Thomas, Sherry. “J.K. Rowling tem o futuro traçado para Harry Potter”. The Houston Chronicle, 20 de março de 2001.

J.K. Rowling sabe como sua série best-seller Harry Potter irá terminar. Sim, será sombrio. Não, ela não diz se Harry vai viver ou morrer. Deixem ela terminar o livro cinco primeiro.

“O capí­tulo final do livro sete está escrito”, contou a autora britânia aos repórteres na quinta-feira, em uma teleconferência. “Vocês vão descobrir o que acontece com os sobreviventes”.

Uma personagem já caiu no pesado quarto volume de Rowling, Harry Potter e o Cálice de Fogo. Haverá mais mortes no mundo dos bruxos? Além disso, os leitores estarão preparados para aguentar isso?

“Eu sinto que o fim do quarto livro é assustador, mas existem razões para isso. Eu estava lidando com um personagem maligno”, explica Rowling. “Eu não vejo, no quinto, sexto e sétimo livro, que eu tenho que, tipo, aumentar o perigo a cada livro. Eu não diria que o quinto vai ser necessariamente mais sombrio. Mas eu não posso prometer que não haverá mais coisas tristes a caminho”.

Enquanto o livro cinco está “a caminho”, Rowling não espera terminar a tempo de lançá-lo no verão de 2001. O que os fãs de Potter podem esperar é o lançamento em março de dois curtos livros de “referência” de Harry Potter. Como parte de um projeto de caridade com o escritor londrino Richard Curtis (de Um Lugar Chamado Notting Hill e Quatro Casamentos e Um Funeral), Rowling escreveu e ilustrou livros que apareceram ao longo dos anos na série Harry Potter: “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e “Quadribol Através dos Séculos“.

Por enquanto, Cálice de Fogo e os outros livros de Harry Potter: Harry Potter e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban continuam a gerar controvérsias entre alguns grupos religiosos, que se opõe à referências à magia e bruxaria. Harry Potter chegou até a lista dos livros banidos.

“É uma coisa de visão curta. É muito difí­cil retratar a bondade sem mostrar seu oposto. Esse sempre foi meu sentimento sobre a literatura”, diz Rowling. “Vocâ encontra magia, bruxaria e todas essas coisas por toda parte na literatura infantil. Você vai barrar O Mágico de Oz? Você vai barrar C.S. Lewis? Em que ponto você irá dizer dizer que esses são perigosos e danosos?”

Pergunte ao pessoal em Santa Fé, onde uma proposta feita pelos membros do fórum escolar tem por objetivo remover vários livros, ‘incluindo os de Potter’ da biblioteca da escola primária local. Essa reunião do conselho escolar era para considerar o banimento dos livros em um encontro quinta-feira à noite. “Eu, pessoalmente, acho que eles estão enganados”, disse Rowling sobre a proposta. “O que me assusta são essas pessoas tentando proteger suas crianças da própria imaginação”.

Talvez seja a super-proteção natural dos pais. Mas talvez, sugeriu Rowling, seja o problema eterno na sociedade atual, de não confiar que as crianças pensem por si próprias.

“É minha crença profunda de que existe uma tendência a subestimar as crianças em todos os ní­veis”.

Rowling disse que é esse o motivo dela ter se chateado tanto quando o New York Times decidiu encerrar o domí­nio de Harry Potter em sua lista dos mais vendidos mais cedo nesse verão, transferindo a série para uma recém criada lista de “ficção infantil”.

“É um pouco triste ver que a literatura infantil não é importante. Eu acho isso um pouco depressivo”, ela diz. “Você verá resenhas de livros infantis ocupando espaços pequenos nos jornais, mas você verá, nestes mesmos jornais, histórias sobre alfabetização para crianças”.

Rowling admite que a série Harry Potter nunca pretendeu ser para leitores muito jovens.

“Desde o primeiro livro, eu encontro pais que dizem que seus filhos de cinco, seis anos adoram o os livros, e isso me assusta, pois eu sei o que está por vir”, ela diz. “Oito ou nove anos é a idade mais nova que eu recomendaria para ler o livro”.

Mas mesmo Rowling talvez tenha subestimado a tolerância das crianças ao medo. Sua própria filha Jessica, de 7 anos, insistiu em ler Cálice de Fogo, que tem 732 páginas, sem nenhuma ajuda da mãe. “Ela leu o livro quatro inteiro sozinha, mas eu disse a ela que quando ela chegasse no capí­tulo 30, eu iria querer ler com ela e conversar sobre o final”, ela disse.

Rowling esperava uma reação chorosa à morte de uma personagem popular.

“Eu olhei para ela, esperando que ela ficasse realmente triste. Mas ela disse ‘Ah, não é o Harry. Quem liga?'”, diz Rowling.

Esses dias, as atenções de Rowling estão divididas entre a publicidade da série e seu esforço para terminar o livro cinco e fazer dele o melhor que pode ser.

Esqueça que Amazon.com no Reino Unido já está aceitando pedidos adiantados. Esqueça que o diretor americano Chris Columbus está quase pronto para começar a produção da versão cinematográfica do primeiro livro de Harry Potter.

Rowling, severa por natureza, disse que tem total controle para barrar qualquer coisa. Ela disse que quando é sobre Harry e a turma, ela tem uma mente fechada, difí­cil de influenciar pela exagero ou pela opinião pública.

“Eu realmente ainda amo escrever”, ela disse. “Meu Santo Graal é terminar a série de sete livros e saber que eu fui realmente fiel em relação ao que eu queria escrever”.

No começo desse mês, Rowling assinou como embaixadora do Britain’s National Council for One-Parent Families (Conselho Nacional Britânico para Famí­lias de Pais ou Mães Solteiros). Ela ainda doou 500,000 libras (aproximadamente 1 milhão de dólares americanos) para a causa. Não porque ela é agora considerada a “mulher mais rica da Inglaterra”, mas porque se sente responsável por falar em defesa a pais e mães solteiros.

Durante sua breve estada no “dole” (assistência pública britânica), Rowling disse que seus olhos se abriram para as dificuldades que outras mães solteiras enfrentam.

“Eu imaginava quando estava nessa situação que ninguém estava mostrando o quanto aquela situação era difí­cil”, ela diz. “Então, quando o conselho de pais e mães solteiros me abordou, eu pensei ‘OK, então sou eu. Se ninguém vai dizer isso, eu vou'”.

Por mais nobre que seja a causa, no entanto, esse comprometimento pode ser pesado para uma mulher com três livros para terminar. Muito parecido com aqueles dias, quando ela estava terminando os primeiros dois livros, com Jessica ainda bebê em sua mesa de café, a elevação de Rowling à função de modelo mundial estabeleceu mais demanda em seu tempo.

“Em um dia ideal, eu provavelmente escreveria de seis a dez horas”, diz Rowling. “Mas estou com um problema de tempo. Eu ainda escrevo à mão, e ainda escrevo longe de casa. Eu uso cafés como escritórios, realmente, com o bônus adicional de que alguém está lá para me trazer café”.

Traduzido por: Marcelo Furtado Filho em 20/02/2007.
Revisado por: Patricia M. D. de Abreu em 18/04/2007 e Antônio Carlos de M. Neto em 22/03/2008.
Postado por: Fernando Nery Filho em 29/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote aqui.