Memmott, Carol. “A recordação carinhosa de J.K. Rowling a respeito de Harry Potter”. Usa Today, 25 de julho de 2007.

Nos cinco dias desce que Harry Potter e as Relíquias da Morte foi lançado no frenesi mundial, J.K. Rowling ajudou sua filha de dois anos a montar uma nova casa de bonecas, limpou seu aquário a foi ao mercado comprar frango – sinais seguros de que ela está pronta para voltar à uma vida normal.

Ou o mais normal possível quando você é o autor do momento da indústria literária e, com lucros de quase $1 bilhão, provavelmente é tão rica quanto.

A série de sete livros de fantasia de Rowling sobre um menino bruxo quebrou os recordes de publicação. Relíquias da Morte, o último volume, entra hoje na lista de Livros Mais Vendidos do USA Today em primeiro lugar depois de vender um recorde de 8,3 milhões de cópias em 24 horas no último final de semana nos Estados Unidos.

Em uma entrevista dada na quarta-feira com USA Today no hotel, a autora britânica diz que está triste pela série Harry Potter ter um fim, mas está entusiasmada com os dois novos projetos literários que ela começou – uma para crianças, outro para adultos.

Rowling, 41 anos, acredita que seus livros sobre Potter serão lidos nos anos que ainda virão – “Se eu acho que eles irão durar? Honestamente, sim” – mas ela não tem ilusões sobre duplicar seu sucesso.

“É claro que não escreverei algo tão popular como esse novamente”, Rowling diz. “Mas eu já sabia verdadeiramente desde 1999, quando a coisa começou a ficar um pouco insana. Então eu tive um longo tempo para saber, e eu aceito isso”.

Então Rowling está pronta para seguir em frente, mas sem antes dar uma cutucada naqueles que publicaram spoilers na Internet dias antes de Relíquias ser publicado. Fotos digitais de cada página do livro foi colocada na rede por um grupo desconhecido.

“Eu senti raiva”, ela diz, sua voz ficando mais alta conforme ela fala sobre o fato. “Eu sabia que era sobre o ego de outras pessoas”. Ela disse que estava preocupada com seus jovens fãs, “os de 10 – e 11 anos que realmente não queriam saber o final” do livro até que eles tivessem a chance de lê-lo.

Dois dias antes da publicação de Relíquias à meia-noite da última sexta-feira, Rowling, diz, ela estava alarmada sobre o quão predominante os spoilers haviam se tornado na Internet. Ela assemelhou isso a ver vários vazamentos em uma represa. Era inevitável, talvez, com um livro de interesse internacional sendo publicado na era da Internet, mas não menos entristecedor.

“O (vazamento do) epílogo foi o que mais me entristeceu”, ela disse, “eu havia trabalhado naquele ponto por um longo tempo. Eu realmente tive uma falha no meu senso de humor quando o epílogo apareceu”.

Apesar de sua proteção feroz à parte final da série Potter semana passada (ela também foi contra o New York Times depois que o jornal fez uma crítica antecipada), Rowling está agora ávida para falar sobre o que acontece à Harry.

Alerta de spoiler: Se você quer ler sobre o que Rowling diz à respeito de quem vive e morre, clique aqui.

A história de sucesso fenomenal da mãe solteira Joanne Rowling se tornou lenda. Rowling – pronunciado como “rolling”, e seus amigos a chamam de Jô – escreve em seu site que em 1990, enquanto estava em um trem na Inglaterra de Manchester para Londres, “a idéia para Harry Potter simplesmente apareceu na minha cabeça”. Ela começou a escrever naquela noite.

Mais tarde naquele ano, a mãe de Rowling, que sofria de esclerose múltipla, morreu aos 45 anos. Desolada e precisando de uma mudança, Rowling mudou-se para Portugal, onde ensinava inglês. Ela trabalhou em seu romance, se apaixonou e casou-se com um jornalista português. O casamento não durou e em 1994, Rowling e sua filha pequena, Jessica, mudaram-se para Edimburgo para ficar perto da irmã de Rowling.

Com a crescente pressão para sustentar a si própria e a filha, Rowling continuou a escrever, geralmente nos cafés de Edimburgo, enquanto Jessica cochilava em seu carrinho.

Rowling terminou Harry Potter e a Pedra Filosofal, encontrou um agente, e em 1996, a editora britânica Bloomsbury fez a ela uma oferta. O livro foi publicado no Reino Unido em 1997 e nos Estados Unidos em 1998.

Crianças e adultos ficaram arrebatados pela história mágica sobre um órfão de 11 anos que descobre que é um bruxo quando ele é aceito na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

O resto é história literária.

Dinheiro nunca mais será um problema para Rowling. Ela é considerada como a segunda mulher mais rica do entretenimento em uma lista da Forbes de 2007, que calculou um lucro de $1 bilhão. Ela só perde para Oprah Winfrey (lucro calculado: $ 1.5 bilhão).

