesse que deveria ser posto em algum lugar seguro. Como um banco? “Não, mais seguro do que isto.”

O personagem da Hermione é como Rowling quando menina: muito trabalho, estudiosa, preocupada. Rowling diz que ela foi terrivelmente estudiosa, com espetáculos da NHS e cabelo curto, curto. Ela diz que ela se desenvolveu um pouco mais tarde mas não tenho certeza sobre isso. De vez em quando durante a entrevista ela não é nada séria, especialmente sobre o seu trabalho. Ela defende Hermione bastante ferozmente, também. “O meu editor americano diz que sou má com ela porque ela sou eu. Mas não penso que sou má para com ela. Eu a amo.”

Mas, digo, Hermione tenta tão profundamente. Em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, por exemplo, ela olha para o espelho que reflete o que você mais teme e vê um professor dizendo que ela reprovou em todos os exames. “Entendo de onde isto vem. Ele vem de acreditar que você era bom em alguma coisa e não se sentir capaz de fazer mais nada, então você tem que acertar naquela única coisa. Entendo completamente a Hermione e eu realmente a amo e não quero representá-la como uma pequena mal-humorada.”

Ela rompe e então começa a murmurar. “Me irrita. Me irrita. O que me irrita é que eu sou constantemente, crescentemente, perguntada ‘nós podemos ter uma personagem feminina forte, por favor?’ Como se eles estivessem pedindo batatas fritas. Eu estou pensando ‘Hermione não é forte o bastante para você?’ Ela é a mais brilhante dos três e eles precisam dela. Harry precisa dela duramente.”

“Mas meu herói é um menino e na idade dele as meninas simplesmente não importam tanto. Envelhecendo, elas importarão. Mas, aos 11, acho que seria forçado colocar um par de meninas briguentas, deslumbrante, brilhantes em matemática e de grande fixação por carros.” Este é o tipo de discurso que o faz querer bater palmas e, realmente, eu não penso que Rowling estava falando comigo, pessoalmente, aqui. Então houve pressão do pessoal do filme para mudar as personagens? Torná-los mais americanos? Torná-los, bem, só um pouco mal humorado?

“No momento, com toda honestidade, não há. Talvez fizessem no começo, mas eles viram a popularidade dos livros como são. Atualmente eles me dão uma enorme possibilidade de influenciar. Será filmado na Grã-Bretanha, com um elenco totalmente britânico.”

Ela insistiu nisto?

“Bem, eu fiz um barulho alto.”

Christopher Columbus vai ser o diretor e está mudando a famí­lia dele para cá pelo trabalho. Mas Steven Spielberg tinha sido envolvido em algum ponto. Você brigou com Spielberg?

“Não.”

Você falou com ele?

“Eu falei com Steven Spielberg. Eu tive uma briga com ele? Não, eu definitivamente não tive. Eu li isso em um artigo e era mí­stico. Ele disse coisas com as quais eu não concordei, ele disse coisas com as quais eu concordei. Vamos colocar desse jeito: eu estou muito contente com o diretor que nós temos.”

E a propaganda? Podemos esperar pequenos bonecos de Harry Potter? Ela parece afligida. “Bem, uh, Warner Brothers estão perfeitamente cientes de que esta é a área com que eu estou mais preocupada. Eu não posso mentir sobre isso.” Ela gosta da idéia de jogos ou peças de roupas, mas eu estava pensando de fato nessas coisas de plástico que vêm com o McLanche Feliz. “Nós temos que ser honestos sobre isto. As pessoas me perguntam se haverão produtos. Bem, me diga um filme infantil que não tenha. Isso é fato. É como a empresa do filme ganha seu dinheiro.”

Mas as crianças gostam de ter algo que jogar com, também, eu digo. “A verdade brutal é que sim, eles querem. Mas eles quiseram mais os livros e eles quiseram os livros primeiro, então talvez todos nós devêssemos nos agarrar a isso e nos certificar de que o filme é tão verdadeiramente possí­vel quanto os livros.”

Assim, você teve que se segurar as armas dela em algum ponto? A voz de Rowling cresce macia. “Eu me segurei às minhas armas por todo o caminho.” E então ela ri.

Mas, eu digo você não poderia ter odiado isto muito: você era a monitora. “Sim, mas você não sabe o que engloba. Confie em mim. Era como ser votado o menos indicado para ir preso.” Rowling recebeu devidamente seu ní­vel A em francês, alemão e inglês e foi à Universidade Exeter. Ela então teve uma série de empregos ruins como secretária (pelo menos é o que ela diz). Um foi numa editora, onde ela tinha a função de distribuir cartas de rejeição.

A única coisa que ela sempre quis fazer foi escrever. Ela sempre foi uma escritora secreta – sua primeira história chamada “Coelho”, ela escreveu quando tinha seis anos – mas nunca terminou nada. Ela começou a escrever o primeiro livro de Harry Potter em 1990. Na época ela estava empregada, feliz em uma relação de longo prazo, morando em Londres. Então em Londres. Então sua mãe morreu de múltipla esclerose com 45 anos de idade e de repente a vida de Rowling simplesmente deu errado. Antes que ela percebesse, ela estava pobre, mãe solteira, vivendo em um apartamento frio e desagradável em Edimburgo com apenas dois amigos e nada para fazer além de escrever.

