Anelli, Melissa. “Cofre 27”*. Harry, a History, 8 de novembro de 2008.

Cofre #1: Edwiges: Coruja de um Destino Diferente?
Cofre #2: Mais Sobre aquele Véu
Cofre #3: Acerca da Sobrevivência de Harry
Cofre #4: Histórias de Spoiler
Cofre #5: Falando de Spoilers…
Cofre #6: Sobre Harry/Hermione, Shipping, Intitulação de Fãs, e Mais
Cofre #7: A Ambivalência do Livro Cinco
Cofre #8: Seabottom e as Relíquias de Hogwarts
Cofre #9: Sobre Medidas de Segurança e Uma Razão para Evitar um Oitavo Livro
Cofre #10: Dumbledore e Grindelwald
Cofre #11: Próximo do Fim, Como Tudo Começou
Cofre #12: Harry e Seus Fãs

Extra Vazado

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Cofre #1: Edwiges: Coruja de um Destino Diferente?
(trecho divulgado em 20 de agosto de 2008)

Nós estávamos falando sobre quais partes do livro ela tinha planejado desde o início – que partes do cânon ela sabia desde que pensou em Harry (e a resposta para essa pergunta está, na maior parte dos casos, no livro; após o lançamento eu vou colocar aqui o resto desse comentário para preencher a resposta). Como foi revelado, Edwiges, na escrita original do livro um, tinha um papel bem importante que poderia levá-la a viver até o final do livro sete. Jo falou:

“Eu tive que trabalhar bastante para encontrar uma forma bem específica daquele pomo de ouro ser capturado, porque eu sabia que iria fazer aquilo depois; inicialmente, como minha editora britânico poderia confirmar, eu tinha a Edwiges capturando aquele pomo. Ela queria aquilo modificado, e eu pensei, ‘Oh, Deus, de volta ao quadro de esboços’”.

“Na verdade aquilo selou o destino de Harry, porque o plano era para Edwiges abrir o pomo, porque ela o tocou primeiro, mas, mudando isso para Harry, era tempo de matá-la mais cedo. Eu acho que ela iria morrer de qualquer jeito, eventualmente.”

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Cofre #2: Mais Sobre aquele Véu
(trecho divulgado em 24 de setembro de 2008)

JKR: Todos queriam ir além do véu.

MA: Isso está muito baseado no cânon, mas há coisas que como fã eu simplesmente tenho que saber. Muitos fãs vêem o véu como essa separação –

JKR: É a divisa entre a vida e a morte. Eu tentei fazer uma referência àquilo no Conto dos Três Irmãos – ela estava separada deles como que por um véu. Você não pode retornar se atravessar aquele véu, você não pode voltar. Ou, de qualquer modo, você não pode voltar de nenhum jeito que faça qualquer pessoa feliz.
Mas quando eles cercam aquele véu (na Ordem da Fênix), eu estava tentando mostrar que dependendo do grau de ceticismo ou crença acerca do que existia adiante – porque Luna, é claro, é uma personagem muito espiritual. Luna acredita firmemente numa vida após a morte. Ela é muito clara nisso. E ela os sente falando ou os escuta falando muito mais nitidamente que Harry. Essa é a idéia de fé. Harry pensa que pode escutá-los; ele é atraído por eles. Mas Harry teve uma vida tão cheia de mortes que ele agora possui uma curiosidade fortemente não característica sobre a vida após a morte, especialmente para um menino de 15 anos, como ele é na Fênix. Rony está apenas assustado, como imagino que ele estaria – ele apenas sabe que isso é algo com que ele não quer se meter. Hermione, a extremamente racional Hermione – ‘não escuto nada, saia de perto do véu.’ Então se você atravessa o véu, você está morto. Está morto. O que você encontra do outro lado, bem, essa é a questão.

Se eu acredito que existe vida após a morte? Sim, eu realmente acredito que exista. Eu realmente acredito numa vida após a morte, apesar de ser absolutamente movida pela dúvida e sempre ter sido, mas fazer o quê.

Eu não havia antecipado, apesar de que eu realmente devia ter tido, o quão interessadas as pessoas ficariam em ir além do véu. E um monte de pessoas, incluindo o Dan (Radcliffe), queriam atravessar o véu. Mas isso não devia me surpreender pois adolescentes são muito interessados.

MA: Dan meio que vai além do véu.

JKR: Sim, ele vai, mas não literalmente além do véu.

