Gleick, Elizabeth. “Abracadabra!”. Time, 26 de julho de 1999.

Na Waterstones’s de Birmingham, ele estava num cofre guardado por dois manequins vestidos como os Homens de Preto. Na livraria infantil da Blackwell’s em Oxford, os funcionários tentaram trancá-lo na janela por alguns poucos dias, mas as crianças continuavam subindo nos bancos e escalando para dar uma olhada, então ele foi escondido. E na tarde de 8 de julho, as lojas de toda a Grã-Bretanha ficaram cheias da crianças esperando por ele. Não, não pelo novo jogo de cartas do Pokémon, mas por um livro: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, o terceiro volume dos contos misteriosos e mágicos sobre um garoto que é um verdadeiro bruxo. Exatamente às 3:45 da tarde – o momento do lançamento ansiosamente esperado do livro, programado para o fim de um dia escolar – “houve uma pausa,” disse Tara Stephenson, chefe das vendas infantis e marketing da Blackwell’s. “Então, assim que o primeiro foi vendido, foi um absoluto vendaval”.

Sem a ajuda da vassoura nova em folha de Harry, a Firebolt, os livros voaram das prateleiras. A Waterstone’s de Birmingham vendeu 32 exemplares nos primeiros 10 minutos. A Blackwell’s vendeu 92 na primeira meia hora. Na Storyteller da cidadezinha de Thirsk, no norte de Yorkshire, incríveis 56 sumiram na primeira tarde – “e não costumamos vender livros em capa dura”, diz a dona de loja Judy Turner, que tem que vender o livro ao preço apesar das “carinhas tristes” daqueles que não podem pagar o preço de US$17. Menos de duas semanas após seu lançamento na Grã-Bretanha, o livro já teve 10 tiragens e vendeu 270.000 exemplares, superando seu competidor mais próximo, Hannibal de Thomas Harris. “Nunca vi nada assim”, diz Caroline Horn, a editora de livros infantis da revista Bookseller. “Isso aconteceu no parquinho”.

Do outro lado do Atlântico, entrementes, Prisioneiro de Azkaban não deve chegar até 8 de setembro, e as crianças estão se enfurecendo. Não é o bastante que haja mais de 1,7 milhão de exemplares dos primeiros dois livros, Harry Potter e a Pedra Filosofal e Harry Potter e a Câmara Secreta, estejam sendo impressos nos EUA; os jovens leitores querem o novo, e o querem agora. Na família Henderson-Nold em Berkeley, Califórnia, Nick, 12, e Will, 10, estavam tão desesperados pelo próximo livro que Nick e sua mãe, Susan Henderson, resolveram comprar pela internet, onde não economizaram dinheiro. Mais de um mês antes de que Prisioneiro de Azkaban estivesse disponível mesmo na Grã-Bretanha, os Henderson-Nold já o tinham reservado pela subsidiária britânica da Amazon.com, a Amazon.co.uk, por cerca de US$19, incluindo o frete. O livro chegou há alguns dias, mas foi uma longa espera. “Nick sabia da data de 8 de julho”, diz Susan, rindo. “Ele se impressionou”.

Um porta-voz da Amazon.co.uk confirma que tem havido um “considerável interesse” de clientes de além-mar, o que significa que a Scholastic, a editora americana, está perdendo vendas para a editora britânica Bloomsbury – um crescente problemão de direitos territoriais ocasionado pela internet sem fronteiras. Por ora, a Scholastic está revogando as leis de direitos autorias que permitem a exportação de um exemplar por consumidor “para uso pessoal”. Arthur Levine, o editor americano da série, diz: “Não é o problema do qual eu queira falar”. No futuro, no entanto, ele não perderá as chances: o quarto Harry Potter será lançado simultaneamente na Grã-Bretanha e na América no próximo ano.

A anteriormente desconhecida e inédita Joanne Rowling, 33, que vive em Edimburgo com sua filha de cinco anos, está um pouco estupefata com seu sucesso emergente. “Às vezes realmente me sinto com se alguém tivesse tirado o meu teto,” confessa. “Me sinto muito exposta”. Evitando uma turnê de divulgação para seu novo lançamento, ela está ocupada trabalhando no quarto do que serão sete livros – um para cada ano que Harry passe em Hogwarts, sua escola de magia.

Neste ano Harry faz 13 anos, e ele e seus colegas Rony e Hermione encontram hipogrifos voadores e terríveis dementadores, guardas prisionais que sugam a felicidade das pessoas; eles têm aulas de Adivinhação e descobrem novos poderes. Mas, à medida que Rowling, com seu habitual humor e enredo coeso, continua a explorar seus verdadeiros temas de traição e lealdade, amor e perda, as forças do mal também estão crescendo. “A vida está se tornando um pouco mais repleta de ansiedade”, diz Rowling. “E no livro quatro, Harry é apresentado a seus hormônios”. Tudo isso ajudará Harry e seus fãs a crescerem juntos.

Traduzido por: Renan Lazzarin em 21/12/2008.
Revisado por: Daniel Mählmann em 16/05/2010.
Postado por: Vítor Werle em 10/01/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.