Owen, Jones. “Cara-a-cara com J.K. Rowling”. ITV Network, 17 de julho de 2005.

Crédito da transcrição: Joanne Hill, extraordinário “canon niffler”!
Nota do editor: O garoto Owen Jones, de 14 anos de idade, ganhou a chance de entrevistar Rowling num quiz da ITV [notícia off].

Owen Jones (OJ): O que inspirou você a escrever o primeiro livro de Harry Potter e onde você estava na hora?

J.K. Rowling (JKR): Eu tive a idéia para o primeiro livro de Harry Potter em um trem, como você provavelmente sabe, e eu estava viajando de Manchester para Londres, e isso foi em 1990. Eu comecei a escrever em Londres. Eu continuei escrevendo em Porto, Portugal. E então eu terminei de escrever em Edimburgo. Então essa foi um pilha de manuscritos muito bem viajada, o que em parte explica o quão desarrumado e manchado de café é esse processo.

OJ: Os livros de Harry Potter têm sido traduzidos para mais de sessenta línguas. Você imaginava quando terminou o primeiro livro que a série seria um sucesso global?

JKR: Nunca. Nunca. Eu seria insana se pensasse assim. Quero dizer, eu teria sido absolutamente iludida – exceto se não fosse assim. Mas eu, não, eu nunca sonhei que isso poderia acontecer. Nunca. Claro que não.

OJ: Uma nova definição para ‘Trouxa’ foi incluída no Dicionário de Inglês da Oxford. Como você se sente ao ver a influência que seus livros em certos aspectos da sociedade?

JKR: Muito, muito, muito orgulhosa. Eu estava – ‘Quadribol’ entrou numa enciclopédia. Eu acho – eu acho que foi a Enciclopédia Encarta há alguns anos e eu – eu – que – eu tenho uma cópia da enciclopédia e abro em ‘Quadribol’ [risos]. É triste, mas verdade.

OJ: Você já desejou que você pudesse apenas ficar sentada num café e assistir o mundo passar como você costumava fazer?

JKR: Sim. Já desejei. Eu nunca mais terei o prazer de ir a um café, qualquer café que eu goste, sentar e mergulhar no meu mundo, sem ninguém saber o que estou fazendo, e sem ninguém me incomodar. Eu seria totalmente anônima. Era fantástico.

OJ: Se você pudesse escolher qualquer coisa do mundo de Harry para vir ao nosso próprio mundo, o que seria?

JKR: Escolheria a Capa da Invisibilidade, a qual eu acho que é meio que previsível, eu creio que muitas pessoas gostariam dela, ou a Penseira.

OJ: Com a Capa da Invisibilidade você gostaria de ir a um outro café e , então, se sentar –

JKR: Isso.

OJ: – usando a capa?

JKR: Sim. E eu teria que inventor um modo esperto de me assegurar que as pessoas não se sentassem em mim. Mas, isso, seria bom.

OJ: ‘Reservado’. Eu li uma entrevista em que você disse que os nomes das Casas de Hogwarts foram criados na parte de trás de um saco de vômito de avião.

JKR: Isso está correto.

OJ: Você sempre se encontra tendo grandes idéias repentinamente em locais incomuns?

JKR: Todo o tempo. Todo o tempo. Você pode sempre dizer se é uma boa idéia porque você teve uma reação física a isso, você tem esse tipo de grande salto de animação. Então, isso, as coisas surgem todo o tempo.

OJ: Você viaja com caneta e papel?

JKR: Eu tento sempre ter uma caneta comigo. É muito frustrante não ter uma caneta. E eu aprendi essa lição porque, quando eu pensei em toda a idéia de Harry Potter na viajem de trem, eu não tinha uma caneta e não pedi a ninguém uma, e ainda me pergunto o que eu posso ter esquecido.

OJ: O que há de errado com Ravenclaw [JKR faz um barulho divertido] que você tanto despreza?

JKR: Ah. Ravenclaw terá seu dia. [Dá um tapinha conspiratório no nariz] Se você me entende. Mas você não entende, é claro.

OJ: O Fantasma da Casa deles –

JKR: Há um Fantasma da Casa, E você o viu duas vezes, eu creio. Ela é chamada Dama Cinzenta. Mas você não sabia disso ainda.

OJ: E o Diretor do Ano – Diretor da Casa?

JKR: É o Professor Flitwick. Eu nunca mencionei isso nos livros?

OJ: Não.

JKR: Nunca?

OJ: Não.

JKR: Bem, eu aplaudo o seu conhecimento superior. Eu pensei que tinha. [Ed: ela deu essa informação na entrevista para Barnes & Noble e no website dela].

OJ: Agora que Pedro Pettigrew tem uma mão prateada, ele está pronto para matar Lupin?

JKR: Eu estava muito interessada nisso, porque quando você ganhou a competição para me entrevistar, foi isso que você mencionou, então eu estava alerta quanto a isso. E eu presumo que você pensou nisso por causa da mão prateada –

OJ: O prata e o lobisomem.