MA: Não querendo forçá-la. A Gina, Gina consegue ouvir porque ela já passou por,

JKR: Eu acredito que as mulheres são mais aptas a ouvir do que os homens. (Gina e Harry) realmente são almas-gêmeas. Acredito que ela é parecida com Harry. Ela possui uma curiosidade intelectual e possui alguma fé. Hermione (é) totalmente racional. ‘Vamos todos dar as costas ao véu e fingir que não escutamos nada.’

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Cofre #3: Acerca da Sobrevivência de Harry
(trecho divulgado em 7 de outubro de 2008)

“De muitas formas, teria sido um final mais organizado matá-lo. É claro, soube disso desde o começo. Sentia que a mensagem prioritária dos livros era de que o amor é a força mais poderosa neste mundo. Meu modelo para Harry foi o dos veteranos de guerra, que viram horrores e são obrigados a voltar para casa e reconstruir, voltar à sua vida normal e cuidar de sua família, ser um pai – particularmente ser um pai é um trabalho difícil, em tempos dramáticos. Acho que seria uma traição ao meu personagem se o mostrasse fazendo alguma coisa que não o que ele fez. E penso que é absolutamente heróico fazer isso, voltar para casa depois disso, não se tornar um mercenário, não para viver para sempre congelado no tempo da emoção e perigo, mas ser mentalmente forte o bastante, e se possível, ter força física o suficiente, para voltar para casa e construir uma nova geração com valores que você espera que não a conduzam para uma outra guerra. Isso é sólido.

É claro que você pode dizer, sim, como extensão, como sempre na vida, esse é o paradoxo eterno. O que mais vale a pena pode parecer um pouco estúpido, mas Deus sabe que sem essas pessoas que estavam preparadas para voltar para casa e criar uma família e reconstruir, ajudar a reconstruir… reconstruir é muito mais difícil que destruir. Então, achava que era quase uma prisão, moralmente, matá-lo. Queria mostrar um homem que, é, foi embora com as mão sujas e tentou reconstruir. Gostava disso. E novamente, isso fez com que muitas pessoas ficassem lívidas, mas Deus sabe que, à época, eu já estava acostumada com isso!”

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Cofre #4: Histórias de Spoiler
(trecho divulgado em 14 de outubro de 2008)

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Cofre #5: Falando de Spoilers…
(trecho divulgado em 29 de outubro de 2008)

Essa conversa do livro ser enviado antes (e como hilariamente os fãs de HP estão desacostumados com isso) fez-me revisitar a parte da entrevista com J.K. Rowling onde nós falamos sobre os intensos spoilers que aconteceram a caminho de cada livro depois do terceiro. Para aqueles que não notaram, cada um dos últimos quatro livros apresentava algum conteúdo extravagante que resultou em assuntos arruinados por spoilers.

Havia muitos para o quarto livro (veja a última entrada do cofre); para o quinto livro as cópias aparentemente apareceram em um campo próximo a fábrica de publicação, e a pessoa audaz que as achou ligou para o The Sun ao invés de, ah, levá-los de volta a fábrica ou ligar para a editora; o quinto livro também chegou a uma prateleira de uma loja de alimentos saudáveis do Brooklin, NY, onde um repórter do NY Daily News comprou uma cópia, facilmente como se comprasse uma torta, alguns dias antes da publicação. Todos os tipos de problemas aconteceram com o sete.

Mas para o seis, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, algo extraordinário e terrível aconteceu. Houve um tiroteio. Nós ficamos sabendo depois que a arma estava cheia de explosivos, mas sem nenhuma bala, e a pessoa que atirou neles sairia da cadeia depois de aproximadamente um ano, mas na época imagine as manchetes:

“Arma disparada por causa de livro Potter não publicado”. Eu estava em Manhattan quando eu descobri, comprando algum tipo de roupa apropriada para a minha viagem pendente para Edimburgo (um salário de repórter = morango; um horário de repórter = roupas usadas que outros repórteres não acham repreensíveis, pois suas camisas também possuem três buracos, e nenhum de vocês foi fazer compras desde antes de conseguir seu trabalho) quando Lizo Mzimba da BBC ligou.

Eu tinha seis cabides no meu dedo mindinho esquerdo e quatro cabides no meu direito e quando ele me contou eu gritei “O que?!” e depois fiz um desafortunado, ainda assim automático gesto. Tudo caiu no chão. Um tiroteio por causa de um livro Harry Potter. Sério. (Uma rápida recapitulação: um repórter do The Sun foi chamado para uma reunião com alguém que dizia possuir uma cópia e a venderia por cerca de 50000 libras; ele chamou a polícia, e dois tiros foram disparados.)

