“J.K. Rowling no The Diane Rehm Show”. WAMU Radio Washington, D.C., 20 de outubro de 1999 (retransmitido em 24 de dezembro de 1999).

Transcrito por Jimmi Thøgersen

Reproduzido com a permissão de WAMU 88.5 FM.
Versão em áudio disponível em: [temporariamente indisponível enquanto a WAMU reorganiza seu site].

Na WAMU em Washington. Sou Diane Rehm.

Joanne Rowling cresceu na Floresta de Dean, na Grã-Bretanha. Ela sempre foi uma leitora ávida e sonhava em, um dia, se tornar uma escritora. Hoje, é conhecida por milhões de crianças ao redor do mundo como J.K. Rowling – o nome nas capas de sua série de best-sellers sobre um jovem bruxo em treinamento chamado Harry Potter. Joanne Rowling se junta a mim para apresentar sua jovem criação e falar sobre como o sucesso tem mudado sua vida. Durante a conversa, atenderemos suas ligações, não importando qual seja a sua idade – 1-800-433-8850.

E, bom dia para você, Jo, estou contente por tê-la aqui.
JKR: Bom dia, e é adorável estar aqui, obrigada.

DR: Você passou um bom tempo aqui em Washington – e, talvez, por todo o mundo. Na verdade, digo, as filas esperando lá fora para que você autografe livros em uma livraria aqui de Washington. “Politics & Prose”, eles tiveram me mandar gente embora.
JKR: Sim. Foi – foi – Aquele foi um evento realmente legal. Me diverti bastante ontem.

DR: Agora, quero perguntar a você, Jo, em algum momento em que estava escrevendo – sei que você acreditava no que fazia – mas você esperou algo como essa reação?
JKR: Não. É claro que não. Teria ficado louca para esperar algo assim. Ninguém – ninguém poderia ter esperado isso. Pensei que estava escrevendo um livrinho que poucas pessoas poderiam gostar. Era o que eu achava. Eu o amei. Sabe, eu acreditava apaixonadamente em Harry. Eu tinha – e tenho muito orgulho dele. Mas nunca esperei ter esse tipo de aclamação.

DR: Quando a idéia de Harry Potter surgiu pela primeira vez – e como?
JKR: Era em 1990. Estava viajando de trem de Manchester para Londres, na Inglaterra. O trem estava atrasado, como acontece com freqüência na Grã-Bretanha. E, hm… Esta, esta idéia simplesmente saiu do nada.

DR: O que você chama de “idéia”?
JKR: Hum… A idéia básica. Harry, vi Harry muito, muito, muito nitidamente. De um modo muito vívido. E sabia que ele não sabia que era bruxo. Então vi esse garotinho magricela de cabelos negros, olhos verdes, e óculos. E hm… Óculos remendados, sabe, que têm fita ao redor deles, segurando-os juntos. E sabia que ele não sabia o que era. E então eu meio que trabalhei no passado, para descobrir como ele isso aconteceu, ele não saber o que era. E hum… ao mesmo tempo, pensei que ele iria a uma escola de bruxos. E foi aí que isso realmente me incendiou, fiquei realmente animada com a idéia de como uma escola de bruxos seria.

DR: Ele tem uma cicatriz em sua –
JKR: Aham. Ele tem uma cicatriz em forma de raio em sua testa.

DR: Bem, de onde veio aquilo?
JKR: É… Quando ele tinha um ano, o pior bruxo em centenas e centenas de anos tentou matá-lo. Ele matou os pais de Harry, e então tentou matar Harry – tentou amaldiçoá-lo.

DR: Por quê?
JKR: Não posso contar a você. É a pergunta de 64.000 dólares. Não posso contar. Ele – Harry ainda não sabe. Harry tem que descobrir, antes que descubramos. E – então – por alguma razão misteriosa, a maldição não funcionou em Harry. Logo, ele tem essa cicatriz em forma de raio em sua testa e a maldição ricocheteou contra o bruxo mal, que tem estado escondido desde então.

DR: Como Harry descobre que é um bruxo de verdade?
JKR: Ele começa a receb – em seu – perto de seu aniversário de 11 anos, ele mora com sua tia e tio e um primo horrível. E eles são o que os bruxos…

DR: Os Dursley.
JKR: Os Dursley. E eles são o que os bruxos chamam de trouxas. Isso quer dizer que eles são completamente não-mágicos. E o casal… o Sr. e Sra. Dursley sabem que Harry é um deles, mas nunca contaram. O mantiveram em segredo.

DR: Como eles sabiam?
JKR: Porque uma carta foi deixada a eles, quando Harry foi deixado com eles quando bebê, explicando tudo o que acontecera. Hum… Então, perto do aniversário de 11 anos de Harry, cartas começam a chegar misteriosamente para ele, e eles não deixam que ele leia. E são cartas da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, contando que ele tem uma vaga, e que ele deve ira à Plataforma 9 ½ na Estação de King’s Cross em 1º de setembro e tomar o trem.

DR: Ele toma o trem –
JKR: Sim.

DR: – e vai para –
JKR: E vai para Hogwarts. Sim. É onde suas aventuras realmente começam, como é esperado. Então, ele aprende todos os tipos diferentes de magia, e hm… muitas coisas dão errado. Ele faz dois grandes amigos, Rony e Hermione. E é aí que ele começa a encarar seu… Bem, ele – realmente, ele começa a encarar seu passado. Ele começa a descobrir o que realmente aconteceu. E ele tem que começar a encarar o que aquilo significa, porque ele nasceu com uma certa predestinação.

DR: Então, há uma certa moralidade –
JKR: Acho que sim, é. Sim. Definitivamente.

