Coad, Emma. “Entrevista a dois com J.K. Rowling”. ITV, 17 de julho de 2005.
Transcrição por Deborah Skinner.

Emma: Por que você começou a escrever a série?
JK: Bem, a idéia surgiu numa jornada de trem, quando eu estava viajando de Manchester para Londres, na Inglaterra. E ela simplesmente veio do nada, a idéia de um garoto que não sabia que era um bruxo e recebeu uma carta contando-o que ele tinha um lugar numa escola de bruxos, e daí­ um monte do enredo que aparece nos sete livros evoluiu durante essa viagem de trem, então, na hora em que saí­ do trem, eu estava tão excitada com a idéia de escrever esse livro que simplesmente não conseguia esperar até chegar em casa, e foi assim que tudo começou.

Qual foi a primeira coisa que inspirou você a escrever os livros?
Bem, eu acho que essa primeira idéia foi a que me ocupou tanto, ela me deixou tão empolgada quanto às possibilidades desse enredo que me deu a motivação pra perseverar com ele. Eu acho que a maioria das pessoas, erm… Pode ser bastante desestimulante escrever quando você não tem um acordo de publicação, você tem que ter muita fé no que está escrevendo para seguir em frente e terminar o romance, e eu simplesmente amo a história, tanto que isso foi o que me fez continuar.

Alguns dos personagens na história são como algumas pessoas que você conheceu na escola, ou quando você era criança?
Não, hmmm, não, não muito obviamente. Eu acho, eu acho que a exceção seria que eu falei algumas vezes que Rony Weasley é muito parecido com um garoto com quem eu estudava chamado Sean, que agora é obviamente um homem crescido e ele é, ele é um… Rony não é realmente Sean. Eu quero dizer que eles não são o mesmo, mas eu reparei quando eu escrevi a Pedra Filosofal, o primeiro livro, que ele parecia o Sean e que isso certamente não era coincidência. Um pouco do humor dele é bem o estilo do Sean.

Você acha que escreverá mais livros destacando algum outro personagem da série Harry Potter, como Snape e o que ele fez antes?
Eu não acho, não, eu tenho certeza absoluta que não. Eu sinto que planejei essa série como uma série de sete livros, em que no livro sete eu acho que suas questões serão respondidas. As pessoas sempre terão algumas questões não respondidas que elas se perguntam, coisas sobre os personagens e essas coisas provavelmente serão respondidas em fan fictions, sabe, as pessoas se divertem muito escrevendo suas próprias histórias sobre os meus personagens e boa sorte para elas. Se elas gostam disso, então é fantástico, e algumas histórias são muito boas!

Você já conheceu alguém como Draco Malfoy?
Sim, definitivamente. Eu acho que todos nós já conhecemos alguém como Draco Malfoy. De fato, quase todo leitor da sua idade que eu já conheci disse “Eu conheço alguém igual ao Draco Malfoy” e às vezes é uma menina. Muitas das minhas esperanças e medos são as esperanças e medos de Harry, nisso nós todos queremos apenas, nós ficamos ansiosos com o mesmo tipo de coisas, mesmo que nós raramente admitamos. Então nós somos ansiosos quanto a nos enturmar, somos ansiosos quanto a lidar bem com trabalho e somos ansiosos quanto a amizades e quanto a ser feito de piada e todas essas coisas. “Às vezes você quer ser diferente, às vezes você quer ser assim como todos os outros. Então eu acho que Harry passa por tudo isso.
Então eu fui muito influenciada por… Eu também fui influenciada por fantasias que eu tive na minha infância. Eu tive uma fantasia com cavalos voadores e uma carroça voadora e finalmente eu usei isso em Cálice de Fogo, como você sabe.

Como você pensa nos nomes em todos os livros como Gringotes e Hogwarts?
Erm, Gringotes, realmente, eu acho, veio de lingotes. Sabe quando você tem lingotes de ouro, aquelas barras? Então eu gostei do som disso, palavras com “grí” podem soar bastante agressivas ou bastante, erm, ou até sinistro. Então eu realmente juntei Gringotes. Eu achei que soou um pouquinho intimidador, mas tinha essa alusão de ouro no nome.
Hogwarts, eu sempre quis que Hog estivesse lá, por alguma razão. Eu experimentei com várias versões diferente de Hogwarts até estabelecer Hogwarts. Eu gosto do nome. Eu acho que soa cômico e convidativo ao mesmo tempo. Então você pensa em palavras assim e tenta um monte de coisas diferentes e de repente uma se encaixa e você fica feliz com isso.

Que feitiço você gostaria de trazer à vida e por quê?
Ooh, há tantos, não há? Tantos. Erm, eu penso por mim aqui… O feitiço maravilhoso é “Expecto Patronum”, e você sabe o que ele faz, não sabe? Ele cria o Patrono, ele cria uma espécie de espí­rito guardião num caminho. E isso é parcialmente por causa do que ele faz. Ele é o protetor, e você poderia se proteger e proteger as outras pessoas com quem você se preocupasse com um Patrono, mas também por ser um feitiço bonito. Sabe, a imagem de um Patrono prateado emergindo de uma varinha. Eu realmente gosto disso.

Como você continua inspirada tendo tanta pressão para fazer cada parte melhor que a anterior?
Bem, há pressão, mas eu tenho sorte de ter planejado todos os livros muito tempo atrás que, erm, eu não posso ser muito desviada. Quero dizer, eu sei o que fazer em seguida. Seria muito mais difícil se eu não soubesse realmente sobre o que o próximo livro seria e tivesse um monte de pressão em mim como você diz, faça isso bom ou faça isso empolgante, e eu estava sentada aqui pensando “Oh Deus” *ofega*, “o que eu farei da próxima vez?”. Bem, pra minha sorte, meu planos estão lá e eu sei o que vai acontecer em seguida, então eu realmente tenho apenas que sentar e fazer o livro inteiro e transformá-lo num livro.