Esse acontecimento e as circunstâncias estão em Harry, A History, mas aqui estão alguns comentários completos de Jo sobre as circunstâncias e o sentimento de tensão que cercou o lançamento naquele momento. (Eu mesma editei da conversa.) A citação começa falando sobre o incidente no campo do livro cinco:

Eu me lembro que havia um jornalista, um jornalista da TV, que disse naquela época, de maneira petulante, “Ha, ha, é tudo parte da publicidade, não é?” Simplesmente parecia fora do controle naquele momento, parecia fora do controle que um manuscrito tivesse suspeitosamente aparecido em um campo, que esse cara que supostamente o achou pensou, “Ah, bem, a melhor coisa que eu posso fazer aqui é telefonar para algum jornal”. …E depois, é claro, chegamos ao livro seis e achamos que vimos a tentativa mais absurda de se conseguir um manuscrito de Harry Potter antes do tempo, e certamente não ficamos próximos, pois eles pegaram o cara com a arma. Foi bem sério, realmente não foi engraçado. Fiddy me disse e eu pensei que fosse uma piada. Eu achei que ela estivesse fazendo uma piada.

Apenas o mero fato de que você produziu algo que as pessoas querem roubar, querem disponibilizar na internet, é, para mim, muito desconfortável. E quando uma arma é envolvida, a piada saiu do controle. Completamente fora de controle. Eu fiquei apavorada. O cara que possuía a arma direcionada a ele escreveu que ele havia estado em lugares como Kosovo e passou pela sua cabeça, “Eu vou morrer por causa de Harry Potter”. Que Deus não permita.

Há uma visão lá fora, “É tudo bom,” tudo isso aumenta a antecipação, deixa mais colorido. Mas não, estava realmente saindo do controle. E enquanto as pessoas falavam de antecipação, ela consumia a si própria, e gerava esse tipo de feiúra… Isso está muito além de tramas que vazaram, está relacionado a violência e intimidação, e quem quer estar envolvido com isso? Quem deseja ter seu trabalho associado a isso? Sabe, vamos apenas publicá-lo duas semanas antes. Quem quer uma arma sendo disparada? Então você começa a ficar muito ansioso com isso.

…Naquela altura, havia se tornado bem diferente do que era para ser. Não é definitivamente sobre a antecipação por um livro, não é sobre o amor por uma história ou até o desejo de estragá-la. Tornou-se algo a que as pessoas queriam se apegar apenas porque era o jeito mais rápido de se conseguir alguma publicidade para eles mesmos ou notoriedade para eles mesmos e você tem essa extremidade-

Não posso exaltá-los com a palavra fã, pois eu acho que se não tivesse sido Harry Potter teria sido Star Wars ou seria algo grande o bastante para que eles conseguissem seus cinco minutos de fama. …Não tem nada a ver com Harry Potter, e ainda assim Harry Potter atraiu muito disso, mais tarde, eu diria, para os últimos três livros. …Está criando expectativas de um jeito não saudável, está deixando as pessoas cansadas do som de Harry Potter pelas razões erradas, e mais seriamente se chega no domínio de fraude literária, intimidação, violência, roubo, e quase nunca esteve relacionado com os fãs.

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Cofre #6: Sobre Harry/Hermione, Shipping, Intitulação de Fãs, e Mais
(trecho divulgado em 21 de novembro de 2008)

JKR: No momento em que o Emerson disse o que disse [na entrevista de 2005], na gravação, eu soube.

[…]

As conseqüências me atingiram, assim como ao Emerson. Recebi umas cartas bastante desagradáveis, mas, sabe, na época eu já estava acostumada ao fato de que as pessoas estavam tão envolvidas com esse mundo, e se sentiam tão donos dele que eu não estava, de forma alguma, em cima de um pedestal na visão de todos eles. Eu era exatamente o centro da luta. E é desconfortável ficar subindo e descendo de um pedestal, então você se acostuma.

MA: Você até fez uma piada sobre um shipper que levava o Emerson a um corredor sombrio.

JKR: [Risos] Bem, sim. Digo, ele não se arrepende de jeito nenhum. O Emerson gosta de uma boa briga. Eu não sou o tipo de pessoa que sai procurando briga, mas sim alguém que, se uma briga vier a mim, não vou evitá-la. Então, se as pessoas quiserem informações sobre meus personagens, então eles terão que aceitar que eu vou fornecer-lhes informações sobre os meus personagens. E se elas não gostarem, essa é a natureza da ficção. Você tem que aceitar o mundo de outra pessoa porque eles criaram este mundo, então eles provavelmente sabem um pouco melhor do que você sobre o que acontece lá.