DR: – neste conto. Por que você acha que as crianças pequenas são tão atraídas por esses livros?
JKR: Essa é uma pergunta tão, tão de se responder, por que… sem ser hipócrita. Escrevi o que quis escrever. E escrevi o tipo de coisa que gostaria de ler, gostaria de ler, agora, como adulta, e sabia que teria gostado de ler quando tinha 11 anos. E, de certa forma, estou muito próxima a ele para poder ver se há, sabe, uma coisa particular que atrai as crianças, e, de muitas formas, não quero analisá-lo muito, porque tenho medo de que, se decidir que é um fator X que está fazendo tantas crianças gostarem dele, posso tentar colocar X demais no livro 4 ou 5. E não quero fazer isso. Eu quero apenas escrevê-lo do jeito que estou escrevendo neste momento, e adoro escrever, e faço isso do meu jeito, sem tentar, sabe, trabalhar numa fórmula.

DR: Mas o que as crianças têm dito a você?
JKR: As crianças… Muitas coisas diferentes. O principal, eu diria, a coisa majoritária é que eles realmente amam os personagens. Eles parecem imaginá-los como pessoas reais. Eles me imploram constantemente, “não mate este ou aquele”. Gostei muito de Washington, porque em Washington encontrei o maior número de pessoas em toda a minha vida que disseram “não mate Hermione” que é a melhor amiga de Rony – de Harry. E tenho de dizer que a maioria das pessoas não se importa muito com Hermione, no sentido de que eles acham que ela é inteligente demais e que passaria por qualquer coisa, de alguma forma. Mas gosto de Washington. Washington ficará em minha mente como o lugar onde as pessoas acham que Hermione precisa de um pouco de apoio.

DR: J.K. Rowling. Ela é a autora da série de livros de Harry Potter, publicada pela Scholastic. “Harry Potter e a Pedra Filosofal,” “Harry Potter e a Câmara Secreta”, e “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. Se você gostaria de se juntar a nós – 1-800-433-8850 – Estou ansiosa por ouvir suas perguntas. Por que você não lê um pedacinho para nós, Jo?
JKR: Vou ler um pedaço realmente pequeno aqui. É do primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, e Harry vai às compras. E uma das coisas mais importantes que ele compra é, claro, sua varinha. Então ele vai à loja de varinhas, que pertence a um homem chamado Sr. Olivaras, e o Sr. Olivaras está a ponto de falar a ele sobre as varinhas, sobre o que você precisa para escolher a sua.

[Jo lê um trecho]

JKR: Acordem [risos]
DR: Uau. Quero dizer, fiquei tão atraída. Então, não é apenas para crianças. Esse livro não apela apenas a elas.
JKR: Tenho recebido muitas cartas de adultos.

DR: É, imaginaria que sim. Me parece que o que você conseguiu foi criar aquele tipo de excitação em um livro que, digo, para as crianças americanas, a maioria dos vídeos e filmes traz. Mas aqui você… conseguiu.
JKR: Conheci um garoto muito legal ontem, aqui em Washington. Ele me disse, “quando estou lendo, é como se houvesse um vídeo passando na minha cabeça”. E eu disse – disse a ele, “essa é uma das melhores coisas que você poderia dizer para mim, porque, obviamente, você pode visualizar muito, muito nitidamente.” Digo, esse é o seu objetivo. É sua meta como escritor. Você quer que as pessoas estejam lá, vivendo.

DR: Onde, para você, o processo de aprendizado de escrita começou?
JKR: Começou quando eu tinha cerca de… seis anos. Quando terminei minha primeira história, e pensei que era um livro, e não conseguia entender por que meus pais não iam levá-lo para que fosse publicado. Mas quando você tem seis anos, sabe, você pensa desse jeito. Você tem essa confiança inabalável, que você nunca terá de novo. Aquela história era sobre um coelho chamado Coelho, que pegou sarampo e foi visitado por seus amigos animais. Humm… E tenho estado escrevendo desde então. É tudo o que queria fazer.

DR: O que…. Como seus pais reagiam? Eles queriam que você fizesse outra coisa?
JKR: É. Bem… nunca disse a eles diretamente. Nunca realmente… Disse às pessoas, quando era um pouco mais velha – amigos íntimos – disse que era aquilo que eu realmente queria fazer, mas nunca disse aos meus pais diretamente “tudo o que quero é ser uma escritora”, porque eu… Me sentia muito auto-consciente para dizer isso, e vim de uma família na qual ninguém mais era escritor ou fizesse algo particularmente artístico, e pensei que eles ficariam – ficariam preocupados. Eles teriam pensado, bem, é uma esperança um tanto irrealista. De certa forma, estariam certos, sabe, a maioria dos escritores – a vasta maioria dos escritores – não ganha dinheiro suficiente para sustentar a sua família e a si próprio apenas com seus textos. Então… acho – acho que poderia ter dito a eles, e eles diriam “bem, é ótimo, mas tenha certeza de que tem um plano B para sua vida.”

DR: Então, como você ganhou sua vida, no começo?
JKR: Fiz diversos trabalhos diferentes, mas o que mais durou, de longe, foi ensinar. Lecionei. E realmente – gostava de ensinar –

DR: Para qual idade?
JKR: Hum… Quando eu vivia no exterior, ensinava inglês para desde crianças muito pequenas até adultos – até vovós. Mas, principalmente, adolescentes. Adolescentes são o meu grupo etário favorito para ensinar. E, então, na Escócia, ensinei francês no que equivale, aqui, ao Ensino Médio. Então, de novo, estava ensinando aos jovens.

DR: Escrevendo o tempo todo?
JKR: O tempo todo. É.

DR: O tempo todo…
JKR: Aham. É. Há lugares que lembram de mim como muito anti-social. Alguns lugares –

DR: Verdade?
JKR: Costumava, como que, desaparecer no almoço e coisas assim. Então, eu não era muito socializada com as pessoas. E era puramente porque… digo, o que me fazia suportar o dia inteiro, particularmente nos serviços de escritório, era o pensamento de que, “ok, à 1 hora você terá uma hora para escrever. Você deixará o prédio, pode ir a um café ou o que seja” –

DR: Você era realmente induzida a escrever. É maravilhoso.
JKR: Absolutamente, e sei que se nunca tivesse sido publicado, estaria fazendo a mesma coisa.

