Bradley, Ed e Stahl, Lesley. “Vendas do livro Harry Potter disparam no mundo inteiro”. 12 de setembro de 1999.

Um pequeno garoto chamado Harry Potter está fazendo mágica no mundo dos livros. Os dois primeiros livros de Harry Potter estão no topo na lista de mais vendidos e o terceiro está prestes a se juntar a eles.

BRADLEY: Se você não conhece, seus filhos certamente devem conhecer. Um pequeno garoto chamado Harry Potter está fazendo mágica no mundo dos livros. Os dois primeiros livros de Harry Potter estão no topo na lista de mais vendidos e o terceiro está prestes a se juntar a eles. Publicado nos EUA essa semana, pedidos adiantados pelo novo livro totalizaram mais de um milhão de cópias, um milhão de cópias das aventuras do jovem bruxo que é a criança inteligente da escritora britânica Joanne Rowling.

Como Lesley Stahl descobriu, todo esse sucesso é um pouco impressionante para ela.

STAHL: Joanne Rowling, uma mãe solteira de 34 anos e atualmente a escritora mais bem sucedida do mundo, mora e escreve nas sombras de Edimburgo na Escócia.

ROWLAND: Basicamente a história é que Harry não é apenas um bruxo, ele é um bruxo famoso, o que ele não descobre até ter 11 anos. Ele descobre porque ele tem uma cicatriz em forma de raio na sua testa. Ele descobre que seus pais foram assassinados e que o que ele deve fazer sobre isso, e também a confrontar a pessoa que os assassinou.

STAHL: Harry Potter é uma história conservadora sobre o triunfo do bem sobre o mal, mas cheia de escapes e surpresas: crianças em vassouras, corujas que entregam as cartas. Tudo se passa em uma escola-internato britânica apenas para jovens bruxos chamada Hogwarts. Há milhares de nomes engraçados como: o diretor Dumbledore, o malvado Lord Voldemort, a amiga sabe tudo de Harry, Hermione. Fica bem aparente que Joanne nasceu para brincar com as palavras.

ROWLING: Eu costumava coletar nomes de plantas que soavam meio bruxas, e então eu encontrei, “Culpepper’s Complete Herbal” (um tipo de guia completo sobre plantas), e foi a resposta para todas as minhas preces.

STAHL: Harry Potter nasceu na imaginação de Joanne a 10 anos atrás.

ROWLING: Eu fazia desenhos dos personagens.

STAHL (estrevista): Ah, você fazia?

ROWLING: Sim. E ninguém viu esses aqui também.

STAHL: Ah, esses são desenhos que você mesma fez.

ROWLING: Sim.

STAHL (comentando): Os desenhos, que uma vez ela considerou usar nos livros, são surpreedentemente detalhados; Harry, o seu malvado primo Duda, as poções mágicas de Hogwarts, a Professora McGonaggal. Essas imagens se transformaram em personagens de verdade que agora cativam tantas crianças. Professora McGonagall assistia a eles transformando um rato em uma caixa de rapé. Pontos eram dados para as caixas mais bonitas, mas eram tirados se tivessem pêlos.

(na entrevista): Realmente pega as crianças. Pega eles bem no estômago e eles adoram. Eu ouvi falar de crianças que já leram sete, oito vezes.

ROWLING: Eu já conheci crianças assim. E eu conheci uma mãe em uma fila de sessão de autógrafos há não muito tempo que disse pra mim, “meu filho está aqui e ele quer conhecer você, mas ele estava muito envergonhado pelo estado do livro dele pra pedir pra você autografar”. E ele estava todo amarrotado e coberto de sujeira, e a capa estava caindo. E eu fiz ela buscá-lo porque é exatamente assim que eu quero que meus livros fiquem. Eu não tenho problemas com pessoas assim; essas pessoas que não estalam a coluna quando lêem um livro. Eu digo estalem as espinhas e leiam, porque é pra isso que ele serve.

STAHL: Há tanta gente estalando a coluna lendo os livros dela que Rowling virou um símbolo de publicações com proporções históricas.

EDEN ROSS LIPON: Está nos livros infantis americanos sem precedentes. É sem precedentes nos livros infantis ingleses.