Eu não era nem um pouco novata em relação ao conceito de possessão dos fãs porque isso tem acontecido desde, acho, 1999. Como o Debate Snape esquentou, receberia ocasionalmente cartas de fãs que me instruíam sobre meus personagens. E, quer saber, isso é muito amável quando parte de alguém mais novo, e é menos amável quando vem de uma pessoa mais velha.

Você sabe, pode ter sido mais cedo. Eu me lembro de receber uma carta no final dos anos 90, de uma mulher americana que tinha me ouvido falar no rádio quando eu estive lá que achava que era uma mentira não permitir que meus personagens, que estão ficando mais velhos a cada livro, não permitir aos meus personagens algumas sensações sexuais. Embora uma série de fantasia não seja, acho, realmente o lugar para explorar temas como, por exemplo, o uso de drogas pesadas e gravidez na adolescência. Fazer as pessoas engolirem essas mensagens sociais quando existem outras mensagens nos livros de Harry Potter, me pareceu impróprio. Mas ainda assim, seria irreal que Harry iria dos 11 aos 17 anos sem beijar uma garota, sem ter quaisquer sentimentos românticos por garotas, isso foi tudo o que falei no programa de rádio. Essa foi provavelmente a primeira evidência que tive, desse tipo de possessão de fã: uma carta muito veemente de uma mãe dizendo, “Não faça isso. Eu quero que seus livros sejam um refúgio para meus filhos, um lugar de inocência e segurança”. E eu me senti, bem, escute: essa série começou com o conhecimento de um homicídio duplo. Eu nunca prometi que esse seria um mundo de inocência e segurança. Muito pelo contrário. Eu o anunciei como um mundo de perigos e corrupção. Então, provavelmente, essa foi a minha primeiríssima introdução.

MA: A queda dos shippers foi… outra coisa.

JKR: Você foi atingida por isso?

MA: Eu fui menos criticada. Fui atingida, no entanto; algumas pessoa falaram umas coisas bem cruéis.

JKR: Você quer saber, eu meio que consegui uma visão geral quanto a isso, porque logo após termos nos encontrado, entramos em um feriado, e voltei para pegar minha correspondência atrasada sobre isso e quer saber? Você pode perceber pelas cartas atrasadas o que deve ter ido parar na Internet.

Não é saudável para mim ficar muito tempo online. Estou muito ciente de que se pode passar a vida lendo fóruns de mensagens, e este não é um lugar saudável de se ir. Então eu estou economizando as vezes que vou lá e dou uma olhada. Mas só pelo que tive na minha frente – e de fãs me dizendo “Por favor não leve muito em consideração o que você lê nesses fóruns!” [Risos] Então, sabe, eu soube o que deve ter acontecido nesses fóruns.

MA: O Emerson foi comparado a um dono de escravos!

JKR: Oh, isso é simplesmente ridículo. Eu recebi uma carta de um homem adulto, uma carta muito bem articulada, que dizia, “Bem, me perdoe por pensar que você é uma escritora melhor do que você realmente é”. Isso foi literalmente o que ele disse. “Presumi que você estava nos dando dicas sutis sobre Harry e Hermione, mas não. No final, você estava sendo bem grosseira e óbvia”. O que você vai fazer? Isso é o que eu quis dizer com ‘levemente menos amáveis’. [Risos]

MA: Se isso é levemente menos amável, eu me pergunto o que será bem menos amável…

JKR: É, nós poderíamos chegar lá, mas não sei.

MA: Não acho que tenhamos esse tipo de tempo.

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Cofre #7: A Ambivalência do Livro Cinco
(trecho divulgado em 16 de dezembro de 2008)

Como aqueles que já leram Harry sabem, Ordem da Fênix não é o meu favorito na série de livros. Eu acho difícil apreciá-lo da mesma forma que os demais. Jo e eu começamos a falar sobre isso durante a entrevista, e, com o nosso hábito de sair-do-assunto-e-entrar-na-realidade, essa se tornou uma longa discussão sobre a trama, as armadilhas e a quase-resolução daquele livro. Eu espero que vocês gostem!

JKR: Depois daquele final em [Cálice], que final viria a ser bom o bastante para o cinco? Eu sabia os grandes finais que eu tinha preparado para o seis e sete! [risos]. Essa foi outra dificuldade no cinco.

MA: Não existe um vencedor claro [em Fênix].