DR: Teremos um intervalo curto aqui, e quando voltarmos, tentaremos abrir a conversa aos telefones – 1-800-433-8850 – enquanto converso com J.K. Rowling sobre sua série muito, muito popular sobre o jovem Harry Potter. 1-800-433-8850. Sou Diane Rehm. Fique conosco.

DR: … e se você acabou de se juntar a nós, temos o prazer, nesta manhã, de ter J.K. Rowling conosco. Ela é Joanne Rowling, a autora da série Harry Potter. Três livros que têm encantado leitores jovens e adultos em todo o mundo. Se você quiser juntar-se a nós, ligue 1-800-433-8850. Qual grupo etário você realmente quer atingir, Jo?
JKR: Quando estou escrevendo, não tenha qualquer meta para grupos etários. Escrevo estes livros inteiramente para mim. E, na verdade, antes – antes de minha editora britânica, Bloomsbury, dizer que eles iriam para o mercado de crianças de 9 anos ou mais, não tinha idéia alguma. Uma idéia vaga, obviamente. Digo, sabia que não eram para 3 anos, e sabia que provavelmente, pessoas de 19 anos gostariam de ler outras coisas, embora tenha encontrado muitos de 19 anos desde então, então é – é uma coisa realmente legal. A melhor idade, diria definitivamente, é de 9+ para esses livros.

DR: Há uma certa quantidade de mitologia muito sofisticada que você está tentado trabalhar neles?
JKR: Há – não estou tentando introduzi-la, mas… Se você está escrevendo um livro que, quero dizer, realmente tive de fazer uma certa pesquisa, e o folclore é bastante importante nos livros, então onde menciono uma criatura ou feitiço, que as pessoas costumam achar funcionava – é claro que não – mas, sabe, ainda é um mundo muito pitoresco e cômico de algumas formas – assim descubro quais eram as palavras, e quais são as características exatas que a criatura ou fantasma deveria ter. Mas espero que pareça discreto. As crianças me perguntam com freqüência sobre quanto da magia é, entre aspas, “real” nos livros, no sentido de: que alguém acreditaria nisso? Eu diria – a uma proporção dura – que um terço das coisas que surgem são coisas que as pessoas costumavam acreditar na Grã-Bretanha. Dois terços disso, no entanto, são invenções minhas.

DR: Quanto às palavras? Você parece ter essa facilidade maravilhosa para compor palavras – criar palavras.
JKR: Adoro compor palavras. Há algumas palavras-chave nos livros que os bruxos conhecem e os trouxas, como dizem – pessoas não-mágicas, não sabem. Bem, “trouxa” é um exemplo óbvio. Então, há “quadribol.” Quadribol é um esporte bruxo. Uma jornalista britânica me perguntou… Ela me disse, “agora, você obviamente tirou a palavra “quidditch” (“quadribol” em inglês) de “quiddity,” o que significa a essência de algo, sua natureza própria,” e fiquei realmente, realmente, tentada a dizer, “sim, você está certa,” porque soava tão intelectual, mas eu tinha que contar a verdade, que era a de que eu queria uma palavra que começasse com “Q” – em uma loucura total – e preenchi, não sei, 5 páginas de um caderno com palavras com “Q” diferentes, até que atingi “quidditch” e soube que era a perfeita – quando finalmente cheguei a “quidditch.” É.

DR: Então é assim que você forma as palavras, tirando-as de si mesma, apenas escrevendo várias vezes.
JKR: É, continuo tentando e… Sim. Preencho páginas e páginas de papel até que chegue à melhor.

DR: É como pintar uma paisagem.
JKR: Sim, de certa forma, é. Pinceladas amplas e pinceladas belas. É.

DR: Essa idéia de bruxaria… A idéia de pessoas realmente morrendo. Quão assustador você acha que isso é, em respeito aos jovens?
JKR: Hum… É assustador exatamente da mesma forma que os contos dos Grimm – Se você lê as versões originais dos contos de Grimm, nos quais muitos dos filmes da Disney são baseados, na qual muitas de nossas antologias modernas são baseadas –

DR: Branca de Neve, Cinderela, A Bela e a Fera…
JKR: Precisamente, e estas são lendas populares. E lendas são, geralmente, contadas por uma razão. São maneiras para que as crianças explorem seus medos mais escuros. É por isso que elas são eternas – que você tem um arquétipo, você tem uma madrasta má, essa figura amedrontadora que deveria educar e que não é assim. Então, essas imagens surgem de novo, novamente, outra vez… Se você lê os contos de Grimm no original, eles são bem brutais –

DR: Realmente.
JKR: – e são assustadores. E, de fato, acho, mais amedrontadores do que qualquer coisa que escrevi até agora. Digo, crianças sendo assassinadas. Há coisas horríveis. Mas isso foi séculos atrás, e não acho que as crianças tenham mudado tanto. E acho que ainda têm as mesmas preocupações, e medos. E a literatura é um modo excelente, porque eles têm que trazer sua própria imaginação a ela, então é algo em que eles realmente participam, quando criam a história dentro de sua própria mente depois de ler aquilo numa página. É um jeito fabuloso de explorar estas coisas. Agora, eu não estabeleço um pensamento, “isto é o que eles vão aprender neste livro”, nunca. Tenho um pavor real de exigir isso de alguém, ou tentar fazer, sabe, indicações enormes. Sabe, não sou induzida pela necessidade de “ensinar” algo as crianças, embora estas coisas surjam naturalmente nas histórias, o que acho que é bastante moral. Porque é uma batalha entre o bem e o mal. Mas eu acho que fingir para as crianças que a vida é limpa e fácil, quando eles já sabem – eles não precisam de mim para saber – que a vida pode ser muito difícil. Se isso não aconteceu em sua própria família, um dos pais dos amigos estará… morrendo. Ou algo – sabe, eles estão em contato com isso a uma idade muito pequena. E não é uma má idéia que encontrem isso na literatura. Não é uma má idéia que eles possam ver personagens que são – quero dizer, Harry é um garoto humano, ele comete erros, mas acho que ele veio como um personagem muito nobre, ele é um personagem corajoso e aspira a fazer a coisa certa. E ver um personagem fictício lidando com esse tipo de coisa, acho que pode ser muito, muito útil.