“O dinheiro era a última coisa que eu esperava porque eu estava bem acostumada a ser bem pobre”, Rowling diz, “Nunca nos meus mais loucos sonhos – e como já sabemos, eu tenho uma boa imaginação – eu havia sonhado em ter um centésimo ou milionésimo do dinheiro que Harry me trouxe”.

Na Escócia, ela tem apoiado instituições beneficentes que ajudam mães solteiras e pessoas com esclerose múltipla.

“Eu acho que você tem uma responsabilidade moral, quando você tem recebido muito mais do que precisa, para usa-lo de forma sábia e doar inteligentemente,” ela diz.

Pessoas que a conhecem dizem que ela não mudou muito desde que o primeiro livro foi publicado.

“Na maior parte ela continua a mesma pessoa ela era há 10 anos atrás”, diz David Heyman, produtor dos cinco filmes de Harry Potter lançados até agora, o que tem arrecadado $1.4 bilhão nos Estados Unidos. “Só que agora ela pode comprar roupas melhores e sua casa é bem melhor. Ela quer ser tratada como uma pessoa normal”.

Rowling e sua família – Jessica faz 14 anos na sexta-feira; Rowling e Murray são os pais de David, 4 anos, e Mackenzie, 2 anos – passam a maior parte do tempo em sua casa em Edimburgo. Eles têm outra nas montanhas escocesas e uma em Londres.

“Eu sinto que 80% de minha vida é completamente normal”, Rowling diz. “Isso envolve a criação dos meus filhos, eu indo ao supermercado e apenas vivendo normalmente. Meu marido e eu ambos trabalhamos. Dez por cento é fabuloso quando você é convidada para uma estréia de Harry Potter e você se diverte muito lá. E 10% é o lado ruim quando você tem jornalistas de tablóides batendo na porta da casa de seus familiares oferecendo dinheiro se eles contarem alguma coisa”.

‘A magia… permanecerá’

Enquanto o último livro continua a voar das prateleiras, há muita discussão na indústria literária sobre o legado de Rowling – e se as gerações futuras de jovens leitores que perderam a Década Potter seguirão os livros e filmes com a mesma paixão daqueles que cresceram com Harry. Muitos livreiros acreditam – e esperam – que sim.

“Harry Potter é um clássico e continuará a vender” diz Ann Binkley da Borders, uma rede de livrarias nacional. “Os livros sempre encontrarão novos leitores por cause desse mundo incrível que Rowling criou. Eu acho que a magia de Harry Potter permanecerá por muitos anos”.

Rowling acha que os livros terão que provar seu próprio valor. “Quando toda a publicidade e tudo o mais se aquietar, eles terão que vir à tona ou afundar-se por seus próprios méritos, não é? Então daqui a 50 anos, se as pessoas ainda estiveram lendo-os, eles merecem ser lidos, e se elas não estiverem, então está tudo bem”.

Seu trabalho, Rowling diz, está feito. Agora é com os livros. Mas não importa o que ela escreva no futuro, ela sabe que será comparado ao seu amado menino bruxo. (Rowling diz que ela “tem mais sorte que muitos escritores” pois ela terá Harry por mais alguns anos. O sexto filme de Potter está marcado para ser lançado em Novembro de 2008, e será seguido de um sétimo filme).

Na edição de 13 de julho da Entertainment Weekly, Stephen King, um fã de Potter, lamentou o fim da série, escrevendo que “Rowling seguirá quase que certamente para outros trabalhos, e eles serão ótimos, mas não será exatamente o mesmo, e tenho certeza que ela sabe”.

Rowling concorda e diz saber que as expectativas para livros futuros serão enormes, particularmente dos fãs de Potter.

“Acho que haverá certo desapontamento se eu não escrever outra fantasia”, ela diz. “Mas eu devo admitir, eu penso que tinha feito minha fantasia. Criar outro universo de fantasia seria errado, e eu não sei se sou capaz disso”.

Ela diz que quer tirar um bom tempo para ficar com a família. Mas as boas notícias, fãs de Potter – ela está escrevendo.

“Estou meio que escrevendo duas coisas no momento”, ela diz. “Uma é para crianças e outra não é para crianças. O estranho é que foi exatamente assim que comecei a escrever Harry. Eu estava escrevendo duas coisas simultaneamente por uma ano antes de Harry assumir. Então um expulsará o outro no devido tempo, e eu saberei que este é o meu próximo trabalho”.

Mas poderá demorar um tempo antes que o mundo veja outro livro dela.

“O que é bem animador é que no meio de toda essa tristeza que eu senti com o final de Harry – e eu sinto muita tristeza sobre isso – é considerado que financeiramente eu não preciso publicar imediatamente,” ela diz. “Então eu posso aproveitar meu tempo. E a idéia de apenas passear até um café com um caderno e escrever e ver aonde isso me leva por um tempo é uma alegria. O paraíso. Sem pressão”.

Traduzida por: Dérick Andrade Moreira em 19/09/2008.
Revisado por: Fabianne de Freitas em 21/09/2008.
Postado por: Vítor Werle em 08/10/2008.
Entrevista original aqui.