“Entrevista com David Heyman, Steve Kloves, Mark Radcliffe, Alfonso Cuaron, e Jo Rowling, extra do DVD Prisioneiro de Azkaban”. 23 de novembro de 2004.

David Heyman: Os livros nos conduzem. Quero dizer, estamos em uma boa posição, temos Jo Rowling nos dando um material fantástico.

Steve Kloves: Tudo o que você tem que fazer é ler o livro, para sentir o lugar. Isto é, você sabe, harmonia e atmosfera – o que eu acho que ela tem feito, e continua fazendo, formidavelmente.

David Heyman: No primeiro filme, Jô veio até o set quando nós ainda estávamos projetando, checou tudo, para ter certeza de que nós não fizemos nada à toa, sem pensar.

Mark Radcliffe: Jô criou esse mundo, nós precisamos permanecer fiéis a ele. Essa é a nossa missão.

David Heyman: Toda essa visão é parte do livro, é uma continuação do que Chris, e agora Alfonso, construíram.

Alfonso Cuaron: Desde o começo, minha intenção era servir ao material.

Jo Rowling: Dos cinco livros que eu já publiquei, o mais fácil foi o terceiro, e isso parece um pouco visível. Embora algumas partes sejam muito difíceis, como Alfonso sabe, e Steve Kloves, o roteirista também sabe, porque tiveram que percorrer a mesma trilha que eu percorri. Ao mesmo tempo, eu senti ter espaço para isso, então eu – então isso é um processo agradável.

Alfonso Cuaron: Quando eu li o livro, eu me senti extremamente ligado. Eu… para mim, estava tudo claro. Como o filme deveria ser, como a história deveria ser contada.

Steve Kloves: Nós tentamos achar o melhor caminho para conduzir o que Jo expressou nas páginas em linguagem de filmes.

Alfonso Cuaron: Você lida com vários conceitos abstratos, como a viagem no tempo. Isto é tão… uma coisa tão abstrata, e isto é muito difícil, do mesmo jeito que é explicar isso aqui…
Jo Rowling: Sim, isso é difícil…

Alfonso Cuaron: é difícil…

Jo Rowling: É difícil, porque você anda em círculos.

Alfonso Cuarón: Mas no livro, tudo faz perfeito sentido.

Jo Rowling: Eu amei assistir aquela parte do filme, eu amei assistir a seqüência do giro no tempo. E a dose de humor na medida certa, com o comentário de Dumbledore quando eles voltam, é simplesmente perfeito.

David Heyman: Quando fomos para a Escócia com Jô – primeiro, eu acho isso importante para a Jo se sentir confortável, e segundo, eu considero a Jo uma incrível fonte de informações e ela é incrivelmente bondosa conosco.

Chris Columbus: Eu me lembro quando ela entrou porta adentro, e por algum motivo eu tive a sensação de estar prestes a conhecer alguém com setenta anos. Jo entrou, ela era mais nova que eu, gostávamos dos mesmos filmes, das mesmas músicas, e isso formou uma rápida ligação entre nós.

David Heyman: Quando ela conheceu Alfonso, ele conversou sobre a visão dele sobre o filme, conversou sobre várias idéias dele.

Jo Rowling: Eu já sabia de Alfonso há muito tempo antes, e eu fiquei realmente entusiasmada com a idéia – eu amei “Y Tu Mama Tambien”. Alfonso entende a mente de um adolescente, de 13 anos, por exemplo.

Alfonso Cuaron: Esses garotos estão começando a se considerarem atores de verdade, mas ao mesmo tempo eles podem ter um ataque emocional a qualquer hora. Tenho sorte de ser tão inexperiente e trabalhar com garotos tão bons aqui.

Jo Rowling: Eu acho que os três mereciam o prêmio de melhor performance.

Alfonso Cuaron: Pobre Malfoy…

Jo Rowling: Ele merece…
Alfonso Cuaron: Ah, ele merece…

Jo Rowling: Tom encarou aquele soco muito bem…

Alfonso Cuaron: Ele, ah…

Jo Rowling: Ele realmente fez um bom trabalho ali.