As pessoas falam dos livros de Harry Potter como os bruxos assoviam, mas eles também têm seu lado sombrio. Os dementadores, por exemplo, são guardas de prisão que seguem a pista da gente sentindo as suas emoções. Eles inutilizam as suas ví­timas sugando fora todos os pensamentos positivos e com um beijo eles podem tomar uma alma deixando o corpo vivo.

Não acho que eles são apenas personagens. Penso que eles são uma descrição da depressão. “Sim, é exatamente o que eles são”, ela diz. “Foi inteiramente consciente. E inteiramente da minha própria experiência. A depressão é a coisa mais desagradável que já experimentei”.

O que ela quer dizer?

“É que a ausência de ser capaz de perceber que você será alegre novamente. A ausência de esperança. Aquela sensação muito enfraquecida, que é tão diferente de se sentir triste. A tristeza dói, mas ela é uma sensação sadia. Ela é necessária de ser sentida. A depressão é muito diferente. Agora, em Harry Potter e o Cálice de Fogo a morte vem a nós, também. A identidade do morto é secreta até o próximo sábado, embora ela va¡ dizer se ele é um personagem com quem nos preocupamos. Sim, este é o livro no qual as mortes começam. Eu sempre planejei assim. Se tornou um pouco de idéia fixa comigo. Tenho de seguir do modo que eu queria escrevê-lo e ninguém vai me tirar do curso. Se for feito direito, acho que será triste, mas não causará problemas. Eu disse desde o começo que se você for examinar honestamente as ma¡s ações, você tem a obrigação moral de não falsificar a questão.”

O Cálice de Fogo foi uma prova. Ela tinha escrito metade dele quando ela descobriu um “buraco aberto” na trama. Isso nunca tinha acontecido antes. Rowling gosta de se incomodar: se não houver nada a mão para se incomodar, ela inventa algo. Mas aqui era algo de verdade. “Ele é o livro central. É fundamental em todos os sentidos. Precisei acertá-lo.”

Em alguns dias ela escreveu pela manhã, ao meio-dia e a noite. Ela está feliz com o resultado final. Mas, quer dizer, 640 páginas! Penso, o primeiro livro foi 223, o segundo 251 e o terceiro 317. Está saindo um pouco da mão. Rowling parece um pouco embaraçada. “Eu sei, eu fiquei surpresa com o tamanho.”

A sua vida cotidiana, como ela a descreve, está totalmente fora do glamour. Ela leva Jessica na escola e passa a manhã em casa com seu assistente pessoal lidando com as “800 coisas que aparecem”. Ela recebe um enorme número de cartas de crianças. Todos são respondidos, alguns à mão – o trabalho em casa é opressivo – e logo volta em casa para fazer o chá. À tarde é passada procrastinando e vagando pela casa.

Harry Potter é cheio de maravilhosas criaturas: as corujas que entregam o correio, gatos que podem sentir uma mentira, unicórnios com o sangue prateado. Mas Rowling não é tão perspicaz sozinha. O porco da Guiné ficava no quarto da sua filha. “Fui o único pai trouxa o suficiente para dizer que lhe darí­amos um lar. Então, como sou esta pessoa responsável, pensei que não seria justo ele viver sozinho. Portanto comprei este coelho. Eu tinha previsto que ele seria esta coisa pequena fofa e atraente. Não, ele é cruel. Absolutamente cruel. Foi-me vendido como um anão e ele é agora o tamanho de uma lebre. Tive essas grandes marcas de machucado no meu pulso e dei uma entrevista com essas marcas e achei que o repórter deve ter pensado: Agora ela realmente está se caindo sob a pressão. E eu olhando como se dissesse ‘Não, é o coelho’.”

Ou Joanne Rowling é uma grande atriz ou ela realmente não sucumbiu à doença da celebridade. Espero por uma baixa de nome e ela não vem. Espero pelas referências ao dinheiro e ela não as faz. Seu editor pode jogar o jogo do secreto e famoso com os melhores deles, mas de alguma forma Rowling consegue se manter fora dessa loucura. Ela se vê como uma escritora e, para ela, é o que ela é por enquanto. E o futuro? Ela recebe muitos pedidos de instituições beneficentes e diz que é tentada.

Rowling: “O problema é, ainda vai ter gente interessada em mim depois que terminar os livros? Até o Livro Sete terminar, minha prioridade tem que ser os livros. O ponto em que eu ficarei…”

Eu: “Ainda mais rica e mais famosa.”

Rowling: “Não era isso que eu ia dizer. Eu ia dizer que é o ponto em que desbotarei para o feliz anonimato.”

Eu: “Eu acho que não.”

Rowling: “Bem, eu acho que sim.”

Eu: “Não, não um anonimato feliz.”

Rowling: “Não, você não sabe. Vai ser.”

Tradução por: Carolina Salgueiro
Revisão por: Patricia M. D. de Abreu e Antônio Carlos de M. Neto em 21/03/08