Damerell, Lorie. “Relatório da coletiva de imprensa de Harry Potter e a Ordem da Fênix feito pelo TLC”. TLC, 22 de junho de 2007.

Na entrevista coletiva de Harry Potter e a Ordem da Fênix em Londres, alguém pergunta ao trio principal de atores se existe algum ritual de iniciação para a chegada de um diretor novo. (Emma Watson diz que não). É um início interessante para uma entrevista coletiva que discute tantas coisas, entrevistando primeiramente Rupert, Dan e Emma, e Michael Goldenberg, David Heyman e David Yates mais tarde, e que termina se aprofundando nos aspectos mais escuros do quinto Harry Potter. Apesar de tantas perguntas diversas, há temas recorrentes; temas de amor, amizade e honestidade.

Emma é perguntada sobre sua demora em assinar para o sexto e sétimo filmes. Ela deixa claro que, assim como para a personagem que interpreta, aprender também é importante para ela. “Eu quero ir para a universidade” ela conta aos ouvintes, e reitera o quão sortuda é pela Warner Bros. ser tão compreensiva com ela, arrumando professores para ela nos sets de filmagem, lhe permitindo ir para a escola nas segundas-feiras, e ainda fornecendo um serviço de forma que ela possa fazer trabalhos escolares durante o fim de semana. Ela também confessa que achou os rumores sobre sua demora em assinar o contrato “frustrantes e perturbadores”. Seu amor pelos estudos era obviamente compartilhado pelo amor por sua personagem.

Daniel fala de como todos eles crescerem junto com seus personagens e quanto ainda não sabe se “o Harry como um personagem influenciou muito meu caráter”, Emma nos fala que “às vezes sinto que nem preciso atuar”, porque ela cresceu junto com Hermione. Mas é duro julgar de perto se cada um deles é influenciado pelos personagens, diz Emma, porque “nós não podemos nos ver do lado de fora”.

Infelizmente, Daniel pôde. No quinto filme há uma cena da memória de Harry do primeiro filme. Daniel estava em uma platéia onde ouviu um “grupo de meninas soltarem um ‘Ahhh!'” – algo que ele descreve como “muito frustrante!”.

Terão eles encomendado o próximo livro ou já possuem as informações necessárias dadas pela própria J.K. Rowling, outro jornalista pergunta. Daniel suspeita que o marido de Rowling possa ter tido uma prévia, mas que eles certamente não tiveram uma. Eles conhecem J.K. Rowling bem o bastante a ponto de que pedir um autógrafo se torna estranho. Bem, não para Rupert. “Eu pedi, na verdade!” diz ele, se referindo a quando conheceu J.K. Rowling e teve sua cópia de Harry Potter e a Pedra Filosofal assinada.

Da mesma maneira que Rupert tem sorte o bastante de ter um livro autografado, ele também é privilegiado por possuir um carrinho de sorvete, todo equipado, algo que ele chama de “brilhante!”. Daniel admite que não cedeu muito a extravagâncias apesar dos muitos rumores sobre querer comprar um Fiat Punto em um tom de verde muito especial. “Eu gostaria de ressaltar”, ele diz, “que eu nunca comprei – ou pretendo comprar – um Fiat Punto!”. Emma está aprendendo a dirigir. Ela acha que entrar num carro é realmente “intimidador”, o que é bastante semelhante aos sentimentos de sua personagem a respeito de voar.

A conversa se volta para atuação novamente. Os atores desejam deixar alguma mensagem através de suas atuações? “Oooh”, é a resposta coletiva que leva Emma a falar sobre a jornada de Harry e a importância da amizade, particularmente como é demonstrada no quinto filme. Amizade “lhe dá algo para lutar” ela diz, e Daniel a apóia: a jornada de Harry é sobre se prender às suas armas, e se você souber que tem razão e o que representa para a verdade, você “não se deixa ser corrompido”. E o jeito que Rupert, Daniel e Emma, quase como uma unanimidade, respondem as perguntas do público, mostra uma amizade que também existe na vida real.