JKR: Não há uma resolução nítida. Não há. Pela primeira vez, você acaba ficando bem para baixo. Digo, Voldemort retornando é uma reviravolta horrível, mas Harry retorna, Harry sobrevive. No cinco, [o final] é muito mais sombrio, para acompanhar o mesmo tom de todo o livro. Nós ganhamos ao impedirmos Voldemort de receber toda a informação – mas perdemos Sirius. Então, pela primeira vez, nós temos na balança – você faz uma análise de custo-benefício e não foi muito bem. O resultado realmente não foi tão bom.

MA: Você ficou preocupada sobre como os leitores iriam reagir?

JKR: Eu definitivamente sabia. Eu acho que é o livro mais sombrio de toda a série devido ao que Harry está vivenciando internamente. Porque você sempre vê o mundo através dos olhos dele, mesmo não sendo uma narrativa em primeira pessoa. O humor dele, sua atmosfera interior, afeta tudo. Então uma vez que ele luta no seis, é como se o Sol se expandisse, e mesmo que o mundo ao redor dele seja difícil, ele está agora preenchido com esse espírito entusiasmado, então eu acho que o humor dele melhora imensamente.

Eu não me preocupei, pela razão de que eu nunca me permiti preocupar-me. Essa é uma fria pela qual eu não entro. Eu só penso “Eu tenho que escrever o que eu quiser escrever”. Você não deve ser afetado pela popularidade ou impopularidade nesse sentido. É errado. Você tem que escrever o que quer escrever, contar sua estória. E eu sempre quis que Harry passasse por uma fase na qual… ele tivesse que se questionar, sozinho no escuro. Por que eu? Por que tem que ser eu? Eu me perguntaria. Qualquer um se perguntaria. É claro, em vários sentidos seria incrivelmente implausível que ele chegasse onde chegou sem ter tido um colapso grande.

Eu me lembro de falar sobre isso com Dan Radcliffe. Estávamos falando sobre o sentimento de culpa de quem sobrevive e os sentimentos complicados e bagunçados que ele tem para com Cedrico e o horror do isolamento. Porque Rony e Hermione são as pessoas que melhor lhe entendem, mas eles não são O Eleito, eles não têm a cicatriz. Estar totalmente sozinho…

[risos] Taaaaalvez alguns dos meus sentimentos sobre a minha situação possam ter vazado para Harry nesse ponto, me ouvindo falar, mas não tenho certeza. Eu sempre planejei que ele cairia nessa dúvida sobre ele mesmo e nessa raiva e depois ele se reergueria para o seis. Porque o seis e o sete estão tão intimamente relacionados, acho que vocês podem ver isso agora. Você termina o seis e realmente entra direto no sete. Eu não acho que exista uma grande mudança emocional entre Harry no seis e Harry no sete. Você concorda?

MA: Até a parte final do sete.

JKR: Sim, aí então tudo absolutamente desmorona e Harry é o guerreiro solitário, o que eu acho que esperamos pela tradição dessa literatura, não é? Nós esperamos que chegue um momento em que todo o resto desmorona.

Uma outra coisa interessante no 5 é que é o único livro que Harry se mantém cercado de pessoas até o fim. Isso foi proposital porque ele se sente isolado desde o começo e aí no final – e eles fizeram isso muito bem no filme – chega esse momento em que ele percebe que essas pessoas permanecerão com ele, então, pela primeira vez, a cena da batalha é com ele cercado pelos outros. Essa foi uma inversão intencional. Antes, ele era uma pessoa bem mais feliz em continuar sua missão sozinho. Dessa vez ele precisava de apoio e o recebeu. Mais uma vez isso pode ter, levemente, enfraquecido o final, porque é tão satisfatório ver o herói completar a sua missão sozinho.

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Cofre #8: Seabottom e as Relíquias de Hogwarts
(trecho divulgado em 19 de janeiro de 2009)

JK Rowling: Eu não sei quem inventou [Seabottom], deve ter sido um advogado em algum lugar.

MA: Houve muita especulação – que Seabottom é essa empresa [ininteligível] faz vídeo games agora…?

JKR: Não.

MA: Eram vocês?

JKR: Era só – nós tínhamos que achar um jeito para [manter uma certa confusão lá fora] e funcionou. Eu nem mesmo pensei que havia só uma empresa fazendo isso, eu acho que tínhamos várias frentes inventando títulos. [Uma delas se chamava “Stone Connect”. Parece que haviam outras também.]

MA: Só para encobri-lo, para confundir o problema?

JKR: Sim. Assim que soubemos que iria para o site, nós só precisávamos manter um pouco de confusão acontecendo naquelas últimas horas antes de divulgarmos.

MA: Um deles era as Relíquias de Hogwarts.

JKR: Sim, bem, todos esses títulos eram meus.