DR: Agora, Jo, você sabe que há uma conversa sobre banir estas histórias. Há a pergunta na mente de algumas diretorias de bibliotecas sobre se estes livros deveriam estar nas prateleiras, porque eles envolvem bruxaria, pela mente deles. Eles envolvem mortes. Envolvem algumas coisas assustadoras, com acabamos de comentar. Qual é a sua reação a esse tipo de controvérsia?
JKR: Para mim – para mim é muito simples. É claro que os pais têm o perfeito direito de decidir o que seus filhos vêem ou lêem. Eu não acho, entretanto, que eles tenham o direito de decidir o que todos os nossos filhos vêem e lêem. É algo diferente. Então essa é minha posição. Se alguém não quer ler os livros, é claro, não os leia! Mas impedir outras pessoas de lê-lo, eu acho, é muito injusto.

DR: Então tirá-los das prateleiras de livrarias ou de uma biblioteca…
JKR: Eu iria – é, tenho um problema com esse aspecto. Nenhum livro vai ser para todas as crianças, e nenhum livro vai ser recebido de braços abertos por todos os pais. O que acho é que, se banirmos todo livro infantil que menciona a magia – ou bruxas e bruxos, estaríamos – o que estaríamos fazendo? Retirando três quartos dos clássicos infantis das prateleiras de livros.

DR: Você se sente atraída, de alguma forma, pela bruxaria?
JKR: [risos] Nem um pouco. As crianças –

DR: Não achei que se sentisse.
DR: Não. Nem um pouco. As crianças me perguntam, é claro, “você acredita em magia?” e sempre disse “não, não acredito”. Eu acredito em tipos diferentes de magia. Há um tipo de magia que acontece quando você pega um livro maravilhoso, e isso vive com você pelo resto de sua vida. Esse é o meu tipo de magia. Há magia na amizade e na beleza e… Magia metafórica, é. Mas no sentido de que, se acredito que se você desenhar uma forma engraçada e rabiscada no chão e dançar ao redor dela, algo vai… Nem um pouco, eu acho a idéia, francamente, cômica.

DR: Certo. Recebemos muitas ligações. Abriremos o telefone agora. 1-800-433-8850. Primeiro para Ginger, de Jacksonville, Flórida. Bom dia!

P: Bom dia. Sra. Rowling, consegue ouvir –
JKR: Sim.

P: OK. Antes de tudo, amo seus livros.
JKR: Muitíssimo obrigada.

P: Estive escutando sua conversa nesta manhã, e sei que você esteve conversando sobre crianças e como elas vêem o mundo real, mas eu fiquei chateada e desapontada por uma reportagem que li no jornal, sobre o livro 4 – que você achava que alguém precisava morrer – ser morto por “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado” – Voldemort.
JKR: Bem, é hm… –

P: – e gostaria de perguntar a você por quê? Porque nossos filhos sabem como o mundo real é, e seus livros são uma inspiração à imaginação.
JKR: Hm… Não li esse artigo, mas tem sido… Não vou dizer que ninguém vai morrer nos livros. Não vou dizer isso. Mas dizer que eu sentia a necessidade de matar alguém, apenas por diversão, é completamente falso. Não quero fazer isso a não ser por um bom motivo. Realmente recebo cartas expressando esse tipo de ponto de vista. Pessoas dizendo, “bem, realmente amo seus livros, mas não quero que você faça isso”. Bom, rec- Não quero… Não estou no negócio para ofender alguém, não quero deixar ninguém chateado, mas a moral da história é que, tenho que estar livre para escrever os livros do jeito que quero. Não estou escrevendo a pedidos, não posso escrever sob encomenda. Agora, em um sentido, é uma coisa muito legal que as pessoas digam isso, porque significa, digo, eles –

DR: Eles se importam.
JKR: Absolutamente. Eles o fazem de todo o coração… Eles amam os personagens. Agora, essa é a melhor coisa que poderia ter acontecido. Por 5 anos estive escrevendo sobre esses personagens – ninguém lia uma palavra sobre eles. Você pode imaginar como me parece ver uma enorme fila de pessoas que sabem quem é Harry, Rony, Hermione e Hagrid – esses personagens que viveram comigo por 5 anos e ninguém sabia deles, se você ainda – digo, no outro lado do Atlântico! É a coisa mais maravilhosa para mim. Estimo, totalmente, que as pessoas sintam um interesse pessoal nestes personagens. Mas ainda tenho que poder escrevê-los da forma que sempre planejei. Sabe, eles foram tramados muito cautelosamente desde 1992. O enredo maior já está em seu lugar.

P: Você tem todos os 7 livros planejados – os esboços?
JKR: Sim, tenho.

P: É. Então você não escreveu um ou dois, e então, quando se tornaram populares, escreveu o resto.
JKR: Não, não, de modo algum. Sempre planejei que veríamos Harry começando Hogwarts até terminando Hogwarts, o que é… No meu mundo bruxo a maioridade é aos 17 anos – 17 anos. Então, no livro 7 veremos Harry chegar à maioridade, o que significa que ele poderá usar magia fora da escola, e você verá o fim daquele ano escolar. Então serão 7 anos em sua vida.

DR: Ginger, obrigado por ligar.
P: Bem, ficarei desapontado quando terminar o livro 7.
JKR: [risos] Obrigada! Obrigada por dizer isso.

DR: Muito obrigada.
P: Certo, obrigada.