Mas e se os seus personagens morrerem? Rupert não se importaria “desde que fosse uma cena realmente legal” de se fazer, mas Emma não tem “pensado nisto” ainda, tomando como certo que Hermione sobreviverá na série. Eles falam do desfecho que muitos fãs desejam ler no último livro; realmente, Daniel pensa que a morte de Harry seria “apropriada” e que ele acha que Harry poderia morrer “mas isso não está baseado em absolutamente nada”, mesmo que existam apostas sendo feitas de que o herói morrerá. “Há apostas?” Emma pergunta em voz alta, “sério?!”.

A quinta história de Harry Potter vê o surgimento da Armada de Dumbledore com Harry no comando. Todos os três realmente gostaram de fazer essas cenas; Rupert por causa das proezas que pôde realizar, incluindo duelar com Hermione e perder, enquanto Harry explorou seu Henry V interior, gostando profundamente de transformar seu personagem em um líder, mesmo se Yates lhe dissesse para “reinar mais um pouco”. Mas atuar no set foi menos agradável. Espelhos em todas as paredes e uma lareira enorme crepitando significou que o quarto parecia incrível, mas inacreditavelmente quente. Mas “nós não fomos tratados cruelmente”, diz Daniel.

Ao invés disso, se achou mais cobrado do que nunca nesse filme. Depois de várias tomadas, David Yates lhe dizia que ele poderia melhorar ou que o que ele acabara de fazer não tinha parecido real o suficiente. Às vezes, Daniel sentia que não podia fazer, mas “eu podia”, ele insiste. E o filme mostra que ele pôde. Daniel sentia que precisava de um desafio e ele obteve um com Yates. Emma assistiu a todos os outros trabalhos de Yates; “oh, minha nossa!” diz ela, “realmente me fez sentir algo”, e ela soube que os padrões dele eram muito altos. Porém, não altos o suficiente para que os três não o apreciassem. Daniel o descreve como um “homem adorável”, “um homem encantador”, e “um diretor fantástico”; ele até sugeriu quebrar as pernas de Yates enquanto ele estava sentado na cadeira de diretor para que “assim ele nunca fosse embora!”. Yates, Rupert diz, era “o oposto de Mike Newell”, sendo “muito mais relaxado”.

Como o público mudou durante o curso dos cinco filmes, alguém pergunta. Há um público variado, mas “sempre uma boa fonte de avaliação”, Rupert explica. Daniel elabora, dizendo que há um elemento de singularidade que faz Harry Potter atrair uma “gama enorme de pessoas”. Um dia, Emma é pedida para dar um autógrafo a uma jovem criança, outro dia para uma pessoa de trinta ou quarenta anos. Mas talvez o mais especial disso tudo seja que, da mesma maneira que os atores cresceram com os seus personagens, eles também cresceram com seu público inicial.

Junto com o público vem a fama, então como os atores lidam com ela? Emma faz uma comparação com Harry, que é um Zé ninguém no início de sua vida e que depois é lançado em um mundo onde todos sabem quem ele é. Para ela, porém, é muito mais fácil, pois sente que “nunca conheceu algo diferente” além de ser uma jovem atriz e como cresceu neste ambiente sua confiança foi construída por ele. Ela é muito “bem cuidada” por aqueles com quem trabalha, mas “todos possuem famílias fortes” ao seu redor. Diferente de Harry, o que ajuda bastante.

Harry Potter e a Ordem da Fênix mostra um Harry conhecido por muitos fãs como Harry Capslock!; Ele está angustiado, com os hormônios à flor da pele e é um adolescente. Então quais, os três são questionados, são os pontos fracos de Harry? Daniel ressalta que todo mundo tem um ponto fraco. Harry estoura com seus amigos, pois sabe que eles o apoiarão apesar de tudo. Daniel também pensa que Harry é, até certo ponto, egoísta por achar que é um “grande defensor” e que por causa disso deve “se afastar” daqueles que gostam dele. Há um pouco de verdade, continua ele, no que Snape tem a dizer sobre o que Harry que herdou de seu pai: a arrogância. Emma é mais tolerante. Ela lista tudo aquilo que Harry teve que sobrepor incluindo os Dursley que são “o pior pesadelo de qualquer um”, e diz que é incrível que Harry não tenha saído da linha completamente. “Ele é um sobrevivente”, diz ela, “um lutador”. E Daniel nos lembra de algo que J.K. Rowling disse certa vez, que se você não entendesse a raiva de Harry no quinto livro você não entendeu o que ele passou nos quatro livros anteriores e que Harry tem o direito de sentir raiva.