MA: Você apenas mandou uma lista.

JKR: Sim, eu enviei para eles uma lista de títulos plausíveis, incluindo o verdadeiro. Relíquias de Hogwarts foi, por anos, o título do sétimo, mas era errado, simplesmente errado.

MA: Elas não são todas de Hogwarts.

JKR: Exatamente. Mudou completamente, então Relíquias da Morte era sem dúvida a escolha certa. Eu gostei do título de Relíquias da Morte.

MA: Algumas pessoas disseram que isso foi a sua vingança contra aqueles que criticaram o seu uso de advérbios.

JKR: [risos] Sim, uns 12 advérbios no título final. Eu amo um advérbio.

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Cofre #9: Sobre Medidas de Segurança e Uma Razão para Evitar um Oitavo Livro
(trecho divulgado em 15 de junho de 2009)

JKR: “Eles o pegaram do meu disco rígido?. Não entendo muito sobre computadores – quero dizer, Eles podem? Podem mover-se pelos fios e conseguir pegá-lo? Fisicamente? Com aqueles gorros de ninja?

Sempre que meu computador fazia essas coisas que todo computador faz, travava ou algo assim, isso sempre passava pela minha mente e eu pensava ‘O que eu deixei acontecer?’.

Quando eu estava acabando o sétimo [livro], eu tirei tudo do meu computador, completamente, e ele ficou somente no laptop, mas eu, ainda assim, me ressentia por ter que pensar nisso, mas era o último livro, então eu queria que as pessoas o pegassem para ler na versão impressa, e não numa versão roubada ou por spoilers. Então tive um pouco mais de consciência sobre a segurança, no final”.

MA: Então ele nunca esteve conectado à internet?

JKR: “Sim! Não, realmente, não é verdade. Eu o conectei à internet – o que eu estou dizendo? [risos]. Eu conectei. Mas eu lidei com isso com um pouco mais de cuidado. Mas, de fato, sim, eu o conectei à internet, então, qual é a diferença? Ops! É tão bom poder dizer essas coisas agora”.

MA: Deve ser um alívio…

JKR: “Sim, é tão libertador. Eu, de boa vontade, nunca ia querer voltar para aquilo. Definitivamente, as pessoas vão achar difícil de acreditar. ‘Ah, vamos lá. Olha o dinheiro que você ganhou’. Quer saber? Eu nunca gostaria de viver com aquele tipo de estresse outra vez. Eu sinto muita falta de escrever ‘Harry’, entretanto, em grande parte, o que me faz resistir à idéia de um oitavo livro ou um oitavo romance, é saber que teria de retroceder àquela estufa.

Pessoas vão vomitar ao me escutar dizendo isto, porque sei como eu fui sortuda em ter sido publicada, e sei a sorte que tenho em ter feito tanto sucesso, eu agradeço a Deus todos os dias por isto; e escritores não-publicados de todos os lugares arremessarão coisas em seu livro, se lerem isso, mas ainda assim… Eles não viveram com todo aquele estresse. Algumas vezes, foi realmente pressionante”.

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Cofre #10: Dumbledore e Grindelwald
(trecho divulgado em 10 de fevereiro de 2010)

E agora, como prometido… uma informação importante! Eu gosto bastante dessa. É outra com Jo (como desculpas por esperarem tanto por isso), e é um exemplo sobre o que eu escrevi no livro, como nós continuávamos falando sobre o canon e não sobre o fenômeno, porque nós estávamos, vamos admitir, como dois drogados com uma injeção de heroína fora do alcance. Eu estive na Escócia por dois dias apenas para falar sobre os livros, nós passamos dois dias inteiros falando sobre a trama e os temas e as personagens, e o que aconteceu a cada personagem, quando e o porque, e o que iria acontecer no futuro. Ninguém estava mais feliz do que eu em pesquisar esse fenômeno e fazer o tipo de trabalho de campo que eu liderei, e ninguém estava mais feliz do que eu em estar fazendo aquela entrevista sobre aquele assunto – mas houve momentos, muitos deles como esse agora, que o meu lado de fã simplesmente vencia e eu cedia ao desejo da curiosidade (então rapidamente me sentia culpada e voltava ao trabalho manual de verdade).

Que é como nós chegamos ao Dumbledore e o seu relacionamento com Grindelwald.