JKR: O que é muito, muito bom, porque há esse mito, que você obviamente conhece, que você precisar usar uma bala prateada para matar um lobisomem. Eu direi não, Pettigrew não mata Lupin, mas eu penso que isso mostrou … um bom conhecimento e uma boa imaginação para pensar isso.

OJ: Obrigado. Você quer dizer que Dumbledore tinha uma mão no final Segunda Guerra Mundial [JKR ri] por ter derrotado o bruxo das trevas Grindelwald –

JKR: Em 1945.

OJ: – em 1945?

JKR: Eu posso estar dizendo isso.

OJ: Você gosta de ter coisas no mundo bruxo conectando com a história trouxa?

JKR: Bem, eu realmente gosto, sim, porque eu acho que isso adiciona uma autenticidade aos livros. Eu acho que isso é umas das razões para que os leitores possam se imaginar facilmente dentro do mundo bruxo porque eles conseguem ver como isso está conectado com o nosso mundo. Então é ao mesmo tempo secreto e aparente, mas nós, Trouxas, não temos a percepção de ver o que está bem embaixo dos nossos narizes, é claro.

OJ: Obviamente, eu sou a única pessoa sortuda que tem permissão para lhe entrevistar hoje, mas alguns de meus amigas realmente queriam lhe perguntar algumas coisas também. Isso é o que Gordon Brown tinha para dizer.

Gordon Brown: Jo, isso não é uma questão como secretário de tesouro, porque eu não quero cobrar imposto de Harry, mas onde ele consegue o dinheiro dele? Ele sempre parece ter algum. Ele tem uma conta bancária? Onde é? Onde está o dinheiro dele?

JKR: Bem, como você sabe, a conta bancária de Harry é no Gringotes. O dinheiro dele vem da herança, do seu pai. Mas eu penso, profundamente, que eu dei – o dinheiro de Harry nunca é realmente importante nos livros, exceto que ele possa – que ele possa adquirir o uniforme dele. Eu penso que realmente dei a ele uma fortuna porque eu estava tão dura quando eu – quando eu escrevi o primeiro livro e estava sonhando acordada que eu não teria que me preocupar com essas coisas.

OJ: Isso virou realidade.

JKR: É verdade. [risos]

OJ: Aqui está outro de meus amigos, que quer perguntar…

Lemar: Oi, J.K., meu nome é Lemar e eu gostaria de perguntar: se você pudesse ensinar alguma disciplina em Hogwarts, qual seria a sua especialidade?

JKR: Minha disciplina definitivamente seria… Defesa Contra as Artes das Trevas, eu acho.

OJ: Por quê?

JKR: Bem, eu costumava pensar em Transfiguração, mas nesses dias eu tenho pensado que Defesa Contra as Artes das Trevas é mais, hum –

OJ: Útil.

JKR: Uma disciplina que vale à pena. Exato.

OJ: Fãs parecem se divertir muito criando teorias e rumores sobre o novo livro. Quão próximos eles chegam, e como isso faz você se sentir quando, ou se, eles adivinham a história?

JKR: Eu amo as teorias mais do que eu posso dizer. Eu considero isso como o maior elogio, que pessoal analisam tanto o livro e pensam sobre o que pode acontecer no próximo. Há pessoas que chegaram muito próximas do final da série. Eu não acho que eu ouvi ou li algo de alguém que tenha chegado lá, mas partes do último livro foram descobertas.

OJ: Agora alguém que você conhece há um certo tempo, Stephen Fry.

Stephen Fry: Olá, Jo. Eu nunca perguntei a você essa questão, mas é algo que sempre me fascina. Você já teve uma idéia para uma cena, ou um diálogo entre alguns personagens, que foi muito assustador, muito triste, ou muito rude para colocar na edição final? E se sim, você poderia dividir algum momento conosco?

JKR: Bem, eu acho – eu sinto que já disse isso a Stephen. Meu editor não deixa nenhum dos personagens dizer palavrões. O que às vezes é difícil porque Rony é definitivamente um garoto de xingar. Então você perceberá que eu chego perto disso quando ele – Rony usa uma palavra que faz Hermione dizer “Rony!”. Então eu faço isso um pouco com ele.

OJ: Como a Sra. Weasley –

JKR: Exato.

OJ: – Eu vou prender seus dedos –

JKR: Exato, exato. Eu vou grudar seus dedos. Exato.

OJ: Eu perguntei a Holly Willoughby, do Ministry of Mayhem, o que ela gostaria de perguntar.

Holly Willoughby: Olá, Senhorita Rowling. Eu gostaria de perguntar: se você tivesse escrito outro livro, outro fora os livros de Harry Potter, o que teria sido?

JKR: Quanto – quanto tempo você teve? Quantos – quantos livros eu gostaria de ter escrito? Há tantos, tantos livros. E. Nesbit é a autora infantil com quem eu mais me identifico, e alguns dos livros dela eu realmente … gostaria de ter escrito. Eu acho que eles permanecem, e as crianças dentro deles, raramente pelo tempo que ela tem escrito, são muito reais, são muito realistas

OJ: Aqui estão alguns rumores que tem circulado na internet .

JKR: Certo. Acerte-me com eles.

