Moyes, Jojo. “Os mitos das mães solteiras, contados por J.K. Rowling”. The Independent (Londres), 05 de outubro de 2000.

Ela virou, de forma argumentável, a mãe solteira mais famosa do mundo. E ontem a criadora de Harry Potter, J.K. Rowling, doou $500.000 para tentar melhorar a condição das sofridas mães solteiras.

Em um discurso para marcar sua indicação como embaixadora do Conselho Nacional de Famílias de Pais Solteiros, Srta. Rowling condenou sua retratação pública. “É definitivamente hora de explodirmos com os mitos populares que a maioria de nós (pais solteiros) somos adolescentes irresponsáveis tentando conseguir abrigo”, ela disse. “Apenas 3% de nós são adolescentes; 60% de nós foram casados e agora estão separados, divorciados ou viúvos. Eu gostaria de ver uma grande aceitação do fato de que as famí­lias simplesmente vêm em vários tamanhos e formas”.

Srta. Rowling, 34, que criou sua filha Jessica, de sete anos, desde que seu casamento acabou sete anos atrás, disse: “O meu caso pode ser a menor variedade que se tem, mas nós somos tão famí­lia quanto os Waltons, ou os Weasleys (personagens de seus romances)”. Mas a autora disse que, como uma mulher profissional com um diploma, ela ficou chocada com o estigma preso ao fato de ser mãe solteira. As questões práticas foram as que mais dificultaram sua saí­da da pobreza. “Eu tive que pedir dinheiro emprestado… ninguém me ajudava com os cuidados da criança”.

Embora ela agora ganhe $20 milhões por ano, Srta. Rowling ficou os primeiros anos da infância de sua filha vivendo na pobreza. Ela presumiu que ensinar seria sua saí­da, e admitiu que várias vezes se sentia “egoí­sta” quando escrevia sobre Harry Potter, sua ambição pessoal. Mas ela encorajou o público a não ver pobreza e mães solteiras como fatos inevitáveis e inseparáveis. Srta. Rowling disse: “Seis de dez famí­lias guiadas por um pai ou mãe solteiros estão vivendo em pobreza. Mas nenhum dos pais solteiros que eu conheço querem viver com esmolas; assim como pais vivendo como casais nós queremos a chance de prover propriamente nossas crianças”. Embora Srta. Rowling tenha cedido que seu extraordinário sucesso possa estar ligado a “um certo bruxo”, ela disse que teve sorte, de qualquer maneira, em comparação à maioria, ou algumas, mães solteiras. “Eu era formada, tinha uma profissão e amigos que estavam dispostos e eram capazes de me emprestar dinheiro quando eu precisei muito. Então se eu encontrei obstáculos para sair do sistema de benefí­cios e de volta a um emprego, quanto mais difí­cil deve ser para pessoas que não tem as mesmas vantagens?”, ela disse. “Se eu vivenciei o sentimento da absoluta, absoluta inutilidade da CSA (Agência de Apoio Infantil) e o escritório de benefí­cios, quantos outros pais estão passando pela mesma situação agora?”.

Enquanto ela dizia que era doloroso para qualquer criança ter que aguentar a separação de seus pais, ela fez uma defesa animada a pais solteiros: “Eu acho que minha filha é feliz da maneira que ela está sendo educada, e eu resisto à maneira que as pessoas falam que é de segunda categoria. Minha visão pessoal é que é melhor para minha filha ser criada em uma famí­lia de mãe solteira do que no contexto de um casamento infeliz. Ser pai ou mãe solteira de fato não é um estresse ou uma dificuldade. Minha filha de carne e osso é a melhor coisa que já me aconteceu, incluindo meu filho da ficção. Jessica tem sido uma fonte constante de orgulho, felicidade e motivação desde o dia em que ela nasceu, mas eu não quero que ela cresça em uma sociedade que fale para ela que ela foi criada em segunda categoria, nem quero que ela cresça em uma sociedade onde crianças como ela estão presas na pobreza porque tiveram a infelicidade de ver seus pais se separarem. Pais solteiros merecem ‘não condenação’, mas felicitações”.

Traduzido por: Letí­cia Vitória em 29/08/2007.
Revisado por: Matheus Almeida em 13/09/2007 e Antônio Carlos de M. Neto em 22/03/2008.
Postado por: Fernando Nery Filho em 30/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote
aqui.