DR: Jo, você perdeu alguns entes queridos em sua vida. Como isso afetou seu pensamento sobre o que as crianças sabem e não sabem?
JKR: Isso me afetou profundamente, é óbvio, e, portanto, isso está nos livros. Perdi minha mãe aos 25 anos. E aquilo e o nascimento de minha filha foram as duas coisas que mais mudaram minha vida e caráter. Nada antes ou desde então me afetou do mesmo modo que estas duas coisas. Eu não me importo nem um pouco quanto ao falatório que o prospecto de matar mesmo um personagem fictício causa. Nem um pouco. Há uma parte do livro 1 na qual Harry vê seus pais mortos em um espelho encantado. Fiquei bastante surpresa quando reli o capítulo e vi o quanto eu dei a Harry, diretamente, meus próprios sentimentos, porque eu não sabia disso enquanto escrevia. Quando estou escrevendo, tento fazer as coisas de modo apropriado – o que tem que acontecer por razões de enredo – para que as pessoas que leram o livro saibam – Harry tinha que descobrir como aquele espelho funcionava. Mas quando reli aquele capítulo, ficou muito claro para mim que eu dera a Harry quase inteiramente meus próprios sentimentos quanto à morte de minha mãe.

DR: Harry vê seus pais –
JKR: Sim. Pela primeira vez. Ele não consegue se lembrar de como eles eram. Eles morreram quando ele tinha um ano de idade.

DR: – como talvez você deseje ver sua própria mã-
JKR: Acho que todos desejamos. Acho que é algo muito comum. Tenho encontrado muitas, muitas, muitas pessoas agora que me disseram que o capítulo os comoveu, porque eles realmente têm essa sede aterradora de ver seus pais novamente. E nunca seria tempo o bastante, e esse ponto é tratado no livro. Sabe, Harry tem sua obsessão de retornar ao espelho, para ficar observando seus pais. No fim das contas, isso não é saudável. Você tem que deixar passar. E eles também gostariam que você deixasse passar. Sabe, esse é um ponto bem importante.

DR: Eu realmente consigo compreender o que você disse, já que meus pais morreram quando eu tinha 19 anos. Minha mãe tinha 49 e meu pai, 62. Então eu entendo exatamente o que você quer dizer. Faltando 25 minutos para o fim, você está escutando o Diane Rehm Show.

DR: Então vamos para outra ligação. Vamos ver. Sam, de 9 anos, na escola Landon aqui em Bathesda, Maryland. Bom dia Sam, você está no ar, e talvez saiba que meu próprio filho foi à escola Landon em Bethesda. Sam, você está aí?
P: Sim.

DR: Vá em frente.
JKR: Oi, Sam!

P: Oi!
JKR: Como está?

P: Bem.
JKR: Que bom.

DR: Você tem uma pergunta?
P: Sim. Por que você começou a escrever os livros sobre Harry Potter?
JKR: Por que comecei a escrever livros sobre Harry Potter? Há uma razão realmente boa, Sam. Eu tivera outras idéias para livros – muitas idéias para livros antes disso, e histórias curtas e poemas, e escrevera todo tipo de coisa. Essa foi a primeira idéia que eu tive que me deu um tipo de sensação física de excitação. Sabe, quando você fica realmente animado com uma coisa, seu estômago vira. Foi assim que me senti. No momento que tive a idéia, a excitação apenas me invadiu e a adrenalina me penetrou. E acho que é… Você pode, normalmente, descobrir se é uma boa idéia pelo tipo de resposta física que ela dá. Eu estava tão animada. Achei que isso seria muito divertido de escrever. E foi realmente isso o que me deu o ímpeto de continuar escrevendo sobre ele.

DR: Ótimo. Sam, obrigada por ligar!
JKR: Obrigada, Sam!

DR: Certo, vamos a Cincinnati, Ohio, e para Celeste. Bom dia!
P: Oi!
JKR: Oi, Celeste.

DR: Como você está?
P: Estou bem.
DR: Que bom!
P: Eu tenho, na verdade, duas perguntas.
JKR: OK.

P: Uma delas é quanto ao quadribol, quando a Corvinal joga contra a Lufa-Lufa. Se o apanhador da Corvinal apanhou o Pomo, mas a Lufa-Lufa ainda estava à frente deles em quantidade pontos, pelos gols que fizeram, quem ganharia?

JKR: Bom, é uma per- Para as pessoas que não leram os livros, Celeste se provou uma verdadeira fã ao fazer uma pergunta realmente técnica sobre quadribol, que é o esporte bruxo. OK, então eu vou responder para a Celeste, mas isso será completamente impenetrável para muita gente. É possível, Celeste, que o time vença, mesmo que não apanhe o pomo, mas eles têm que ter mais de 150 pontos em gols. OK? Então pode acontecer. E acontece. Isso me faz soar completamente insana, saber de todas essas coisas, mas é claro que sei, é o meu mundo. Isso acontece mais em níveis mais altos de quadribol, quando a pontuação é um pouco maior.

P: OK.
JKR: Então, isso acontece normalmente. Mas, no quadribol escolar, normalmente se você apanha o pomo, como sabe, você vence. É o que normalmente acontece.

P: E também gostaria de saber… Um amigo meu me disse que tinha ouvido que vão fazer um filme?
JKR: Sim, é verdade. Os direitos para o filme foram vendidos, e no momento, até onde eu sei, o filme deve estar sendo feito – ou finalizado e pronto para ser assistido no verão de 2001.

P: OK.
JKR: OK! Muito obrigada por ligar.

P: Obrigada!
JKR: Tchau!

DR: Obrigada. Como você se sente sobre o filme… os negócios?
JKR: Me sinto realmente animada. Eu, na verdade – coincidentemente, porque a Celeste acabou de perguntar sobre isso – por causa do quadribol. Porque vi o jogo na minha cabeça por anos. E, na verdade – imaginar poder assisti-lo, literalmente assisti-lo, seria a coisa mais fabulosa.

