STEVE KLOVES
Por Michael Sragow, para o jornal Baltimore Sun – Tradução G.V.Linares
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Steve Kloves, o roteirista de todos os três filmes de Harry Potter, soa mais como o chefe da máfia Michael Corleone quando, em Poderoso Chefão III, Corleone diz “Logo quando eu pensei que estava saindo, eles me puxaram de volta!”

Delirantemente feliz com o terceiro filme da série, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Kloves diz por telefone de Los Angeles que ele espera começar em breve com seu primeiro filme como um escritor e diretor desde Flesh and Bone (1993). É uma versão do premiado livro The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, do escritor britânico Mark Haddon. O conto de um adolescente autista que se torna detetive quando acusado da morte do cachorro de um vizinho pode soar estranho, mas não tão estranho quando Harry Potter e a Pedra Filosofal, de J.K.Rowling, que Kloves tirou de uma pilha da Warner Bros e pegou uma cópia para si do primeiro livro de Rowling.

Mas com o quarto livro de Rowling, Harry Potter e o Cálice de Fogo, sendo filmado em Londres – roteiro também de Kloves – ele está sempre para receber chamadas para arrumar problemas com o roteiro. (Mike Newell, de Quatro Casamentos e um Funeral, está dirigindo Cálice). Então com o livro de Haddon chamando-o, Kloves tem hesitado em começar com o quinto de Rowling, Harry Potter e a Ordem da Fênix.

Os produtores seriam prudentes em manter Kloves nisso. Os crí­ticos elogiaram com razão o diretor de primeira-viagem no mundo de Potter Alfonso Cuarón pela artí­stico salto feito em Prisioneiro de Azkaban, no qual Harry e seus amigos fazem 13 anos. Ainda, Kloves merece receber seus créditos.

É claro, Cuarón ganhou reconhecimento internacional com filmes infantis (A Princesinha, 1995) e adolescentes (E Sua Mãe Também, 2001). Mas adolescentes – muitas vezes adolescentes presos – também tem preocupado Kloves.

Seu primeiro roteiro produzido, Racing With the Moon (1984), mostram alguns dos primeiros e melhores trabalhos de Nicolas Cage e Sean Penn, como amigos enfrentando amizade e companheirismo antes de entrarem para a Segunda Guerra Mundial. Susie e os Baker Boys (1989) estrela Jeff Bridges como um pianista de boate nutrindo fantasias românticas e metas artí­sticas de Jazz conforme enfrente tensões com seu parceiro e irmão (Beau Bridges). E Garotos Incrí­veis (2002) segue Tobey Maguire e Michael Douglas como escritores de diferentes gerações lidando com uma interrompida promessa.

Então não é surpresa de que os melhores momentos em Azkaban se devem a Kloves.

Recursos Criativos
O personagem central adulto em Azkaban é o Professor Lupin (David Thewlis), um cordial e triste professor e, durante um tempo, o aliado adulto mais importante de Harry. Como Kloves usou sua própria criatividade para criar em carne este adorável e cansado personagem, a cena em que Lupin apenas conversa com Harry em uma ponte é o momento mais tocante do filme. Essa emoção é criada parcialmente pelo fato ligação de Lupin e Harry como estranhos. Mas conforme Lupin revela sua amizade próxima com os parentes mortos de Harry, Lí­lian e Tiago, ele se torna, conforme Kloves diz, “a famí­lia entendida de Harry”.

Kloves diz que quando ele se encontrou com Rowling pela primeira vez, ele teve a intuição de que Lí­lian era “muito especial” e de que James “era complicado”. E nesta cena da ponte, Lupin “conta a Harry sobre sua mãe – a melhor coisa dela é que ela entendia Lupin quando muitos poucos faziam o mesmo. Ela viu algo especial nele quando outros, incluindo si mesmo, não poderiam”, admite Kloves. “Eu acho que ele estava apaixonado por ela de diversas maneiras”.

A sensibilidade de Kloves para o emocional abaixo das selvagens aventuras é o que faz dele um intérprete ideal para Rowling. E em Prisioneiro de Azkaban ele mostra quanto conteúdo ele consegue mostrar com diversas sugestões. Com algumas poucas pinceladas, ele faz a relação entre a estudiosa amiga de Harry, Hermione (Emma Watson) e a avoada Professora Trelawney (Emma Thompson) o cataclisma de dois pontos de vista diferente: o racional e o maluco.

