CHRIS COLUMBUS
Por Paoula Abou-Jaoude – Tradução G.V.Linares
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Novidades sobre os próximos filmes, incluindo Harry Potter e o Cálice de Fogo e todos os detalhes sobre os bastidores do filme do ano, você confere agora nesta entrevista exclusiva com Chris Columbus, o diretor de Harry Potter e a Pedra Filosofal.

 

Como foi o seu encontro com J.K. Rowling ?
Chris Columbus: A primeira parte do processo, antes mesmo de eu conseguir o emprego, foi o meu encontro com a Jo na Escócia. Eu esperava encontrar alguém com o estilo Angela Lansbury, mas ela era uma pessoa totalmente diferente, com o mesmo gosto para músicas que eu e muito bom humor. Ela é mais nova que eu. A empatia foi imediata. É claro que ela perguntou o inevitável: “como você vê meu filme? Como você pretende fazê-lo?” Levei 30 minutos para explicar como o faria e no fim ela concordou comigo. Convidei Jo para participar ativamente das filmagens indo aos Estídios Leavesden, onde estaríamos filmando. Falei que conversaríamos lá a respeito. Achava a idéia fantástica e desde o começo minha vontade era trabalhar com ela. Valorizo suas opiniões. O resultado é que ela nunca chegou impondo nada do tipo “você deve fazer isso ou aquilo”. Foi uma excelente colaboradora. Eu e Steve Kloves (o roteirista), que somos super fãs do livro, aproveitamos para bombardeá-la com perguntas. Ela sempre nos respondia sem se entediar. Éramos apenas quatro na sala por uns três meses: o produtor David Heyman, Jo, Steve Kloves e eu. Analisamos que parte do roteiro deixaríamos de fora, que forma daríamos ao Salão Principal, como seria o figurino, e assim por diante.

Como foi o processo de escolha dos atores?
Chris: Foi intenso. O maior problema com Daniel Radcliffe, foi que eu o vi em David Copperfield e disse isso a diretora de elenco. Ela me contou que os pais dele não estavam queriam que o filho pegasse o papel. Por isso fizemos meses de testes com milhares de crianças. Eu recusei a todos. Um dia ela chegou e perguntou o que eu queria. Mostrei o vídeo de Copperfield e disse que era isso que queria. Ela disse que jamais o conseguiria e pediu demissão. Uma semana depois Steve e David foram ao teatro e falaram com o pai de Daniel. Explicaram que tomaríamos conta dele e visaríamos seu interesse. Só então ele concordou que Daniel fizesse o teste. Ele foi fantástico.

Você acha que o livro teria o mesmo impacto se o herói fosse uma menina?
Chris: Sim, acho. Acredito que os livros são um sucesso em parte devido a imaginação da Jo. É mágico, um mundo maravilhoso que você pode até acreditar que exista. Acho que se Harry fosse uma menina, as mesmas temáticas estariam presentes como coragem, bravura, amizade e a mais importante: a vitória sobre o mal.

Depois da recusa de Steven Spielberg em direigir este projeto, foram realizados testes para a escolha de diretores. Você passou por algum estes testes?
Chris: Robin Williams me disse uma vez, há muito anos, que pra conseguir um papel que ele gostaria muito, faria um teste. Era exatamente esta situação. Eu sabia, baseado em meus trabalhos recentes, que as pessoas achavam que havia me tornado sentimental demais. Lendo este tipo de afirmação por aí, e que não condiziam com a verdade, resolvi tomar uma atitude e tentar voltar aos projetos que fazia na década de 80. Ironicamente, quase fui parar na direção de Homem-Aranha.

E o que aconteceu?
Chris: Eu estava interessado em Homem-Aranha, mas minha filha me deu uma cópia de Harry Potter. Foi aí que meus olhos brilharam! Fiquei tão obcecado, que precisava fazer esse filme. Liguei para minha agente que me disse que Steven Spielberg estava no páreo, e que eu poderia esquecer o projeto. Voltei para o Homem-Aranha e achei que isto já estava certo. Contei para minha filha que ficou chateada que não era Potter. Isso me devastou. Semanas depois, felizmente, Spielberg desistiu do projeto. Entrei em contato com o estúdio, expliquei a minha visão para o filme e eles obviamente gostaram.

Qual foi o maior desafio pra você?
Chris: Este foi o maior desafio pra mim, mas também o mais prazeroso e o que mais curti. Foi uma experiência sensacional e desafiante. Todos os dias. Porque o que a Jo escreve vem da imaginação. Não há uma cena sequer com duas pessoas conversando. De repente há 150 corujas entregando cartas, há outra cena em que existem apenas lembranças e há um jornal com fotos que se movimentam.