DR: Mas isso não o leva a uma dimensão diferente?
JKR: Sim, é. É claro que sim. Então eu – sim, estou muito empolgada, e, é claro, estou nervosa. Não há um autor no mundo que se importe com seus personagens que não fique nervoso, quando eles são levados às telonas. Mas devo dizer que nunca venderia os direitos para a Warner Bros. se não acreditasse que eles fariam o melhor trabalho com o filme, e se eles fizerem o que dizem que farão, eu verdadeiramente acredito que será um ótimo filme. E é o que importa. Eu preferiria dar a alguém que me dê alguma importância, e, sabe, posso expressar meus pontos de vista e eles estão muito abertos a escutar o que, sabe, o que acho sobre isso, melhor do que deixar outra pessoa fazer isso – talvez depois de ter sido atingida por um ônibus – quando eu não pudesse dizer uma só palavra, e não seria feito do jeito que gostaria de ver.

DR: Mas quanto controle final você realmente tem?
JKR: Bem, estamos num estágio muito primário agora. Tenho a aprovação do roteiro, mas os roteiros ainda não estão terminados. A Warner Bros. tem desejado bastante ouvir minhas opiniões sobre todo tipo de coisa. Eles têm um roteirista realmente ótimo, Steve Kloves, com quem eu não poderia estar mais contente. Ele teria sido minha primeira escolha. Ele tem um senso de humor muito parecido com o meu. Ele realmente entende os livros – ele realmente gosta de Hermione, o que não é muito comum, então estamos OK. Então, até agora estou realmente feliz.

DR: Veremos o que vai acontecer.
JKR: Veremos.

DR: Certo, vamos a mais perguntas, que começarão após uma breve pausa – 1-800-433-8850 – Sou Diane Rehm. Fique conosco.

DR: E seja bem-vindo novamente. J.K. Rowling está comigo – a autora da série de livros extraordinariamente popular Harry Potter, publicada pela Editora Scholastic em Nova Iorque. E os primeiros três já saíram, e estão na minha frente. Sei que temos muitos fãs jovens e adultos. Um leitor, Marty, se diz um leitor adulto. Ele diz que ama os livros, mas acha difícil aceitar que eles sejam, na verdade, para crianças.
JKR: Bem, é um ponto interessante, porque… Nunca os vi como, sabe, exclusivamente para crianças, nunca. É como eu disse, eu tinha 30 anos quando terminei o livro 1. Tenho agora 34. Ainda estou escrevendo o que sei que gostaria de ler agora. Mas sei que teria gostado de lê-lo quando era muito mais jovem. Depende do que Marty quer dizer. Digo, certamente o senso de humor é meu. Não é o que eu acho que as crianças vão achar engraçado, é o que eu acho engraçado. Então, sim, estou escrevendo para qualquer um que queira ler os livros – qualquer um mesmo. Espero que tenha respondido à pergunta.

DR: Você terminou de escrever quando tinha 13 anos?
JKR: 30. Oh, queria ter terminado quando tinha 13.

DR: Oh, desculpe. Uau, achava que você tinha dito 13.
JKR: Não, 30, comecei a escrever quando tinha 25 anos. Mas durante esses 5 anos, estive trabalhando em período integral. Então, eu tinha limites – bem, em 4 desses anos estive trabalhando por um período integral, e num deles fui uma mãe solteira, o que foi, realmente, um trabalho mais árduo.

DR: Sim. Agora fale sobre o seu casamento, seu divórcio e sua filha.
JKR: Bem, basicamente, meu casamento acabou. Estava morando e lecionando no exterior – em Portugal; me mudei para a Escócia para ficar perto de minha irmã e, obviamente, voltei a uma vida na qual não tinha nenhum trabalho, e não tinha muito dinheiro. Por cerca de um ano, realmente não tivemos quase dinheiro algum.

DR: O que isso significou?
JKR: Bem, era insegurança financeira, como qualquer pessoa que está nessa situação sabe. A principal preocupação é… O estresse de ter muito pouco dinheiro e uma filha, e os sentimentos de culpa de, sabe, se vou poder dar uma vida apropriada a ela. Tinha, sabe, realmente queria sair e trabalhar de novo. Mas, como incontáveis mães sabem aqui e na Grã-Bretanha, você fica presa em um tipo de armadilha.Os cuidados com uma criança são caros. Você tem que arranjar um emprego que pague bastante dinheiro para poder pagar uma creche boa, e poder trabalhar. Então você fica presa nesse tipo de círculo vicioso. Mas depois de cerca de um ano eu sai dali, e comecei a ensinar de novo. E a vida, sabe, se tornou muito mais segura. Não freneticamente segura, porque eu não ensinava o dia todo, numa época. A ironia é que, nunca pensei que os livros seriam financeiramente viáveis. Tinha sentimentos de enorme culpa por minha ânsia de escrever, porque pensava, “isso é muito auto-indulgente? É minha paixão, mas tenho uma filha para cuidar agora”. E o meu realismo – bem, minha ambição mais esperançosa era de que o livro ganharia dinheiro o suficiente – meio que pagaria por si mesmo, se você entende o que quero dizer. Custe o que custar, mesmo que fique presa a papéis e máquinas de escrever.

DR: É claro. É claro, porque você era tão induzida a escrever.
JKR: Absolutamente, e apenas pensei, se pudesse dizer, sabe, “consegui 2000 libras” – o que para mim, à época, era muito dinheiro – se apenas pudesse dizer que achava que poderia justificar um trabalho em meio período e a escrita no outro. Mas realmente achava que tinha que ganhar algo, porque, de outra forma, sentia que estava traindo minha filha.

DR: Então, agora é diferente.
JKR: Muito diferente, porque agora posso me dar ao luxo de escrever em período integral, o que foi minha ambição por toda a vida. Nunca sequer sonhei que poderia chegar aqui. É ainda… eu ainda – eu freqüentemente acho que vou acordar e perceber que tive esse sonho, no qual estava fazendo um tour pela América e tendo um grande sucesso.

