ALAN RICKMAN
Uma entrevista com Alan Rickman

12 de novembro de 2003
Handbag.com
Tradução: Fabianne de Freitas

Ele está na “casa dos cinqüenta”, muito sexy, e está atuando ao lado de Emma Thompson, Hugh Grant e Liam Neeson no filme Simplesmente Amor, que está sendo considerado um dos maiores filmes britânicos de todos os tempos.

Incomoda você que as mulheres olham você, mais frequentemente, por sua performance na cama do que por sua atuação?
Diverte-me! Eu pretendo ser um ator mais honesto, aberto e direto possível. E eu percebi que quando os atores tentam trabalhar abertamente, é criada uma certa atração porque as pessoas vêem um caminho até você como pessoa, ou ela pensam que vêem. Talvez isso cria uma atração; não tem a ver uma aparência convencional; são as emoções que o ator mexe.

Após o Xerife de Nottingham em Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões e o vilão em Duro de Matar, você acha que monopolizou o “mercado dos malvados”?
Não. Eu interpretei uma mistura de personagens. São todos diferentes de mim. Eu penso o mesmo sobre Um Romance de Outro Mundo e Razão e Sensibilidade e dos papéis de vilão.

Mas você prefere exagerar do que os papéis mais normais?
Eu gosto de fazer tudo, na verdade. Se for pedido a você para ser muito mínimo e real, é tão interessante do que exagerar. Um filme como Simplesmente Amor é muito contido mas igualmente desafiador. Pode ser bem mais fácil vir cheio de armas e atirando. Simplesmente Amor é também sobre o que não é dito – entre eu e Emma, de qualquer forma.

Como é encontrar um ex, vendo Emma Thompson no set de Simplesmente Amor?
É como ir à um terreno conhecido de certa forma. Fizemos quatro filmes juntos – Razão e Sensibilidade, Eu a dirigi em Momento de Afeto e Judas Kiss (onde éramos um casal). Mas eu e Emma desenvolvemos muito senso de humor para levar isso tão à sério – rir muito no set é um problema freqüente. Todos tinham um tempo muito curto para dizer quem eram seus personagens e se você vai dizer, “Aqui está um casal que estão juntos há algum tempo e eles têm dois filhos”, você tem que faze-lo em de uma forma rápida, de uma só vez. Então, no final, o fato de sermos amigos ajuda. Talvez essa seja a razão que Richard [Curtis, diretor/ escritor de Simplesmente Amor] quis que interpretássemos esses papéis.

Você passa muito tempo em Hollywood?
Quando estou trabalhando lá.

Você gosta de lá?
Sim, porque você pode ir ao cinema as 10 da manhã e não tem ninguém comendo pipoca na sua orelha. E eu tenho bons amigos lá que não são do meio e tem regiões ótimas no interior também. Eu passaria um dia andando por volta de Joshua Tree ou indo à São Francisco.

Teve algum momento na sua carreira que você pensou: “Consegui!” ?
Ainda não aconteceu!

Sim, aconteceu!
Não, porque sempre tem gente lendo a manchete. Sempre que você pensa que conseguiu alguém te derruba. Cate Blanchett disse algo uma vez que é verdadeiro. Ela disse que o horizonte está sempre mudando, mas é uma coisa boa. Uma boa sensação de nunca ter chegado de verdade.

E quando você soube que era um nome conhecido, você não teve a sensação de poder descansar e dizer, ‘Eu fiz algo bom aqui’?
Beem… o trabalho é o importante, e não ter um nome conhecido.

Você ainda apóia lealmente o Partido Trabalhista?
Bem, eu certamente penso, ‘em quem mais se pode votar’?

Então, você apóia mas não lealmente?
Bem, não inquestionável mas eu nunca fui. Eu acho que é um mundo muito, muito complicado e não acho que exista qualquer afiliações fáceis.

Você gostou de trabalhar com Richard Curtis?
Sim, ele é adorável.

Você já tinha trabalhado com ele antes?
Não. E este foi seu primeiro filme como diretor e eu só tinha dirigido um filme até agora então eu invejei sua incrível calma e senso de onde ele estava indo e o que estava fazendo. Acho que ajuda se você também é o escritor. Ele era ótimo.

Você percebeu alguma grande diferença na sua carreira desde que você interpretou Snape nos filmes de Harry Potter?
Harry Potter parece uma outra parte da minha vida. De alguma forma não é parte de mim que fez Privet Lives no West End e não é a parte de mim de quando dirigi, e a que fez Simplesmente Amor. Harry Potter é uma parte da vida que visito de tempos em tempos.

Você já leu todos os livros de Harry Potter? Você é um fã?
Você não consegue parar de virar as páginas, consegue? Mas não li todos – eu tenho que tentar acompanhar conforme nós filmamos.

O papel de Snape pareceu tão perfeito para você… tinha algo que o fez parecer alongado e um pouco confinado ao mesmo tempo. Você sentiu isso?
Ótima forma de dizer, na verdade. Porque é assim que Snape é. Há águas paradas nele. E o problema é que tem muito que ainda não sabemos ‘porque J. K. Rowling ainda não revelou’. Eu sei umas duas informações sobre tudo, e você não quer e eu não vou contar.

Como você consegue o horrível cabelo do Snape.
Fácil. É uma peruca.

Há algum papel no teatro que você gostaria de interpretar?
Bem, você acaba ficando sem, quanto mais velho fica. Você fica pensando ‘Opa! Não posso interpretar esse papel’ e ‘essa já foi’! Quanto mais velho você mais papéis você perde.

Você prefere o teatro aos filmes?
Não. E depois de ficar um ano com uma peça a última coisa que quero é fazer outra. É uma atuação satisfatória.

O teatro exige mais de você?
Sim.

Mas a recompensa é maior?
Nem sempre. As vezes, exige mais do que oferece. É uma disciplina muito particular, especialmente quando é um sucesso de crítica, então o teatro está cheio, e tem gente reclamando por não conseguir o ingresso é você é só um ator. Noite de estréia na Broadway é pressão, mas é o que eu faço. Faz parte do trabalho. É ótimo quando a cortina fecha no final… e é ótimo quando você está fazendo também. É difícil ficar concentrado por duas horas. Ao menos em um filme se você erra você pode começar de novo.

Qual a melhor fala que você já disse em um filme?
Bem, em uma série de TV anos atrás, era a última fala da minha personagem e ele vira para essas duas pessoas que o tinham derrotado e diz, ‘Que os dois vivam para sempre’.