É verdade que sua filha ficou no seu pé para que você ficasse extremamente fiel ao livro?
Chris: Tanto quanta foi possível. Nós não perdemos a cabeça a ponto de contratar uma equipe inteira de crianças de 11 anos como consultores. Mas Eleanor ajudou bastante. Todos gostam do livro, tanto adultos quanto crianças, mas as crianças lembram de absolutamente todos os detalhes. Então minha filha foi de muita ajuda em certos detalhes do filme. Eu discutia com ela sobre os detalhes e houve um momento em que o estúdio disse que era melhor cortar a seqüência do trasgo para economizar dinheiro. Fui pra casa pensando em como faria isto e minha filha disse: “pai, nunca deixe que eles cortem a seqüência do trasgo. Esta é uma de nossas passagens favoritas no livro”. Então eu lutei para que a seqüência existisse.

O que as crianças que você teve contato acharam do filme?
Chris: O melhor que comentário que ouvi foi: “bom, isto está faltando, isto também, e mais isto e também aquilo, mas eu amei o filme”. (risos) Então, me senti muito realizado.

Você manteve no filme toda a atmosfera sombria da história que está no livro. Você chegou a sofrer algum tipo de pressão do estúdio para mudar isto?
Chris: Quando aceitei este trabalho, minha meta era trazer todo o lado sombrio do livro para as telas e, pessoalmente, queria ter certeza de que conseguimos manter este lado. Houve uma pressão no começo para dar uma amenizada, pra deixar o filme mais doce, meigo e feliz. E pensei que as crianças não queriam isto. Elas queriam que o filme tivesse todo o peso que o livro tem e a verdade é que a história fica cada vez mais dark a cada livro. A seqüência, Harry Potter e a Câmara Secreta, será mais dark ainda. O terceiro será mais pesado que o segundo. E o quarto, Harry Potter e o Cálice de Fogo, será, potencialmente, um filme de duas partes, onde filmaremos uma versão de quatro ou cinco horas, e lançaremos em duas partes diferentes. Estou sendo o mais fiel possível aos livros.

J.K. Rowling contou alguma coisa sobre os novos livros?
Chris: Ela tem dado algumas dicas e contado alguns segredos que vão acontecer nos próximos livros. Mas todos nós temos informações diferentes e respeitamos seu sigilo a ponto de não comentarmos nem mesmo entre nós. Os atores também sabem alguma coisa. Acho que Robbie Coltrane sabe algumas coisas sobre Hagrid e, definitivamente, Alan Rickman sabe algumas coisas sobre Snape porque um dia estava dirigindo Rickman e perguntei: “por que você faz isso em sua performance?”. Parecia uma coisa estranha a se fazer. E ele respondeu: “bom, por causa de algo que acontece comigo no sexto livro”. Eu tentei arrancar informações, mas ele disse: “Desculpe, mas não posso te contar”. Mas eu fiz um monte de perguntas à Jo. Algumas do tipo: por que quando Harry está no hall para ser selecionado pelo Chapéu Seletor, sua cicatriz dói quando ele olha para Snape. Perguntei porque, afinal, a cicatriz do Harry só dói na presença do próprio Voldemort ou de algum perigo. Ela respondeu: “Quirrell está conversando com Snape, e sua cabeça está virada na direção de Snape. Então, nesta hora, o próprio Voldemort está encarando Harry”. Então disse que colocaria isto na tela, mas não sabia se muitas pessoas iriam conseguir sacar. Mesmo assim eu fiz porque sei que este é o tipo de detalhe que um cara maníaco por Harry Potter, como eu, iria gostar muito de ver.

Um filme de duas horas e meia é sempre arriscado. Por que você escolheu assim?
Chris: Na verdade, três horas seria o tempo ideal!! (risos) Eu poderia ter colocado o Pirraça no filme e mais algumas cenas que a garotada vai perguntar, inevitavelmente, onde estão. Nós não pudemos bancar mais nenhum jogo de Quadribol. Acho que teríamos que vender os estúdios para conseguir. (risos) Quadribol sai muito caro para ser filmado. Mas o livro da Jo e o roteiro do Steve foram brilhantemente escritos. Em outras palavras, nós sabíamos que se removêssemos uma seqüência, todo o filme poderia degringolar. Ela é tão esperta que tudo leva à próxima cena, então não podíamos tirar fora. O estúdio esperava que nós conseguíssemos reduzir o filme pra duas horas, mas não tinha como. Era só ler o roteiro ou o livro para comprovar que você não pode cortar algo sem comprometer todo o resto. Eu não tenho nenhum problema com a duração. O estúdio não gostou muito porque eles perderam tempo para mais exibições-dia, mas acho que é melhor desta forma, porque assim não sou linchado por milhares de crianças furiosas. (risos)