STAHL: Eden Ross Lipson é editor dos livros infantis do “The New York Times

LIPSON: Não há nada que compare com a velocidade e o sucesso de Harry Potter.

STAHL: Nada, nunca?

LIPSON: Não mesmo.

STAHL: Ter três livros no topo dos mais vendidos ao mesmo tempo, esqueça dos livros infantis.

LIPSON: Bom, esse é o ponto, que não há precedentes para três livros envolvendo os mesmos personagens estar na lista adulta de livros mais vendidos ao mesmo tempo.

STAHL: Christopher Little, o agente literário de Rowling, diz que os livros estão agora traduzidos em 26 línguas em 140 países.

(entrevistando): Você tem alguma idéia de quantos livros foram vendidos até agora, ou uma margem?

LITTLE: Passará de oito milhões hoje.

STAHL: Oito milhões?

LITTLE: Mas se você quiser esperar até amanhã mais tarde, provavelmente terá vendido uns 9 milhões.

STAHL: O que faz de Rowling o sucesso que é, é o que vem a seguir. Em 1994, quando o seu casamento com um jornalista português entrou em colapso, ela se mudou para Edimburgo, Escócia. Ela tinha poucos amigos e poucas perspectivas e foi parar em uma pensão, de fato pulando refeições para ter certeza que ela teria dinheiro o suficiente para o bebê dela de 4 meses. E enquanto pensava em si mesma como uma escritora, ela nunca tinha publicado nada.

ROWLING: Alguém, um jornalista, de fato disse pra mim outro dia, “Então você escreveu sua primeira história em guardanapos, guardanapos de papel?”.

STAHL: Porque você não podia pagar por papel.

ROWLING: Sim, o que está rolando por aí um pouco, até por mim. Não, eu não escrevi em guardanapos. Eu podia comprar papel e canetas, sim.

STAHL: Mas você estava em uma pensão.

ROWLING: Sim, eu estava.

STAHL: Então você estava em maus lençóis.

ROWLING: Sim, eu estava em piores lençóis do que jamais estive antes, sim.

STAHL: Ela vinha brincando com a idéia de Harry Potter por anos até aquela época, e ela diz que sempre escreveu, desde que ela era uma garotinha crescendo no sul da Inglaterra. Mesmo quando ela trabalhava como professora, ela estava apenas juntando os tempos.

ROWLING: O que mais me alegra — Eu procurei isso ontem à noite para lhe mostrar, e a coisa mais engraçada era que essa era minha história de emprego. São os versos das folhas que eu deveria estar fazendo no trabalho, e na frente você tem um pouco do que eu escrevo. Isso é bem antigo. É uma cópia de um livro de quando eu ensinava em Portugal. E obviamente,isso é o que eu deveria estar fazendo para as crianças, e nos fundos você tem todos os fantasmas da Grifinória.

STAHL: Grifinória é um dos dormitórios em Hogwarts. Isso pode parecer um monte de rabiscos, mas é na verdade uma parte de um grande plano maior. Muito antes de ser publicada, Rowling tinha sete livros de Harry Potter meticulosamente planejado em mente; um para cada ano que Harry passa na escola de bruxos. Mas antes que você assuma que ela é compulsivamente organizada…

(na entrevista):Você vai ter que pegar a caixa. É muito pesada para apenas mostrar? Essa é a seção de arquivos.

ROWLING: Uma de muitas, muitas caixas no meu quarto.

STAHL: Como você encontra as coisas?

ROWLING: Bem, surpreendentemente eu encontro tudo. Eu sei que essa é a caixa número um, então eu sei o que tem na caixa número um. Mas é legal porque você começa a futricar nela e de repente você pensa, “Oh, sim, aqui está aquilo”. Então se eu arquivasse mais eficientemente eu não teria essa espécie de sorte.

STAHL: Uma coisa é uma caixa cheia de notas, outra é transformar aquilo tudo em um livro. Lá em 1994 com um bebê e sem dinheiro, Jo Rowling sabia que ela deveria escrever rápido ou simplesmente esquecer.

ROWLING: Então eu decidi que aquela seria minha última tentativa de publicar o livro. Então eu caminhava por Edimburgo carregando minha filha no carrinho e esperava até que ela dormisse. Então, eu literalmente saía correndo para a cafeteria mais próxima e escrevia enquanto ela estivesse dormindo.