E quais são as cenas favoritas deles no mais recente filme? Rupert realmente aproveitou a cena da Sala das Profecias que foram filmadas inteiramente em um quarto verde. Daniel está contente com qualquer coisa que não seja estar em um cabo de vassoura “por razões bastante óbvias”, mas há um consenso de que todos eles gostaram profundamente da cena que vem logo depois do beijo de Harry e Cho Chang. “Eu estava no chão, só rindo… como… apenas rindo” diz Emma; e o mais notável era que tudo era natural. A risada compartilhada por Harry, Rony e Hermione naquele momento era o mesmo tipo de risada compartilhada pelos amigos Daniel, Rupert e Emma. Era simplesmente um momento genuíno de riso. Depois que Rupert, Daniel e Emma saem e Goldenberg, Heyman e Yates entram, esta cena é mencionada novamente.

A segunda parte da entrevista adota um tom ligeiramente diferente quando o produtor, diretor e roteirista são questionados, primeiramente de forma leve até o final mais profundo: qual foi o maior desafio deles em Harry Potter e a Ordem da Fênix? Yates responde; foi escolher o que cortar no processo adaptativo, pois ele era um “livro enorme para se resumir”. Ele quis uma história que “fosse orgânica”, que “fosse coesa”, que não fosse episódica e que apresentasse um arco bem sucedido. E qual foi o arco? Foi a jornada de Harry. Como os três atores já haviam mencionado, era sobre um jovem bruxo “isolado e incompreendido” sob um “regime político intrusivo”. Ele diz que é algo “que Jo captura lindamente no livro” e que ele quis como fã, fazer justiça ao material original.

Quanto eles trabalharam com J.K. Rowling? Ela foi “uma colaboradora dos sonhos”, diz Heyman. Durante o filme, Harry entra em um quarto cujas paredes estão completamente cobertas pela tapeçaria da árvore genealógica dos Black; era algo que precisava de detalhes, algo que precisava “ter mais de quatro ou cinco nomes”. Tudo que foi necessário foi telefonar para a autora, depois de quinze minutos ela lhes forneceu uma árvore genealógica com setenta e cinco nomes cobrindo cinco gerações, datas de aniversário, datas de casamento e os rompimentos familiares.

Depois é perguntado se houve visões contraditórias e como eles foram reconciliando, e os três demonstram o amor deles pelos livros. Não houve visões contraditórias porque todas foram sendo construídas a partir da mesma base, “tudo isso vem dos livros”, explica Heyman, e se houvesse qualquer incerteza eles entravam em contato com J.K. Rowling. De fato, ela até mostrava a eles potenciais erros. Houve um momento em que um personagem correu o risco de ficar de fora, mas J.K. Rowling disse que se eles tentassem trabalhar na sétima história depois disso, teriam grandes problemas; o personagem ficou, mas Heyman deixou os fãs tentando adivinhar quem era esse personagem.

Goldenberg é questionado então sobre seu próprio trabalho como roteirista. “Não era tão assustador quanto parecia ser” conta ele. O livro tinha um “narrativa básica” e era “bastante independente”. Foi um “processo de achar a história de Harry”, a espinha dorsal do que era a viagem emocional de Harry. Não foi tão simples a ponto de ficar com o primeiro rascunho, no entanto. Tão perfeccionistas eram Goldenberg, Heyman e Yates, que revisaram continuamente o roteiro “até o último dia de filmagem”. E foi a atmosfera criada por Heyman que permitiu isto. Yates sentiu que estava num ambiente “muito seguro e criativo”.

Heyman tinha o entusiasmo de um jovem de quinze anos e “aquele espírito é contagiante”. Daniel já tinha mencionado como ele tinha sido desafiado por Yates e, detalhando como os atores tinham se desenvolvido ao longo das filmagens, Yates divulga que “exigiu muito de todos eles” ao fazer seu filme. Daniel sempre “amou virar algo em uma raridade” diz ele, e “realmente abraçou” as oportunidades que teve. Yates foi longe ao ponto de trazer por algumas horas um conselheiro de luto para conversar com Daniel sobre como as pessoas reagem às perdas traumáticas, de forma que o ator pudesse entender o que seu personagem sentiu depois de ver Cedrico assassinado. É com certo orgulho que Yates fala de Daniel fazendo “perguntas realmente inteligentes” e tendo um “imaginação incrivelmente vívida” que lhe permitiu estabelecer um paralelo entre o mundo real e as experiências de seu personagem.

