STEPHEN FRY
ZECA BALEIRO ENCONTRA STEPHEN

Por Brazilian Music UpToDate – Tradução UOL
Zeca Baleiro
www.uol.com.br

Zeca Baleiro Encontra Stephen Fry
Conheça um pouco mais Stephen

QUANDO ZECA BALEIRO escreveu a suave música intitulada “Stephen Fry” (1995) e depois, ao lançar o seu primeiro disco em 1997, intitulado Por Onde Andará Stephen Fry?, ele jamais poderia imaginar que o londrino Stephen Fry acabaria gostando da despretensiosa homenagem brasileira, até que os dois chegassem a conversar através desta entrevista produzida pela UpToDate.

AQUI ESTÁ PORTANTO o que podemos chamar de esforço de reportagem, num clássico encontro do criador de uma obra, Zeca Baleiro, com a inspiração de seu trabalho final, o ator, comediante e escritor Stephen Fry. Sem qualquer distinção, cinema, música e literatura fazem parte do menu da conversa entre os dois.

SEM QUALQUER TIPO de combinações prévias ou lances de marketing estudados, dificilmente um episódio pitoresco como este se repitirá desta forma na história das artes. Um jovem compositor brasileiro faz música e disco em homenagem a um ator inglês e os dois acabam se encontrando numa entrevista. Vários faxes e telefonemas entre São Paulo e Londres foram necessários para a realização desta entrevista. E ao que tudo parece, este pode ser mesmo o começo de uma longa amizade.

Zeca Baleiro Entrevista Stephen Fry
Prazer em Conhecer / Do Episódio para a Música

Zeca Baleiro – Olá, Stephen. É um prazer falar com você. Finalmente aqui estou eu para a nossa tão esperada entrevista. Obrigado pela sua disposição inicial nesse primeiro contato. Ao formular essas perguntas, senti realmente como se estivesse conversando com você. Aqui vamos nós…

Zeca – Em fevereiro de 1995, li uma nota num jornal brasileiro (Folha de S. Paulo) que contava um episódio em que você teria desaparecido, talvez viajado sem avisar, depois de receber críticas de um jornal londrino à sua atuação numa peça de teatro. Imediatamente peguei o violão e fiz uma canção despretensiosamente, movido pela história e atraído pela sonoridade do teu nome Stephen Fry.

Dois anos depois, quando gravamos o disco, na hora de escolher o nome dele, foi sugerido colocar o primeiro verso da canção “Stephen Fry”, que diz / Por Onde Andará Stephen Fry? / Porque isso despertaria o interesse pela história da canção, que é a sua história, e pelo conteúdo do disco. Tudo foi feito casualmente, pois eu não pretendia maiores repercussões. Mas, de repente, notei que o título do disco e a própria história que conto no encarte do CD suscitou a curiosidade do público e da imprensa brasileira, e fez com que chegasse até você, algo que eu não imaginava.

O que você pensa da idéia de se tornar nome de canção num país como o Brasil, pelas mãos de um compositor brasileiro e se tornar título de um CD?

Stephen Fry – É realmente uma extraordinária sensação. De um lado, eu me sinto tremendamente honrado e lisonjeado, de outro lado, é quase um pensamento estranho que existam pessoas com cópias do disco pelo Brasil, cantando em coro meu nome junto com você. Eu suponho que é um pouco como a impressão que as tribos nativas sentiam quando tiveram suas primeiras fotografias tiradas.

A Opinião de Stephen Fry / O Gosto Musical

Zeca – Gostaria que você se sentisse à vontade para me dizer o que achou da canção “Stephen Fry” em especial, e do próprio disco?

Stephen – Bem, isso é o que causa o sentimento que eu mencionei, como um prazer. Eu acho “Stephen Fry” uma música absolutamente maravilhosa. Eu realmente amo essa música. Eu vejo eu mesmo andando, murmurando e cantando a música para mim mesmo. Você tem uma voz realmente atraente e generosa, e não há nenhuma dúvida de que o meu nome combina perfeitamete com o tom da música. Se eu tivesse me chamado Oliver Flutterwick ou algo parecido, certamente teria sido muito difícil de fazer a música, não seria? Quanto ao CD em geral, eu realmente o admiro muito. Eu não havia escutado nenhum trabalho seu antes. Eu gosto muito das variações de ritmos e estilos. Meus parabéns.

Zeca – Obrigado. Você gosta de música popular? Em geral, o que você tem escutado?

Stephen – Eu ouço muita música, eu suponho. É muito difícil ignorar a sensacional corrente pop britânica do momento. Eu realmente gosto do Oasis, Pulp, Blur, The Verve e outros.

Zeca – Quais são as suas referências de música brasileira?

Stephen – Eu tenho de confessar que realmente eu não tenho nenhuma referência. Mas, como a maioria daqui, eu penso em ritmos latinos mais do que qualquer coisa. Bossa nova e esse tipo de música… Eu confesso que a maior parte do que conheço é mais música hispânica da América do Sul do que música brasileira. Mas eu realmente aprecio o ritmo contagiante.