STAHL: Na maioria das vezes, ela escrevia no Nicolson’s Cafe, porque eles deixavam ela ficar por horas, apenas com uma xícara de café. Finalmente, ela tinha um manuscrito para enviar.

(na entrevista): As pessoas recusaram.

ROWLING: Oh, sim.

STAHL: Muito?

ROWLING: Quatro ou cinco editoras recusaram, eu acho, e a crítica geral era, “É muito longo para crianças”.

STAHL: Jo começou a procurar por um agente literário. Ela gostou do nome de Christopher Little.

(na entrevista): Então um dia você recebeu esse manuscrito não solicitado que você nunca havia ouvido falar antes. O que você pensou?

LITTLE: Essas coisas podem ficar empilhadas por décadas. É conhecida com a pilha de sebo. São os que não foram solicitados e outros também. E por sorte, dois dias depois, eu peguei nessa pilha e saí pra almoçar com ela porque alguém ia aparecer mais tarde. E então eu comecei a ler sobre Harry Potter e meus dedos se enroscaram.

STAHL: Então você sabia de cara.

LITTLE: De cara.

STAHL: Ele poderia saber, mas muitos outros editores recusaram Harry Potter até que a companhia Bloomsbury finalmente comprou.

ROWLING: No momento que ele me disse que Bloomsbury queria o livro — era o dia do aniversário da minha filha — foi o momento mais feliz da minha vida.

STAHL (na entrevista): Quando você teve noção de que este não seria um livro comum infantil?

ROWLING: As vendas dos livros subiram assim que iam sendo publicados, e isso tudo sem publicidade, na verdade.

STAHL: Sem publicidade?

ROWLING: Não, nenhuma. Absolutamente nenhuma. Ninguém sabia nada sobre mim. E a única explicação para isso era as palavras nas bocas das crianças.

LITTLE: A editora publicou poucos livros, como normalmente o fazem, e a demanda veio não de qualquer lugar, mas de pátios de recreio.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: E agora todo mundo fala, é como uma reação em cadeia — todo mundo se envolve com os livros.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: Sim, na minha sala de aula é assim, “Você não leu Harry Potter?!?”.

STAHL: Então você fica por fora.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: É, dois dias depois, “É bom,não é?”.

STAHL: Essas crianças de Stanford, Connecticut, são os fãs típicos que criam a avalanche Harry Potter.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: É muito diferente. Não é como um livro normal, comum. É, tipo, tão imaginário. É quase como — é tão detalhado. É como se estivesse assistindo o livro ao invés de lendo.

STAHL: É isso que têm feito as crianças desligarem as TV’s e jogos de computador. E não são apenas crianças; adultos gostam de Harry Potter também. Tantos que na Inglaterra tem uma edição especial apenas para eles. Todos são atraídos pela mesma coisa: aventura e suspense, colocado em um mundo de bruxos que é mágico e de alguma forma, reconhecível.

LIPSON: Ela tem esse universo paralelo, um pouco fora do centro, que tem um sistema bancário; tem um jornal, tem um ministério, um ministro da magia. É tão completo. E porque é completo, ela pode ficar tirando coelhos da cartola.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: Em aulas normais, eles te passam temas de matemática e tudo mais. Aqui, é para descobrir sobre a bruxaria e é muito legal.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: Tipo — como matar essa planta que poderia te estrangular.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: ou como fazer essa poção mágica, obscura e secreta ou alguma coisa assim.

STAHL: Apenas o fato de que garotos e garotas estão excitados com o mesmo livro difere o Harry Potter de outros. De fato, o editor de Rowling, originalmente tentou mascarar o fato de que ela era uma mulher, colocando apenas suas iniciais, J.K., nos livros.

LITTLE: Tradicionalmente, garotos não gostam de ler livros escritos por garotas. Garotas lêem livros escritos por qualquer um, mas garotos tem uma peculiaridade um pouco machista pra essas coisas.

STAHL: O segredo já foi revelado e crianças não se importam com o nome dela, contanto que ela continue escrevendo.

(na entrevista): Isto está pegando crianças que não gostam de ler ou que nunca leram antes — eles são chamados de leitores relutantes — não apenas pra pegar esses livros ou aqueles livros pra ler, mas também para querer ler outros livros similares.

