Alberge, Dalya. “Adultos enlouquecendo por coisas de criança”. The Times, 8 de outubro de 1998.

Dalya Alberge apresenta provas de que você não pode jugar um livro por sua capa

Uma editora que descobriu que adultos desfrutavam de seus livros infantis mas sentiam-se envergonhados demais para admiti-lo arranjou uma solução original: a Bloomsbury republicou o campeão de vendas “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, de Joanne Rowling, com duas sobrecapas, uma para crianças de 8 a 13 anos de idade e outra para adultos.

Dentro do livro, a história de um órfão britânico que descobre que é um bruxo com poderes mágicos é idêntica. Adultos agora podem ler as aventuras de Harry Potter e ninguém precisa saber disso. Cada um agora tem uma aparência apropriada, desafiando o mito de que você pode julgar um livro por sua capa.

Há apenas um ano atrás, Rowling lutava para sobreviver como mãe solteira em Edimburgo. Após se formar na Universidade de Exeter, ela trabalhou como professora, mas sempre quis escrever. Nigel Newton, chefe executivo da Bloomsbury, descreveu como, quando estava com pouco dinheiro, ela ia para o café local, comprava um café e ficava o dia inteiro escrevendo com o bebê ao seu lado. Ela não podia pagar a cópia de seu manuscrito e redigitou o trabalho inteiro para enviá-lo a um agente.

Mas ontem, na Feira do Livro de Frankfurt, notícias vieram através de um contrato de Hollywood: A Warner Brothers pagou uma grande quantia de “sete algarismos” para adquirir os dois livros para ao menos um grande filme, descrevendo as histórias como “aventuras familiares… que podem ser apreciadas por leitores de todas as idades”.

Na feira, onde os livros estavam sendo promovidos, o Sr. Newton disse que a história das aventuras de Potter se tornou universal. Mas, compreendendo que a leitura de livros infantis em público poderia distorcer a imagem de um adulto, apontou como a capa alternativa “parece um bom livro adulto”. A sobrecapa infantil tem um desenho animado de vários personagens; a versão adulta é a enigmática imagem de um trem em uma estação.

O agente da autora, Christopher Little, disse que vários adultos confessaram esconder os livros atrás de seus jornais nos trens. Um garoto de sete anos escreveu uma nota a autora, dizendo: “Mamãe adorou tanto que não deixava papai ler para mim porque ela não queria perder nada, já que era tão emocionante”.

As resenhas do Suplemento Literário do The Times disseram que as histórias de Harry Potter “se juntarão ao pequeno grupo de livros infantis que são lidos e relidos na idade adulta”.

Os livros, que começaram com Harry Potter e a Câmara Secreta, se provaram um extraordinário sucesso. Com seu primeiro mês já estavam vendendo mais que todos os livros adultos na Bretanha, inclusive John Grisham e Jeffrey Archer. Ficar acima de bestsellers adultos foi, acredita-se, apenas alcançado por três autores infantis: Roald Dahl, J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis. Rowling também recebeu inúmeros prêmios de literatura infantil.

O Sr. Little disse que normalmente não se encarrega de livros infantis, mas que precisou abrir uma exceção para este. “Eu o li e pensei, ‘De onde vem esta imaginação?’” Quando questionado se o estilo de Rowling podia ser comparado com o de alguém, ele acrescentou: “Se tivesse compará-la com qualquer pessoa, seria Dahl”.

Andrew Low, vice-presidente da Golden Books, uma das maiores editoras especializadas em livros infantis do mundo, cujas vendas mais bem-sucedidas foram com personagens da Disney e Vila Sésamo, ficou impressionado com a jogada da Bloomsbury: “Quando sair, eu talvez o compre. É uma idéia interessante,” ele disse.

Como pai, explicou, ele desfrutou completamente da leitura de livros infantis: “Eles têm montes de drama e emoção. Não me surpreende que adultos desfrutariam de um livro infantil. Eles recapturam memórias da infância. As crianças também são muito sofisticadas hoje em dia. Elas estão crescendo muito mais rápido.”

Harry Potter não é o primeiro personagem infantil a ser apropriado por adultos: o Ursinho Pooh, “James e o Pêssego Gigante” e “Alice no País das Maravilhas” também alcançaram uma audiência maior. Por outro lado, estas coisas podem funcionar para ambos os lados: crianças reivindicaram “As Viagens de Gulliver” – escrito por Swift para adultos – como um de seus livros.

– Livros, páginas 44, 45

(c) Times Newspapers Ltd, 1998.

Traduzido por: Lilian Ogussuko em 30/01/2009.
Revisado por: Raisa Garcia em 08/02/2009.
Postado por: Vítor Werle em 09/02/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.