Por isso é um filme mais obscuro. Além dos próprios demônios internos que Harry tem de enfrentar, ainda tem que lidar com um Ministério da Magia cada vez mais opressivo e, em particular, Dolores Umbridge. O filme trata de “política com p minúsculo”, diz Yates. Heyman reconhece que há “linhas de nazismo e racismo”; o regime totalitário é resumido pelo banner bem soviético de Cornélio Fudge visto do átrio do Ministério.

Imelda Staunton, a quem Yates descreve como “uma ótima atriz, de fato” faz um trabalho incrível ao trazer Dolores Umbridge à vida. Umbridge no filme está verdadeiramente aterrorizante visto que seus reais sentimentos não podem ser realmente vistos, tornando-a particularmente imprevisível. Ela é uma personagem de muitas facetas e “Imelda captou todas elas”, diz Yates de forma avaliadora. Umbridge é cruel e Yates recorda sua detenção com Harry como tendo “um suave quê religioso”, limpando Harry de seus pecados. É uma “forma sutil de abuso”. Isso faz do filme assustador? Claro que faz. Mas “você nunca gostou de ser assustado quando era criança?” Yates argumenta. Quando criança ele amava profundamente ser assustado. Faz as crianças se sentirem “vigorosas e vivas” e ele sente que é importante que as “crianças não sejam tratadas com condescendência”. Yates explica que eles mostraram o filme a um grupo de crianças muito jovens em Chicago, todas inquietas devido a pouca idade, cafeína e açúcar, e ainda assim a energia e falta de condescendência do filme foram o bastante para entretê-las durante mais de duas horas.

Mas assim como a história de Harry trata da superação dos males e dificuldades do mundo através do amor e da amizade, Goldenberg, Heyman e Yates também falam sobre a força da família e da amizade. O primeiro beijo entre Harry e Cho era uma cena importante, não só por causa de sua função dentro do enredo e o desenvolvimento de Harry como um adolescente, mas também pelo que significou para a equipe e o ator principal. Yates tirou do set todos aqueles que não eram cruciais para a cena, pois “todo mundo queria ver” como qualquer outra cena relacionada a sexo, e quis que “fosse tão frágil e tão verdadeira quanto possível”. E foi. Os assistentes de maquiagem e figurino de Daniel ficaram ambos muito emocionados ao verem “alguém que eles amavam muito beijando pela primeira vez”; e esse “alguém” era Daniel e não Harry. Foi o laço familiar da equipe que fez da cena mais especial para todos os envolvidos, da mesma maneira que o laço de amizade entre Rupert, Daniel e Emma fez da cena seguinte similarmente especial. Todos eles se conheciam tão bem, que em certo momento, o roteiro foi deixado de lado e os três só improvisaram. Yates “só os encorajou” a dar mais risadas. “Eles não estavam atuando”, diz Heyman, “eles apenas estavam sendo eles mesmos”. Provável motivo para Yates dizer, “Eu tenho muito orgulho daquela cena”.

E enquanto os fãs já voltam sua atenção para o sétimo e último livro da série Harry Potter, Yates tem o bônus de contar com a direção de Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Ele “teve um momento tão bom, fazendo esse filme” que ele ainda não deseja deixar esse “mundo tão difícil de partir”. Alfonso Cuarón e Mike Newell foram ambos convidados a dirigir o quarto e quinto filmes respectivamente há algum tempo, mas, Heyman diz que eles não tiveram a força para isso. Yates tem a “bravura e a força para continuar”. Harry Potter é como todos nós concordamos, uma “experiência dos sonhos” e enquanto Heyman continua dizendo que os filmes ainda são feitos pensando no público, fazer um filme de Harry Potter, “é pensar em fazê-los da melhor forma possível” porque todos eles amam Harry Potter, “é uma paixão”. E, esperançosamente, este amor de todos pelo personagem Harry Potter, e sua jornada e conceito, será visto no filme quando ele entrar em cartaz.

Traduzida por: Juliana Maron dos Santos em 23/03/2008.
Revisado por: Dérick Andrade Moreira em 22/09/2008.
Postado por: Vítor Werle em 08/10/2008.
Entrevista original aqui.