Rosenberg, Liz. “Um menino abandonado e seu corpo de bruxos (resenha do livro)”. The Boston Globe, 1º de novembro de 1998.

HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL por J.K. Rowling. Arthur A. Levine/Scholastic. 309 pp. Ilustrado. $16,95. Idade 8 e acima. Liz Rosenberg este mês troca de lugar com Peter F. Neumeyer, cuja próxima resenha aparecerá em 15 de novembro. O novo livro infantil dela, “The Silence in the Mountains”, está chegando no próximo ano. Ela leciona na Universidade do Estado de Nova York em Binghamton.

Harry Potter e a Pedra Filosofal” é uma charmosa, imaginativa e mágica confecção de um romance. É certa para os jovens leitores que amam Roald Dahl – melhor, de fato, porque J.K. Rowling tem pouco da torpeza de Dahl e bem mais poesia e uma gentil aptidão. Aqui, por exemplo, no começo do livro, um bruxo mestre apaga todos os lampiões da rua de uma pacata vizinhança de classe média e as liga de novo:

“Dumbledore se virou e desceu a rua. Na esquina parou e puxou o ‘apagueiro’. Deu um clique e doze esferas de luz voltaram aos lampiões de modo que a rua dos Alfeneiros de repente iluminou-se com uma claridade laranja e ele divisou o gato listrado se esquivando pela outra ponta da rua. Mal dava pra enxergar o embrulhinho no batente do número quatro.”

“-Boa sorte, Harry – murmurou ele. Girou nos calcanhares e, com um movimento da capa, desapareceu.”

Harry Potter, o jovem herói dessa história, precisa de toda a sorte que pode ter. Sem revelar muito da trama, vamos dizer que ele é conhecido entre os bruxos como um glorioso milagre, “o garoto que sobreviveu” quando seus pais e um bruxo das trevas morreram. E ainda, ele é deixado para ser criado pelos mortais mais estúpidos – meros “trouxas” como os bruxos gostam de nos chamar; seus terríveis tio e tia Dursley e seu ultra-terrível filho, Duda. Não é antes de Harry completar 11 anos, e ser quase mandado para a escola local, que seu destino e seus companheiros bruxos aparecem, e as grandes aventuras do livro começam.

Harry Potter e a Pedra Filosofal” inclui tudo o que crianças amantes de fantasia mais se importam – feitiços e banquetes; escapadas à meia-noite; esportes jogados em vassouras; novos amigos e inimigos derrotados; um espelho encantado; a própria pedra filosofal, é claro. Há também uma capa de invisibilidade, “brilhosa e prateada… Tinha uma textura estranha, parecia tecida com fios de água”, um gigante grosseiro mas amável “simplesmente grande demais para se reconhecer”, trasgos, unicórnios, centauros, vários fantasmas, e até um bebê dragão:

“Harry pensou que parecia um guarda-chuva preto amassado. As asas espinhosas eram enormes em contraste com o corpo preto e magro, tinha um focinho longo com narinas largas, tocos de chifres e olhos esbugalhados cor de laranja.

“Espirrou. Voaram fagulhas do seu focinho.”

Se não fossem pelas últimas 20 ou 30 páginas do livro, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” poderia ser um perfeito clássico infantil, como “Peter Pan” ou “Mary Poppins”, uma das obras de fantasia habilidosa que aparece uma ou duas vezes em uma vida. Infelizmente, Rowling (que começou este primeiro livro como uma mãe solteira escrevendo “em pedaços de papéis em um café local” na Escócia) toma alguns atalhos exagerados em sua própria magia. No fim do romance, várias questões importantes são respondidas muito facilmente, enquanto outras ficam abertas desapontadamente. Claramente a autora está calçando o caminho para uma seqüência, que, embora bem-vinda, não deve vir à custa do mais rico do romance, conclusão plena.

O próprio Harry no final continua um personagem encantador, cheio de um forte, miserável tipo de heroísmo e uma dúzia de surpresas, da mesma forma que o bruxo chefe, Dumbledore, e os dois amigos mais íntimos de Harry. A trama tem algumas mudanças repentinas de tirar o fôlego e reviravoltas. Porém, personagens secundários que mostraram tanta promessa no início são deixados de lado ou desaparecem completamente. As últimas páginas da trama parecem corridas e de segunda qualidade, deixando o livro para fechar algo como uma mesa de dobradiça barata.

Isto talvez seja mais culpa do editor do que de uma escritora de primeira vez. Ainda, “Harry Potter,” onde quer que suas premissas rachem, mantêm-se um glorioso estreante, um livro de maravilhosos prazeres cômicos e vertigionosos vôos imaginários. Ele venceu vários prêmios quando foi publicado ano passado na Grã-Bretanha e merece mais. Não há motivo para duvidar das habilidades e promessas de Rowling e há todas as razões para esperar grandes coisas, verdadeiramente grandes coisas, dela no futuro.

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Página original data de 24 de fevereiro de 2007; última atualização em 24 de fevereiro de 2007.

Traduzida por: Ana Carolina Feitosa em 29/12/2008.
Revisado por: Thais Teixeira Tardivo em 30/12/2008.
Postado por: Vítor Werle em 03/01/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.