Como: Como isso mudou sua vida?
JKR: É muito… É uma coisa estranha, porque, em alguns pontos, minha vida não mudou nem um pouco. As pessoas podem achar difícil de acreditar, mas ainda sou uma mãe solteira muito feliz; estou fazendo todas as coisas mundanas; ainda estou, sabe, fazendo chá e dando banho no coelho; escrevendo em casa – não é uma existência glamurosa, mas é a vida que sempre quis ter. Então, do ponto de vista básico – de dia-a-dia – minha vida normal não tem mudado muito. Exceto que já não há tanta preocupação. Essa é a grande coisa. Já não me preocupo com o dinheiro – bem, eu ainda me preocupo com o dinheiro, porque acho que ele irá embora, sabe, ainda não me acostumei com a idéia, mas não preciso preocupar. Mas… Então… Vim à América por três semanas. E é como atravessar um vidro, e, de repente, saio dessa existência quieta, onde estamos eu e meu bloco de notas em algum café escuro em algum lugar escrevendo, para isso – ser entrevistada no rádio. E então, obviamente, é uma mudança muito grande. Isso não costumava acontecer.

DR: Você se sente estupefata?
JKR: Hum… Eu me sinto… abalada. Pelo calor da reação. Realmente, realmente me sinto. Mas é uma coisa maravilhosa. “Estupefata” implica em que eu não esteja gostando disso, que vou ao meu quarto de hotel e choro. Não. Não o faço. Me sinto chocada, mas no melhor sentido, sabe. Me sinto bastante chocada. É como caminhar para uma parede de… Digo, fui… Ir a uma livraria e ter crianças aplaudindo e gritando, sabe, e você está olhando por cima de seu ombro se perguntando qual Spice Girl aparecera, e então você percebe que isso é por um livro. É a melhor coisa do mundo. Nada é melhor que isso, e é absolutamente fabuloso.

DR: Como está sua filha?
JKR: Bem, minha filha, ela hmm… Tenho mais orgulho dela do que dos livros de Harry, e isso é realmente alguma coisa. Ela é, absolutamente, ótima. Mas ela – para ela – é uma coisa engraçada, porque ela não consegue lembrar da vida ser muito diferente. Ela era, é óbvio, muito pequena quando estávamos realmente quebradas, e não tem qualquer lembrança daquele período, o que é legal. Ela sempre me viu escrevendo, sempre esteve acostumada comigo dizendo, “Espere! Espere dois segundos enquanto escrevo isso.” “Espere, a Mamãe tem que escrever isso”, então é algo que ela tem suportar da Mamãe. Apenas quando ela começou a escola que, pela primeira vez, ela percebeu que o que eu fazia não era completamente normal, porque muitas das crianças mais velhas no parque a cercavam, dizendo “Sua mãe realmente escreveu os livros de Harry Potter?” Porque eles os estavam lendo na escola – na Escócia eles são lidos em muitas salas de aula. Então isso – então pela primeira vez ela estava voltando para casa, me perguntando o que estava acontecendo.

DR: Ela os leu?
JKR: Eu li o pri… – bem recentemente – eu jurei que não leria para ela até que ela fizesse sete anos. Mas ela me importunou, importunou e importunou, e finalmente decidi que era quase injusto privá-la disto, porque, sabe, – ela precisava saber do que todas essas crianças estavam perguntando a ela o tempo topo. Então, li para ela o primeiro, estamos atualmente no livro dois, e ela realmente os ama.

DR: E você está lendo em voz alta para ela.
JKR: Os leio em voz alta para ela – ela consegue ler sozinha. Quero dizer, sentei e a ouvi outro dia e debulhei em lágrimas.

DR: Agora, você os leria para gravar?
JKR: Não. Eu realmente odeio o som da minha própria vez em fitas. Então, me pediram, na Grã-Bretanha, e disse que não suportaria fazer isso. Na Grã-Bretanha – as versões britânicas são lidas por Stephen Fry, que é um ídolo meu – o idolatrei desde minha adolescência, então encontrá-lo já é alguma coisa. E ouvi-lo lendo meus livros foi incrível. Ele é um cara muito, muito engraçado. Ele é fantástico. E aqui na América – a versão americana das fitas é lida por Jim Dale, e as ouvi recentemente e as adorei também.

DR: Maravilhoso.
JKR: É, estou muito contente com eles.

DR: Certo, de volta aos telefones e a – hm – Ann Arbor, Michigan, vamos a Laurie! Você está no ar.
P: Bom dia, Diane.
DR: Bom dia!

P: Eu, antes de tudo, gostaria de dizer que sou mãe de uma garota de 11 anos, e ela me forçou a ler estes livros, mas fui cativada. Eles são tão maravilhosos, e realmente sugeriria aos pais cujos filhos estão lendo estes livros, eles precisam ler os livros também, são tão maravilhosos. São leves e imaginativos. E eu morreria se pudesse jogar quadribol! Morreria [Jo e Diane riem]. Maravilhoso. Mas tenho uma pergunta. Sempre tive interesse em autoras que escolhem homens como seus protagonistas. E estive pensando se você sabe, Sra. Rowling, por que – quando você estava naquele trem e a figura de Harry veio à sua mente – por que ele era um garoto – um garoto de 10 anos – e não uma garota. Se você já pensou nisso.
JKR: Eu tenho, mas isso é, na verdade, muito, muito astuto da sua parte, porque ninguém jamais – já me fizeram essa pergunta antes, mas nunca a respondi, e você me disse “se você sabe” e é isso. Ninguém – digo, não sei por que isso – por que Harry veio a mim. Não, não sei por que ele era um menino. Mas se eu já tinha pensado nisso? Sim, definitivamente. Estivera escrevendo o livro por 6 meses, e, de repente, parei, e, digo – levou 6 meses porque estava me divertindo muito – e, repentinamente, parei e pensei “espero, sou, obviamente, mulher, e meu herói é um menino! Como isso aconteceu?” Mas já era tarde demais. Era tarde demais para fazer de Harry, Harriet. Ele era muito real para mim como um garoto. Teria – sabe, colocá-lo num vestido me faria sentir como um Harry não-convincente. Não consegui – tinha entrado muito a fundo nele para dar a volta e fazer dele uma garota. Então, eu acho – de novo isso é uma questão de liberdade. Você tem que ser livre para escrever o que quer. Não estou no negócio de colocar personagens simbólicos ali, porque acho “OK, agora, hoje precisamos, sabe, deste tipo de personagem”. Nunca faço isso. Meus personagens vêm organicamente, e vêm através deste processo misterioso que ninguém realmente entende. Eles apenas estouram, ou… Mas eles são, às vezes, inspirados em pessoas reais. Hermione é – Hermione, a amiga de Harry, Hermione, é realmente o cérebro do grupo. Qualquer um que tenha lido os livros saberá disso. E ela é uma caricatura minha de quando tinha 11 anos. Agora, Harry – Hermione é muito, muito querida por mim por causa disso. Entendo-a implicitamente. Ela não é, exatamente, como eu, porque os personagens sempre se tornam algo de diferente nas páginas. Então, sinto que tenho uma personagem feminina na história, na qual eu ponho muito de mim mesma.