J.K.Rowling: Eu acho que ele Grindelwald era um usurpador e um narcisista e acho que alguém assim iria usar isso, usaria a paixão. Eu não acho que ele retribuiria dessa forma, embora ele fosse tão deslumbrado por Dumbledore quanto Dumbledore era por ele, porque ele se via em Dumbledore, “Meu Deus, eu nunca soube que havia alguém tão brilhante quanto eu, tão talentoso quanto eu, tão poderoso quanto eu. Juntos, nós somos imbatíveis!”. Então eu acho que ele aceitaria qualquer coisa de Dumbledore para tê-lo ao seu lado.

Melissa Anelli: Isso me lembra “Maligna” (livro de Gregory Maguire). Você já leu Maligna?

JKR: Não.

MA: Maguire reconta antigos contos de fadas e ele fez um livro muito cerebral sobre a Bruxa Malvada do Oeste e Glinda, e de como elas costumavam ser boas amigas.

JKR: É mesmo…

MA: É muito semelhante; ela foi em uma direção para lutar contra a injustiça e luta contra o feiticeiro, e Glinda foi em outra, para ser a figura política e jogar dentro do sistema. Realmente interessante.

JKR: Bem, é a velha ideia do anjo caído em alguns aspectos, não é? É Deus e Lúcifer.

MA: Eu queria lhe perguntar sobre isso, porque Grindelwald se assemelha – os cachos de ouro, a primeira pessoa que eu pensei foi Lúcifer.

JKR: Hum-hum. Então você pode chamar isso de um laço fraterno, mas eu acho que torna tudo mais trágico para Dumbledore. Eu também acho que isso torna Dumbledore um pouco menos culpável. Eu o vejo fundamentalmente como uma pessoa muito intelectual, brilhante e precoce, cuja vida emocional foi, por escolha própria, completamente subjugada pela vida da mente, e aí a sua primeira incursão no mundo das emoções é catastrófica, e acho que isso desorientou para sempre aquela parte da vida dele e a deixou invalidada, e por isso ele veio a ser o que se tornou. É isso que eu vi como o passado de Dumbledore. Foi sempre assim que eu vi o passado dele. E ele guarda uma distância entre ele mesmo e os outros por meio do humor, um certo distanciamento e uma frivolidade no jeito de ser.

Mas ele também é isolado pelo seu cérebro. Ele é isolado pelo fato de que ele sabe tanto, adivinha tanto, adivinha corretamente. Ele tem que jogar suas cartas próximas do peito porque ele não quer que Voldermort saiba o que ele suspeita. É terrível ser Dumbledore, realmente, no final ele deve ter pensado que seria muito melhor partir e apenas torcer para que tudo terminasse bem. [risos].

MA: Porque ele montou esse grande jogo de xadrez.

JKR: Hum, esse grande jogo de xadrez. Mas eu disse a Arthur, meu editor americano – nós tivemos uma conversa interessante durante a edição do livro sete – o momento quando Harry toma a varinha de Draco, e Arthur disse, “Deus, este é o momento em que a propriedade da Varinha Anciã é de fato transferida?”. Eu disse, sim, isso mesmo. Então ele perguntou, “isso não deveria ser um pouco mais dramático?”. E eu falei, não, de forma alguma, é o contrário. Eu disse a Arthur, eu acho que isso realmente coloca o elaborado e grandioso plano de Dumbledore e Voldemort no seu devido lugar. Aquela foi a história do mundo bruxo que dependia de dois adolescentes lutando um contra o outro. Eles não estavam nem mesmo usando magia. Acabou se tornando uma briga feia pela posse das varinhas. E eu realmente gostei disso – aquele momento muito humano, em contraponto àqueles dois bruxos que estavam contorcendo cordas e manipulando e plantando informações, e administrando e guardando informações.
Por fim acabou se resumindo a isso, uma pequena briga e troca de socos na esquina e a empurrar uma varinha para longe.

MA: Isso diz muito sobre o mundo em geral, eu acho, sobre conflitos no mundo, essas coisas pequenas.

JKR: E a diferença que um indivíduo pode fazer. Sempre, a diferença que um indivíduo pode fazer.

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Cofre #11: Próximo do Fim, Como Tudo Começou
(trecho divulgado em 09 de novembro de 2010)

MA: Então, você está trabalhando?

JKR: Estou trabalhando. E estou adorando, e é bom estar de volta, e sem dúvidas quando vierem os direitos autorais e os agentes de venda aparecerem – eu fui tão estragada que eu vou pensar: não deveriam ter mais alguns zeros aí? [risadas] Mas, você sabe, eu nunca vou escrever algo tão popular novamente, isso é um fato. Eu sempre soube, e honestamente, eu estou praparada para isso. Tá ok pra mim. Eu fui muito sortuda por ter Harry Potter, então você não vai me ver choramingando daqui a dez anos. Não, não vai.