Harry e Hermione começarão a namorar, ou será Rony e Hermione?
O que você acha?

Harry e Hermione.
Você terá mais pistas disso nesse livro (indica Enigma do Prí­ncipe). De fato terá metade disso, metade da sua resposta virá nesse livro.

Você costuma ter bloqueios mentais na escrita?
Muito, muito, muito raramente.

Sério?
Sim, erm, eu uma vez… Eu acho que na verdade eu só tive um caso do que eu chamaria de bloqueio na escrita, e foi durante a escrita da Câmara Secreta, e isso foi relacionado inteiramente com o fato de que a Pedra Filosofal teve muito sucesso, o que realmente me surpreendeu e temporariamente me paralisou, então eu não… Eu estava evidentemente assustada eu acho, sabe, eu pensei “Eu não posso manter isso, eu nunca poderei continuar com isso”. Eu me senti muito insegura e muito amedrontada pelo que estava acontecendo ao meu redor e isso me pegou temporariamente. E eu agora não consigo lembrar quanto tempo isso durou, eu acho que algumas semanas. Isso é um tempo muito longo pra alguém como eu, que geralmente escreve com bastante facilidade.

Você gosta de ir ao cinema e ver seus livros criarem vida?
Eu realmente gosto disso. É um sentimento engraçado. Uma das sensações mais perturbadoras, mas ao mesmo tempo maravilhosa, foi a primeira vez que eu visitei o set do filme. Eles estavam me mostrando o set, simplesmente incrí­vel, e tinham duas coisas. Eu entrei no Salão Principal, e desenhei ao diretor, Chris Colombus, uma espécie de diagrama bruto de como eu via o salão principal e nós realmente discutimos, e a direção de produção de desenho fez o melhor e mais surpreendente trabalho, era como andar dentro da minha própria cabeça. Eu simplesmente andei pelo lugar que imaginei por tanto tempo e ali estava ele, e ele realmente parecia exatamente como eu imaginei; isso foi maravilhoso. E então um pouco mais tarde, naquele dia, eles me mostraram a câmara em que Quirrell enfrenta Harry no fim da Pedra Filosofal, e houve um estranho, estranho momento em que eu me situei em frente do Espelho de Ojesed me vendo, claro, exatamente como eu sou “e você sabe o que isso significa no livro”. Então eu estava me vendo como uma autora publicada bem-sucedida. Uau, então isso foi um momento bastante simbólico, quase constrangedor, como você pode imaginar.

Você já alguma vez esperou que seu livros fossem tão populares entre adultos e crianças?
Não, eu nunca sonhei que eu estaria onde eu estou agora, isso foi simplesmente incrí­vel. Eu nunca sonhei que pessoas gostariam tanto do livro. Erm, freqüentemente me perguntam sobre a questão dos adultos e tudo o que eu posso dizer é que eu… Eu… Eu… Eu escrevo esses livros e eu não sento e penso “certo, agora o que alguém de oito anos gostaria de ler o que alguém de doze gostaria?”. Eu realmente escrevo o que eu gostaria de ler. Então, partindo desse ponto de vista, não me surpreende que outros adultos gostem dele porque eu sou uma adulta, obviamente, e gosto deles, mas a escala disso é, obviamente, de tirar o fôlego.

A história parece estar chegando ao fim; como você se sentirá quando os livros pararem de verdade?
Eu terei sentimentos muito misturados, porque certamente terei um grande sentimento de perda e isso será quase como um luto, porque vivi com Harry desde 1990, então são 15 anos até agora e isso é um tempo muito, muito longo pra estar com alguém, certamente mais longo que muitos casamentos, então isso é, erm, será doloroso, a idéia de que eu não escreverei mais sobre ele. Por outro lado, você acabou de mencionar que há uma quantidade certa de pressão que vem com o fato de ser a escritora de Harry Potter, e seria bom escrever alguma coisa sem nenhuma pressão do tipo. Porém, eu não sinto de verdade a pressão quando estou escrevendo Harry Potter, então em algum ponto tenho que emergir da escrita do livro de modo que eu realmente, eu sinto o peso disso um pouco. Erm, também há coisas conectadas com o mundo inteiro de Harry Potter que eu não sentirei tanta falta.

Qual é seu doce bruxo favorito?
Oh, meu doce bruxo favorito? Eu tenho um lugar guradado no meu coração para o cacho de baratas. Eu me diverti inventando e sim, eu realmente gosto dele!

O que faz um bom escritor?
Oooh, é uma boa questão. Erm, muitas, muitas, muitas coisas diferentes fazem um escritor realmente bom. Pra mim, eu gosto de livros, mas, erm, se você combina personagens com quem você se preocupa com uma história realmente intrigante, então eu acho, então você geralmente tem algo que eu gostaria de ler. Então, essas são coisas que eu aprecio em outros escritores. Erm, mas eu gosto de um número de autores muito diferentes e você poderia achar poucas coisas que eles têm em comum, então isso é um daqueles… isso é muito subjetivo porque seu escritor favorito, outra pessoa odiaria.

Traduzido por: Samantha Rodrigues em 28/07/2006.
Revisado por: Adriana Couto Pereira em 05/05/2007.
Postado por: Fernando Nery Filho em 30/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote
aqui.