Matsuda, Neil. “Todo mundo está simplesmente louco pelo Harry”. Villarum, janeiro de 2001.

Não muitos dias atrás, centenas de pais por todo o país contribuíram para o fenômeno publicitário de maior sucesso que a Bretanha já viu em termos de livros infantis. A menos, claro, que eles já tenham tomado parte nisso alguns meses atrás, quando seus filhores pediram o quarto e mais recente lançamento da série Harry Potter.

Agora há ainda três livros para chegar escritos pela criadora de harry, a mãe solteira de 35 anos J.K. Rowling, para completar a série de sete, que conta sua vida escolar até a idade de 18 anos. O último capítulo do último livro já foi escrito e crianças amigas estão dizendo à autora que entrarão em seu estúdio para procurar por ele – mas está escondido em um lugar muito, muito seguro.

Como qualquer aficionado por Harry Potter respeitável já deve saber, Joanne Rowling sonhou com o que seria uma série de vendas multimilionárias enquanto viajava de trem em King’s Cross. Ao menos, é algo que nossa lamentável linha férrea conseguiu oferecer nos últimos anos.

Formada em francês e literatura clássica pela Universidade de Exeter, Joanne já vendeu um total de 40 milhões de cópias dos livros de Harry Potter em 40 diferentes países. Mas, como sempre acontece nas melhores histórias – infantis ou adultas – o caminho para a fama não foi simples. A empolgação de Joanne para escrever começou quando criança e naturalmente acompanhou um apetite voraz em relação à leitura. “Eu era uma verdadeira sonhadora”, ela comenta, “Com uma vida fantasiosa muito vívida. Eu era muito sardenta, baixinha, usava óculos cedidos pela Assistência Social, era um pouco sabichona, mas sob isso tudo, era muito nervosa, muito, muito insegura. Mas estava constantemente lendo, absolutamente qualquer coisa.

Uma das melhores coisas que meus pais fezeram foi dizer que nada em nossa casa era proibido, então li muitos livros adultos quando era jovem, mas também li muito Edin Blyton, Barry Hines e muitas outras coisas”.

Depois de sua escola e faculdade, Joanne teve diversos empregos diferentes – trabalhou com a Anistia internacional, como secretária e, após a morte de sua mãe, ensinou inglês como língua estrangeira. “Eu possivelmente coloquei um pouco de meus sentimentos sobre a doença de minha mãe no Harry,” ela diz. “Ela tinha uma forma galopante de esclerosa múltipla. Algumas pessoas podem ter EM e seguir a vida normalmente, sem ser afetadas. Minha mãe não teve essa sorte, e morreu aos 45 anos, quando eu tinha 25. Comecei a escrever Harry seis meses depois, então ela nunca soube…”

Antes de ir lecionar em Portugal, Joanne empacotou uma pilha de papéis e notas com seis polegadas em sua maleta [o primeiro rascunho de Harry Potter e a Pedra Filosofal]. Quando voltou para a Inglaterra – depois de casar, ter uma filha chamada Jessica (“por causa de Jessica Mitford”), romper com seu marido e Espanha, levando sua filha de cinco anos consigo – a pilha de papéis cresceu três vezes o tamanho original.

Mãe e filha começaram a viver em acomodações alugadas e depender de auxílio do Estado – não foi a melhor época. “Há uma grande diferença entre tristeza, que é uma emoção saudável, eu acho, e depressão, que é tipo uma ausência de emoções – é assim que eu me lembro disso, como um período de depressão,” ela recorda. “Muita coisa aconteceu comigo – nem tudo foi ruim – mas toda mudança deve ser meio estressante e eu suportei a perda, eu tive um bebê – a melhor coisa que já aconteceu comigo – mas parei de trabalhar, o que não é bom, e logo eu pensei, ‘Como cheguei aqui? Isso não devia acontecer’”.

“É verdade que vivi totalmente de benefícios [do governo] por nove meses, e também utilizei um pouco de benefícios durante mais 18 meses. Também é verdade que eu escrevia em cafés enquanto minha filha dormia perto de mim. Sei que soa muito romântico mas, claro, não é nada romântico quando você está passando por isso. Não é correto dizer que meu assento não era caloroso. Eu não estava em busca de calor, mas de bom café, francamente, e não ser interrompida enquanto escrevia por ter que levantar e fazer eu mesma mais café.

“Eu tinha 25 anos quando tive a idéia de Harry, e escrevi – se você incluir todos os patéticos rabiscos adolescentes – por anos e anos. E eu nunca fiquei tão excitada com uma idéia em toda minha vida. Já havia abandonado dois livros para adultos antes disso. Na verdade, ainda estava escrevendo o segundo livro quando tive a idéia de Harry e durante seis meses tentei escrevê-los simultaneamente – então Harry simplesmente dominou tudo.

“Levei seis anos para trabalhar direito nesse enredo tão longo. Naquele trem, surgiram vários dos personagens que você vê na escola. Montanhas de detalhes, mas não propriamente a narrativa”. “Então, subconscientemente, por anos eu me preparei para escrever Harry Potter porque eu estava acumulando palavras esquisitas assim como as pessoas colecionam inutilidades”.

