HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX
Guardian ~ Justin McCurry
29 de junho de 2007
Tradução: Patri­cia Abreu

Fãs descobrem que menino bruxo cresceu na estréia mundial do quinto filme

Enquanto as luzes escurecem e um silêncio repentino desce no auditório quente, um arrepio silencioso passa pelo público. Há bebês nos colos de suas mães, crianças inevitavelmente vestidas de bruxas e bruxos, e até mulheres idosas o bastante para serem avós de Harry Potter. E todos eles têm o ingresso mais quente da cidade.

Tóquio pode estar tão longe quanto se pode pensar dos montes verdes de Little Whinging, Surrey, que fornecem uma abertura panorâmica ao último filme de Harry Potter, mas para as centenas de pessoas com sorte suficiente para ter ingressos, isso não importa. A estréia mundial de Harry Potter e a Ordem da Fênix recompensa a habilidade do Japão de gerar vendas. E acima de tudo recompensou fãs sortudos em um cinema moderno num bairro ultra-chique de Tóquio.

O filme logo acelera o pulso. Nosso herói cai numa cilada em um passagem subterrânea, preso à parede quando os Dementadores repulsivos tentam sugar sua alma. A multidão assiste calada, segura de serem os primeiros a testemunhar a sorte de Harry Potter contra a morte, de quem, em poucos minutos de filme, ele escapa previsivelmente.

Em grande parte deste filme escuro e polí­tico, Harry pode não fazer nada direito enquanto tenta persuadir quem desconfia que Lorde Voldemort, assassino de seus pais, está por trás de tudo, mas no Japão o fenômeno Harry Potter não dá um passo em falso.

Depois de duas horas de suspense e pancadas de alta tecnologia, o clí­max do quinto filme adaptado da série de sete romances de Potter foi elogiado com aplausos. Fora na entrada, entretanto, Potter tinha cimentado seu lugar nos corações de seus inúmeros seguidores trouxas no Leste da Ásia.

“Foi muito divertido”, disse Kenta Harada, uma das centenas de pessoas que garantiram entradas. “A cena da batalha foi excelente, e havia algum significado profundo no filme todo, que eu acho que fala ao povo japonês”.

Momoko Kawai, um estudante de 22 anos e que se diz viciado em Potter, disse estar satisfeito que o filme tenha se ajustado tão bem aos anteriores, mas identificou uma intensidade nova nos desempenhos dos atores.

“Foi muito diferente dos outros filmes de Harry Potter. Está mais adulto do que antes – de fato eu chorei em uma das cenas. Harry é um homem agora, e você pode ver isso na forma como ele responde às pessoas”.

Mais cedo, uma multidão na maioria adolescente esperou para ver em relance Daniel Radcliffe em uma pré-estréia de tapete vermelho. Quando ele apareceu, as incontáveis câmeras de celular entraram em ação.

Os crí­ticos japoneses enviarão seus veredictos hoje, mas o público britânico terá que esperar até quinta-feira, 12 de julho, devido à decisão da Warner Bros. de mostrar primeiro o filme ao Japão.

Os livros de Harry Potter venderam mais de 325 milhões de cópias desde o primeiro volume, Harry Potter e a Pedra Filosofal, publicado em 1997. Os leitores japoneses estão entre os fãs mais ávidos de J.K. Rowling.

Os primeiros quatro filmes de Potter lucraram em torno de US$3.5 bilhões (£1.75 bilhão) no mundo inteiro, e Radcliffe, assim como Emma Watson, que interpreta Hermione Granger, e Rupert Grint [Rony Weasley] quer ver a série de sete partes completa até o fim em 2010.

Parte do humor sutil do filme, em inglês com legendas em japonês, foi claramente perdido pelo público, apesar de uns dois monólogos deliciosamente rudes de Julie Walters como Molly Weasley, que repreende Harry e seu filho Rony para “sacarem suas varinhas” o tempo inteiro.

Imelda Staunton quase rouba o show com sua Dolores Umbridge, enfiada pelo Ministério da Magia para endireitar Harry na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Um convite a seu escritório significa uma tortura excruciante em meio a almofadas cor-de-rosa, enquanto Umbridge, uma mistura sádica de Barbaras Cartland and Castle, tenta frustrar as declarações de Harry de que viu Lorde Voldemort.

É banal comentar a passagem óbvia de Radcliffe pela adolescência, mas em “Ordem da Fênix” a transformação é muito mais do que um maxilar quadrado e uma voz mudando. Este filme é evidentemente polí­tico, com ecos de “1984”, com o Ministério da Magia representando o “Big Brother”.

Aqui, Harry embarca nem tanto em uma aventura como em uma jornada psicológica – um adolescente solitário entre indecisão e lealdades conflitantes… até que importa. Um Hamlet de nossa era? Provavelmente não, mas os momentos mais sombrios da Ordem são um grito distante da inocência de Harry Potter e a Pedra Filosofal.

Esse filme é uma dos diversos golpes de Hollywood a estrear no Japão nos últimos meses. O Japão é o segundo maior gerador de vendas fora dos EUA, com 10% a 15% do total. E apesar de um renascimento recente do cinema doméstico, os fãs leais de cinema não perderam seu apetite pela aventura e fantasia desenvolvidas por Hollywood.

As aventuras de Harry Potter prenderam o Japão desde o primeiro filme em 1997. O quarto, Harry Potter e o Cálice do Fogo, lucrou mais do que qualquer outro filme no Japão no ano passado.

A pottermania vai continuar quando os fãs descobrirem o destino de Harry com a publicação em 21 de julho de “Harry Potter and the Deathly Hallows”, livro final da série.

O sexto filme, Harry Potter e o Enigma do Prí­ncipe, será lançado nos EUA em novembro de 2008.