OJ: Dino Thomas é o príncipe mestiço?

JKR: Não.

OJ: Pedro Pettigrew retorna e nós descobrimos o que ele tem aprontado.

JKR: Sim.

OJ: O cemitério de Hogwarts terá papel importante no sexto livro.

JKR: Agora, eu li isso. Onde é o cemitério de Hogwarts?

OJ: Eu não sei, eu achei isso na internet. [Nota do editor: essa afirmação foi encontrada no site oficial do diretor Alfonso Cuarón]

JKR: Bem – bem – eles tem criado novas paisagens para a escola mesmo. Hum… não, eu teria que dizer.

OJ: O príncipe mestiço já está morto, na verdade?

JKR: Não posso te contar. Você saberá, Owen, em pouco capítulos, você saberá.

OJ: E – os olhos de Harry tem um papel importante nos livros, porque eles são mencionados diversas vezes.

JKR: Eles são mencionados diversas vezes – e eles são mencionados novamente nesse livro. E isso é tudo que eu direi.

OJ: Você consideraria ter um papel de camafeu em alguns dos filmes? Se sim, como qual personagem?

JKR: Isso me foi oferecido. Eles perguntaram-me se eu gostaria de fazer Lílian Potter quando eles tinha aparecido num espelho.

OJ: Não é um papel alegre, entretanto?

JKR: Não particularmente, não é, uma pessoa morta? Mas eu – eu não queria fazer isso. Eu de certa forma não queria fazer isso porque – não teria sido apenas acenar do espelho, porque, como você sabe, no livro quatro, no final do livro quatro, Lílian na verdade aparece numa forma tridimensional e fala. Então, não seria apenas uma parte extra.

OJ: Agora que você terminou Harry Potter e o Enigma do Príncipe, o sexto livro da série, quando você começará totalmente o último livro de Harry Potter, e você pode nos dar alguma pista do que esperar?

JKR: Provavelmente não antes do fim deste ano, começo do próximo ano. Eu já fiz algum trabalho nele. E eu ainda estou fazendo algumas partes e pedaços. Eu acredito que antes das pessoas terminarem de ler esse livro, elas terão alguma idéia do que esperar do livro sete. Eu acho que eu deixei pontos claros sobre o que Harry fará a seguir.

OJ: A segurança tem sido um grande assunto na publicação dos livros de Harry Potter. O que você acha que ganha em manter a trama do livro em tal segredo?

JKR: Eu não ganho nada além da satisfação de saber que todo meu trabalho duro chega às pessoas que são destinadas. Em outras palavras, pessoas que realmente querem ler os livros. Eu acho chato e inquietante que alguns elementos são tão interessados em spoilers, porque parece uma coisa tão má intencionada de se fazer. Isso não é sobre dinheiro ou – ou qualquer outra coisa além do prazer da leitura para pessoas que querem ler. Então, sim, eu acho que é difícil.

OJ: Eu ouvi você mencionar que já escreveu o último capítulo do livro sete. Como você mantém isso a salvo, e seria possível mudar o final?

JKR: Bem, eu definitivamente não lhe direi como eu mantenho isso em segredo, por razões obvias. Seria possível mudar o final? Não. Não, porque – novamente, como eu acho que você verá em Enigma do Príncipe, esses livros foram planejados por muito tempo, e por seis livros agora, eles estão levando a uma certa direção. Então, eu não posso – não há mais espaço para fazer isso agora, particularmente no livro sete, para eu sentar e pensar “sabe, acho que fulano pode viver depois de tudo, e eu acho que eu fulano pode fugir e começar um negócio de sorvete”. Eu simplesmente deixei minhas pistas e fiz minha trama e agora eu tenho que seguir em frente com isso. Mas eu ainda estou feliz com isso. O último capítulo, como eu disse, verdadeiramente se relaciona com o que acontece às pessoas que sobrevivem na história, após o final da história. E eu fiz pequenos ajustes nisso no decorrer dos anos. E eu terei que reescrevê-lo quando chegar a hora.

OJ: Você está ansiosa pelo fim do livro sete?

JKR: Eu estou temendo isso, de certa forma, porque eu amo – eu amo escrever os livros. E será um choque, eu acho, um profundo choque para mim, mesmo sabendo que isso aconteceria nos últimos quinze anos. Inversamente, haverá alguns benefícios em não escrever mais livros de Harry Potter. Então é meio-a-meio na verdade.

OJ: Sem muita pressão.

JKR: Exatamente. Eu terei menos pressão e poderei escrever qualquer coisa antiga que eu queira, e as pessoas não estarão exigindo por isso, o que pode ser legal.

OJ: Bem, muito obrigado.

JKR: Foi um grande prazer.

OJ: – por me dar essa experiência brilhante. Então…

JKR: Owen, você é um vencedor digno, foram ótimas perguntas.

OJ: Obrigado.

JKR: Muito obrigada.

Traduzida por: Matheus Lisboa em 07/03/2009.
Revisado por: Thaís Teixeira Tardivo em 28/04/2009.
Postado por: Ohanna S. Bolfe em 28/04/2009.
Entrevista original no Accio Quote aqui.