Alfonso Cuaron: Ah, eles amaram fazer aquilo. Emma estava ansiosa pelo momento, e lembro do Tom falando: “Oh, se você quer me dar um soco, vá em frente, vá em frente…”

Jo Rowling: Como um herói.

Alfonso Cuaron: O universo que você criou… você sabe cada canto dele…

Stuart Craig: Este era um mapa do mundo de J K Rowling. É um desenho dela mesma, que ela fez em alguns minutos. Como você vê, são somente os ingredientes principais. A Floresta Negra está aqui, o Salgueiro Lutador aqui, o Estádio de Quadribol, e o Castelo de Hogwarts. O Lago Negro está aqui, a rodovia, a Estação de Hogsmeade. Ela sabe exatamente cada pedaço do mundo que ela criou. Ela sabe exatamente a relação entre os elementos, e ela está pronta para nos mostrar isso – e esta se tornou nossa Bíblia.

Alfonso Cuaron: Nós precisávamos de um lugar onde as crianças pudessem ver a execução do Bicuço, e nós pensamos em um cemitério. Nós consultamos Jo sobre isso, e ela disse: “Não, o cemitério não é aí”, e eu perguntei: “Por quê?”. E ela me deu uma vasta explicação do porquê de não poder haver um cemitério ali, porque esse é um outro lugar de Hogwarts. Porque isso ainda vai acontecer… e ela sabe a sua coisa, ela sabe exatamente o que vai acontecer depois. Eu me lembro de uma vez que haviam vários anões em algumas mesas, tocando pianos e órgãos no Salão Principal. E Jo disse: “Não, não existem anões nesse universo”. Eu disse “Sim, é como…” ela disse “Sim, uma imagem linda, mas não faz sentido nesse universo”.

Jo Rowling: Sim, eu realmente disse isso. Eu não podia deixar ele fazer aquilo. Isto não é justo, não é?

Alfonso Cuaron: Ela estava somente tentando servir à história, e ao espírito da história, porque essa é a graça do livro. Porque o terceiro livro é, para mim, muito abstrato, com muitos conceitos abstratos – mas ao mesmo tempo, é um leque para aventuras.

David Heyman: Eu achei muito, muito importante o Alfonso Cuarón deixando a sua marca no filme. É importante que cada diretor viva um situação dessas e sinta a liberdade, sentir que tem o poder de deixar o seu estilo próprio ni filme. E é esse o caminho para você conseguir fazer os melhores filmes.

Alfonso Cuaron: Todas as decisões foram tomadas durante a filmagem, e não dentro da sala de edição. mais do que aquelas decisões entre o roteiro e a gravação de cenas com os atores, trabalhando com os atores, e nós decidimos como aproximar a cena.

David Heyman: Ele fez, ele construiu com o que já havia no livro, com o que Chris Columbus já havia feito, que havia feito já os primeiros dois, e isso fez com que ele conseguisse deixar a sua marca no terceiro filme da série.

Jo Rowling: Alfonso tem uma ótima intuição com o que nós trabalhamos e com o que nós também não trabalhamos. Ele colocou coisas no filme, sem saber, renunciando coisas que aconteceriam nos livros que eu nem lancei ainda. Então eu got goosebumps quando eu vi muitas daquelas coisas, quando eu vi várias daquelas coisas, e eu pensei que pessoas iriam ver o filme e pensar que eu coloquei aquelas coisas no livro por causa do filme!

Steve Kloves: Jo queria que os filmes fossem fiéis aos livros, porém eles são duas cosas completamente diferentes. Para o filme ser completamente fiel ao livro, ele precisa de ter no mínimo umas seis horas de duração.

Alfonso Cuaron: Nesse filme, o filme trata sobre uma criança que quer encontrar a sua identidade como adolescente. Nós achamos o tema, e o que vier depois nós conseguimos fazer, and whatever didn’t … sorry. As long as we didn’t affect or contradict either the universe, or what is to come.