ROWLING: Não há nada melhor que isso.

STAHL: E já contaram a você sobre isso?

ROWLING: Sim, já me falaram sobre isso muitas vezes, e duas vezes eu conheci mães de filhos disléxicos e uma delas me disse que os filhos delas leram os livros inteiros sozinhos. E um deles, “Harry Potter e a Pedra Filosofal“, foi o primeiro livro — ele tinha nove anos — o primeiro livro que ele leu sozinho. Isso absolutamente apóia minha visão de que crianças são brutalmente subestimadas.

– “Meu querido, você tem um inimigo mortal”.

– “Todo mundo sabe disso,” disse Hermione em um sussurro alto.

STAHL: Rowling, a ex-professora, saboreia qualquer chance de ler para crianças e escutar suas perguntas. Isso foi uma multidão da cidade em Edimburgo.

UMA MULHER NÃO IDENTIFICADA: Você baseou alguém no livro em você?

ROWLING: Em mim? Sim. Eu não me orgulho muito disso, no entanto. Hermione. Ela é bem chatinha. E eu acho que era bem chata quando tinha 11 anos. Eu me soltei no entanto, enquanto ia ficando mais velha — bastante. E Hermione também vai. Estou escrevendo o quarto livro no momento e Hermione vai ao seu primeiro encontro.

STAHL: No quarto livro, Hermione e Harry terão 14 anos.

ROWLING: Bem, o quarto livro é — estou realmente gostando de escrevê-lo porque é a primeira vez que você vê os hormônios se mostrarem.

STAHL (na entrevista): Garotas.

ROWLING: Garotas. Finalmente ele se dá conta de que existem garotas.

STAHL: Normalmente quando você pensa nas seqüências…

ROWLING: Claro.

STAHL: …você já sabe que eles vão estragar tudo. É de praxe.

ROWLING: Mas eu não penso nisso assim em seqüências. Eu vejo como uma grande história, que foi dividida para a conveniência dos leitores em sete partes.

STAHL: Jo Rowling adoraria ser deixada só para pensar no resto de sua série em um canto calmo em uma mesa em uma cafeteria em Edimburgo, mas ela é tão famosa agora que fica muito difícil. E há uma enorme pressão em transformar Harry Potter em uma máquina de marketing. O agente dela diz que Rowling, há menos de cinco anos longe de sua pensão, poderia ganhar mais de $100 milhões.

LITTLE: Eu quero dizer, estamos recebendo mais de 100 pedidos por dia, seja da Sony ou Microsoft ou Boeing, de pessoas que fazem copos e molhos.

STAHL: Centenas de pedidos por dia de companhias que querem usar algo dos livros para ajudar a promover seus produtos?

LITTLE: Sim.

ROWLING: Se as pessoas pudessem ver os tipos de ofertas que recebi para usar o Harry em publicidade e propaganda e todo tipo de coisas ridículas, francamente, coisas, e eu disse não, absolutamente para todos.

STAHL: Tipo o que? Nos dê algum exemplo.

ROWLING: Margarina.

STAHL: Margarina? Oh, por Deus, não…

ROWLING: Não, absolutamente. Porque?

STAHL: Mas Jo Rowling não é mais a única proprietária de Harry Potter. Ela vendeu para Warner Brothers o direito de colocá-lo nas telonas e tudo o mais que rende com isso.

(na entrevista): Você vendeu os direitos para fazer os filmes, você terá séries de televisão, miniatura dos personagens…

ROWLING: Eu não sei nada sobre séries de televisão.

STAHL: Possivelmente.

ROWLING: Possivelmente.

STAHL: Miniatura dos personagens

ROWLING: Não fale miniatura dos personagens.

STAHL: Bem, tanto faz.

ROWLING: Sou uma mãe. Eu odeio essas projeções dos personagens de um livro

STAHL: Bem, do que chamaremos eles então? Bonecos?

ROWLING: Sim. E eu apenas posso dizer agora para todos os pais por aí, se os bonecos forem horríveis, apenas digam para as crianças que eu falei para não comprá-los. Desculpe Warner.

Traduzido por: Letícia Vitória em 04/03/2006.
Revisado por: Helena Alves em 26/03/2006.
Postado por: Fernando Nery Filho em 30/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote
aqui.