MA: Eu vou fazer, agora no fim, a mesma pergunta que fiz no início: o que você quer que as pessoas saibam, lendo os livros, a essa altura?

JKR: Eu já disse isso pra você, mas, quando toda a bagunça e o sensacionalismo acabarem, e quando os comentários da imprensa cessarem, eu acho que vai ficar claro que esse fenômeno foi gerado, em primeiro lugar, por crianças apaixonadas por um livro. Não havia campanha de marketing. Não havia estratégia inteligente. Um livro foi para as prateleiras, e algumas pessoas o amaram.

Por sorte minha, uma das pessoas que amaram foi Arthur Levine. Por sorte minha, algumas das pessoas que amaram estavam no júri dos prêmios de livros infantis. Mas é daí que tudo cresceu, e são pessoas hierarquicamente abaixo que merecem o crédito pelo que aconteceu, em termos do fenômeno que foi Harry Potter. Os vendedores de livros é que merecem o grande crédito. Eu sei que esses vendedores empurravam os livros quando o nome de Harry Potter não tinha aparecido ainda em nenhum tipo de comercial, de busdoor ou poster, nem em campanhas internas. Ainda não tinha acontecido. Mas os vendedores incentivavam seus clientes a comprarem Harry Potter dizendo “Ele (geralmente ‘ele’) vai gostar disso!”. Era coisa específica do gênero. “Um garoto vai gostar disso, eu sei que ele não gosta muito de ler, mas experimente esse”. Eu sei que eles fizeram isso porque eu conheci vendedores que fizeram isso, e eu conheci crianças que me disseram que os vendedores fizeram isso.

E eu achei isso maravilhoso, que algo possa vir de um escritor totalmente desconhecido, por um caminho que já tinha sido considerado não comercial, com um assunto considerado não comercial, e que possa fazer o que isso fez – e não por estar conectado a campanhas de venda dirigidas comercialmente. Ele fez o que fez através do puro amor à leitura.

Eu realmente acho que com o tempo as pessoas vão – quando toda a fumaça baixar e as luzes se apagarem – é isso que vai sobrar. E essa é a coisa mais maravilhosa para um autor.

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Cofre #12: Harry e Seus Fãs
(trecho divulgado em 07 de março de 2011)

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Extra Vazado
(trecho divulgado em 8 de novembro de 2008)

“Tentei muito suavizar isso, suponho,” disse Jo. “Apenas porque alguém tinha uma visão de Harry/Hermione não queria dizer que não fossem verdadeiros, ou que estavam enganados, necessariamente. De fato, e tenho que dizer isso, Steve Kloves, que tem sido um dos roteiristas [nos filmes de Harry Potter], que é muito criterioso quanto à série e um excelente amigo, depois de ler o livro sete me disse, ‘Você, sabe, achava que aconteceria algo entre Harry e Hermione, e não sabia se queria isso ou não’.
“Sempre planejei que a verdadeira alma gêmea de Harry, a quem apóio, fosse Gina, e que Rony e Hermione tivessem essa atração hostil, mas mútua. Eles sempre ralharão um com o outro, sempre existirão momentos difíceis, mas eles se recuperam, um tem algo de que o outro precisa”.

Fitei-a, percebendo que ela não terminara, e um pressentimento de que algo estava por vir.

“[Kloves] sentiu uma certa influência entre eles à época. E acho que está certo. Há momentos em que [Harry e Hermione] se tocam, e são momentos intensos. Um no qual ela toca seu cabelo enquanto ele se senta no topo de uma colina lendo sobre Dumbledore e Grindelwald, e [outro] em que eles saem do cemitério abraçados um ao outro.”

Estava prendendo minha respiração nesse momento. Ela não acabara.

“Agora, o fato é que Hermione compartilha momentos com Harry dos quais Rony nunca pôde participar. Ele foi embora. Ela dividiu algo muito intenso com Harry.

“Então acho que poderia ter acontecido dessa forma”.

barra :: Potterish

N/T¹: *”Cofre 27″ (Vault 27, no original) é uma seção do site oficial da autora de Harry, a History, Melissa Anelli, onde concentra informações que não puderam ser adicionadas no livro; são histórias, extras, excertos de entrevistas (a maioria de Jo Rowling, do qual “ainda há extras demais para não compartilhar com os fãs”), etc.

Traduzido por: Daniel Mällmann, Dérick Andrade Moreira, Renan Lazzarin, Fabianne de Freitas e Pedro Emanuel Maia.
Postado por: Vítor Werle em 28/01/2009.
Trechos originais aqui.