Chris Columbus: O meu maior interesse eram os efeitos visuais. Eu queria fazer absolutamente certo com que os efeitos visuais fossem melhores do que no filme anterior. Primeiro filme, havia um tom de pressa amável, e os efeitos não deviam atravessar os standarts. No segundo filme, nós melhoramos, e eu queria dar um outro passo nesse filme.

Alfonso Cuaron: Nós estávamos assistindo, e dizíamos: “Uau, aquele hipogrifo, ele está perfeito!”. E nós estávamos aplaudindo os artistas do CG que trabalharam juntos. E eles sempre repetiam: “Sim, mas não se esqueçam quem imaginou tudo isso primeiro.” E aqui está ela.

Jo Rowling: Eu acho importante dizer que não fui eu quem inventou o hipogrifo. Eu inventei aquele hipogrifo, mais a criatura em si, como você sabe, pertence ao folclore e à mitologia, então não é minha criação. Mas eu realmentepenso bastante quanto a isso, porque no livro isso vem a ser, no livro, um absurdo. E de fato, achei que no filme o hipogrifo foi retratado mais ou menos como eu pensei, mas eu acho que vocês criaram uma criatura de verdade.

Alfonso Cuaron: Não existem muitas representações gráficas do hipogrifo, e isso é o que torna a história mais interessante. Existe uma esfinge, uma esfinge severa, você vê criaturas que são metade pássaro e metade gato, uma quantidade imensa de coisas diferentes. Mas para o hipogrifo, está sendo uma coisa mais difícil de procurar.

Jo Rowling: Eu achei que fosse porque eu estava olhando.

Alfonso Cuaron: Você sabe disso, sim.

Jo Rowling: Eu poderia achar qualquer coisa em qualquer lugar.

Alfonso Cuaron: Não, eu sei.

Jo Rowling: Então eu sou completamente livre para inventar. Eu tive um pesadelo em minha juventude, eu vi capuzes, coisas flutuando. Eles pdem ser coisas da sua imaginação, em todo caso eles são. Mas você sabe o que eu quero dizer? Eles podem ser fragmentos de uma mente doente. E esse é o tipo de coisa que eu coloco em meu livro. Harry é particularmente vulnerável por eles, mas ele tentou enfrentá-los Isso não é fraqueza. Ele se sente assim porque enfrentou o pior.

Chris Columbus: Eu acho que Alfonso tem um incrível enredo para os dementadores.

Jo Rowling: A cabeça encolhida foi muito engraçada, eu realmente gostei dela. E foi uma ótima idéia. Quero dizer, eu disse para o Steve Kloves várias vezes: “Uau, queria mesmo ter escrito isso antes!” E isso é tudo o que se quer. Você quer trabalhar com pessoas que tenham ótimas idéias. Eu lembro de todas aquelas pequenas coisas que eu não coloquei no livro. Enfim, não pude, fazer o quê?

Chris Columbus: Para mim, uma das minhas melhores lembranças foi sentar com Steve Kloves, Jo Rowling e David Heyman, o produtor. Só nós quatro discutindo por semanas discutindo quadribol, conversando sobre o que seria legal colocar no filme. A emoção de estar fazendo algo especial como isto, foi algo que eu carreguei comigo durante a produção dos dois primeiros filmes.

Steve Kloves: Todo o processo foi incrivelmente aberto, e criativo.

Jo Rowling: Eu penso que nesse caso, o livro e o diretor foram feitos um para o outro. É uma unidade se tratando do filme, e ele é consistente, e também o clima, é algo muito agradável. E isso não é uma coisa comum, para o autor do material original. Estou completamente feliz, o que mais posso dizer?

Traduzido por: Matheus Gonçalves França em 29/07/2006.
Postado por: Fernando Nery Filho em 30/04/2007.
Entrevista original no Accio Quote aqui.