A filha Jessica tinha três anos quando Joanne enviou seu primeiro manuscrito terminado. “Dentro do envelope que mandei, voltou uma resposta muito padronizada dizendo, ‘não, muito obrigado’. E depois eu tive outra rejeição. O mais engraçado é que isso não me aborrecia porque eu tinha aquela mentalidade de-volta-ao-muro. Naquela época, estava em um curso de professora. Eu sabia que tinha tempo incrivelmente limitado para escrever e pensava, ‘Bem, se tudo o que você conseguir for um arquivo cheio de cartas de rejeição, pelo menos você tentou.’ O primeiro agente me mandou uma carta dizendo, ‘Minha lista de clientes está cheia’ – literalmente! Nada de ‘Cara Senhora’ e ‘Atenciosamente’, e se eu pareço rancorosa, é porque mandei meu manuscrito nessa linda pasta de plástico, e eu estava falida e não tinha as 5 libras para gastar em uma pasta de plástico, e ela mandou-o de volta sem a pasta e escreveu, ‘Não, obrigada’ e com um PS manuscrito, “A pasta não cabia no envelope.’ E eu pensei, ‘Bom, então compre um envelope maior’. Estava furiosa.

“No fim, eu consegui um agente chamado Christopher Little e, após um ano tentando, a Blomsbury me aceitou. Foi o melhor momento da minha vida, depois do nascimento da Jessica. E eu acho isso mesmo – foi o melhor momento”.

A decisão de usar J.K. Rowling em lugar do nome completo de Joanne foi tomada por sua editora Bloomsbury, que estava preocupada se garotos não gostariam de ler o livro se descobrissem que foi feito por uma mulher. Os editores não precisavam se preocupar.

E o sucesso logo chegou pelo The Pond. “Quatro ou cinco meses após o livro ser lançado na Bretanha, eu estava em casa durante a tarde e o telefone tocou,” ela diz. “Era Christopher, meu agente. Ele disse, ‘Há um leilão acontecendo nos Estados Unidos.’ Por uma fração de segundo, eu pensei, ‘Por que ele está me dizendo isso?’ Não associei o leilão ao meu livro, e então percebi o que ele queria dizer. Falei, ‘Um leilão?’ e ele disse, ‘Sim, e eles têm um bom dinheiro’. O ‘bom dinheiro’ era duplamente o que ele havia predito que ganharíamos, e então ele me ligou duas horas mais tarde e disse, ‘Certo, um dos editores desistiu. Há dois ali e estão aumentando o preço.’ Finalmente, cerca de 11 da noite, ele ligou e disse, ‘OK, você está na Arthur Levine Books e eles darão a você…’ e era um valor de seis dígitos, em dólares.

“Isso significava segurança, significava que poderíamos sair de nossa casa alugada, mas também me deixou totalmente em pânico. Parte de meu cérebro dizia, ‘Vai em frente, vc pode comprar uma casa, não temos mais que nos preocupar, tudo está muito melhor.’ E a outra parte de mim dizia, ‘Oh meu Deus, eles vão me encurralar. O próximo livro não será tão bom.’ Senti como se todos estivessem de repente observando cada palavra que eu escrevia, e isso foi bem assustador. Eu não dormia à noite, ficava andando e andando pelo apartamento. Sentei e pensei, ‘Posso me dar ao luxo de lecionar meio período’”.

E isso significava tudo para mim porque, até então, eu só pensava, ‘Escrever é apenas uma auto-indulgência? Eu tenho o direito de deixar minha filha tão pobre como ela talvez fique se continuar a perder tempo escrevendo? Eu não deveria estar lá for a trabalhando em alguma coisa e dizendo adeus à escrita?’” Joanne acrescenta: “As pessoas dizem que é como ganhar na Loteria e em um sentido é, porque é certamente inesperado e ainda assim eu sei o quanto trabalhei para isso. Eu não trabalhei com a expectativa de conseguir, mas há uma correlação direta entre um monte de trabalho duro e o dinheiro. Não é como dizer que eu mereço toda essa quantia de dinheiro, e isso seria difícil”.

Mas a fama não tirou Joanne de seu curso original. “Eu estarei escrevendo até perder todas as minhas fichas – eu sei disso,” ela diz. “Mas houve um tempo em que ser publicada ou estar sob os olhos do público não era uma experiência agradável, pode ter certeza. Eu amaria ter mais crianças, mas se não acontecer, não acho que possam chegar a mim e dizer, ‘Que vergonha’. Mas eu acho que ser tão conhecida pode ter um efeito distorsivo em seus relacionamentos. Fiquei intrigada com o cometário de uma amiga minha. Eu a conheço a cerca de dois anos, e quando ela me encontrou pela primeira vez, não sabia nada sobre Harry Potter, e nós ficamos amigas, como acontece, a caminho da escola, e eu falei para ela que escrevia para crianças, mas ela só disse, ‘Mesmo?’. Então, um dia, eu a encontrei no parquinho e ela estava um pouco diferente, ela havia percebido e dito para mim, ‘Você sabe, se eu soubesse, acho que jamais teria conversado com você.’ E completou, ‘Bom, porque eu acharia que vc acharia que eu só queria falar com você porque…’, o que é absolutamente ridículo porque seu filho e minha filha são ótimos amigos, então eu não pensaria isso de jeito nenhum”.

Uma pequena preocupação para Joanne, ou J.K., uma vez que parece que, ao que tudo indica, ela está destinada a ter uma história com final feliz depois de tudo. Todo mundo está simplesmente louco pelo Harry, Neil Masuda dá uma olhada na mulher fenômeno de publicações que é J.K. Rowling “Nós tínhamos um valor de seis dígitos em dólares, mas parte de mim pensava, ‘Oh meu Deus, eles vão me descobrir. O próximo livro não será tão bom’”.

Traduzida por: Adriana Couto Pereira em 06/07/2007.
Postado por: Vítor Werle em 26/09/2008.
Entrevista original no Accio Quote aqui.