Kloves me disse que ele quer ter certeza de que Chris Columbus, que dirigiu os dois primeiros filmes de Potter e foi co-produtor do número três, tenha os devidos créditos por esta série. “Alfonso herdou coisas incríveis de Chris”, ele diz. “Incluindo algumas excelentes escalações e o design de Stuart Craig. O que você vê de diferente em Azkaban é por causa dos olhos de Alfonso. O Salão Principal ainda é o Salão Principal, mas com as incrí­veis tomadas abertas de Cuarón, você tem muito mais informações em cada uma das tomadas”.

O sucesso de Columbus em estabelecer o universo de Potter no cinema permitiu Kloves e Cuarón em “saí­ram das páginas” em Azkaban. “Eu nunca fui alguém de muitas explicações”, admite Kloves. “Quando Alfonso e eu começamos a trabalhar juntos, nós decidimos que conhecer o mundo de Harry seria parte do preço de admissão. Nós não iremos re-apresentar as coisas”.

Junto com o produtor David Heyman, o designer Craig e o elenco principal, Kloves tem sido uma série de reduto. Mas como um escritor-diretor, ele avisa aos fãs, “Não se confundam: esses são filmes de diretores… Um diretor realmente tem que chegar e assumir o controle. Não muito tempo atrás, Alfonso disse que trabalhar comigo em Azkaban foi um pouco como se sentar em uma sala e sonhar… O que ele tinha dito antes era, ‘Vamos sonhar aqui: não vamos nos preocupar em como fazer ou o texto literal. Vamos começar e ver aonde iremos e que caminhos podemos seguir.’ É claro, o filme tinha que ser ajustado, mas foi uma ótima maneira de se trabalhar”.

Chegando como um estranho, Cuarón brinca chamando os experts de Rowling no time do filme – Kloves incluí­do – de “os Talibãs”. Kloves rapidamente acrescenta, “A ironia é que em dois ou três meses, Alfonso estava completamente seduzido por este mundo também. Principalmente, nós éramos fiéis ao livro mesmo se as especificações não estivessem lá. O filme é sobre as experiências emocionais de Harry: ele está tentando descobrir a si mesmo e como se encaixa neste mundo”.

Inventar vs. Adaptar
Kloves e Cuarón se imaginaram tão dentro da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts que foi necessário uma releitura do livro para dizer o que fo que eles inventaram daquilo que eles meramente adaptaram. Por exemplo, uma engraçada e ótima cena mostra a primeira noite de Harry de volta a Hogwarts: Harry e seus amigos devoram alguns doces que o fazem rugir como um leão e solta fumaça pelas orelhas de outro.

“Isso é tudo Alfonso”, Kloves diz. “Por um bom tempo não conseguí­amos saber como fazer aquela cena; nós tí­nhamos uma versão que era muito mais amarga, com apenas Harry acordado, colocando uma foto de seus pais, mas Alfonso queria passar o sentimento de que Harry estava de volta a sua vida na escola, com sua verdadeira famí­lia. A fraternidade dessa cena mostra o sentimento que Alfonso tem por ter 13 anos, quando você está para se tornar um adulto mas ainda é uma criança – e você também está desconfortável no mundo da infância”.

Quando chega a parte da ação do filme, o clí­max da volta no tempo – bravamente prolongada e sustentada que é como uma dança para a música do tempo – Kloves dá todos os créditos a Cuarón. “Funciona por causa do jeito que Alfonso bloqueia e orquestreia a ação, sua confiança está que o público irá colocar tudo junto”.

A modéstia de Kloves
Em um dos melhores discursos do roteiro de Garotos Incrí­veis de Kloves, Katie Holmes diz para Michael Douglas, “Mesmo que seu livro seja realmente lindo, ele é… muito detalhista. Você sabe, com a genealogia dos cavalos de todo mundo, e os registros dentários, e assim vai… eu posso estar errada, mas realmente parece que você não fez escolha nenhuma”.

Com Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Kloves se libertou das genealogias das criaturas e os registros dentários dos dois primeiros filmes. Ele fez todas as escolhas certas.