DR: Acho que a experiência, Laurie, de ler os livros com sua filha realmente vai estabelecer uma ligação que durará pelo resto de suas vidas.
P: Concordo com você.
DR: É algo que realmente atrai vocês juntas e cria memórias – realmente especiais.
JKR: É a coisa mais legal que poderia escutar, porque ler em voz alta é tão importante.

DR: Laurie, obrigada por ligar.
JKR: Obrigada.
DR: A 7 minutos do término, você está escutando o Diane Rehm Show.

DR: E… vamos ao St. Louis, Missouri. Jerry, obrigado por se juntar anos.
P: Bem, obrigado por atender minha ligação.
DR: Claro.
JKR: Oi.

P: Gostaria de dizer, comprei o primeiro livro – quando ouvi sobre ele na NPR cerca de um ano atrás, quando ele veio pela primeira vez aos Estados Unidos – para minha esposa. E eu mesmo li, é claro. E nós dois gostamos, e ansiamos por ler o resto de seus livros.
JKR: Oh, muito obrigada.

P: E nosso grupo de leitura, que – lemos um livro por mês, vai ler o primeiro livro em novembro.
JKR: Oh, é sério? É fantástico!

DR: É maravilhoso. E é, suponho, um grupo de leitura adulto.
P: Ah, é. Então, você está fazendo uma tour de assinaturas, aparentemente. Você virá a algum lugar em St. Louis?
JKR: Se vou estar em algum lugar em St. Louis… Hm…

DR: Sabe, é que a agenda não está aqui agora, Jerry, então…
JKR: Não acho que vamos estar, Jerry, e realmente sinto muito por isso, porque gostaria de conhecer você e seu grupo de leitura. A agenda está realmente, realmente apertada, e de fato –
DR: Suponho.
JKR: Sim, é – vamos para Atlanta hoje, e depois Chicago. Então, Los Angeles e São Francisco.

DR: Então, talvez, na próxima.
JKR: Talvez na próxima, sim, definitivamente.

DR: Jerry, obrigada por ligar.
JKR: Obrigada!

DR: Hm, todo esse fenômeno, aqui no país. Reconheço que você não esperava nem um pouco disso, mas você ficou surpresa, especialmente, com os Estados Unidos?
JKR: Hmm… Fiquei, e ainda… Quando olho para trás e penso, “bem, por que você era assim?” A primeira leitura que fiz nos Estados Unidos, que foi nesta época do ano passado, lembro que me sentia incrivelmente nervosa no carro, a caminho de lá. Ia ler para cerca de 50 crianças. E, estive pensando no carro, se estivesse a ponto de ler para 50 crianças britânicas, não estaria tão nervosa. Porque sei onde as risadas vão vir; conhecia a leitura que estava fazendo; sempre sabia onde eles riam, o tipo de perguntas que faziam, e estive pensando – mas parece que estou em um novo território. Comecei a ler. No momento no qual teria os primeiros risos na Grã-Bretanha, tive uma gargalhada enorme. E meus nervos completamente desapareceram. Crianças são crianças, em todo lugar. E tenho o mesmo tipo de reação aqui. E – então agora olho para trás e penso, bem, “como você era estúpida. Por que teria sido diferente?”, sabe?

DR: Você tem o último capítulo –
JKR: É, do 7º livro. Escrito.

DR: – do 7º livro, já escrito.
JKR: É, e eu estou começando a pensar que deveria colocá-lo em um cofre. Digo, uns amigos meus riram de mim, quando começasse a contar isso para ele – eles diziam, “sabe, você deve ser cuidadosa, porque e se um fanático entra na sua casa e o encontra?” E apenas ria. E as crianças – filhos de amigos meus – começaram a brincar, e fingiram, sabe, entrar no meu escritório e procurar por ele. E o tenho realmente escondido agora. Porque, digo, seria um desastre absoluto se qualquer um lesse isso antes – antes de ser publicado. Então é, pode ser que tenha que ir para um cofre.

DR: Bem, estou muito contente por seu sucesso.
JKR: Muitíssimo obrigada.

DR: Fico muito contente que você tenha levado tantos jovens a lê-los.
JKR: Não há nada, nada melhor que isso. Não há um elogio melhor. E conheci muitos pais na Grã-Bretanha – e, agora, aqui – que me disseram, “Oh, ele não lia”, ou “ela não lia”, e –

DR: Exatamente.
JKR: E isso é, absolutamente o melhor elogio. Me faz sentir como se eu não fosse um desperdício de espaço nesta Terra, afinal.

DR: J.K. Rowling, e ela é a autora da série enormemente popular de Harry Potter. Quero muito agradecer – você é uma pessoa muito incrível de se conversar.
JKR: Muito obrigada. Realmente, muito obrigada.

DR: E desejo a você todas as coisas boas.
JKR: Obrigada, Diane.
DR: Obrigada por estar aqui.

Traduzida por: Renan Lazzarin em 30/09/2008.
Revisado por: Renata Grando em 19/10/2008.
Postado por: Vítor Werle em 21/10/2008.
Entrevista original no Accio Quote aqui.