Cinema & Oscar Wilde

Zeca – Falando um pouco de você, o primeiro filme em que te vi atuando foi “Para o Resto de Nossas Vidas” (Peter’s Friends, 1993, dirigido por Keneth Branagh), em que você faz um comovente personagem aidético. Depois, li a célebre nota no jornal brasileiro que inspirou a canção “Stephen Fry”. A partir daí, fiquei curioso por ver todos os teus filmes e posso dizer que virei fã. Me chamou atenção o fato de que você sempre faz um inglês mesmo quando o filme se passa na América, como em “A Teoria do Amor” (IQ). Como você explica isso?

Stephen – Eu creio que as pessoas me tomam por britânico em qualquer momento e em qualquer situação em que me encontram porque eu passo essa impressão de um típico homem inglês (Deus sabe porque). Eu acabei de fazer o filme “Wilde”, que deve passar no Brasil no começo do ano, eu acredito. Eu espero que você consiga ver o filme e gostar também. Na verdade, eu estou agora (15-11-97) nos Estados Unidos fazendo uma participação no novo filme de John Travolta intitulado “A Civil Action”. Ainda interpretando um típico inglês, eu suponho.

Zeca – A crítica é um mal necessário?

Stephen – Sim, eu suponho que é o melhor meio de descrevê-la.

Zeca – Você faz o papel de Oscar Wilde nesse seu mais recente trabalho no cinema. O que mais te atraiu no personagem?

Stephen – Eu acho que foi a oportunidade de enfocar o registro diretamente sobre ele, que foi um homem de grande bondade, suavidade de natureza, generosidade, dignidade e coragem.

Wilde & Laurie

Zeca – É função do artista quebrar barreiras morais e culturais como fez Oscar Wilde?

Stephen – Sim, sem dúvida.

Zeca – Ouvi muitos elogios ao seu trabalho como comediante, também li críticas bem favoráveis a sua interpretação em “Wilde”, que é mais denso e dramático. Qual registro você prefere?

Stephen – Eu tento não fazer distinção dentre eles. Tento perceber o espectro das emoções humanas, da risada à tragédia, como algo contínuo. Espero que isso não pareça pomposo demais…

Zeca – Qual a importância do programa de TV (cômico semanal) “A Bit of Fry and Laurie” na tua carreira, no conjunto das tuas atividades?

Stephen – Eu continuo vendo Hugh Laurie regularmente, e nós esperamos fazer uma nova série em breve.

Livros & Roteiros

Zeca – Soube que você concluiu um livro recentemente. Do que se trata este trabalho?

Stephen – É uma autobiografia da minha infância, da idade dos 7 aos 17 anos. Eu tive uma infância realmente muito conturbada, expulso de várias escolas e acabando, por um breve período, na prisão. O livro cobre esse período.

Zeca – Quais são os teus próximos projetos tanto para o cinema quanto para a literatura?

Stephen – Os projetos são o filme do Travolta que eu mencionei, espero escrever alguns roteiros para o cinema e um outro livro. Depois, uma nova série com o Hugh Laurie.

Tomar um Chá no Brasil

Zeca – Os americanos estão cada vez mais obesos. Os brasileiros cada vez mais pobres e felizes. E quanto aos ingleses?

Stephen – No momento, eu acho que há uma grande dose de otimismo na Inglaterra. Um novo governo, finalmente, uma grande oportunidade de atividades culturais e um novo espírito de diversão e possibilidades no ar.

Zeca – Você tem planos de vir ao Brasil? Quando vier, por favor, me comunique pois eu quero que você assista a um show meu. Terei o maior prazer em vê-lo na platéia do meu show.

Stephen – Se, por alguma chance, o filme “Wilde” estrear no Brasil na mesma época em que eu estiver disponível, então eu adoraria visitar o teu país. E, claro, gostaria muito de ir a um dos teus shows.

Stephen entrevista Zeca

Zeca – Bem, Stephen, agora é a sua vez. Você gostaria de me perguntar algo?

Stephen Fry – Sim. Você é de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, ou de alguma outra parte do Brasil? E quantos anos você tem?

Zeca – Eu nasci em São Luís, capital do Maranhão, estado do Nordeste brasileiro. A região do Nordeste é para o Brasil, mais ou menos o que é a Irlanda para os ingleses. Mas eu moro há sete anos em São Paulo. Tenho 31 anos, mas pareço ter apenas 29.

Stephen – Você recebeu algum tipo de treino musical ou é apenas o seu talento natural? Você está ligado a algum determinado tipo de estilo musical que tenha algum nome ou origem específica?

Zeca – Não, sou completamente intuitivo. Minha formação musical passa pela cultura popular, pelos ritos religiosos e pelo rádio, onde ouvi Bob Dylan, Rolling Stones, Elton John, Bee Gees e muita, muita música brasileira.

Stephen termina a Entrevista

Stephen – Você já chegou a trabalhar como compositor de trilhas sonoras para filmes ou TV?

Zeca – Sempre tive muita vontade de fazer música para cinema, mas só recentemente fui convidado para fazer a trilha sonora de um curta-metragem, “Impressões Para Clara”, de Joel Yamaji, um jovem cineasta paulista. Também tenho uma canção do meu CD, intitulada “Bandeira”, incluída na trilha sonora da telenovela “Por Amor”, da Rede Globo de Televisão.

Stephen – Planos para visitar a Inglaterra?

Zeca – Planos, sim. Em 98, devo fazer uma pequena turnê pela Europa, onde o disco (Por Onde Andará Stephen Fry) será lançado, com a minha banda Mandabala.