HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE
Livro 7

Almanaque Virtual ~ Frini Georgakopoulos
26 de julho de 2007

Agora quem é órfão não é um menino franzino, descabelado e de óculos, mas os fãs da saga Harry Potter, escrita por J.K.Rowling. Harry Potter and the Deathly Hallows foi lançado às 20h01 em inúmeras livrarias do Brasil, no dia 21 de julho último (a versão em português, pela Editora Rocco, será lançada em 10 de novembro). A espera pelo fechamento da série durou dez anos. A cada novo lançamento, teorias mirabolantes recheavam a internet. Essa euforia toda acabou e tem fã que ainda não sabe se acabou bem ou não. Será que o livro superou expectativas de milhões de pessoas no mundo inteiro?

A resposta é simples: depende. Alguns fãs amaram, outros odiaram, mas Rowling já havia dito que seria assim. Mas o que ela não pensou é que a maioria dos fãs fosse ficar no meio do caminho entre os dois extremos. Deathly Hallows é muito diferente dos outros livros, pois ele tem o peso, a responsabilidade de ser o último. Esse é, talvez, o maior problema do livro. Durante dez anos, Rowling teve que omitir muitos fatos sobre a série para não estragar os livros que seriam lançados em seguida. Sempre com um ensaiado “vocês descobrirão no sétimo”, Rowling manteve seus fãs loucos por respostas, mas nem todas estão no sétimo livro, ou até pior: nem todas são o que os fãs esperavam.

No sétimo livro descobrimos muitas coisas, mas certas respostas passam despercebidas, outras não são fortes o suficiente, mas o pior são as que não convencem. Por exemplo, Ron abre a Câmara Secreta porque imitou Harry falando língua de cobra. Como assim? Essa foi uma saída muito mal-lavada da Rowling. E o trio aplica maldições como Crucio e Império, mas nunca Avada Kedrava. O correto seria isso não acontecer de jeito nenhum, pois é o que separa os bons dos maus. Complicado.

Ainda sim, coisas interessantes também ocorrem, como a história de Dumbledore e a verdadeira razão por trás das ações de Snape. Isso fez com que esses dois personagens fossem os mais humanos da série, que erram, se arrependem e têm que achar a força de fazer a coisa certa. Muito bom mesmo.

Mesmo com tudo isso e muito mais, os fãs reclamam. O fato é que nem tudo é culpa da escritora, mas dos próprios fãs que deixaram a literatura de fantasia virar realidade demais. Essa, por mais extensa e trabalhada que seja, é a primeira obra literária escrita por Rowling, o que significa que ela tem diversos pontos que poderiam ter sido mais bem fechados ou mais bem explorados. Deathly Hallows parece ter sido o livro com a maior quantidade de informação incrível, mas usada da forma mais tosca. Nada é trabalhado como poderia ter sido e a impressão que fica é a de falta de fôlego. É como se Rowling quisesse acabar logo com isso.

Harry Potter e as Relíquias da Morte (título traduzido) começa com muita correria, com muito perigo no ar e as mortes (mais de dez) não tardam a aparecer. A tirania de Voldemort não reina somente entre seus seguidores, mas até sua influência e poder alcançam. Dominado pelo medo, o mundo bruxo e o Ministério da Magia já não são mais os mesmos e isso será um grande problema para Harry, Ron e Hermione, em sua busca pelas Horcruxes. Agora, o que define se um bruxo pode ou não viver é a pureza de seu sangue. O tom do livro é de medo, de urgência, de desespero, o que deixa pouco lugar para o humor, tão presente nos livros anteriores. Não, Harry Potter não é comédia, mas o trio atingiu a maioridade agora e uma guerra está acontecendo. Não dá mais para fazer piada de qualquer coisa.

O tom do livro é muito bom e condiz com o que está acontecendo nas páginas, mas o ritmo é um pouco mais complicado. Ele começa muito bem, tem cenas ótimas, mas perde um pouco do ritmo. Harry, Ron e Hermione estão em busca das Horcruxes – objetos que contêm uma parte da alma de Voldemort – então eles vivem acampando, se escondendo, e procurando. Mas isso é feito em tamanha quantidade que o livro poderia se chamar “Harry Potter e suas aventuras de escoteiro”! Em uma dessas acampadas, descobrimos uma rádio bruxa que transmite programas da resistência. Se ela tivesse sido mais usada teria alimentado o livro com uma trama paralela maravilhosa, pois o leitor poderia acompanhar o trio em sua jornada enquanto tanto eles como nós poderíamos ficar sabendo do que acontece em Hogwarts e no mundo bruxo. Mas não, de repente daria trabalho demais.

Ainda sim, entre uma cena lerda e outra, informações interessantes são dadas ao leitor e entre elas estão lembranças ou menções ao que já aconteceu na série até agora. Ou seja, os personagens estão tão nostálgicos quanto seus fãs. A interação entre os personagens é muito boa, mas a sensação é de que algumas, vamos dizer, promessas feitas pela autora não se realizaram como os fãs esperavam. Lembra de uma história que alguém faria mágica muito tarde em sua vida? Pois é, não rolou. Personagens que aparentemente ganhariam muita importância, como Ginny Weasley, não ganhou e quase não apareceu! Isso sem contar os que ela mutilou, como foi o caso de Remus Lupin, que foi muito cafajeste e sem coração, logo ele, um dos personagens mais meigos da série.

Mas Rowling não deixa de fazer a sua mágica e prende a atenção do leitor até o final, que, claro, atinge seu clímax em uma batalha épica em Hogwarts! Bem escrita, dá muita vontade de saber mais! Aqui, a lista dos mortos é longa e cruel! Tirem seus lenços do bolso, minha gente, por que não são dois que morrem, são mais de dez! Alguns fazem o leitor sentir saudade, pena, mas outros tiveram o que mereceram e até o nosso querido protagonista empacota, mas não temam … ele volta! Não, ninguém ressuscita, mas tem um plot twist que, por mais que não seja tão bem explicado, é legal e poderia ter sido previsto desde o quarto livro.

O epílogo, por sua vez, é curto demais e sem detalhes, algo que irritou e desapontou a maioria dos leitores. Depois de sete anos em Hogwarts, dez para os leitores e dezessete para a escritora, o epílogo pareceu escrito de um dia para o outro e sem inspiração alguma. Ninguém merece colocar o nome do filho de Scorpios. Bem, talvez o Draco mereça.

A verdade do sétimo livro é uma apenas: não tem como dizer se é bom ou ruim, pois a resposta vai depender muito de como você, leitor e fã, encarou e viveu a série inteira. Ao ler as aventuras de Harry Potter, fomos todos transportados para um mundo mais perto do nosso do que imaginamos, e julgar o final dessa saga vai depender da jornada que cada um fez até chegar aqui. No geral, Deathly Hallows é muito bom e deixa muito espaço para fan fiction e novas teorias. Deixa também a saudade da ansiedade por um novo livro, por uma nova história. Mas como Rowling já disse que deve escrever uma enciclopédia, onde mais detalhes seriam dados, só resta esperar.